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22/09/2025 • 12 min de leitura
Atualizado em 22/09/2025

Análise de "Morte e Vida Severina"

1. Fundamentos Essenciais da Obra

1.1. O que é "Morte e Vida Severina"? (Gênero, Publicação e Enredo Básico)

"Morte e Vida Severina" é uma das obras mais importantes do dramaturgo e poeta brasileiro João Cabral de Melo Neto. Escrita em forma de poema épico ou longo poema, a obra foi publicada originalmente no livro Duas Águas em 1956, embora também seja referenciada como tendo sido escrita entre 1954-1955 ou publicada em 1955. O texto é composto por 18 trechos ou partes.

O poema retrata a vida difícil e as condições de seca no sertão nordestino do Brasil. O protagonista, Severino, é um retirante que empreende uma jornada (ou "peregrinação") em busca de uma vida melhor.

O título completo da obra, "Auto de Natal Pernambucano", já revela seu gênero e sua inspiração. Trata-se de uma peça literária de natureza regionalista, que combina a tradição medieval do auto (peça teatral curta de caráter religioso ou moral) com a forte religiosidade e o folclore do Nordeste.

Dúvida Comum: Por que "Auto de Natal", se a história é triste? O poema é chamado de Auto de Natal porque, apesar de toda a jornada de morte, a narrativa culmina com o nascimento de uma criança (filho de José, o mestre “carpina”, numa clara alusão ao nascimento de Cristo), o que reacende a esperança de vencer a vida "severina". Esse nascimento é o "signo de que algo resiste à constante negação da existência".

1.2. João Cabral de Melo Neto: O Poeta Engenheiro (Contexto Literário)

João Cabral de Melo Neto (1920-1999) é consagrado como um dos principais poetas brasileiros. Sua obra se situa na terceira geração do modernismo, também conhecida como Geração de 45.

PRIORIDADE EM CONCURSOS PÚBLICOS: A Estética da Geração de 45 e o Rigor Formal

A Geração de 45, à qual Cabral pertencia, tinha como objetivo desbastar os "excessos" do Modernismo, buscando um rigor formal de moldes parnasiano-simbolistas. Cabral se destacou ao superar os limites dessa vertente, adotando um estilo que o acompanhou por toda a vida: textos claros e objetivos, despojados de qualquer ornamentação.

Seu propósito era cortar dos versos todos os elementos supérfluos, inclusive os musicais. Essa busca por uma nova objetividade empresta à sua poesia uma áspera expressividade de grande frescor. Por causa de sua linguagem concisa e precisa, e seu enfoque na palavra concreta e sensorial, ele é frequentemente chamado de "poeta engenheiro". Ele valorizava o visual sobre o conceitual, o plástico sobre o musical.

Embora se distancie do hermetismo (característica marcante em outras fases de sua produção poética), Morte e Vida Severina é considerada seu poema longo mais equilibrado entre rigor formal e temática participante.

1.3. A Jornada do Retirante: O Roteiro da Morte

O protagonista, Severino, é um homem do Agreste que inicia sua trajetória rumo ao litoral pernambucano. Ele é guiado pelo rio Capibaribe.

Ao longo do caminho (que passa pelo Sertão, Agreste, Zona da Mata e Litoral pernambucano), Severino se depara com as diversas facetas da morte. A mesmice das situações de miséria frustra suas expectativas. Ele percebe que migrar não é "viagem", mas sim seguir o próprio enterro.

As "Mortes" encontradas por Severino (exceções e detalhes):

  1. Morte pela Seca e Fome: Corrói as entranhas do país.

  2. Morte Violenta (Disputa por terras): Severino encontra dois homens carregando um defunto em uma rede. Ele descobre que o homem foi assassinado a bala, não por "morte morrida", mas "morte matada". O crime é banalizado pela impunidade, onde "sempre há uma bala voando desocupada".

  3. Morte Simbólica (Despersonalização): O protagonista perde sua identidade individual, tornando-se apenas "mais um Severino".

