
Para entender o Aquecimento Global, é essencial primeiro compreender o Efeito Estufa. Muitas vezes confundidos, esses dois fenômenos estão intimamente ligados, mas não são a mesma coisa.
O Efeito Estufa é um processo natural e vital para a vida na Terra. Ele consiste em uma camada de gases na atmosfera – os chamados Gases de Efeito Estufa (GEE) – que absorve parte da energia solar refletida pela superfície terrestre, retendo o calor e mantendo o planeta aquecido a uma temperatura habitável. Sem ele, a Terra seria um local gelado, impróprio para a vida como a conhecemos.
Os principais GEE naturais que compõem essa camada incluem:
Dióxido de Carbono (CO₂)
Metano (CH₄)
Óxido Nitroso (N₂O)
Vapor de água
Azoto
Oxigénio
O problema surge quando as atividades humanas intensificam o Efeito Estufa natural, levando a um aumento excessivo da concentração de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera. Essa concentração extra de GEE retém mais calor do que o necessário, resultando no Aquecimento Global, que é o aumento persistente das temperaturas médias globais. Em outras palavras, o Aquecimento Global é uma consequência da intensificação do Efeito Estufa pelas ações humanas.
Estimativas indicam que as atividades humanas já causaram cerca de 1,0°C de aquecimento global acima dos níveis pré-industriais, com uma variação provável de 0,8°C a 1,2°C. Esse aquecimento tem sido maior na superfície terrestre do que nos oceanos.
A realidade da crise climática é inegável e os dados mais recentes acendem um alerta máximo para a humanidade. Estamos vivenciando os primeiros impactos de um mundo a +1,5°C.
O ano de 2024 foi o mais quente da história e o primeiro a romper a barreira de 1,5°C de aumento na temperatura média da Terra, limite crítico estabelecido pelo Acordo de Paris para combater a mudança climática. Pela primeira vez, desde 2024, estamos vivendo em um planeta com média de temperatura acima de 1,5°C. Os dados do observatório europeu Copernicus mostraram um aumento médio de 1,55°C na temperatura média global, que atingiu 15,10°C. Isso confirma as tendências de alta de temperaturas vistas na última década.
Um consórcio de 60 cientistas de 17 países revelou em junho de 2025 que o aquecimento causado pelo ser humano acelerou para 0,27°C por década entre 2015 e 2024, indicando que ultrapassar o limite de 1,5°C do Acordo de Paris é agora "inevitável".
Os sinais vitais do planeta mostram uma situação crítica:
Orçamento de Carbono em Colapso: Restam aproximadamente 130 bilhões de toneladas de CO₂ até 2030 para manter 50% de chance de limitar o aquecimento a 1,5°C. Isso equivale a pouco mais de três anos no ritmo atual de emissões. O orçamento remanescente está sendo reduzido pelas atuais emissões de 42 ± 3 GtCO2 por ano.
Emissões em Novo Recorde: A média da última década atingiu 53 bilhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano (t CO₂ eq/ano), impulsionada pelo uso contínuo de combustíveis fósseis.
Nível Médio do Mar: Aumentou +26 mm nos últimos 5 anos, mais que o dobro da média de décadas anteriores. Projeta-se que até 2100, a elevação média global do nível do mar seja cerca de 0,1 metro menor com o aquecimento global de 1,5°C em comparação com 2°C, mas o nível do mar continuará subindo bem depois de 2100.
Extensão do Gelo Marinho na Antártida: Registrou a 2ª menor de toda a série histórica.
Acidificação Oceânica: O pH médio da superfície cai 0,0010 ± 0,0001 por ano. A acidificação dos oceanos, devido ao aumento das concentrações de CO₂, amplifica os efeitos adversos do aquecimento, impactando o crescimento e a sobrevivência de espécies marinhas, de algas a peixes.
Desde março de 2023, o oceano tem enfrentado temperaturas extremamente elevadas, com um aumento abrupto de aproximadamente 0,5°C em 2023 para cerca de 0,6°C a 0,7°C em 2024, em comparação com as médias históricas. Este "oceano febril" tem intensificado os eventos climáticos extremos.
