O Romantismo no Brasil foi um movimento artístico e literário que se estendeu oficialmente entre os anos de 1836 e 1881. Ele surgiu como uma resposta direta à Independência do Brasil (1822) e à consequente necessidade de construir uma cultura brasileira propriamente nacional.
O marco inicial deste estilo de época foi a publicação do livro Suspiros Poéticos e Saudades de Gonçalves de Magalhães, em 1836.
A poesia romântica brasileira é didaticamente dividida em três gerações:
Primeira Geração: Indianista ou Nacionalista.
Segunda Geração: Ultrarromantismo ou Mal do Século.
Terceira Geração: Condoreira ou Social.
Antes de mergulharmos nas gerações específicas, é fundamental entender os princípios que unem todo o movimento romântico, que rompeu com os padrões clássicos anteriores (Classicismo e Arcadismo).
O Romantismo europeu e, consequentemente, o brasileiro, baseia-se em três fundamentos teóricos principais:
O Egocentrismo (ou Subjetivismo): O artista volta-se para si mesmo, colocando o "eu" como centro do universo poético. Há uma valorização extrema dos sentimentos e da visão particular do indivíduo.
O Nacionalismo: Busca-se a cor local, valorizando as particularidades geográficas, históricas e culturais de cada região, opondo-se à uniformidade do Arcadismo.
A Liberdade de Expressão: Há um abandono das regras e modelos rígidos clássicos, prezando pela originalidade e pela exploração de formas mais líricas (como a balada e a canção, em vez do soneto rígido).
Outras características importantes incluem:
Idealização da Realidade: A realidade é vista de forma superficial e pessoal, muitas vezes sendo mascarada pelo sonho, fantasia e imaginação.
Escapismo (Evasão): Diante de um mundo que não corresponde aos anseios românticos, o artista busca a fuga da realidade opressora. As formas de escape podem ser a Natureza exótica, o passado (infância ou Idade Média/Indianismo) e, principalmente na segunda geração, a morte.
Idealização da Mulher: A figura feminina é frequentemente vista como um anjo, pura, intocável e inacessível, sendo a fonte de inspiração, mas raramente o objeto de desejo carnal realizado.
Esta é a fase inicial e mais diretamente ligada ao projeto de construção de uma identidade nacional após a Independência.
Característica | Detalhes Cruciais (Foco em Concursos) |
Período | 1836 a 1852. |
Nomes | Indianista, Nacionalista ou Patriótica. |
Objetivo Principal | Construção da identidade nacional e ufanismo. |
O Herói Nacional | O Índio, idealizado como o "bom selvagem", símbolo de bravura, pureza e amor à terra. Essa idealização compensava a falta de uma era medieval brasileira. |
Natureza | Exaltada como exuberante, pátria amada e confidente do eu lírico. |
Temas | Exaltação da Pátria, nacionalismo exagerado (ufanismo), idealização do amor. |
Marco Inicial | Suspiros Poéticos e Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães. |
Principais Autores | Gonçalves Dias (o maior expoente da poesia), Gonçalves de Magalhães e José de Alencar (na prosa indianista). |
Gonçalves Dias é o nome mais cobrado desta geração. Ele foi o responsável por difundir o Romantismo de primeira geração no Brasil, enquanto Gonçalves de Magalhães foi o responsável por introduzi-lo.
Obras Indianistas: I-Juca-Pirama (poema épico que exalta a figura do índio guerreiro e forte, descendente da tribo Tupi), Canção do Tamoio, Leito de folhas verdes.
Obras Lírico-amorosas: Ainda uma vez-adeus!, Se se morre de amor.
A Canção do Exílio (Obra Foco em Exames): Publicado em 1857, este é o poema mais emblemático do escritor e expressa a saudade e a exaltação da natureza brasileira em contraste com a vida na Europa (Coimbra, Portugal). O poema é marcadamente ufanista (orgulho exagerado pela pátria).
