
A partir do século XV, o mundo passaria por uma revolução sem precedentes, impulsionada pelas Grandes Navegações. Mas, o que motivou os povos europeus, especialmente portugueses e espanhóis, a se aventurarem em mares desconhecidos, enfrentando perigos e incertezas?
1. O Ouro das Índias e o Fim de um Monopólio: Historicamente, as especiarias como canela, gengibre, cravo, pimenta e açafrão, além de pedras preciosas, eram consideradas o "ouro das Índias". Esses produtos eram extremamente valiosos na Europa, mas seu comércio era dominado por mercadores árabes e italianos, que os traziam por rotas terrestres e marítimas através do Mar Mediterrâneo. Esse monopólio resultava em custos imensamente elevados para os produtos na Europa e não garantia a chegada dos bens. Uma das principais rotas terrestres da especiaria da Calecute envolvia o transporte por naus de Meca para Jeddah, depois em naus menores pelo Mar Vermelho até Tunis, e dali em camelos alugados por dez dias até o Cairo, pagando direitos em cada etapa. Do Cairo, a especiaria era levada pelo rio Nilo até Roxete, e então em camelos para Alexandria, de onde galés de Veneza e Gênova as buscavam para espalhar pela Europa.
2. O Bloqueio Otomano e a Busca por Alternativas: A tomada de Constantinopla pelos Otomanos em 1453 marcou o fim do Império Bizantino e bloqueou as importantes rotas comerciais da seda e das especiarias que passavam pelo Mediterrâneo. Essa interrupção intensificou a busca por um caminho marítimo alternativo, contornando a África pelo Oceano Atlântico. O projeto português de encontrar essa rota visava reduzir os custos das trocas comerciais com a Ásia e tentar monopolizar o comércio de especiarias.
3. Expansão Territorial e o Espírito da Reconquista: A busca por novas rotas não era puramente econômica. Após a conclusão da Reconquista da Península Ibérica, o espírito de conquista e cristianização dos povos muçulmanos persistia. Portugal, impulsionado por essa mentalidade, dirigiu-se para o Norte de África, buscando expandir o reino e transformá-lo em um império. O consentimento e a bênção do papado, através de bulas como a Dum diversas (1452) e a Romanus Pontifex (1455), autorizavam os portugueses a conquistar territórios não cristianizados e a escravizar mouros e pagãos, concedendo um monopólio perpétuo no comércio com a África. Além disso, havia a esperança de encontrar Preste João, um quase lendário príncipe cristão cujo reino se situava a leste de Benim (na região da Etiópia, segundo mapas da época). Uma aliança com ele poderia ajudar a retomar as Cruzadas e expulsar os muçulmanos da Terra Santa. D. João II enviou espiões como Afonso de Paiva e Pêro da Covilhã para localizá-lo.
4. Interesses Econômicos Diversificados: Além das especiarias e do ouro, havia interesse na obtenção de trigo e escravos no norte da África. A crescente necessidade de numerário em Portugal e na Europa também impulsionava a busca por novas fontes de riqueza. Curiosamente, nem todos na alta sociedade portuguesa eram favoráveis a esses empreendimentos. Nas Cortes de Montemor-o-Novo de 1495, havia forte oposição à viagem para a Índia, temendo os custos de manutenção de territórios e rotas ultramarinas. Essa posição é imortalizada na figura do Velho do Restelo, em Os Lusíadas, que se opõe ao embarque da armada. No entanto, reis como D. Manuel I não partilhavam dessa opinião, vendo nas rotas marítimas a melhor forma de dominar o comércio com o Oriente.
Portugal, com uma sólida presença marítima, foi o grande pioneiro da Era dos Descobrimentos, que se iniciou em 1418 com a descoberta das ilhas da Madeira e Porto Santo. O projeto nacional de navegações oceânicas sistemáticas começou com a conquista de Ceuta em 1415.
O grande impulsionador inicial dessas expedições foi o Infante D. Henrique, que as dirigia a partir de sua base em Lagos e Sagres. Em Sagres, o Infante reuniu cartógrafos, matemáticos, cosmógrafos, mestres em construção naval e na fabricação de instrumentos náuticos, incluindo judeus, árabes e especialistas de toda a Europa, dedicando-se aos estudos de navegação e outras ciências náuticas. Esse período testemunhou importantes avanços na tecnologia e ciência náutica, cartografia e astronomia.
