A Terceira Geração Modernista, também conhecida como Geração de 45, marca o último e mais maduro momento do Modernismo Brasileiro. Em oposição ao ímpeto destrutivo da primeira fase e ao engajamento social explícito da segunda, esta fase buscou a disciplina formal, o rigor estético e a reflexão profunda sobre a condição humana.
A seguir, apresentamos o conteúdo em uma ordem didática numerada, progredindo do contexto histórico mais simples às complexidades textuais mais exigidas em exames.
A Geração de 45 tem seu início marcado pelo ano de 1945, um período de profundas transformações:
Âmbito | Evento Marcante | Implicações na Literatura |
Global | Fim da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria. | Os horrores do pós-guerra e a ameaça constante de conflito geraram um clima de incerteza e insegurança existencial, levando à busca por temas filosóficos e introspectivos. |
Nacional | Fim da Era Vargas (Estado Novo) e início da redemocratização. | Ocorreu uma reelaboração e um redimensionamento da literatura brasileira. Houve um desejo de ordem e disciplina e o surgimento de uma literatura menos engajada politicamente no estilo panfletário, mas ainda profundamente crítica. |
Literário | Morte de Mário de Andrade, principal figura do Modernismo. | A nova geração assume uma nova tomada de consciência artística, proclamando o retorno ao caráter "sério" e "literário" da poesia. |
A Terceira Fase se define por uma atitude mais formal e madura, em contraponto ao espírito de liberdade e contestação da Semana de 1922.
Esta é a característica mais distintiva da poesia desta fase, sendo frequentemente cobrada em provas:
Academicismo e Disciplina: Busca-se o restabelecimento da forma artística e bela, com um desejo de ordem e disciplina. Os autores apostaram em uma literatura sofisticada e com maior domínio formal.
Revalorização da Métrica e Rima: Há uma oposição à liberdade formal radical das fases anteriores. A métrica e a rima voltam a ser comuns e valorizadas.
Influências: Os poetas, que buscavam um caminho oposto ao de 1922, foram influenciados por correntes clássicas e estrangeiras, sendo chamados de Neoparnasianos (pela preocupação estética e culto à forma) e Neo-simbolistas (pelo intimismo e busca por musicalidade).
Em contraste com o foco nacional-regionalista inicial do Modernismo, a Geração de 45 adotou uma perspectiva mais ampla.
Universalismo: Há uma tendência "universalista", valorizando a influência de autores como Lorca, Rilke, Eliot, Pessoa e Valéry. O regionalismo é "repaginado" para se tornar um regionalismo universal, onde o local (o sertão, o nordestino) serve de palco para dilemas existenciais globais.
Intimismo e Psicologia: A literatura se torna intimista, psicológica e introspectiva. Os autores buscam sondar o subconsciente das personagens, influenciados pelo existencialismo europeu. O fundamental acontece no interior das personagens, e não no tempo e espaço.
Linguagem: Uso de vocabulário erudito, busca por uma linguagem mais objetiva e formal.
A prosa foi o tipo de texto mais explorado e inovador na terceira fase, dando sequência às tendências da geração anterior (prosa urbana, intimista e regionalista).
A prosa é categorizada principalmente em:
Explora temas da ordem do psicológico e do subjetivo.
Técnicas: Narrativas interiorizadas, marcadas pelo fluxo de consciência (ou stream of consciousness), monólogo interior e fusão com o discurso do narrador (discurso indireto livre). A escrita se aproxima da poesia, com grande lirismo.
Temática: Análise da natureza humana e dos comportamentos do ser humano, explorando a solidão, a morte, a identidade.
Principal Autora: Clarice Lispector (1920-1977). Seus textos frequentemente analisam psicologicamente as personagens.