Dúvida Comum: O Indianismo aparece na prosa? Sim, principalmente com José de Alencar em romances como Iracema e O Guarani, onde o índio também é retratado de forma heroica e idealizada.
Esta geração representa o exagero máximo e o progressivo dissolver-se dos ideais românticos em estados de alma individuais. O eixo cultural desloca-se momentaneamente para São Paulo, concentrado na Faculdade de Direito.
Característica | Detalhes Cruciais (Foco em Concursos) |
Período | 1853 a 1869. |
Nomes | Ultrarromantismo, Geração Byroniana ou Mal do Século. |
Foco | Exacerbação do subjetivismo, pessimismo doentio, tédio (spleen), morbidez, desespero e satanismo. |
O Amor | Platônico, espiritualizado, inatingível. A mulher é vista como um anjo distante, impalpável. |
Escapismo | Busca da fuga pela Morte, vista como desejo e, ao mesmo tempo, temor. Há uma deserção da vida, mas os poetas agem epicuristamente. |
Estilo de Vida | Vida boêmia, desregrada, noturna, marcada pelo vício e excessos (inspirada no Byronismo). |
Os autores desta geração foram fortemente influenciados pela poesia de Lord Byron e Alfred de Musset.
Lord Byron (Byronismo): O poeta inglês George Gordon, conhecido por sua vida desregrada, casos amorosos e uma postura cética, cínica e satânica. O byronismo se tornou o modelo para a juventude liberal europeia e brasileira, caracterizado pela inquietude perpétua, melancolia, desespero, tédio de viver e desprezo pela sociedade. A Sociedade Epicuréia, fundada em São Paulo em 1845, congregava estudantes como Álvares de Azevedo e imitava a vida de desvarios e orgias de Byron.
Álvares de Azevedo (1831-1852), que morreu prematuramente aos 21 anos vítima de tuberculose, é o maior expoente do Ultrarromantismo brasileiro.
Em concursos, o termo "Mal do Século" possui duas conotações importantes:
Conotação Estética e Psicológica: Refere-se à melancolia profunda, ao tédio, à desesperança, ao pessimismo, ao egocentrismo e à obsessão pela morte presente na poesia, inspirada em Byron.
Conotação Social e Biográfica (Exceção/Curiosidade): Refere-se à tuberculose, doença que se alastrou na época e vitimou muitos jovens poetas desta geração (como Álvares de Azevedo e Junqueira Freire). Eles se deixavam definhar, levando uma vida boêmia, o que era a tendência do "mal do século".
Lira dos Vinte Anos (1853): A obra mais representativa do "mal do século". É crucial entender sua estrutura:
Primeira e Terceira Partes: Focam no lirismo sentimental, no amor platônico, na dor do coração, no medo da morte, na fantasia e, paradoxalmente, em temas como a identificação incestuosa da amada com a mãe e a irmã (dualismo).
Segunda Parte: Apresenta um Romantismo irônico e sarcástico, fugindo da sentimentalidade excessiva. O poeta satiriza a própria dor e o tédio.
A Dualidade (Binomia): Álvares de Azevedo defendia uma dualidade antitética em sua obra, que ele chamava de "binomia", oscilando entre o sentimentalismo mórbido e a ironia/sarcasmo. Essa dualidade é um ponto de análise frequente em provas.
Macário (1855): Um drama gótico que, apesar de irregular, se tornou popular. É uma das poucas produções em prosa da geração. Macário, um personagem cético, cínico e melancólico, encontra Satã, de quem se torna amigo. O drama reúne todas as suas influências (Byron, Shakespeare, Heine, Musset) e seu gosto pelo satanismo.
Fagundes Varela (1841-1875): Considerado um "lapidador" e o único nome de relevo na poesia da década de 60. Sua obra é marcada pelo lirismo profundo e pela poesia religiosa (Ex: Cântico do Calvário, escrito pela morte de seu filho). Ele é uma figura de transição porque, apesar do tom "maldito" e da morbidez inicial, sua produção posterior começa a prenunciar o Condoreirismo e a poesia social (Mauro, o escravo).