1. Navios Inovadores: Para as viagens costeiras, os portugueses utilizavam inicialmente a barca e o barinel, embarcações pequenas e frágeis. No entanto, para avançar para o Sul, enfrentando baixios, ventos fortes e correntes desfavoráveis, desenvolveram a caravela. A caravela era um navio ágil e de navegação mais fácil, com 1 a 3 mastros e velas latinas triangulares que permitiam bolinar (navegar contra o vento), tornando-se o navio-símbolo dos descobrimentos. Para as navegações oceânicas e o transporte de mercadorias em maior escala, a nau foi desenvolvida, aumentando sua capacidade de duzentas para quinhentas toneladas e incorporando bocas-de-fogo para defesa contra pirataria. As carracas, naus de velas redondas e borda alta, também foram usadas na Carreira da Índia.
2. Instrumentos Náuticos Essenciais:
Agulha Magnética (Bússola): Embora sua origem seja incerta, seu aperfeiçoamento para fins de navegação é frequentemente atribuído ao italiano Flavio Gioia no século XIII, permitindo viagens mais seguras em mar aberto.
Astrolábio e Quadrante: Instrumentos de origem árabe, tornados portáteis, usados para medir a altura dos astros e determinar a latitude.
Balestilha: Inventada para obter a altura do sol e outros astros, como o Cruzeiro do Sul, que se tornou crucial após a travessia do Equador. Foi o primeiro instrumento a usar o horizonte visível como referência.
Tábuas Astronômicas: Cruciais para a navegação em alto-mar, continham cálculos para a declinação do Sol, permitindo determinar a latitude através da observação solar. As tábuas de Abraão Zacuto (Almanach Perpetuum), publicadas em 1496, foram usadas por Vasco da Gama e Pedro Álvares Cabral.
Noturnal ou Noturlábio: Instrumento para determinar a latitude pela observação da Estrela Polar, oferecendo uma correção para sua altura.
Sextante: Instrumento mais avançado para medição de alturas, usando espelhos de dupla-reflexão. Embora desenvolvido posteriormente (século XVIII por Isaac Newton, Hadley e Godfrey), representou um grande avanço na precisão.
3. Técnicas de Navegação e a "Volta do Mar": Os portugueses desenvolveram técnicas sofisticadas de navegação astronômica, determinando latitudes através da observação solar. A mais notável foi a "Volta da Mina" ou "Volta do Mar". Essa manobra náutica inteligente permitia o retorno da costa ocidental africana, afastando-se da costa em um grande semicírculo para aproveitar os ventos e correntes permanentes favoráveis que giram no sentido horário no hemisfério norte. Essa técnica foi fundamental para contornar a África e, inadvertidamente, levou à descoberta dos arquipélagos da Madeira, das ilhas Selvagens, dos Açores e de Cabo Verde.
4. A Evolução da Cartografia: A cartografia é uma ciência que acompanha o progresso da civilização, sendo mais antiga que a escrita.
Primórdios: Mapas rupestres para caça e localização. Os babilônios confeccionaram o mapa mais antigo conhecido (2500 a.C.), mostrando o vale do Eufrates. Os egípcios usavam a triangulação e desenvolveram a agrimensura e mapas temáticos, especialmente de minas de ouro.
Gregos: Foram os primeiros a ter bases científicas de observação. Anaximandro e Hecateu representaram a Terra como um disco. A tese da Terra esférica surgiu na escola de Pitágoras e foi aceita com as teorias de Aristóteles. Eratóstenes (276–194 a.C.) realizou a primeira medição científica da circunferência da Terra, obtendo um valor muito próximo do real (42.513 km contra 40.076 km no Equador). Hiparco de Nicéia (século II a.C.) utilizou métodos astronômicos para determinar posições, iniciando o estudo de coordenadas geográficas (latitude e longitude) e idealizando a projeção cônica. A ideia de Crates (século II a.C.) antecipou a existência de outros continentes.
