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10/03/2024 • 23 min de leitura
Atualizado em 27/07/2025

A Guerra da Cisplatina e a Questão Christie

Desvendando os Conflitos que Moldaram o Brasil Imperial: Um Guia Completo sobre a Guerra da Cisplatina e a Questão Christie

Você está prestes a presenciar dois dos episódios mais complexos e decisivos do Brasil Império: a Guerra da Cisplatina e a Questão Christie. Ambos os conflitos não apenas redefiniram fronteiras e relações internacionais, mas também impactaram profundamente a política interna e a própria sociedade brasileira. Este guia completo, pensado para você, estudante e concurseiro, aborda esses temas de forma didática, do mais simples ao mais complexo, com foco em dúvidas comuns e pontos cruciais para exames.


Parte 1: A Guerra da Cisplatina (1825-1828) – O Nascimento do Uruguai e o Desgaste de D. Pedro I

A Guerra da Cisplatina foi o primeiro grande conflito internacional enfrentado pelo Brasil como nação independente. Compreender suas origens é fundamental para entender o contexto do Primeiro Reinado e as pressões enfrentadas por D. Pedro I.

1.1. O que foi a Guerra da Cisplatina e onde ela ocorreu?

A Guerra da Cisplatina foi um conflito armado entre o recém-formado Império do Brasil e as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). O objeto central da disputa era a posse da Província Cisplatina, uma região estrategicamente vital que corresponde ao atual Uruguai. O conflito se estendeu de 10 de dezembro de 1825 a 28 de agosto de 1828, ocorrendo no Sul do Brasil, no Uruguai e na foz do Rio da Prata.

1.2. Por que a Cisplatina era tão disputada? As Raízes Históricas do Conflito

A região da Cisplatina (conhecida em castelhano como Província Oriental del Río de la Plata) possuía uma localização geográfica estratégica. Quem a controlava detinha grande domínio sobre a navegação em todo o Rio da Prata, o que incluía acesso aos rios Paraná e Paraguai, rotas essenciais para o transporte da prata andina. Essa importância estratégica fez da região um foco de tensão e atrito desde o período colonial, muito antes da independência do Brasil.

  • Disputa Ibérica (Portugal vs. Espanha): Desde 1680, com a fundação da Colônia do Santíssimo Sacramento pelos portugueses, a região foi intensamente disputada por Portugal e Espanha. Vários tratados territoriais foram assinados, como o Tratado de Madrid (1750), o Tratado de Santo Ildefonso (1777), e o Tratado de Badajoz (1801), mas a disputa pela Colônia de Sacramento e a indefinição de limites persistiram.

  • A Vingança de D. João VI: Em 1808, a invasão de Portugal por Napoleão Bonaparte, em decorrência do Bloqueio Continental, levou a Família Real Portuguesa a fugir para o Brasil. A Espanha colaborou com Napoleão, permitindo a passagem das tropas francesas por seu território. Em retaliação a essa atitude espanhola, D. João VI ordenou a invasão de Sacramento.

  • Anexação ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves: A Cisplatina foi invadida definitivamente em 1816 e incorporada oficialmente ao Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves em 31 de julho de 1821, passando a ser chamada de Província Cisplatina. A anexação foi justificada pelos alegados direitos sucessórios de sua esposa, a rainha Carlota Joaquina, sobre a região. O comandante da ocupação, general Carlos Frederico Lecor, agiu de forma autoritária, aumentando a tensão com a população local.

  • Parte do Império do Brasil: Mesmo após a independência do Brasil em 1822, a Província da Cisplatina continuou a fazer parte do território brasileiro, inclusive enviando deputados para a Constituinte de 1823.

1.3. A Eclosão da Guerra: A Rebelião Oriental e os Objetivos dos Beligerantes

A paz na Cisplatina não durou muito tempo. Em 1825, Juan Antonio Lavalleja liderou uma rebelião contra o domínio brasileiro. Conhecidos como os "Trinta e Três Orientais", Lavalleja e seus aliados declararam a separação da Cisplatina do Brasil e sua união com as Províncias Unidas do Rio da Prata (futura Argentina). Essa insurreição foi possível graças ao apoio material e financeiro das Províncias Unidas.