  4. O Encontro com o Vazio: Severino chega ao litoral (Recife), buscando uma vida digna, mas encontra uma realidade tão dura quanto a do sertão. Ele nota que cemitérios estão esperando os retirantes que chegam à capital.

A Reviravolta: Após planejar o suicídio atirando-se da ponte sobre o Capibaribe, ele presencia o nascimento da criança, filho do mestre José. Este evento, que dialoga com a tradição do Auto de Natal, restaura nele a esperança.


2. Temas Centrais e Simbolismo

2.1. O Significado Coletivo da "Vida Severina"

O nome do protagonista, Severino, é emblemático. Ele se apresenta em primeira pessoa do singular ("O meu nome é Severino, não tenho outro de pia"), mas logo se dilui no coletivo. O nome é comum no agreste, sendo "santo de romaria", e ele é chamado de "Severino de Maria".

A palavra "severina" deriva do latim severus, que significa severo, difícil. Assim, a sua vida é uma vida dura, precária, marcada por incertezas constantes.

A Crise de Identidade e o Coletivo: Severino é um símbolo da luta pela sobrevivência no sertão nordestino. Ele se identifica a tantos outros Severinos que são "iguais em tudo na vida" e na sina, tendo a mesma compleição física (cabeça grande, ventre crescido, pernas finas) e o mesmo "sangue que usamos tem pouca tinta" (referência à anemia devido à desnutrição).

Essa coletivização de sua angústia ratifica a ideia de que o indivíduo é vítima de um sistema social, e não apenas do geográfico.

Conceito de Identidade em Bauman (Análise Avançada): A crise de identidade de Severino, ao identificar-se a tantos outros, remete à crise do pertencimento. Segundo Zygmunt Bauman, a "identidade da subclasse" é a ausência de identidade, abolição ou negação da individualidade. Para essa "subclasse", o pertencimento é uma condição sem alternativa, um destino, e a vida é líquida, vivida em condições de incerteza constante.

2.2. A Seca, a Miséria e o Estigma do Nordestino

A seca é retratada na obra de forma brutal e implacável. O ambiente é caracterizado pela escassez de água, terra árida, plantações mortas e falta de alimentos. A seca atua como uma força da natureza que oprime os personagens, levando à morte de animais, plantações e pessoas.

PRIORIDADE EM CONCURSOS: A Seca e o Estigma (Perguntas Óbvias e Críticas)

  1. Condições de Vida Difíceis: A seca é a principal razão para as condições de vida precárias no Nordeste, destacando a luta diária por recursos básicos.

  2. Migração e Retirantes: A seca força a migração em massa, transformando essas pessoas em "retirantes" que buscam vida melhor em outras regiões.

  3. Estereótipos e Preconceitos (O Efeito Estigmatizante): A representação da seca na obra pode perpetuar estereótipos sobre o nordestino como alguém que vive em condições de extrema pobreza e dependência de ajuda externa. Esses estereótipos levam a preconceitos e discriminação em outras partes do Brasil. A obra, ao denunciar a desigualdade (os "dois Brasis": Norte/Nordeste pobre e Sul/Sudeste rico/preconceituoso), também corre o risco de reforçar a imagem negativa das condições de vida na região.

  4. A Crítica Social Profunda: João Cabral utiliza a miséria para expor o "destino esmagado do homem pobre". A obra defende que a degradação do homem é consequência da espoliação econômica, e não apenas do destino individual. O Recife, por exemplo, é apresentado como o "depósito de miséria de todo Nordeste".

2.3. A Dialética Central: Morte vs. Vida

O poema é construído sobre claras dicotomias, sendo a principal delas a luta entre Morte e Vida. Severino, em sua jornada, encontra a Morte em quase todas as suas paradas.

A Morte (Euforizada): A morte é uma presença anônima e coletiva. A obra inverte a lógica: a palavra "morte" é euforizada em oposição à vida, pois a vida é tão precária que a morte pode parecer a única certeza ou, ironicamente, a única forma de igualdade. A jornada de Severino é uma rota onde ele só encontra a morte.