Ptolomeu (século II d.C.): Sua obra "Tratado de Geografia" ou "Guia da Geografia" foi monumental, ensinando princípios de cartografia matemática, projeções e métodos de observação astronômica, com instruções para mapas-múndi e cartas de 8.000 lugares. Essa contribuição foi ignorada na Idade Média, mas retomada no Renascimento.
Romanos: Mais preocupados com utilidades práticas, elaboravam mapas administrativos e militares, como o Orbis Terrarum e a Tábua de Peutinger.
Idade Média: Na Europa, houve um retrocesso na exatidão, com mapas mais simbólicos como os "T no O". No entanto, os árabes preservaram e desenvolveram o conhecimento cartográfico, influenciados pela peregrinação a Meca e pela necessidade de governar novos territórios. No século XIII, surgiram as Cartas Portulanas na Europa, mapas de navegação detalhados com sistemas de rosa-dos-ventos, impulsionados pelo uso da bússola.
Renascimento: A redescoberta dos estudos de Ptolomeu e a introdução de novos continentes para mapear (América) impulsionaram a cartografia. Surgiram planisférios como o de Juan de La Cosa (primeiro a representar a América) e Diego Ribeiro, além do primeiro globo terrestre de Martim Behaim.
Projeção de Mercator (1569): Gerardus Mercator criou uma projeção que corrigia distorções, exibindo coordenadas de latitude e longitude em linhas retas, o que facilitou enormemente a navegação em longas distâncias.
Século XIX e XX: O termo "Cartografia" foi cunhado pelo historiador português Francisco Carvalhosa em 1839. Surgiram os mapas temáticos (clima, população, solos), e a cartografia náutica no Brasil se desenvolveu com levantamentos hidrográficos. A invenção da fotografia e do avião revolucionou as técnicas com a fotogrametria e o uso de satélites e Sistemas de Informação Geográfica (GIS), tornando os mapas mais precisos e atualizados.
Os descobrimentos portugueses iniciaram a Era das Navegações europeias, que se estendeu do século XV ao XVII, culminando no mapeamento de boa parte do mundo.
1. Portugal: A Rota do Atlântico e do Índico As expedições portuguesas prolongaram-se por vários reinados, desde D. João I até D. Manuel I, que consolidou o império ultramarino.
Ilhas do Atlântico: João Gonçalves Zarco e Tristão Vaz Teixeira redescobriram as ilhas do Porto Santo e da Madeira em 1418, seguida pela descoberta do arquipélago dos Açores em 1427 por Diogo de Silves. Essas ilhas, desabitadas, ofereciam potencial agrícola e se tornaram pontos estratégicos.
Costa Ocidental de África: Gil Eanes contornou o temido Cabo Bojador em 1434, dissipando o terror que o promontório inspirava. Avançando progressivamente, os portugueses chegaram ao Rio de Ouro (1435), Cabo Branco (1441), Serra Leoa (1460) e ao Golfo da Guiné (1469-1471), encontrando um florescente comércio de ouro. Também houve incursões para obter escravos, que eram vendidos em Lagos a partir de 1444.
Terra Nova: João Vaz Corte-Real descobriu a Terra Nova em 1472, tornando-se a primeira descoberta de território americano na Modernidade, pelo menos 20 anos antes de Cristóvão Colombo.
Cabo da Boa Esperança: Em 1487, Bartolomeu Dias comandou uma expedição que atingiu o Cabo da Boa Esperança, estabelecendo a ligação náutica entre o Atlântico e o Oceano Índico.
Caminho Marítimo para a Índia: O rei D. Manuel I designou Vasco da Gama, cavaleiro de sua casa, para chefiar a armada que completaria o projeto de D. João II. A expedição partiu em 8 de julho de 1497. Em 17 de maio de 1498, a frota de Vasco da Gama alcançou Kappakadavu, próxima a Calecute, na Índia, estabelecendo a rota no Oceano Índico e abrindo o caminho marítimo dos europeus para a Índia.
As negociações com o Samorim (governador local) de Calecute foram difíceis, pois as ofertas portuguesas eram de baixo valor para os padrões locais. Contudo, Vasco da Gama obteve uma carta ambígua de concessão de direitos para comerciar.