O fenômeno natural El Niño, caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial, intensifica o aquecimento global e o aumento de eventos extremos. O El Niño de 2023/2024 foi um dos mais fortes já registrados, contribuindo para alterações e desastres climáticos em diversas regiões do planeta, como chuvas extremas no Sul do Brasil e seca no Centro-Oeste e Norte. Apesar do fim do El Niño e da transição para condições neutras ou o fenômeno oposto (La Niña), a Organização Meteorológica Mundial (OMM) alertou que isso seria "curto e de baixa intensidade" e insuficiente para compensar os efeitos da mudança climática.
O Aquecimento Global é predominantemente impulsionado por atividades humanas que aumentam a concentração de Gases de Efeito Estufa (GEE) na atmosfera.
A principal causa do aumento dos GEE é a queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo e gás natural) para a geração de energia e em setores como o transporte. Esses processos liberam grandes quantidades de dióxido de carbono (CO₂) e óxido nitroso (N₂O) na atmosfera. Usinas termelétricas, por exemplo, não só liberam esses gases, mas também calor residual em corpos d'água, afetando ecossistemas aquáticos e alterando padrões climáticos locais.
As florestas desempenham um papel crucial na absorção de dióxido de carbono da atmosfera. O desmatamento, especialmente em larga escala, tem um duplo impacto:
Liberação de Carbono: Quando as árvores são cortadas e queimadas, o carbono armazenado nelas é liberado de volta para a atmosfera.
Perda de Sumidouros de Carbono: A redução das áreas florestais diminui a capacidade natural do planeta de remover CO₂ da atmosfera.
A produção agropecuária é uma fonte significativa de metano (CH₄), liberado pela digestão de ruminantes e pela decomposição de matéria orgânica em solos alagados (como em plantações de arroz), e de óxido nitroso (N₂O), proveniente do uso de fertilizantes sintéticos. O setor de resíduos também contribui com a emissão de metano.
A fabricação de produtos e os processos industriais em geral liberam uma variedade de GEE. Além disso, o excesso de consumo impulsiona a produção, gerando mais emissões e resíduos. A demanda energética em edifícios também contribui significativamente.
Curiosamente, a redução de aerossóis, pequenas partículas suspensas no ar liberadas por algumas atividades industriais, também tem contribuído para a aceleração do aquecimento observado. Embora muitos aerossóis sejam poluentes e prejudiciais à saúde, alguns tipos têm um efeito de resfriamento ao refletir a luz solar de volta para o espaço, mascarando parte do aquecimento global. Sua diminuição, portanto, remove esse "mascaramento" e revela o aquecimento total.
Os impactos do Aquecimento Global são multifacetados e afetam todos os aspectos da vida no planeta, com riscos crescentes para sistemas naturais e humanos.
Uma das consequências mais visíveis e imediatas do aquecimento global é o aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos.
Ondas de Calor: Tornam-se mais frequentes e intensas na maioria das regiões habitadas, com aumentos projetados para 3°C em latitudes médias e até 4,5°C em latitudes altas. Ondas de calor extremo causaram 1.300 mortes na peregrinação a Meca em junho de 2024.
Chuvas Intensas e Inundações: O aumento das temperaturas evapora mais umidade, agravando chuvas e inundações extremas. Projeta-se que eventos com chuvas intensas sejam maiores com o aquecimento global de 2°C do que com 1,5°C em diversas regiões. O Brasil, por exemplo, tem visto um aumento significativo de inundações devastadoras, como as do Rio Grande do Sul em maio de 2024. Inundações históricas também ocorreram na África e Espanha.
Secas e Escassez de Chuva: Riscos de secas e déficits de chuva são maiores a 2°C de aquecimento global em algumas regiões. O Brasil registrou secas e queimadas generalizadas em 2024.
Tempestades e Furacões: Tornam-se mais destrutivos e violentos. Furacões de alta intensidade atingiram a Flórida (EUA) em setembro/outubro de 2024. Mares mais quentes liberam mais vapor de água na atmosfera, fornecendo energia adicional para tufões, furacões e tempestades.
