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26/09/2025 • 12 min de leitura
Atualizado em 26/09/2025

A Poesia Marginal dos Anos 70

A Geração Mimeógrafo e a Contracultura na Literatura Brasileira

O Que Foi a Poesia Marginal e Seu Contexto Histórico

A Poesia Marginal, também amplamente conhecida como Geração Mimeógrafo, é um movimento literário fundamental na história da literatura brasileira, florescendo durante a década de 1970. Este fenômeno artístico e cultural emergiu como uma expressão de contracultura em meio a um dos períodos mais repressivos do país: a Ditadura Militar (1964-1985).

Os poetas marginais mudaram o modo de fazer poesia no Brasil. Longe dos canais tradicionais de publicação, o movimento se destacou por sua produção independente e artesanal, que se opunha diretamente à censura e à elitização da arte vigentes.

Período

Contexto Político

Nome do Movimento

Meio de Produção

Anos 1970

Ditadura Militar, AI-5 (Ato Institucional n.º 5)

Poesia Marginal / Geração Mimeógrafo

Mimeógrafo e fotocopiadoras


1. O Contexto de Repressão e o Caráter de Contracultura

Para entender a Poesia Marginal, é crucial compreender o cenário sociopolítico da época.

1.1. A Ditadura e a Censura

O movimento surgiu em um momento bastante conturbado, logo após o AI-5, baixado em 1968, que suspendeu garantias constitucionais e impôs uma censura severa à imprensa, literatura, música, teatro e cinema. Artistas e intelectuais sentiam a liberdade de expressão diminuir progressivamente.

As grandes editoras eram censuradas pelo governo militar, o que impossibilitava a publicação de temas considerados delicados ou críticos. A repressão se tornou implacável.

1.2. Definição de Contracultura

A Poesia Marginal foi um movimento de contracultura. Contracultura refere-se a um conjunto de valores e ideias que se posiciona "fora" da cultura dominante, buscando romper com ela. Na poesia, isso se manifestou como uma crítica ao padrão poético, estético e conteudístico aceito.

Essa estética se alimentou de influências da contracultura internacional, como o rock and roll e o movimento hippie, incorporando o aspecto lúdico da poesia contra a seriedade das poéticas anteriores.


2. A Geração Mimeógrafo e a Lógica de Produção Alternativa

O nome “Geração Mimeógrafo” remete à principal peculiaridade e revolução prática do movimento: a forma de produção e distribuição das obras.

2.1. O Aparelho Central: O Mimeógrafo

Os poetas marginais recorriam ao mimeógrafo e às fotocopiadoras para reproduzir seus textos. O mimeógrafo era um equipamento acessível, que produzia cópias a partir de uma matriz perfurada.

A principal ideia por trás disso não era o lucro, mas sim a necessidade de se expressar livremente em pleno regime de Ditadura Militar.

2.2. A Economia e Distribuição da Poesia

A produção era feita de maneira artesanal, com baixo custo e pequeno, ou nenhum, lucro.

O processo editorial tradicional (revisão, editoras) era burlado. Os textos eram grampeados em livretos e vendidos de mão em mão, distribuídos em:

  • Eventos de cultura marginal.

  • Bares, restaurantes, teatros, cinemas e praças.

  • Nas ruas, em filas de autocarros e universidades.

Essa distribuição rompeu com a elitização da arte. A arte, antes de difícil acesso (devido à censura e preço elevado), passava a estar disponível para todas as classes sociais.

2.3. Os Significados do Termo "Marginal"

O termo "Poesia Marginal" ou "Marginália" tem múltiplos significados, sendo um ponto crucial para concursos:

  1. Margem Editorial/Produção: Relaciona-se ao fato de os autores estarem à margem do circuito editorial estabelecido, buscando meios alternativos de produção (mimeógrafo, fotocópia).

  2. Margem Cultural/Estética: Refere-se a um tipo de arte que estava à margem do que era considerado comum ou canônico. Os poetas romperam com a tradição vigente.

  3. Margem Social/Temática: Dado pelo fato de as poesias abordarem assuntos que colocavam em evidência grupos estigmatizados na sociedade, como negros, pobres e homossexuais.