O retorno a Portugal foi desafiador; das naus, apenas a São Rafael não regressou, e cerca de metade da tripulação morreu, principalmente de escorbuto (carência de vitamina C). A caravela Bérrio chegou ao Rio Tejo em 12 de julho de 1499, trazendo a "boa-nova" da chegada à Índia. Vasco da Gama foi recebido com grandes recompensas e o título de "Dom". A abertura dessa rota marítima quebrou o monopólio veneziano e genovês no comércio de especiarias na Europa, contribuindo para o desenvolvimento comercial do continente e reduzindo drasticamente os preços.
Chegada ao Brasil: Em 1500, Pedro Álvares Cabral foi nomeado capitão-mor de uma armada à Índia, desviou-se da rota e, em 22 de abril de 1500, avistou o Monte Pascoal na Bahia, tomando posse da terra em nome de Portugal e chamando-a de "Ilha de Vera Cruz" (posteriormente Brasil). Diogo Dias, navegando na frota de Cabral, separou-se devido aos ventos e descobriu a ilha de São Lourenço, hoje Madagáscar.
Oriente Extremo: Portugal continuou sua expansão, conquistando Goa (Índia) em 1510 e Malaca (Malásia) em 1511. Em 1513, Jorge Álvares chegou ao Sul da China, e em 1543, Francisco Zeimoto, António da Mota e António Peixoto foram os primeiros portugueses a atingir o Japão, introduzindo as armas de fogo e iniciando um período de intensa interação comercial e religiosa.
2. Espanha: O Caminho para o Ocidente A Espanha, após a unificação dos reinos de Aragão e Castela com a vitória sobre os muçulmanos em 1492, também buscou sua expansão marítima.
Descoberta da América: O navegador italiano Cristóvão Colombo foi contratado pelos reis espanhóis para criar uma rota para as Índias navegando para o Oeste. Em 1492, seus navios chegaram à ilha de Guanaani, no Caribe, que ele batizou de San Salvador. Ele também encontrou Cuba, Bahamas e São Domingos, batizando os habitantes de "índios" por acreditar ter chegado às Índias. Américo Vespúcio foi quem oficializou a constatação de um "novo continente" entre a Europa e a Ásia, que recebeu o nome de América em sua homenagem.
Travessia do Pacífico: Em 1513, Vasco de Balboa alcançou o Oceano Pacífico atravessando a América Central.
A Primeira Circum-navegação: Entre 1519 e 1521, a expedição liderada pelo português Fernão de Magalhães, a serviço da Coroa Espanhola, realizou a primeira circum-navegação ao redor do mundo. Magalhães acreditava que havia uma passagem ao sul do continente americano para o Pacífico e que as ilhas Molucas pertenciam à Espanha pelo Tratado de Tordesilhas. A expedição saiu de Sevilha em 10 de agosto de 1519. Em novembro de 1520, atravessaram o estreito que hoje leva seu nome (Estreito de Magalhães). Magalhães foi morto nas Filipinas em abril de 1521, não completando a viagem. Apenas 18 dos 240 homens originais sobreviveram, completando a circum-navegação a bordo do navio Victoria, que atracou em Sevilha em maio de 1522.
3. O Tratado de Tordesilhas (1494): A Divisão do Mundo Com a chegada de Cristóvão Colombo à América, o Papa promulgou as Bulas Alexandrinas, concedendo à Espanha o domínio dessas terras. Portugal, ciente da descoberta, argumentou que as terras se encontravam em sua área de influência. Como resultado, em 7 de junho de 1494, foi assinado o Tratado de Tordesilhas entre Portugal e Castela. Este tratado dividiu o mundo em duas áreas de exploração por uma linha imaginária a 370 léguas (1.770 km) a oeste das ilhas de Cabo Verde. As terras a leste dessa linha pertenceriam a Portugal, e as terras a oeste à Espanha. Isso garantiu a Portugal o domínio das águas do Atlântico Sul, essencial para a manobra da "volta do mar".
As Grandes Navegações tiveram consequências profundas e duradouras, alterando para sempre a forma como o mundo se relacionava.
1. Deslocamento do Eixo Econômico e Globalização: A principal consequência foi o deslocamento do eixo econômico e comercial do Mar Mediterrâneo para o Oceano Atlântico. As cidades italianas de Gênova e Veneza entraram em declínio comercial, enquanto cidades como Antuérpia (na Flandres, hoje Bélgica) ascenderam, tornando-se um importante centro comercial e financeiro da Europa. Este processo, com a integração comercial e cultural de continentes (Europa, África, Ásia e América) que antes estavam separados, é considerado por muitos historiadores como o primeiro grande processo de globalização da humanidade.