Incêndios Florestais: Incêndios devastadores na região de Los Angeles em 2024, que deixaram mortos e milhares de casas queimadas, coincidiram com previsões alarmantes.
Elevação do Nível do Mar: Aumenta a exposição de pequenas ilhas, zonas costeiras baixas e deltas a intrusão de água salgada, inundações e danos à infraestrutura. A instabilidade da camada de gelo marinho na Antártida e a perda da manta de gelo da Groenlândia podem resultar em elevação de vários metros no nível do mar por centenas a milhares de anos.
A biodiversidade é especialmente vulnerável ao aquecimento global.
Perda e Extinção de Espécies: Projeta-se que os impactos sobre a biodiversidade e ecossistemas, incluindo perda e extinção de espécies, sejam menores com 1,5°C do que com 2°C de aquecimento. Com 1,5°C, 6% de insetos, 8% de plantas e 4% de vertebrados podem perder metade de sua amplitude geográfica; a 2°C, esses números sobem para 18%, 16% e 8%, respectivamente. Espécies com baixa mobilidade ou nichos ecológicos estreitos estão em maior risco.
Alteração de Padrões de Distribuição: Mudanças na temperatura e padrões climáticos forçam espécies a deslocar seus habitats para maiores altitudes e latitudes.
Danos aos Ecossistemas Aquáticos: O aumento da temperatura dos oceanos e a acidificação comprometem a vida marinha. Recifes de corais, por exemplo, diminuem 70–90% a 1,5°C e mais de 99% a 2°C. O Ártico sem gelo marinho pode ocorrer uma vez por século com 1,5°C de aquecimento, mas pelo menos uma vez por década com 2°C.
Desestruturação de Redes Tróficas: O aquecimento global perturba interações ecológicas, como predador-presa e polinizador-planta, levando a "desalinhamentos fenológicos" onde espécies interdependentes respondem de forma diferente às mudanças climáticas.
Perda de Serviços Ecossistêmicos: A degradação de habitats e a fragmentação ecológica reduzem a capacidade dos ecossistemas de prover serviços vitais como a regulação climática, purificação da água, polinização de culturas e proteção costeira. A redução de polinizadores ameaça a produção agrícola, com até 75% das culturas alimentares globais dependendo deles.
As mudanças climáticas representam uma das maiores ameaças à saúde humana no século XXI, afetando-a direta e indiretamente.
Doenças Cardiovasculares e Respiratórias: Ondas de calor aumentam a incidência dessas doenças, além de desidratação e insolação. Altas temperaturas elevam os níveis de ozônio e outros poluentes do ar.
Doenças Transmitidas por Vetores: As mudanças climáticas prolongam as estações de transmissão e alteram a distribuição geográfica de doenças como malária, dengue, zika, chikungunya e febre amarela. A Doença de Lyme, transmitida por carrapatos, também é impactada.
Doenças de Veiculação Hídrica: O aumento das chuvas e enchentes contamina fontes de água potável, levando a surtos de leptospirose e cólera, e a variabilidade das chuvas aumenta o risco de doenças diarreicas.
Desnutrição e Segurança Alimentar: As mudanças climáticas afetam a produção agrícola, podendo levar à escassez de alimentos e ao aumento de preços, resultando em desnutrição e maior vulnerabilidade a doenças.
Proliferação de Microrganismos Perigosos: A elevação das temperaturas globais impulsiona o crescimento e a disseminação de microrganismos potencialmente letais, como o fungo Candida auris e bactérias resistentes a antibióticos. O microbiologista Arturo Casadevall destaca que nossa temperatura corporal nos protege contra fungos ambientais, mas o aquecimento global pode levar esses fungos a se adaptar a temperaturas mais altas, quebrando essa "barreira de temperatura".
Populações em Risco: As populações desfavorecidas e vulneráveis, povos indígenas, comunidades agrícolas e costeiras, crianças em países pobres, idosos e pessoas com doenças pré-existentes são desproporcionalmente mais afetadas. A pobreza e as desvantagens sociais aumentam com o aquecimento global.