Casimiro de Abreu (1839-1860): Tornou-se predileto das jovens leitoras devido ao seu tom melancólico e à delicadeza da expressão. É o poeta do saudosismo da infância (As Primaveras).
Junqueira Freire (1832-1855): Sua poesia reflete o tenso convívio entre Eros (vida) e Thanatos (morte), sendo um "mártir da psicose romântica". Morreu aos 23 anos, deixando Inspirações do Claustro, que registra suas experiências monásticas.
Esta fase é conhecida como a poesia socialmente engajada do Romantismo, servindo como uma transição para o Realismo. Os poetas abandonam o foco no "eu" (típico da 2ª Geração) para se dedicar às questões coletivas e políticas.
Característica | Detalhes Cruciais (Foco em Concursos) |
Período | 1870 a 1880. Encerra-se com os primeiros lampejos do Realismo (1881). |
Nomes | Condoreira, Geração Social, Geração Liberal ou Hugoana. |
Símbolo | O Condor, ave da Cordilheira dos Andes, eleita para simbolizar a Liberdade (inspirado na águia de Victor Hugo). |
Foco | Crítica Sociopolítica. Engajamento na causa Abolicionista e Republicana. |
Estilo | Grandiosidade e Hiperbolismo (elevada pulsação épica), uso intenso de vocativos e exclamações para criar apelo emocional e realizar a denúncia social. |
O Amor | Menos idealizado; mulher presente e carnal (aproximação do Realismo). |
Influência | Victor Hugo (escritor francês, valorizava temáticas sociais). |
Contexto | Final do Segundo Reinado, promulgação de leis abolicionistas (Lei Eusébio de Queirós, Lei do Ventre Livre) e Guerra do Paraguai. |
Castro Alves (1847-1871) é o principal poeta desta geração e o primeiro grande poeta social brasileiro. Ele soube conciliar a defesa dos ideais sociais com os procedimentos artísticos da poesia.
Temática Social: Sua obra é marcadamente abolicionista, clamando pela liberdade dos escravizados e denunciando o horror do tráfico negreiro.
Estilo Épico-Lírico: Utiliza-se de um tom grandioso, próprio do Condoreirismo, para clamar por justiça e liberdade, usando metáforas e símbolos impactantes.
Obras Principais:
Os Escravos (1883): Sua principal obra, que inclui poemas como O Navio Negreiro e Vozes da África.
O Navio Negreiro: É um poema de denúncia social que contrasta a beleza idealizada da natureza (início) com o cenário chocante e infernal do porão do navio negreiro (sonho dantesco).
Espumas Flutuantes (1870):.
Sousândrade (1832-1902): Conhecido por O Guesa Errante (1884). Sua obra é complexa e ele é frequentemente considerado o poeta "divisor de águas" entre o Romantismo e o Realismo. O Guesa Errante apresenta uma visão mais realista e menos idealizada da vida indígena, contrastando com o indianismo da Primeira Geração.
Tobias Barreto (1839-1889): Autor de Dias e noites (1881). Sua poesia, como em A escravidão, chega a questionar a permissão divina para o crime da escravidão, indicando que a juventude deve corrigi-lo, refletindo o engajamento radical da fase.
Em provas de concursos e vestibulares, a diferença entre as gerações é frequentemente testada, especialmente as dualidades e os elementos de transição.
Geração | Período (Aprox.) | Nome | Foco Temático Principal | Principais Autores |
1ª Geração | 1836-1852 | Indianista/Nacionalista | Exaltação da Pátria e do Índio (Herói Idealizado) | Gonçalves Dias, Gonçalves de Magalhães |
2ª Geração | 1853-1869 | Ultrarromântica/Mal do Século | Morbidez, Morte, Pessimismo, Amor Platônico, Egocentrismo | Álvares de Azevedo, Casimiro de Abreu, Junqueira Freire |
3ª Geração | 1870-1880 | Condoreira/Social | Crítica Social, Abolicionismo, Liberdade (Estilo Épico e Hiperbólico) | Castro Alves, Sousândrade, Tobias Barreto |
1. A Dualidade de Álvares de Azevedo (2ª Geração): Embora a 2ª Geração seja predominantemente sentimental e mórbida, Álvares de Azevedo, o maior expoente, introduz a ironia e o sarcasmo na segunda parte de Lira dos Vinte Anos. Essa "binomia" (sentimental versus cético/humorístico) é uma quebra do padrão ultra-romântico puro e demonstra o espírito crítico do autor.