Obra de Exceção: A Hora da Estrela (1977). É uma narrativa metalinguística (o narrador, Rodrigo S. M., reflete sobre a linguagem). Aborda a vida de Macabéa, migrante nordestina na cidade grande, que sofre constrangimento e solidão. O livro lida com a imprevisibilidade da vida, culminando na morte de Macabéa após uma profecia frustrada ou cumprida às avessas.
É o regionalismo reinventado, que rompe com a descrição social pura para mergulhar no interior do sertanejo.
Técnicas: Inovação na linguagem, marcada pela oralidade, regionalismos, neologismos e arcaísmos. Linguagem poética e fragmentada (prosa poética).
Temática: Recriação de costumes e da fala do sertanejo, mergulhando no seu pensamento e explorando o misticismo e a religiosidade. Se antes o sertão estava nos personagens, agora o interior da personagem faz do mundo um imenso sertão.
Principal Autor: João Guimarães Rosa (1908-1967).
Obra de Exceção: Grande Sertão: Veredas (1956). É um romance extenso (mais de 600 páginas) com estrutura circular. A temática envolve discussões existenciais e religiosas, como o pacto de Riobaldo com o diabo, motivado pelo desejo de ter a coragem de Diadorim (que se revela mulher após a morte).
Prosa Urbana: Ambientação nas cidades. Destaca-se Lygia Fagundes Telles (1923-2022), que também explora a sondagem psicológica e os conflitos femininos.
Outras Vozes Importantes: Ariano Suassuna (1927-2014), conhecido por misturar o erudito com a cultura popular nordestina, sendo sua obra-prima teatral Auto da Compadecida (1955).
João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é o poeta de maior destaque da Geração de 45. Sua poética, porém, é complexa e cheia de contradições históricas, o que a torna um ponto crucial em exames.
Embora cronologicamente faça parte da Geração de 45, e seu livro O Engenheiro (1945) seja um marco desta fase, Cabral refuta sua inclusão.
Ele criticava a Geração de 45 por "voltarem a falar de flor, de lua, de todo esse lirismo barato e decorativo".
Cabral via a Geração de 45 como desnecessariamente buscando uma nova ruptura, quando deveriam seguir o caminho construtor dos poetas da Geração de 30 (como Drummond e Murilo Mendes), a quem considerava seus mestres.
Cabral construiu um estilo singular e único, comparável a Guimarães Rosa na prosa, a ponto de críticos afirmarem que ele criou uma "nova gramática" na poesia brasileira, e não apenas um novo capítulo.
Característica | Detalhe Crucial para Exames | Citação de Apoio |
Poeta Engenheiro | A poesia é vista como um artefato, uma construção singular, exigindo rigor formal, racionalidade e técnica. Sua principal influência foi Le Corbusier. | "Somos gente de muita textura e pouca estrutura. Eis a razão do meu interesse [...] pela máquina do poema.” |
Antilirismo e Objetividade | É o poeta do Antilirismo. Fugia do espontaneísmo, do subjetivismo e da emoção não pensada. Preferia a palavra concreta (mesa, microfone) em detrimento da abstrata (beleza, amor). | "O poeta ou outro escritor qualquer, de um país subdesenvolvido como o Brasil, não pode desprezar a realidade dolorosa que o cerca.” |
Estilo Seco | Sua escrita é marcada pela concisão, secura, aspereza. Tais características refletem o ambiente árido do sertão nordestino. | Sua poesia é "clara, de claridade, porque é solar, meridiana, invadida de luz por todos os versos, e é também clara, de clareza, porque não propõe charadas". |
Recursos Técnicos | Utiliza a rima toante (correspondência de som vocálico na sílaba tônica) e o símbolo da pedra (presente em Pedra do Sono e A Educação pela Pedra), que representa a resistência e o concreto, fugindo do vago. | A pedra é um signo de sua poesia, marcado pela rispidez da consoante 'r'. |
Cabral desenvolveu o "Novo Humanismo", voltado para a realidade social concreta. Ele não se iludiu com o discurso modernizante e desenvolvimentista da época, mas sim se pautou pela "consciência catastrófica do atraso".