  • Objetivos do Império do Brasil (D. Pedro I):

    • Manutenção da Unidade Territorial: Para D. Pedro I, era crucial acabar com a rebelião e manter o domínio sobre a província do sul. Havia o temor de que essa rebelião pudesse motivar outras, levando à fragmentação do império.

  • Objetivos das Províncias Unidas do Rio da Prata (Argentina):

    • Anexação da Cisplatina: Apoiando Lavalleja, as Províncias Unidas esperavam anexar a Cisplatina ao seu território, garantindo assim o domínio sobre a estratégica região do Rio da Prata.

  • Objetivos dos Orientais (Rebeldes da Cisplatina):

    • Diversidade de Discursos: Não havia um discurso unificado. Lavalleja defendia a anexação às Províncias Unidas, mas outros grupos almejavam a independência total da região e a formação de uma república.

A declaração formal de guerra pelo governo imperial brasileiro ocorreu em 10 de dezembro de 1825. As Províncias Unidas retribuíram a declaração em 1º de janeiro de 1826.

1.4. O Conflito: Forças, Estratégias e Batalhas Chave

A Guerra da Cisplatina foi marcada por desafios para ambos os lados, tanto na terra quanto no mar.

  • Forças Oponentes e Dificuldades:

    • Brasil: Embora tivesse uma população significativamente maior (4,5 milhões, incluindo 1,1 milhão de escravos, contra 600 mil das Províncias Unidas), o Brasil enfrentou dificuldades para criar um exército nacional. As tropas portuguesas, que eram a espinha dorsal, retornaram à Europa após a independência, sendo substituídas por recrutas e mercenários (alemães e irlandeses). O recrutamento forçado gerou forte resistência, com relatos de camponeses "agarrados como malfeitores". O exército brasileiro, preparado para batalhas convencionais, teve dificuldades contra as táticas de guerrilha dos gaúchos uruguaios.

    • Províncias Unidas: Também tiveram problemas para levantar um exército, com apenas os "portenhos" (de Buenos Aires) realmente engajados na luta.

    • Uruguaios (Orientais): Apesar da pequena população (60 mil), os uruguaios tiveram menos dificuldade em formar um exército, pois muitos habitantes das planícies eram cavaleiros e adaptados para servir como cavalaria irregular, descritos como "soldados por hábito".

    • Marinharia: A Marinha do Brasil era significativamente superior à de Buenos Aires, contando com mais navios e oficiais britânicos e norte-americanos. Mesmo com a partida de Lord Cochrane, a marinha permaneceu intacta. A marinha argentina era inferior, com menos embarcações.

  • Estratégias Iniciais:

    • Brasil: Buscava deter a guerra com demonstração de poder naval e, posteriormente, um bloqueio naval a Buenos Aires. O bloqueio se mostrou difícil devido às águas rasas e canais estreitos. No final, a pressão da Marinha do Brasil conseguiu estrangular o comércio argentino.

    • Províncias Unidas: Tentaram furar o bloqueio com incursões rápidas e navios menores e mais ágeis, atraindo os bloqueadores brasileiros para águas rasas.

  • Batalhas e Desenvolvimento:

    • D. Pedro I enviou tropas para a região, mas elas foram muitas vezes truculentas com a população local, gerando reações negativas.

    • O imperador D. Pedro I chegou a ir pessoalmente ao campo de operações no final de 1826, viajando a cavalo por mais de 400 km até Porto Alegre. Ele encontrou o exército desmoralizado, demitiu oficiais incompetentes e reorganizou as tropas e a administração. No entanto, ele teve que retornar ao Rio de Janeiro no início de 1827 devido à notícia do falecimento de D. Leopoldina.