Os desastres naturais causaram US$ 320 bilhões (R$ 1,9 trilhão) em prejuízos econômicos no mundo todo em 2024, segundo a seguradora Munich Re.
No Brasil, os prejuízos econômicos têm aumentado significativamente. Para cada aumento de 0,1°C na temperatura média global do ar, estima-se um acréscimo de R$ 5,6 bilhões nos prejuízos econômicos decorrentes de desastres no país.
O total de prejuízos reportados entre 1995 e 2023 foi de R$ 547,2 bilhões. Nos primeiros quatro anos desta década (2020-2023), os prejuízos já somam R$ 188,7 bilhões, o que representa 80% do total registrado em toda a década anterior (2010-2019).
O impacto social também é alarmante: entre 1991 e 2023, mais de 219 milhões de pessoas foram afetadas por desastres climáticos no Brasil, um número maior do que a população atual do país. Nos últimos 4 anos (2020-2023), quase 78 milhões de pessoas foram afetadas, o que representa 70% do total da década anterior. Nesse mesmo período, foram registradas 1.034 mortes devido a desastres climáticos, correspondendo a 50% do total da década anterior.
Redução de Recursos para Prevenção: Apesar do aumento dos desastres, os recursos gastos com a gestão de riscos e prevenção têm diminuído. Enquanto os registros aumentaram em média 140 ocorrências por ano entre 2012 e 2023, os recursos gastos em medidas emergenciais e de prevenção desses desastres apresentaram uma redução média de quase R$ 200 milhões por ano. Os gastos com ações emergenciais sempre foram maiores do que os com prevenção. Para cada dólar investido em redução de riscos e prevenção, pode-se gerar uma economia de até 15 dólares em custos de recuperação pós-desastre.
Enfrentar o Aquecimento Global exige um esforço conjunto e multifacetado, com ações que vão desde o nível individual até a cooperação global. As estratégias se dividem em mitigação (reduzir as emissões de GEE) e adaptação (ajustar-se aos impactos já inevitáveis).
Comece por você! Pequenas mudanças no dia a dia podem ter um impacto significativo na redução da sua pegada de carbono e na contribuição para um futuro mais sustentável:
Reduza a Geração de Resíduos:
Adote a coleta seletiva.
Compre produtos duráveis e resistentes, e conserte-os em vez de descartar.
Escolha produtos com embalagens reutilizáveis ou recicláveis, e de empresas com programas socioambientais. Cuidado com o "greenwashing".
Economize Luz e Água com Novos Hábitos:
Use lâmpadas fluorescentes (ou LED, que são ainda mais eficientes) em vez de incandescentes.
Reaproveite água para lavar quintal, por exemplo.
Desligue as luzes ao sair de um cômodo e otimize o uso de eletrodomésticos.
Apoie os Alimentos Agroecológicos:
Troque supermercados por feiras, consumindo alimentos produzidos sem agrotóxicos e pela agricultura familiar.
Alimentos de feira geralmente vêm sem embalagens e percorrem um trajeto menor até o consumidor, reduzindo a emissão de poluentes do transporte.
Evite o desperdício de comida.
Reduza o consumo de carne vermelha e produtos ultraprocessados, o que ajuda a diminuir a poluição ambiental.
Faça Trechos Menores a Pé ou Use Transporte Sustentável:
Substitua o uso do carro por caminhadas para percursos de até 3 km. Andar é saudável, não poluente e econômico.
Priorize o transporte público ou a bicicleta para percursos maiores. Isso pode reduzir a emissão de material particulado fino na atmosfera em cerca de 5%.
Invista no Que Você Acredita (Consumo Consciente):
Pesquise a origem dos produtos e verifique se os fabricantes não estão envolvidos com desmatamento ilegal ou mineração.
Considere o impacto de seu dinheiro no banco – ele pode estar sendo usado para atividades que poluem ou protegem o meio ambiente. Use o seu dinheiro como moeda de troca para investir naquilo que você realmente acredita.
A mitigação da crise climática exige transições rápidas e de longo alcance em diversos sistemas: energia, terra, infraestrutura urbana e industrial.