2. Formação dos Impérios Coloniais: As navegações levaram à formação de vastos impérios coloniais, com Portugal e Espanha se estabelecendo como nações hegemônicas e pioneiras. Isso implicou no estabelecimento do sistema colonial (ou pacto colonial), um monopólio político, econômico e cultural das metrópoles sobre as áreas conquistadas. Os espanhóis, por exemplo, adentraram as terras conquistadas em busca de metais preciosos, formando um grande império colonial. As leis, cultura e estruturas administrativas europeias foram impostas, resultando em ambientes de profunda exploração e desigualdade para as populações nativas.
3. O Devastador Impacto nas Populações Nativas: As "Pragas" da Colonização A chegada dos europeus, embora chamada de "descoberta" do ponto de vista europeu, é vista por muitos historiadores como um ato de invasão, pois os territórios já eram habitados por milhões de povos indígenas. O processo de conquista e colonização foi sangrento e teve consequências mortais para os povos originários.
Genocídio e Extermínio: A população indígena foi dizimada não apenas pela superioridade bélica e militar dos europeus (armas de fogo), mas, crucially, por uma "guerra bacteriológica". Vírus e bactérias trazidos pelos europeus para os quais os indígenas não tinham imunidade mataram milhões. No Brasil, a população indígena foi reduzida de cerca de cinco milhões no século XVI para 450 mil atualmente.
Doenças do Velho Mundo:
Varíola: Considerada por Alfred W. Crosby como a mais importante "arma" para a conquista, desempenhando um papel maior do que qualquer arma. Altamente contagiosa, com alta taxa de mortalidade, e um período de incubação que permitia sua rápida disseminação antes que os infectados soubessem que estavam doentes. Cruzou o oceano pela primeira vez por volta de 1518-1519, devastando as ilhas do Caribe (Hispaniola, Porto Rico). Passou de Cuba para o México, exterminando grande parte dos astecas e abrindo caminho para Cortés. No Peru, devastou o Império Inca, matando o imperador Wayna Qhapaq e sua elite, levando a uma guerra civil que enfraqueceu o império antes da chegada de Francisco Pizarro. A varíola também se espalhou para o norte (Rio Mississippi) e sul (Rio da Prata, Pampas), atingindo povos que nem tinham contato direto com os europeus. Os europeus frequentemente interpretavam a devastação causada pela varíola como um sinal divino de que sua conquista era abençoada.
Malária: O primeiro contato no Novo Mundo ocorreu com as viagens de Cristóvão Colombo, com seus homens contraindo a doença na Espanha em 1492 e a transmitindo para a América. Tornou-se endêmica em regiões úmidas propícias à proliferação de mosquitos. Afetou regiões coloniais como as plantações de tabaco na Virgínia e as canavieiras na América espanhola e portuguesa. Os colonos europeus, sem imunidade, morriam rapidamente, levando à busca por alternativas de mão de obra.
Outras Doenças: Sarampo, difteria, tracoma, coqueluche, catapora, peste bubônica, febre tifoide, cólera, febre amarela, dengue, escarlatina, disenteria amebiana e gripe também foram trazidas pelos europeus.
Doenças do Novo Mundo: Os nativos também "trocaram" doenças com os europeus, como a piã ou framboesia, a doença do bicho/maculo, a tungíase ou doença do bicho de pé, e a dracunculose (verme da Guiné). Embora causassem desconforto e até óbitos, essas doenças americanas não se comparam ao impacto das enfermidades europeias na história demográfica das regiões.
A Escravidão Moderna: A alta mortalidade de trabalhadores europeus e indígenas devido a doenças como a malária levou os colonizadores a buscar novas fontes de mão de obra. Foi notado que escravos africanos, especialmente da África Ocidental e Central, eram quase imunes à malária (P. vivax e P. falciparum) devido a uma resistência herdada. Essa "superioridade genética" levou os europeus a intensificar o tráfico de escravos africanos para as regiões tropicais de cultivo na América, como o Brasil Colônia e as colônias inglesas (Virgínia, Carolina). O número de escravos na Virgínia, por exemplo, explodiu de 3.000 para 16.000 entre 1680 e 1700.