    • Batalhas Terrestres: As tropas brasileiras sofreram derrotas em batalhas importantes como Sarandi e Passo do Rosário.

    • Batalhas Navais: A Marinha brasileira foi derrotada na Batalha de Juncal. No entanto, as forças imperiais obtiveram uma vitória decisiva na Batalha de Monte Santiago (1827), assegurando o domínio naval.

    • Oposição Política Interna: Os liberais federalistas se opunham ao conflito, manipulando a opinião pública e culpando o monarca pela guerra. Eles dificultaram o envio de ajuda material e financeira para as tropas, o que levou o Império a graves dificuldades financeiras.

1.5. As Consequências: O Fim da Guerra e o Legado para o Brasil

O conflito, que se estendeu por quase três anos, chegou a um impasse: o Brasil mantinha o controle das maiores cidades (Montevidéu e Colônia do Sacramento) e o domínio naval, mas enfrentava altos custos e a oposição interna. As Províncias Unidas, embora tivessem vitórias terrestres, também careciam de recursos humanos e logísticos.

  • A Convenção Preliminar de Paz (1828): A Grã-Bretanha, com a mediação da França, pressionou por um acordo de paz. O tratado de paz foi assinado em 28 de agosto de 1828.

  • O Nascimento do Uruguai: O resultado foi a independência da Província Cisplatina, que se tornou a República Oriental do Uruguai. As Províncias Unidas não conseguiram a anexação que desejavam.

  • Consequências para o Brasil:

    • Pesada Carga Econômica: A guerra foi financiada principalmente pela venda de títulos da dívida pública, gerando uma intensa crise econômica. Os gastos superaram 30 milhões de dólares, e a Casa da Moeda emitiu grande quantidade de moeda, levando à sua desvalorização.

    • Desgaste Político de D. Pedro I: A derrota e os altos custos da guerra abalalaram profundamente a imagem e a confiança da população no soberano. Ele foi culpado pelo desmembramento do território. A Guerra da Cisplatina contribuiu significativamente para o aumento do desprestígio de D. Pedro I, sendo um fator importante que culminaria em sua abdicação do trono brasileiro em 1831. Sua tentativa de impor a unidade territorial à força reforçou a imagem de um imperador absolutista.

    • Perdas Humanas: Aproximadamente 8 mil brasileiros morreram no conflito.

  • A Construção da Alteridade Uruguaia:

    • A imprensa da Cisplatina (Província Oriental) desempenhou um papel crucial na construção de uma identidade oriental distinta, em oposição à figura do Brasil.

    • O Brasil era frequentemente retratado como "invasor, despótico e opressor". Havia uma clara distinção entre os portugueses (inicialmente vistos como auxiliares para a "regeneração" da região) e o Brasil, o "herdeiro político" que rompeu o pacto original.

    • Críticas à Tirania e à Exploração: Jornais locais denunciavam a "tirania e despotismo de D. Pedro" e de Lecor, acusando-os de favorecer comerciantes portugueses e fazendeiros brasileiros, permitir a livre navegação e o roubo de gado, levando a Cisplatina à ruína econômica.

    • O Brasil como "Atraso" e "Escravidão": Um ponto central na construção da alteridade brasileira foi a condenação veemente do escravismo. Para os jornalistas orientais, o Brasil representava o "atraso político e social", a "monarquia" e a "opressão", em contraste com a "ilustração e razão" das novas repúblicas americanas. A escravidão era vista como um retorno ao período colonial. Mesmo setores da elite cisplatina que apoiavam a presença brasileira condenavam a escravidão.

    • A Figura de D. Pedro I: Em alguns periódicos, D. Pedro I era chamado de "Neron del Continente Americano". Os soldados brasileiros eram descritos como "escravos de um tirano", em contraposição aos "soldados de uma nação livre" (portugueses).