Transição Energética para Fontes Renováveis:
As emissões antrópicas líquidas globais de CO₂ precisam declinar em torno de 45% em relação aos níveis de 2010 até 2030, atingindo o valor líquido zero em torno de 2050. Isso é fundamental para limitar o aquecimento global a 1,5°C.
As energias renováveis (solar, eólica, hidrelétrica de baixo impacto) são alternativas mais sustentáveis aos combustíveis fósseis. Elas oferecem benefícios como redução das emissões de GEE, diversificação da matriz energética e criação de empregos (até 42 milhões globalmente até 2050, segundo a IRENA).
Exemplos de sucesso incluem os grandes investimentos da China em energia solar e a política de transição energética da Alemanha (Energiewende). No Brasil, projetos como o parque eólico São Pedro (Bahia) e a usina solar de Pirapora (Minas Gerais) demonstram o potencial nacional.
A inteligência artificial (IA) pode otimizar a produção e distribuição de energia, melhorando a eficiência dos sistemas de armazenamento de energia renovável.
Remoção de Dióxido de Carbono (CDR):
A CDR envolve atividades humanas de remoção de CO₂ da atmosfera para armazenamento durável. Será usada para compensar emissões residuais e, em muitos casos, atingir valores líquidos negativos para retornar ao aquecimento de 1,5°C.
As medidas incluem florestamento, reflorestamento, restauração da terra, sequestro de carbono no solo, Bioenergia com Captura e Armazenamento de Carbono (BECCS) e Captura e Armazenamento Direto do Ar (DACCS).
As tecnologias de CDR apresentam limitações de viabilidade e sustentabilidade em larga escala, com potenciais trade-offs com o uso da terra, energia, água e segurança alimentar, especialmente se mal gerenciadas. No entanto, podem oferecer cobenefícios como melhoria da biodiversidade, qualidade do solo e segurança alimentar local.
Redução de Emissões Não-CO₂:
Trajetórias para limitar o aquecimento a 1,5°C envolvem reduções profundas nas emissões de metano e carbono negro (35% ou mais até 2050 em relação a 2010). Medidas específicas podem reduzir óxido nitroso e metano da agricultura, metano do setor de resíduos e hidrofluorcarbonos.
Transformação da Indústria e Áreas Urbanas:
Emissões de CO₂ da indústria precisam ser 65-90% menores até 2050. Isso pode ser alcançado com eletrificação, hidrogênio, matérias-primas bio-sustentáveis e captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS).
No setor urbano, a transição envolve mudanças no ordenamento fundiário, reduções de emissões no transporte e edificações, e maior eletrificação do uso final de energia (55-75% em edifícios até 2050).
A adaptação é crucial para reduzir os riscos da mudança do clima, pois muitos impactos já são inevitáveis. As necessidades de adaptação serão menores em um cenário de 1,5°C do que em 2°C.
Soluções Baseadas na Natureza (SbN):
As SbN são estratégias integradas que protegem, gerenciam e restauram ecossistemas naturais ou modificados de forma sustentável. Elas oferecem benefícios multifuncionais, combinando mitigação climática, adaptação e conservação da biodiversidade.
Exemplos incluem a restauração de manguezais para proteção costeira contra tempestades e inundações, reflorestamento para sequestro de carbono e restauração de bacias hidrográficas para melhorar a regulação hídrica.
A implementação de infraestrutura verde em áreas urbanas (telhados verdes, parques urbanos) reduz o efeito de ilha de calor, melhora a qualidade do ar e da água, e fornece habitats para a biodiversidade urbana.
Gerenciamento de Riscos e Desastres:
Implica o desenvolvimento de planos de redução de risco e prevenção, incluindo monitoramento, mapeamento de áreas de risco, emissão de alertas e educação.
Aumentar o investimento em infraestrutura física e social é fundamental para melhorar a resiliência e as capacidades adaptativas das sociedades.
Conhecimento Local e Indígena:
Abordagens em educação, informação e comunidade, incluindo aquelas baseadas no conhecimento indígena e local, podem acelerar as mudanças de comportamento em larga escala e fortalecer a adaptação. A educomunicação, por exemplo, surge como uma solução importante para combater a desinformação climática.