Antagonismo de Classes: O poema “Festa na Casa-grande” (1960) é um exemplo de crítica social profunda, onde o cassaco de engenho (trabalhador da cana) é descrito como um ser reduzido à condição de coisa (reificação) e, por fim, ao nada (nadificação). A voz do poema é de um político/senhor de engenho, que o vê com frieza e distanciamento, revelando o antagonismo social.
O Cão Sem Plumas (1950): Poema longo sobre a exclusão social dos habitantes pobres (homens sem plumas) que vivem nas palafitas às margens do rio Capibaribe, no Recife, em meio à lama. O rio é comparado a um cão sem plumas, imundo e mendigo. O “cão sem plumas” simboliza o ser roubado até no que não tem (dignidade ou humanidade).
Morte e Vida Severina (1955): Poema dramático de maior sucesso público. Retrata a jornada do retirante Severino fugindo da seca, buscando a vida no litoral. Embora a situação dos retirantes seja trágica (condenados à "morte severina"), o desfecho sugere a resistência e a continuidade da vida ("a vida se desdobra em mais vida").
Não. Embora a Geração de 45 tenha proposto um retorno ao rigor formal e valorizado o academicismo, opondo-se ao radicalismo de 1922, ela não anulou as conquistas modernistas. O movimento é visto como uma reelaboração e um redimensionamento da literatura, buscando o equilíbrio entre forma e conteúdo. O Modernismo precisou se consolidar, e a Geração de 45 trouxe a sofisticação estética e o amadurecimento formal necessário para que a literatura brasileira se afirmasse.
A Geração de 30 (2ª Fase) focou no realismo social e no engajamento político/denúncia (ex: Vidas Secas, Capitães da Areia). A Geração de 45 (3ª Fase) manteve o regionalismo e o social, mas o aprofundou no nível psicológico e formal.
Na prosa de 45, a preocupação maior é a análise da natureza humana em vez da sociedade em que vive.
O regionalismo vira universal (Guimarães Rosa).
O intimismo e a sondagem do subconsciente são intensificados (Clarice Lispector).
Ambos se destacam pelo experimentalismo na linguagem e pela profundidade técnica:
Cabral: É difícil de ser lido por propor uma "nova gramática" e fugir do lirismo sentimental que o leitor comum espera. Sua poesia exige uma leitura mais lenta e reflexiva devido à secura e precisão.
Clarice: Sua escrita é complexa devido à ênfase no monólogo interior e na não-linearidade das narrativas. O foco em temas existenciais e a fusão do narrador com o fluxo de consciência da personagem desafiam a leitura tradicional.
O legado do Modernismo Tadio (Geração de 45) é a consolidação da literatura brasileira como madura e reconhecida internacionalmente. A fase deixou como herança:
A sofisticação estética da poesia pós-modernista.
O avanço da literatura engajada , agora em tom mais introspectivo e filosófico.
O regionalismo universal, que transformou o sertão em cenário para dramas humanos universais.
O desenvolvimento do romance intimista e psicológico.
A Geração de 45 não foi um retorno, mas sim uma reconstrução do caminho literário, focando na precisão da palavra como "instrumento de expressão estética" e estabelecendo os pilares da literatura brasileira contemporânea.
Fase | Período | Características Principais | Autores Chave (Geração 45 em destaque) |
1ª Fase | 1922–1930 | Ruptura, irreverência, experimentalismo, nacionalismo (destruição de normas). | Mário de Andrade, Oswald de Andrade. |
2ª Fase | 1930–1945 | Realismo social, engajamento político, consolidação do Modernismo. | Graciliano Ramos, Jorge Amado, Carlos Drummond de Andrade. |
3ª Fase | Pós-1945 | Rigor Formal, Academicismo, Introspecção, Universalismo (equilíbrio entre forma e conteúdo). | Guimarães Rosa, Clarice Lispector, João Cabral de Melo Neto. |