Insight sobre a Personalidade de D. Pedro I: É importante notar que, além dos fatores políticos e econômicos, a historiografia psiquiátrica moderna levanta a hipótese de que a personalidade e o comportamento de D. Pedro I, influenciados por uma "temperamentopatia" e um possível transtorno de personalidade orgânico associado à epilepsia, exerceram grande influência sobre a construção política, histórica e territorial brasileira. Seus traços incluíam explosividade, impulsividade, irritabilidade e inflexibilidade. Ele também era agitado, hiperativo desde a infância, e tinha altos níveis de energia e oscilações de humor que poderiam evocar uma doença bipolar. Essa condição poderia ter influenciado sua coragem em tomar decisões dramáticas e cruciais, sua imprudência e indiferença às consequências perigosas de seus atos, essenciais para ousar transgredir e romper com a coroa portuguesa na proclamação da independência. A alta prevalência de consanguinidade e doença mental na monarquia portuguesa, incluindo sua avó D. Maria I ("a Louca") e sua mãe Carlota Joaquina, provavelmente contribuiu para seu histórico de saúde mental. Essa perspectiva adiciona uma camada de complexidade à análise de suas ações durante a Guerra da Cisplatina.


Parte 2: A Questão Christie (1862-1865) – Soberania, Escravidão e Relações Anglo-Brasileiras

A Questão Christie foi uma crise diplomática complexa entre o Império do Brasil e o Império Britânico, representando um dos momentos de maior tensão nas relações anglo-brasileiras no século XIX. Ela não foi apenas um "pequeno incidente", mas um reflexo de disputas mais amplas.

2.1. O que foi a Questão Christie e seu contexto?

A Questão Christie foi uma grave crise diplomática que se desenrolou entre os governos do Império do Brasil e do Império Britânico de 1862 a 1865. Ela culminou no rompimento das relações diplomáticas por iniciativa do Brasil em 1863, que só foram restabelecidas pacificamente em 1865.

O conflito é interpretado como o ponto em que o Brasil deixou claros os limites da diplomacia política inglesa, especialmente sob a atuação do embaixador britânico William Dougal Christie. Christie, descrito como uma personalidade ávida e autoritária, "disposto a levar tudo a ferro e fogo", gerou atrito com D. Pedro II.

2.2. Antecedentes da Crise: A Pressão Britânica e a Escravidão no Brasil

A Questão Christie não surgiu do nada; ela foi o ápice de tensões de longa data, especialmente relacionadas ao fim do tráfico de escravos e à questão da escravidão no Brasil.

  • A Lei Bill Aberdeen (1845): Decretada unilateralmente pela Grã-Bretanha, essa lei autorizava a marinha britânica a prender navios negreiros brasileiros no Atlântico, mesmo em águas brasileiras. Isso visava suprimir o tráfico de escravos para o Brasil e gerou um forte sentimento antibritânico no país, sendo percebida como uma humilhação à soberania nacional.

  • A Lei Eusébio de Queirós (1850): O Brasil, para evitar novas intervenções britânicas e preservar sua imagem de nação soberana, promulgou a Lei Eusébio de Queirós, que pôs fim ao tráfico transatlântico de africanos. Embora a lei tenha reduzido as tensões, não resolveu todas as pendências diplomáticas.

  • A Questão dos "Africanos Livres": Um dos principais focos de instabilidade era o destino dos "africanos livres" (ou emancipados), escravos trazidos ilegalmente ao Brasil após 1831 que, pela lei, deveriam ser libertados. O governo brasileiro, no entanto, postergava a entrega de listas e a efetiva libertação desses indivíduos. William Christie, ao chegar, concentrou seus esforços em pressionar o governo para que esses africanos obtivessem sua liberdade, chegando a ameaçar "recomendar que agentes fossem empregados para levar adiante petições dos negros [...] visando sua emancipação".