Resiliência Ecológica:
Promover a diversidade biológica, complexidade estrutural e conectividade entre habitats aumenta a capacidade dos ecossistemas de absorver perturbações e manter suas funções essenciais.
O Aquecimento Global é um desafio que transcende fronteiras, exigindo uma abordagem coordenada e multilateral. A cooperação internacional é um catalisador crítico para países em desenvolvimento e regiões vulneráveis.
O Acordo de Paris, firmado em 2015, é um pacto global que reúne quase todos os países com o objetivo de combater as mudanças climáticas, visando limitar o aumento da temperatura média global a 1,5°C em relação aos níveis pré-industriais.
Os países signatários devem anunciar novos compromissos climáticos (NDCs) atualizados a cada cinco anos.
No entanto, as estimativas mostram que as atuais ambições de mitigação nacionalmente declaradas levariam a emissões globais de GEE que não limitariam o aquecimento a 1,5°C. Trajetórias que refletem a corrente ambição são consistentes com um aquecimento de aproximadamente 3°C até 2100.
Evitar um "overshoot" (superação temporária da meta de 1,5°C) e a dependência de futuras remoções de dióxido de carbono em larga escala só pode ser alcançado se as emissões globais de CO₂ começarem a diminuir bem antes de 2030.
A mobilização de financiamento é crucial para a adaptação e mitigação, especialmente em países em desenvolvimento.
Modelos globais projetam que limitar o aquecimento a 1,5°C envolve necessidades médias anuais de investimentos no sistema energético de aproximadamente US$ 2,4 trilhões entre 2016 e 2035, o que representa cerca de 2,5% do PIB mundial.
Na COP29, realizada em Baku (Azerbaijão), o financiamento estabelecido para países em desenvolvimento mitigarem os efeitos climáticos foi de apenas US$ 300 bilhões, e permaneceu quase em silêncio sobre as ambições de redução de gases de efeito estufa e a eliminação de combustíveis fósseis.
Os fluxos financeiros necessários para apoiar a implementação das NDCs podem superar US$ 3 trilhões por ano até 2050. Mecanismos como o Fundo Verde para o Clima (GCF) são essenciais para apoiar projetos de redução de emissões e adaptação.
As opções de mitigação consistentes com as trajetórias de 1,5°C estão associadas a múltiplas sinergias e trade-offs com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU.
Sinergias Robustas: Principalmente com os ODS 3 (saúde), 7 (energia limpa), 11 (cidades e comunidades), 12 (consumo e produção responsável) e 14 (oceanos).
Potenciais Trade-offs: Com os ODS 1 (pobreza), 2 (fome), 6 (água) e 7 (acesso à energia), se não forem cuidadosamente gerenciados. Por exemplo, algumas medidas de CDR (como BECCS e AFOLU) podem competir com a produção de alimentos se mal implementadas.
Trajetórias com Baixa Demanda: Trajetórias com baixa demanda de energia, baixo consumo material e baixo consumo de alimentos intensivo em GEE (como o cenário P1 na Figura SPM.3b do IPCC) têm as sinergias mais pronunciadas e o menor número de trade-offs com o desenvolvimento sustentável e os ODS.
Governança Multinível: Ações climáticas eficazes exigem governança multinível fortalecida, capacidade institucional, instrumentos de política, inovação tecnológica, e mobilização de financiamento.
Cooperação e Justiça Social: A justiça social e a equidade são fundamentais para as Trajetórias de Desenvolvimento Resilientes ao Clima (CRDPs), visando garantir que as condições dos mais pobres e desfavorecidos não piorem. A cooperação internacional é vital para a transferência de tecnologias limpas e o apoio a países em desenvolvimento.
Esta seção aborda dúvidas comuns e destaca pontos cruciais frequentemente cobrados em exames.
Efeito Estufa: Fenômeno natural essencial para a vida na Terra, que mantém a temperatura do planeta aquecida.
Aquecimento Global: É o aumento da temperatura média da Terra devido à intensificação do Efeito Estufa pelas atividades humanas.