4. Avanços Científicos e Culturais:
Desenvolvimento de Medicamentos: A luta contra a malária impulsionou descobertas importantes. A quinina, um alcaloide da casca das árvores Cinchona (nativas dos Andes), era conhecida por seus efeitos antimaláricos e foi trazida para a Europa pelos Jesuítas. O contrabando de sementes e o isolamento da molécula levaram à criação de derivados sintéticos, como a cloroquina, que por décadas foi o remédio antimalárico mais seguro. Descobertas sobre o ciclo de vida do parasita Plasmodium (por Laveran e Ross) levaram ao uso do inseticida DDT (Dicloro-Difenil-Tricloroetano) para combater o mosquito Anopheles, salvando milhões de vidas. Além disso, a doença da anemia falciforme, causada por uma alteração na hemoglobina, conferia resistência à malária em indivíduos portadores.
Conhecimento Geográfico e Astronômico: As navegações impulsionaram o desenvolvimento da ciência náutica, da cartografia e da astronomia. O mapeamento total do mundo e a criação de novas divisões territoriais foram resultados diretos desse período.
Para garantir uma compreensão completa e estar preparado para avaliações, vamos abordar algumas das perguntas mais frequentes e conceitos-chave.
1. Por que Portugal foi o pioneiro nas Grandes Navegações? Portugal tinha uma posição geográfica privilegiada (voltado para o Atlântico), uma experiência marítima anterior com a pesca e comércio, um poder centralizado (após a Reconquista e a Revolução de Avis), e investiu significativamente na ciência náutica. A criação da Escola de Sagres pelo Infante D. Henrique foi fundamental, reunindo os maiores especialistas e impulsionando inovações em navios, instrumentos e técnicas. D. Dinis já havia demonstrado interesse no comércio externo e organizado a Bolsa dos Mercadores para comerciantes portugueses, além de nomear Manuel Pessanha como primeiro Almirante da frota real em 1317.
2. Qual a diferença entre Latitude e Longitude e como eram determinadas?
Latitude: É a distância angular de um ponto na superfície da Terra ao Equador, medida em graus para o Norte ou para o Sul. Era relativamente fácil de determinar, especialmente após a introdução das tábuas astronômicas. Os navegadores usavam a observação da altura da Estrela Polar (no hemisfério norte) ou a altura meridiana do Sol (em ambos os hemisférios) com instrumentos como o astrolábio, quadrante ou balestilha. Ao cruzar o Equador, a Estrela Polar não era mais visível, tornando a observação solar essencial.
Longitude: É a distância angular de um ponto na superfície da Terra a um meridiano de referência (hoje o Meridiano de Greenwich), medida em graus para o Leste ou para o Oeste. A determinação da longitude no mar foi um dos maiores desafios da navegação e um problema fundamental por séculos.
Inicialmente, era estimada por navegação estimada (calculada a partir de rumos e distâncias percorridas, ventos e correntes), o que era impreciso e aumentava os erros com a duração da viagem. Por isso, era comum a frase: "o navegante sempre conhece sua Latitude, mas nunca conhece sua Longitude".
Métodos como a observação de eclipses dos satélites de Júpiter (proposto por Galileu) ou a declinação magnética (teoria falaciosa) não eram práticos no mar.
O primeiro método amplamente usado foi o das distâncias lunares, que envolvia a observação da Lua entre as estrelas para determinar a hora no meridiano de referência. Era complexo, exigindo cálculos trigonométricos e tábuas astronômicas precisas.
A solução definitiva veio com o cronômetro marítimo. O inglês John Harrison dedicou sua vida a construir um relógio de precisão capaz de manter a hora do meridiano de referência (por exemplo, Greenwich) durante a viagem. Ao comparar a hora local (determinada por observação solar) com a hora do cronômetro, era possível calcular a longitude. O sucesso do cronômetro de Harrison foi premiado pelo Parlamento Britânico em 1773. Com a invenção dos sinais horários via rádio no século XX, a determinação da longitude foi finalmente resolvida.