2. O Papel de Fagundes Varela (2ª/3ª Geração): Varela está na 2ª Geração (ultrarromântica), mas sua obra é notável por sua heterogeneidade e por ser um ponto de transição. Embora tenha escrito poesia lírico-amorosa e religiosa (Cântico do Calvário), ele já apresenta em Mauro, o escravo o prenúncio dos condoreiros ao introduzir a temática do negro e ter um ardor nacionalista. Ele caminha em "ziguezague", anunciando temas que só viriam à tona mais tarde.
3. A Natureza da Poesia da 3ª Geração (Condoreirismo e Realismo): A 3ª Geração é, por natureza, uma exceção ao sentimentalismo exagerado que a precedeu. Ela é pré-realista.
Realismo Social: Ao abordar a escravidão e a miséria, o poeta se aproxima da realidade social.
Amor Carnal: O tratamento do amor se torna mais sexualizado e menos idealizado, diferentemente da mulher-anjo ultrarromântica, o que é um traço de aproximação ao Realismo.
Sousândrade: Sua obra O Guesa Errante rompe com o idealismo indígena da 1ª Geração, apresentando uma visão mais crua e realista da vida dos índios.
4. O Teatro no Romantismo (Exceção de Gênero): O teatro romântico brasileiro foi marcado principalmente pela crítica sociopolítica, predominância das comédias, e por autores como Martins Pena e Alencar. A produção teatral sofreu certo declínio na época do Ultrarromantismo, mas Álvares de Azevedo escreveu o drama gótico Macário. Martins Pena é um dos grandes autores do teatro romântico.
P: Qual é a diferença fundamental entre as três gerações? R: A diferença reside no foco:
1ª Geração (Nacionalista): Foco no coletivo e na nação. Busca pela identidade brasileira.
2ª Geração (Ultrarromântica): Foco no individual e na dor pessoal. Tédio e fuga da realidade.
3ª Geração (Condoreira): Foco no social e na denúncia política. Luta pela liberdade e abolicionismo.
P: O que é o Indianismo? R: O Indianismo é a corrente literária (poesia e prosa) associada à Primeira Geração Romântica. Caracteriza-se pela exaltação do índio, visto como o herói nacional e a figura fundadora da pátria, em uma tentativa de construir mitos brasileiros, seguindo modelos europeus (como os de Chateaubriand e Cooper).
P: O que significa "Condoreirismo"? R: Condoreirismo é o movimento da Terceira Geração Romântica. O termo deriva do Condor, uma ave da Cordilheira dos Andes, escolhida como símbolo da liberdade (inspirada na águia de Victor Hugo). O Condoreirismo é sinônimo de poesia social, grandiosa e abolicionista.
P: A Prosa também se divide em três gerações? R: Não, a prosa romântica brasileira é tipicamente dividida por tipos de narrativa, e não por gerações como a poesia. Os tipos de narrativa são: indianista, urbana, regionalista e histórica. Autores como José de Alencar (patriarca da literatura brasileira) dominaram esses tipos de prosa.
P: O Ultrarromantismo é a mesma coisa que Gótico? R: Sim, o Ultrarromantismo (ou Mal do Século) incorpora a estética gótica (macabra/terror). Os autores eram influenciados pelo movimento gótico anglo-saxônico. O quadro The Nightmare de Fuseli é uma obra central da arte gótica que inspirou os ultra-românticos brasileiros. A obra Macário de Álvares de Azevedo é um exemplo de drama gótico no Brasil.