A Vida (A Esperança): O único momento de plenitude e superação ocorre no final, com o nascimento da criança. Este evento simboliza a resistência e a teimosia da vida em se manifestar, mesmo que seja uma "explosão de uma vida severina". A criança representa um sopro de alento. A resposta para a angústia não está na cidade ou na fé cega, mas sim no "espetáculo da vida: vê-la desfiar seu fio, que também se chama vida".


3. Análise Formal, Estética e Cultural

3.1. A Linguagem Cabralina: Estilo e Práticas Significativas

O estilo de João Cabral de Melo Neto é marcado pelo rigor formal e pela objetividade. Em Morte e Vida Severina, ele se utiliza de uma linguagem próxima do registro oral, aliando forma, conteúdo e linguagem numa tríade, considerada por alguns como perfeita. A linguagem é seca e concisa, evitando sentimentalismos e melodramas.

As "Práticas Significativas" e a Cultura Nordestina: O poema incorpora várias "práticas significativas" (termo de Raymond Williams) representativas da cultura nordestina. A obra, originalmente encomendada para ser encenada, é rica em fortes imagens visuais e auditivas.

  • Folclore e Tradição Ibérica: Cabral deixa clara a intenção de homenagear as literaturas ibéricas. Elementos folclóricos incluem:

    • Monólogos do retirante (do romance castelhano).

    • Cena do enterro na rede (do folclore catalão).

    • Encontro com os cantores de incelências (típico do Nordeste).

    • Conversa com Severino antes do nascimento (obedece ao modelo da tenção galega).

    • A cena do nascimento, com a mãe e o recém-nascido, está no antigo pastoril pernambucano.

  • Regionalismo Denunciante: Cabral quebra a hegemonia da prosa regionalista ao usar o verso para expor a miséria. A temática regionalista (agreste, caatinga, zona da mata, litoral pernambucano) é abordada com uma consciência dilacerada do atraso, imprimindo uma face em que "o peso da consciência social atua por vezes no estilo como fator positivo".

3.2. A Crítica Social e a Angústia do Homem

O forte apelo social do Auto expõe os conflitos de desigualdade e injustiça, partindo das dicotomias: identidade x identificação, inclusão x exclusão, luta x resistência, morte x vida.

O homem (Severino) e sua angústia diante da morte são colocados no centro da cena. O espaço percorrido é mais simbólico do que real, representando a exclusão social.

Estratégias Discursivas (Análise de Discurso – Eni Orlandi e Michel Pêcheux): A análise discursiva do poema (ferramenta valiosa para concursos) revela como a linguagem constrói relações de poder e opressão.

  1. Metáforas e Imagens Impactantes: Cabral usa metáforas (como "terra que dá tudo e a todos desmente") e imagens como as dos urubus e o solo árido, para que o leitor visualize a desolação.

  2. Economia de Palavras (Estilo Seco): Reforça a dureza da realidade.

  3. Diálogo com Formações Discursivas: O poema contesta as representações dominantes que estigmatizavam o retirante nordestino (associando-o a atraso ou preguiça). Cabral oferece uma perspectiva humanizada, expondo a exploração dos latifundiários e as desigualdades estruturais.

3.3. Adaptações e Transposição de Linguagens (Relevância Cultural)

"Morte e Vida Severina" é uma obra canônica, que ultrapassa fronteiras e gerações. Ela demonstrou uma grande capacidade de transtextualidade (adaptação para outras mídias), o que confirma sua relevância cultural.

  • Adaptação Musical (O Clássico): Foi musicado por Chico Buarque de Holanda, o que imortalizou a obra com canções como "Funeral de um lavrador". A montagem original de 1965 pelo TUCA fez grande sucesso.

  • Adaptações Visuais (Foco na Geração Digital): Recentemente, a obra foi adaptada para formatos mais atraentes para o público jovem:

    • Graphic Novel (HQ): Criada por Miguel Falcão em 2005. Foi concebida em branco e preto, com linhas que remetem à xilogravura e aos folhetos da literatura popular (cordel). O desenho concretiza o estereótipo do nordestino oprimido e materializa as sutilezas e paradoxos do texto original.