3. O que foi o Tratado de Tordesilhas e por que foi importante? O Tratado de Tordesilhas, assinado em 1494, foi um acordo entre Portugal e Castela (Espanha) para dividir as terras descobertas e a descobrir no mundo. A linha de demarcação foi estabelecida a 370 léguas a oeste das ilhas de Cabo Verde. Essa divisão foi crucial porque evitou conflitos diretos entre as duas maiores potências marítimas da época, preservando os interesses de ambas e permitindo a continuidade de suas respectivas expansões: Portugal para o leste (África e Índias) e Castela para o oeste (América).
4. Quais foram as principais doenças que dizimaram os indígenas e qual seu impacto? As doenças trazidas pelos europeus, especialmente a varíola e a malária, tiveram um impacto demográfico devastador sobre as populações indígenas, que não possuíam imunidade a esses patógenos.
A varíola dizimou grandes impérios como o Asteca e o Inca, enfraquecendo-os significativamente antes ou durante a chegada dos conquistadores europeus.
A malária afetou profundamente os colonos europeus e trabalhadores indígenas, levando à busca por mão de obra mais resistente, o que contribuiu para a intensificação da escravidão africana nas Américas, já que os africanos de certas regiões tinham maior resistência genética à doença.
5. Qual o papel da Cartografia e da Astronomia nas Navegações? Foram ciências fundamentais e interdependentes. A Cartografia permitiu a representação do mundo, a criação de mapas de rotas e a identificação de novas terras, essencial para o planejamento e execução das viagens. A Astronomia forneceu os conhecimentos sobre os movimentos dos corpos celestes, permitindo aos navegantes determinar sua posição (latitude e, posteriormente, longitude) em mar aberto, através da navegação astronômica e do uso de instrumentos como o astrolábio e tábuas. A integração desses conhecimentos transformou a navegação de uma arte em uma ciência.
6. Quem foi o "Velho do Restelo" e o que ele representava? O Velho do Restelo é uma figura literária na obra Os Lusíadas de Luís Vaz de Camões. Ele personificava a oposição das altas classes portuguesas à política de expansão marítima de D. João II e D. Manuel I. Representava o temor pelos custos, a perda de vidas e a manutenção de territórios ultramarinos, em contraste com a ambição expansionista da Coroa. É uma exceção notável ao entusiasmo geral pela expansão.
A era da Chegada dos Europeus e das Grandes Navegações foi, sem dúvida, um marco decisivo na história da humanidade. Ela interligou continentes e culturas de uma forma inédita, impulsionou avanços tecnológicos e científicos sem precedentes e levou à formação de impérios globais. O conhecimento geográfico acumulado e o desenvolvimento da cartografia e da ciência náutica transformaram a visão do mundo e as possibilidades de interação humana.
É crucial reconhecer que essa expansão também trouxe consigo um rastro de profundas consequências sociais, econômicas e demográficas, especialmente para os povos nativos da América e da África. A dizimação de milhões de indígenas por doenças e a instituição da escravidão moderna de africanos são capítulos sombrios que não podem ser ignorados ao analisar esse período.
Compreender as motivações, os métodos e os impactos das Grandes Navegações é essencial para analisar as estruturas do mundo contemporâneo, as desigualdades históricas e as complexas interações entre diferentes culturas. Ao estudar essa era, somos convidados a refletir sobre o poder do conhecimento, a audácia humana e as responsabilidades inerentes à interconexão global.
Esperamos que este material tenha sido o mais completo e didático para você, auxiliando-o em seus estudos e na preparação para futuros desafios!
questões de múltipla escolha:
Quem liderou a expedição que resultou no primeiro contato dos europeus com as terras americanas?
A) Cristóvão Colombo
B) Pedro Álvares Cabral
C) Hernán Cortés
D) Francisco Pizarro
Qual país enviou Pedro Álvares Cabral em sua expedição em 1500?
A) Portugal
B) Espanha
C) Inglaterra
D) França
Qual era o objetivo da expedição liderada por Hernán Cortés em 1519?
A) Estabelecer relações comerciais com as Índias
B) Conquistar o Império Asteca
C) Descobrir novas rotas para as Índias
D) Explorar as regiões andinas
Gabarito:
A) Cristóvão Colombo
A) Portugal
B) Conquistar o Império Asteca