3. Características Estéticas e Temáticas

A Poesia Marginal promoveu uma profunda mudança na estética da poesia brasileira, marcada por uma inventividade artística e vitalidade criativa.

3.1. Linguagem e Estilo

  • Linguagem Coloquial e Antiacadêmica: Utilização da linguagem do dia a dia, simples, direta. Isso se opôs ao rigor formal das escolas anteriores, como o Parnasianismo, e ao caráter acadêmico.

    • Exemplo Didático: Uso de gírias e expressões como "tô", "tou", "mi diga", e irregularidade na pontuação, subvertendo o padrão culto esperado.

  • Liberdade Formal e Experimentalismo: Havia um descompromisso com o padrão literário. A poesia se permitia a fragmentação, ambiguidade, uso de palavrões e experimentação rítmica.

  • Brevidade e Imediatismo: O poema tendia a ser breve e instantâneo, sendo chamado de “poema flash”, “poema minuto”, “poema relâmpago” ou “estalo lírico”. Essa síntese também reflete a influência dos meios de comunicação de massa e da sociedade de consumo (baixo custo, descartável).

  • Subjetividade: Ao contrário do Concretismo, que privilegiava a forma, a Poesia Marginal explorava intensamente a subjetividade.

3.2. Temática: Humor, Ironia e Protesto

A poesia marginal era marcada pela ironia e humor. Embora Heloísa Buarque de Hollanda a descreva como "aparentemente light e bem-humorada", seu tema principal era grave, refletindo o trauma da geração com os limites impostos.

  • Protesto e Resistência: A poesia tinha um cunho de resistência cultural e política, buscando questionar valores morais, sociais e o sistema opressor da ditadura.

  • O Cotidiano Urbano: Os poetas buscavam a poesia presente no cotidiano das grandes e pequenas cidades. A realidade imediata, tudo o que acontecia ao redor dos poetas, era inspiração.

  • Temas Diversos: Além da política, abordavam o amor e a sexualidade, a religião e críticas socioeconômicas ao sistema capitalista e ditatorial.

  • Interartes: A produção se expressava não apenas em palavras, mas também em elementos visuais, colagens e fotografias.


4. Principais Autores e Obras

Os poetas marginais foram representantes da contracultura e transformaram a literatura.

Autor

Perfil e Contribuição

Obra(s) de Destaque

Chacal (Ricardo de Carvalho Duarte)

Grande expoente, conhecido por sua poesia lúdica, espontânea e de protesto. Co-fundador da Nuvem Cigana.

Muito Prazer (1971), Preço da Passagem (1972), América.

Paulo Leminski

Escritor, poeta, crítico literário, tradutor e professor. Conhecido pela síntese e pelo Haicai. Reconheceu a poesia marginal como a figuração exata da brutal urbanização brasileira.

Catatau (1975), Caprichos & relaxos (1983).

Ana Cristina Cesar

Conhecida pela delicadeza e pela exploração da subjetividade e intimidade. Suas obras muitas vezes tratavam da memória e do amor.

A teus pés (1982).

Torquato Neto

Poeta e compositor, figura marginal que permaneceu como símbolo da geração. Interagiu com o cinema.

Os últimos dias de Paupéria (1973).

Waly Salomão

Poeta de grande inventividade, com obras transgressoras. Participou do Tropicalismo.

Me segura qu’eu vou dar um troço (1972).

Cacaso (Antônio Carlos Brito)

Professor universitário, ajudou a articular a ponte entre poetas marginais e o meio acadêmico. Sua poesia reflete a crítica social e a ambiguidade.

Grupo escolar (1975).

Nicolas Behr

Poeta de Brasília, cujas obras abordam o cotidiano da capital. Notável pelo uso intensivo de intertextualidade (ver Seção 5.3).

Vinde a mim as palavrinhas, Restos Vitais.


5. Exceções, Influências e Relações Interartísticas

5.1. Influências Literárias e Artísticas

A Poesia Marginal não surgiu no vácuo; ela foi influenciada por movimentos e tendências anteriores, principalmente:

  • Primeira Fase do Modernismo Brasileiro: Compartilhava o espírito de ruptura com a tradição e a valorização do coloquial, resgatando a atitude leve e descomplicada de autores como Oswald de Andrade e Manuel Bandeira.