  • Contexto Econômico e a Escravidão: A economia brasileira, impulsionada pelo café, enfrentava desafios na década de 1850. O surto de cólera (1855-1856) reduziu a mão de obra escrava, e o preço dos cativos disparou. Isso levou à defesa da retomada do tráfico transatlântico de escravos em alguns setores, aumentando a preocupação britânica. Christie chegou a argumentar que a sua atuação pela liberdade dos escravos poderia ser uma "medida preliminar e preparatória em direção à abolição da escravidão no Brasil".

2.3. Os Incidentes que Desencadearam a Crise: Os Estopins de Christie

William Christie, ao se tornar plenipotenciário britânico no Rio de Janeiro em 1859, tinha como missões oficiais estreitar laços, renegociar tratados comerciais, regulamentar a navegação no Amazonas e resolver pendências de heranças. No entanto, secretamente, ele tinha instruções de investigar a escravidão, o tráfico negreiro, a substituição da mão de obra escrava e os avanços da imigração no Brasil. Sua postura agressiva e as pendências não resolvidas levaram a dois incidentes cruciais:

  1. O Naufrágio do Prince of Wales (Abril de 1861): O navio mercante britânico Prince of Wales encalhou na costa do Rio Grande do Sul. O cônsul britânico Henry Vereker alegou que a carga foi pilhada por brasileiros e que parte da tripulação foi assassinada, acusando as autoridades locais de negligência. Um inquérito brasileiro confirmou a pilhagem, mas negou os assassinatos. Mesmo assim, a Coroa Britânica exigiu indenização e manteve a tese de assassinato, aumentando a pressão diplomática.

  2. O Incidente do HMS Forte (Junho de 1862): Três oficiais da Marinha Inglesa, à paisana e em estado de embriaguez, foram presos na Tijuca, Rio de Janeiro, por desordem. A versão britânica, defendida por Christie, era de que os policiais os agrediram. Christie, então, exigiu a demissão dos guardas envolvidos e um pedido formal de desculpas do Império Brasileiro.

2.4. A Escalada e o Contexto da Guerra Civil Norte-Americana

Diante da negativa do Brasil em atender às suas exigências, William Christie ordenou uma represália da Marinha Inglesa. Em dezembro de 1862, um esquadrão naval britânico, sob o comando do contra-almirante Richard Laird Warren, bloqueou o porto do Rio de Janeiro e apreendeu cinco navios brasileiros. Essa ação ficou conhecida como "diplomacia das canhoneiras", um método de intimidação sem declaração formal de guerra.

A atitude britânica enfureceu a população da capital, levando a protestos e ameaças contra propriedades britânicas. D. Pedro II registrou sua indignação no diário: "Que triste começo de ano sob a pressão de ameaça dum governo estrangeiro". O Brasil, em resposta, exigiu satisfações e um pedido formal de desculpas, e diante da recusa britânica, rompeu as relações diplomáticas em 25 de maio de 1863.

A Influência da Guerra Civil Americana (1861-1865): É crucial entender que a radicalização de Christie e a própria Questão Christie não podem ser explicadas apenas pela relação bilateral Brasil-Inglaterra. A conjuntura da Guerra Civil Norte-Americana teve um papel decisivo.

  • Mudança de Postura Britânica: Inicialmente, o Reino Unido declarou neutralidade, mas reconheceu o estado de beligerância dos Confederados. No entanto, a proclamação abolicionista de Abraham Lincoln, a "Preliminary Emancipation Proclamation" (setembro de 1862), que declarou livres os escravos dos territórios confederados, mudou a opinião pública britânica, que pendeu massivamente para o antiescravismo da União.

  • Impacto em Christie: Impulsionado por essa virada no conflito americano, Christie, que já buscava desmantelar o sistema escravista brasileiro, usou os incidentes como pretexto para seu ultimato, com a intenção clara de interferir na questão da escravidão no Brasil. Ele chegou a costurar alianças com políticos e jornalistas liberais brasileiros, como Francisco Otaviano do Correio Mercantil, para forçar o debate público sobre os africanos livres e combater os conservadores pró-escravidão.