    • Animação 3D: Dirigida por Afonso Serpa em 2010. O objetivo era despertar o interesse da "geração digital". A animação usou recursos de computação gráfica, inspirando-se na pintura e no cinema expressionistas. O preto e branco na animação lembra a técnica do cinema expressionista. A trilha sonora buscou inovar, evitando clichês nordestinos. A bala que matou o lavrador é mostrada em 3D, simulando um videogame.

O objetivo dessas adaptações (principalmente as visuais, idealizadas pela Fundação Joaquim Nabuco) era didatizar o texto literário, usando recursos tecnológicos para que os alunos pudessem apreender a realidade e desenvolver o senso crítico.


4. Prioridades para Concursos e Dúvidas Comuns

Para garantir o sucesso em concursos públicos e aprofundar a análise, revise os seguintes pontos cruciais:

Tema Chave

Conceito Central

Relevância para Concursos

Gênero/Estrutura

Auto de Natal Pernambucano. Poema dramático. Estrutura em 18 partes.

Essencial. Cobre a união de tradição medieval/religiosa com tema social.

João Cabral

Geração de 45. Rigor formal, objetividade, clareza. Poeta Engenheiro.

Fundamental. O contraste entre a temática social (o sofrimento) e a forma "seca" (o rigor estético) é a marca de Cabral.

A Seca/Migração

Seca brutal e implacável. Causa do fenômeno dos "retirantes".

Obviamente cobrado. Focar na análise crítica de como a seca não é apenas um fator geográfico, mas social e político.

Severino

Personagem-tipo. Símbolo do coletivo ("Somos muitos Severinos"). Representa a "identidade da subclasse" (Bauman).

Cobre identidade, exclusão social e a visão regionalista na literatura.

Morte

Presença constante, anônima e coletiva. Pode ser "morrida" (natural) ou "matada" (violência por terra).

O tema da morte violenta expõe a espoliação econômica e a impunidade dos latifundiários.

Vida

Simbolizada pelo nascimento ao final. Representa a esperança, a resistência e a teimosia da vida em se fabricar.

A conclusão da obra, que é um chamado à superação e à dignidade.

Regionalismo Crítico

Expressa a miséria e a desigualdade social. Traz a consciência dilacerada do atraso.

Contrapõe a obra à "consciência amena" do atraso (Romantismo). Enfatiza a crítica política sobre as estruturas sociais.

Adaptações

Sucesso musical com Chico Buarque. Versões em HQ (Miguel Falcão) e Animação 3D (Afonso Serpa).

Ilustra a canonicidade e a capacidade de diálogo da obra com novas mídias e o público jovem.

4.1. Exceções e Detalhes Cobrados

  • Identidade e Subordinação: Severino se dirige ao público como "Vossas Senhorias". Este pronome de tratamento reforça a distância social e o grau hierárquico entre o enunciador (o retirante) e o enunciatário (o público/sociedade), marcando sua condição de subordinação e carência.

  • Geografia Socioeconômica e Cultural: Os presentes trazidos para a mãe e o recém-nascido na cena final (caranguejos, rolete de cana, siris, mangas, goiamuns) representam a geografia socioeconômica e cultural dos bairros e cidades de Recife/Pernambuco. Esses itens simples, sem exotismos, reforçam a ligação do texto com o regional e a metáfora da "cultura de fronteira".

  • O Homem Vítima do Sistema Social: É crucial enfatizar que a análise da obra (pelo viés dos estudos culturais) argumenta que o homem é vítima do sistema social, e não apenas do geográfico. A seca e a paisagem árida são amplificadores da miséria causada pela espoliação econômica.

  • Visão Plástica (Influência): Cabral recebeu forte influência de Murilo Mendes, que o ensinou a importância do visual sobre o conceitual. Isso se manifesta nas fortes imagens sensoriais (dar a ver, a cheirar, a tocar, a provar), o que facilitou enormemente as transposições para mídias visuais como o cinema e a HQ.