  • Tropicalismo: Movimento artístico e cultural que marcou a virada da década de 60 para 70. O Tropicalismo também era uma manifestação de contracultura.

  • Geração Beat (EUA): O poeta Chacal, por exemplo, foi influenciado diretamente ao ver a performance de Allen Ginsberg em Londres, valorizando a atitude corpórea e a oralidade da palavra.

5.2. Oposição ao Concretismo

Embora a Poesia Marginal tenha se inspirado na brevidade e síntese da poesia neovanguardista, como o Concretismo, ela tendeu à oposição à sua forma mais usual.

Enquanto o Concretismo enfatizava a arquitetura escrupulosa do poema e a forma racionalista, a Poesia Marginal priorizava a exploração da subjetividade e a espontaneidade, rejeitando o compromisso ético-político didático de algumas poéticas da década de 60.

5.3. A Exceção de Nicolas Behr: O Desvio Erudito

A obra de Nicolas Behr é um exemplo notável de como a Poesia Marginal, apesar de seu objetivo de ser universal e acessível, continha desvios que elevavam sua complexidade.

Behr utilizou intensamente a carnavalização da tradição, fazendo referências à Bíblia e, principalmente, ao movimento modernista brasileiro (Drummond, Oswald de Andrade, Cecília Meireles) e estrangeiro (Lorca).

O uso da intertextualidade em poemas como Drummond Brasiliensis (referenciando E agora, José? de Carlos Drummond de Andrade) ou a referência a Dom Pedro I pressupõe que o leitor possua conhecimento prévio sobre estas obras e figuras históricas.

Ponto de Crítica Marginal (Exceção): Este desvio, que exige conhecimento do tradicional para negá-lo e rejeitá-lo, restringiu o público leitor. Isso contraria o objetivo principal da Poesia Marginal de ser o mais abrangente possível e alcançar aqueles que estavam à margem da sociedade.

5.4. Interação com Outras Artes

A Geração Mimeógrafo não se limitou à literatura, mas interagiu com outras formas de arte e cultura, consolidando o movimento de contracultura.

  • Música: Envolveu compositores e poetas como Jards Macalé, além de interagir com nomes como Caetano Veloso, Gilberto Gil e João Bosco. Ronaldo Bastos, da Nuvem Cigana, co-compôs a canção homônima que deu nome ao coletivo.

  • Cinema e Teatro: Artistas como Glauber Rocha e Torquato Neto estiveram ligados. O filme Febre do Rato (2011), por exemplo, é citado por Chacal como um exemplo contemporâneo de lirismo marginal.

  • Performance: A poesia buscava sair do papel e ser falada. O grupo carioca Nuvem Cigana realizou as Artimanhas, apresentações performativas onde poemas eram declamados, dramatizados e acompanhados por música (happenings).


6. Legado e Continuidade: Do Mimeógrafo à Internet

O movimento marginal deixou um legado imenso, alterando permanentemente a forma de se conceber e produzir poesia no Brasil.

6.1. O Marco Editorial: 26 Poetas Hoje (1975)

Um marco fundamental na legitimação da Poesia Marginal foi a antologia 26 Poetas Hoje, organizada por Heloísa Buarque de Hollanda. Publicado pela editora Brasiliense em 1975, este livro tirou parte da produção da estrita marginalidade editorial.

Apesar de a proposta ter gerado protestos por parte de poetas que temiam a institucionalização, a obra foi crucial para a divulgação massiva de nomes como Ana Cristina César, Chacal, Cacaso e Torquato Neto.

6.2. O Grupo Nuvem Cigana (Estudo de Caso)

A Nuvem Cigana (fundada em 1972, Rio de Janeiro) é um coletivo que sintetiza o espírito da geração. O grupo, que incluía Chacal, Charles Peixoto, Ronaldo Bastos e Bernardo Vilhena, procurava ser um coletivo plural nas artes.

Eles encarnavam a contracultura através da vida em comunidade, do impulso de liberdade e do culto ao instantâneo. Sua maior contribuição foi a poesia falada através dos happenings chamados Artimanhas.