2.5. A Resolução e as Consequências: Vitórias e Desafios para o Império

A diplomacia brasileira, liderada pelo Marquês de Abrantes, foi crucial para evitar que o conflito escalasse para uma guerra.

  • A Arbitragem do Rei Leopoldo I: D. Pedro II aceitou submeter o caso da prisão dos oficiais britânicos à arbitragem do rei Leopoldo I da Bélgica, seu tio (e tio da Rainha Vitória). Antes da decisão, D. Pedro II, na crença de que a arbitragem seria desfavorável, decidiu pagar antecipadamente a indenização de £3200 pelo caso do Prince of Wales, mas sob protesto, para demonstrar que a questão não era monetária, mas de soberania.

  • Decisão Favorável ao Brasil: Contra o esperado, em 18 de junho de 1863, o Rei Leopoldo I sentenciou a favor do Brasil. Ele concluiu que não foi possível comprovar que as causas do conflito foram geradas pelos agentes brasileiros e que a falta de identificação dos oficiais (por estarem à paisana) impedia a dedução de seu status, portanto, as leis brasileiras aplicadas não ofenderam a marinha britânica.

  • Recusa Britânica e Rompimento: Apesar da vitória diplomática, a Grã-Bretanha recusou-se a reconhecer a decisão e a pedir desculpas formalmente. Isso demonstrou a fragilidade inicial da arbitragem como método vinculativo para nações militarmente poderosas da época. Diante da recusa, o Brasil rompeu relações diplomáticas com a Grã-Bretanha em 25 de maio de 1863.

  • O Reatamento das Relações (1865): As relações só foram restabelecidas em 1865, com a mediação do novo rei de Portugal, Luís I. O principal motivo para o reatamento foi o contexto da eclosão da Guerra do Paraguai (1864-1870). O Brasil, já envolvido na Guerra do Uruguai e prestes a entrar em um conflito de larga escala com o Paraguai, precisava do crédito britânico e não podia se dar ao luxo de escalar um conflito com a principal potência mundial. Os ingleses, por sua vez, estavam interessados em financiar o Império do Brasil nesse conflito. Em 23 de setembro de 1865, o embaixador Edward Thornton se reuniu com D. Pedro II no teatro de operações em Uruguaiana, encerrando oficialmente o episódio.

  • Consequências para a Escravidão Brasileira:

    • A Questão Christie, somada à Guerra Civil Americana, intensificou o debate sobre o fim da escravidão no Brasil. O Império percebeu a urgência de reformas para evitar desfechos violentos como os dos EUA.

    • Houve um avanço significativo na libertação dos africanos livres (emancipados). Embora o gabinete inicial de Zacarias de Góis (1864) não tenha proposto a libertação do ventre de escravas, a emissão de cartas de emancipação para africanos livres acelerou como nunca.

    • O ápice foi o Decreto nº 3.310, de 24 de setembro de 1864, que libertou "todos os Africanos livres existentes no Império ao serviço do Estado ou de particulares" e determinou que as cartas de emancipação fossem expedidas "com a maior brevidade, e sem despesa alguma". Esse decreto é considerado a primeira resposta brasileira à crise global da escravidão.


Perguntas e Respostas Comuns e Foco para Concursos Públicos

Para aprofundar seu conhecimento e se preparar para exames, vamos abordar algumas perguntas frequentes e pontos cruciais que costumam ser cobrados em concursos.

Dúvidas Comuns:

  • A Guerra da Cisplatina foi uma vitória ou derrota para o Brasil?

    • Do ponto de vista militar, houve um empate estratégico, com vitórias e derrotas para ambos os lados, mas o Brasil manteve o domínio naval e o controle das principais cidades. No entanto, do ponto de vista político e territorial, foi uma derrota para o Brasil, pois resultou na perda da Província Cisplatina e no nascimento do Uruguai. Para D. Pedro I, foi um grande desgaste de sua imagem e liderança.