6.3. A Continuidade da Tradição Marginal

A tradição marginal se estendeu pelos anos 1980, utilizando recursos como a fotocópia e a produção de zines.

Nos dias de hoje, a poesia marginal encontra seu eco na Internet. A poesia que circula apenas online, por poetas que não usam outro meio de divulgação por postura ou exclusão econômica, pode ser vista como uma continuidade desta tendência.

No entanto, o poeta Chacal critica que, na era digital, a poesia está "afogada nesse dilúvio audiovisual". Embora a invasão digital tenha facilitado a produção, o excesso de informação ("hipertrofia informacional") soterra o "tesão" pela nova arte, dificultando o tempo de mergulho e reflexão que a poesia exige.


7. Perguntas Frequentes e Tópicos de Concurso

Esta seção aborda questões cruciais frequentemente exploradas em avaliações e concursos.

P1: A Poesia Marginal dos Anos 70 é a mesma coisa que a Literatura Marginal (ou Periférica) Contemporânea?

Não. Embora compartilhem o termo "marginalidade", as diferenças são de fundo e forma:

  • Poesia Marginal (Anos 70): Marginalidade primariamente editorial (rejeição pelo mercado) e política (censura). Muitos autores eram auto-marginalizados ou intelectuais com acesso a certos círculos. A linguagem era coloquial e experimental, mas o enfoque era na contracultura e na resistência política.

  • Literatura Marginal/Periférica (Anos 90/2000 em diante): A marginalidade migra da condição de produção para a condição social do autor. O enfoque está nos que vivem a exclusão social (moradores de favelas, periferias, afrodescendentes). É um movimento de afirmação identitária, com uma linguagem mais referencial e um foco social e testemunhal.

P2: Qual era o principal objetivo da Poesia Marginal?

O objetivo central era fazer uma literatura independente e expressar-se livremente. Os poetas buscavam questionar valores morais, editoriais, sociais e políticos, opondo-se ao regime militar e à cultura dominante.

Eles também visavam romper com a elitização da arte, tornando-a acessível a todas as classes sociais através do baixo custo de produção.

P3: Como o humor e a ironia se manifestavam como resistência política?

O humor e a ironia (ou tom jocoso/deboche) eram ferramentas de subversão. Eles permitiam:

  1. Atingir o sistema opressor pelo artifício poético, em um período de forte censura.

  2. Desconstruir o padrão poético sério e sisudo. Chacal, por exemplo, criticava o "solene, o formal, o blá-blá-blá".

  3. Expressar o trauma e os limites impostos à geração de forma light, mas com um tema grave de fundo.

P4: A Poesia Marginal valorizava a Norma Padrão da Língua Portuguesa? (Tópico de Prova)

Não. A Geração Mimeógrafo é caracterizada pelo antiacademicismo e pela valorização da linguagem coloquial e espontânea. Eles não tinham preocupação em atender aos princípios da norma-padrão da língua, o que era parte de sua crítica à elitização e ao formalismo. A ruptura com a tradição incluía a subversão da linguagem.

P5: Quem foi Heloísa Buarque de Hollanda e qual sua importância?

Heloísa Buarque de Hollanda foi a organizadora da antologia 26 Poetas Hoje. Ela foi crucial para a divulgação massiva e o reconhecimento de parte da Poesia Marginal no circuito editorial, ao publicar a obra em 1975.

P6: O que eram as Artimanhas?

As Artimanhas eram apresentações performativas ou happenings promovidos pelo coletivo Nuvem Cigana. Nelas, os poetas declamavam seus poemas de forma dramatizada, por vezes acompanhados de música. Representavam a materialização da poesia marginal fora do papel, no espaço público, testando os limites da poesia e da palavra.

P7: Qual é a crítica feita à produção de Nicolas Behr, apesar de ele ser um poeta marginal?

A crítica é que, ao fazer uso constante de intertextualidade e referências eruditas ao Modernismo (carnavalização da tradição), ele exigia um conhecimento cultural prévio do leitor. Esse requerimento de erudição restringia o público que poderia compreender plenamente a obra, o que contradizia a essência democrática e abrangente da Poesia Marginal.