  • A Questão Christie foi uma vitória ou derrota para o Brasil?

    • Diplomaticamente, o Brasil obteve uma vitória simbólica e legal na arbitragem do Rei Leopoldo I, que sentenciou a favor do Brasil no caso dos oficiais do Forte. No entanto, a recusa britânica em aceitar a decisão e pedir desculpas levou ao rompimento das relações, o que foi uma forma de o Brasil defender sua soberania. O reatamento posterior, em 1865, foi mais uma necessidade pragmática devido à Guerra do Paraguai, sem que a Inglaterra se desculpasse formalmente pela ação, o que ainda deixou um gosto amargo. Portanto, foi uma vitória de dignidade para o Brasil, mas que evidenciou a fragilidade do direito internacional frente a potências militares.

  • Qual a relação entre a Guerra da Cisplatina e a abdicação de D. Pedro I?

    • A Guerra da Cisplatina foi um fator crucial para o aumento do desgaste e da impopularidade de D. Pedro I. Os altos custos financeiros da guerra, a desvalorização da moeda, a perda de vidas e, principalmente, a perda territorial da Cisplatina, geraram grande insatisfação popular e da elite política, que o via como absolutista e ineficaz. Esse desgaste, somado a outros fatores internos do Primeiro Reinado (como seu autoritarismo e a crise econômica), culminou na sua abdicação em 1831.

  • Qual a relação entre a Questão Christie e a abolição da escravidão no Brasil?

    • A Questão Christie, inserida no contexto da Guerra Civil Americana, acelerou o debate sobre a abolição da escravidão no Brasil. A pressão britânica, especialmente de William Christie, focada na libertação dos africanos livres, e o exemplo da abolição nos EUA, levaram o governo imperial a tomar medidas concretas. O Decreto de 1864, que libertou os africanos livres, é uma consequência direta dessa pressão e marca o início da crise da escravidão brasileira. A Questão Christie mostrou que a escravidão era um ponto de vulnerabilidade nas relações externas do Brasil.

Pontos Cruciais para Concursos Públicos:

  1. Causas e Objetivos:

    • Guerra da Cisplatina: Disputa colonial pela região do Rio da Prata, anexação por D. João VI, rebelião liderada por Lavalleja com apoio argentino, objetivo brasileiro de manter a unidade territorial.

    • Questão Christie: Culminação de tensões relacionadas ao tráfico negreiro (Lei Bill Aberdeen) e à situação dos africanos livres, além de incidentes pontuais (naufrágio do Prince of Wales, prisão de oficiais do Forte).

  2. Personagens Chave:

    • Guerra da Cisplatina: D. Pedro I, Juan Antonio Lavalleja (líder dos 33 Orientais), Carlos Frederico Lecor (comandante da Cisplatina), D. Leopoldina (cujo falecimento fez D. Pedro I retornar).

    • Questão Christie: William Dougal Christie (embaixador britânico), D. Pedro II, Marquês de Abrantes (diplomata brasileiro), Rei Leopoldo I da Bélgica (árbitro).

  3. Consequências Diretas:

    • Guerra da Cisplatina: Independência do Uruguai (República Oriental do Uruguai), crise econômica severa no Brasil, desgaste político de D. Pedro I que levou à sua abdicação.

    • Questão Christie: Rompimento e reatamento das relações diplomáticas com a Grã-Bretanha (influenciado pela Guerra do Paraguai), aceleração das medidas abolicionistas (Decreto de 1864 sobre africanos livres).

  4. Conceitos e Elementos Importantes:

    • Consanguinidade Real: A alta prevalência de casamentos consanguíneos na monarquia portuguesa e espanhola é um fator levantado para a alta morbidade psiquiátrica em antepassados de D. Pedro I, como D. Maria I ("a Louca"), e sua própria temperamentopatia e epilepsia, que podem ter influenciado suas decisões políticas.

    • Diplomacia das Canhoneiras: A ação britânica de bloquear o porto do Rio de Janeiro e apreender navios é um exemplo clássico.

    • Arbitragem Internacional: O uso da arbitragem pelo Brasil e a aceitação de um terceiro (Leopoldo I) para resolver o conflito, e a posterior recusa britânica em aceitar a decisão, ilustram a complexidade das relações internacionais da época.

    • Conflitos Platinos: A Guerra da Cisplatina é parte de um conjunto de conflitos na região do Rio da Prata, que incluem também a Invasão Luso-brasileira, a Guerra do Prata, a Questão Uruguaia e a Guerra do Paraguai.

  5. Exceções e "Pegadinhas":

    • Na Questão Christie, a arbitragem do Rei Leopoldo I foi favorável ao Brasil, contrariando a expectativa inicial de D. Pedro II, que chegou a pagar a indenização adiantado. A recusa britânica em acatar a decisão é um ponto de destaque.

    • Apesar do sucesso do bloqueio naval brasileiro na Guerra da Cisplatina, as vitórias terrestres foram em sua maioria das Províncias Unidas, mas a falta de recursos as impediu de explorar essas vitórias.

    • A abdicação de D. Pedro I não foi uma causa direta da Guerra da Cisplatina, mas sim uma consequência da conjuntura política e social interna agravada pelo conflito.

    • A Questão Christie não foi resolvida por uma retratação formal inglesa, mas pela necessidade estratégica do Reino Unido de ter o Brasil como aliado (e mercado de financiamento) na iminente Guerra do Paraguai.


O Legado de um Período Turbulento

A Guerra da Cisplatina e a Questão Christie, embora distintas em suas naturezas e protagonistas, são exemplos marcantes de como os desafios externos e as dinâmicas internas se entrelaçaram para moldar o Brasil Imperial. A Guerra da Cisplatina, com seu alto custo e a perda territorial, foi um duro golpe para o recém-independente Brasil e um fator decisivo para a abdicação de D. Pedro I, consolidando o nascimento de uma nova nação no cenário sul-americano.

Já a Questão Christie, ao testar os limites da soberania brasileira e expor a vulnerabilidade do império em relação à escravidão, teve um impacto significativo na agenda abolicionista, levando às primeiras medidas governamentais para a libertação de africanos livres e redefinindo as relações do Brasil com a principal potência da época.

Compreender esses eventos não é apenas memorizar datas e nomes, mas captar as complexas teias de poder, diplomacia, economia e transformação social que definiram o Segundo Reinado e lançaram as bases para o Brasil que conhecemos hoje. Ao dominar esses conteúdos, você estará não apenas preparado para seus exames, mas também para uma compreensão mais profunda da rica e multifacetada história brasileira.

Questões:

  1. Qual foi o principal motivo da Guerra da Cisplatina?

a) Disputa por território entre Brasil e Argentina.
b) Reivindicação da independência da região da Cisplatina.
c) Conflito religioso entre o Brasil e o Uruguai.
d) Disputa comercial entre o Brasil e a Inglaterra.

  1. Por que a Questão Christie foi levantada após o fim da Guerra da Cisplatina?

a) Devido a uma disputa territorial entre Brasil e Argentina.
b) Por causa de uma exigência de pagamento de indenização pela Inglaterra.
c) Devido a conflitos internos entre o Brasil e o Uruguai.
d) Por uma disputa diplomática entre o Brasil e a França.

  1. Qual foi o desfecho da Questão Christie?

a) O Brasil não precisou pagar indenização alguma.
b) A Inglaterra teve que indenizar o Brasil.
c) Um árbitro indicado pela França decidiu que o Brasil deveria pagar a indenização.
d) A questão permaneceu sem resolução até os dias atuais.

Gabarito:

  1. b) Reivindicação da independência da região da Cisplatina.

  2. b) Por causa de uma exigência de pagamento de indenização pela Inglaterra.

  3. c) Um árbitro indicado pela França decidiu que o Brasil deveria pagar a indenização.