Mudanças Climáticas: São alterações significativas e duradouras nos padrões de temperatura, precipitação e outros fenômenos climáticos em escala global. O Aquecimento Global é a principal causa das Mudanças Climáticas atuais.
O Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) é o principal órgão científico internacional para avaliar as mudanças climáticas. Ele é vinculado à Organização das Nações Unidas (ONU) e reúne especialistas de diversas áreas para produzir relatórios científicos que orientam políticas climáticas globais, compreendendo impactos, riscos e soluções. Seus relatórios são referência em concursos.
É um pacto global histórico firmado em 2015, com o objetivo de limitar o aumento da temperatura média global a bem abaixo de 2°C acima dos níveis pré-industriais e buscar esforços para limitá-lo a 1,5°C. Ele estabelece uma estrutura para que os países apresentem e revisem seus compromissos climáticos (NDCs) a cada cinco anos.
El Niño: Caracterizado pelo aquecimento anormal das águas superficiais do Oceano Pacífico equatorial, intensifica o aquecimento global e o aumento de eventos extremos, como secas no Norte/Nordeste do Brasil e chuvas intensas no Sul.
La Niña: É o fenômeno oposto, caracterizado pelo resfriamento das águas no Pacífico equatorial. Embora possa ter um efeito de resfriamento temporário, não é suficiente para compensar os efeitos da mudança climática.
Dióxido de Carbono (CO₂): Principalmente da queima de combustíveis fósseis (carvão, petróleo, gás natural) para energia e transporte, e do desmatamento.
Metano (CH₄): Da produção agropecuária (digestão de ruminantes, plantações de arroz), decomposição de resíduos orgânicos e vazamentos de gás natural.
Óxido Nitroso (N₂O): Do uso de fertilizantes nitrogenados na agricultura e da queima de combustíveis fósseis.
Outros GEE incluem gases fluorados e vapor de água.
A desinformação climática é um obstáculo significativo para a ação climática eficaz. Ela se espalha rapidamente pelas redes sociais, muitas vezes exagerada ou distorcida para gerar engajamento e polarização.
Como identificar: Desconfie de teorias conspiratórias, informações alarmistas sem base científica sólida, e conteúdos que retratam iniciativas ambientais como ameaças econômicas.
Como combater: Valorize a alfabetização midiática e o jornalismo responsável e de checagem de fatos. Iniciativas como a educomunicação capacitam as pessoas a discernir fatos de ficção, promovendo o pensamento crítico.
Consequências Chave:
Eventos Extremos: Frequência e intensidade crescentes (secas, inundações, ondas de calor, tempestades).
Saúde: Proliferação de doenças (vetoriais, hídricas), problemas cardiorrespiratórios, desnutrição, estresse térmico.
Biodiversidade: Perda de espécies, alteração de ecossistemas (corais, permafrost), desequilíbrio de cadeias alimentares.
Economia: Enormes prejuízos financeiros por desastres, impacto na agricultura e pesca.
Soluções Chave:
Energias Renováveis: Transição para matriz energética limpa (solar, eólica).
Mitigação de Emissões: Redução drástica de GEE, especialmente CO₂.
Adaptação: Desenvolvimento de infraestrutura resiliente e soluções baseadas na natureza.
Cooperação Internacional: Acordos globais (Paris Agreement), financiamento climático, transferência de tecnologia.
Consumo Consciente e Redução de Resíduos: Ações individuais e empresariais.
A análise dos dados é inequívoca: estamos em um momento crítico da crise climática. O ano de 2024 marcou a superação da barreira de 1,5°C de aquecimento global, um limite simbólico que agora se mostra mais próximo e urgente do que o previsto. Os impactos já são visíveis e devastadores, afetando a saúde, a economia, a biodiversidade e a segurança de milhões de pessoas em todo o mundo.
Como enfatizou o secretário-geral da ONU, António Guterres, "ainda há tempo para evitar o pior da catástrofe climática", mas os líderes devem "agir agora". As soluções existem, desde as atitudes individuais do dia a dia – como a redução de resíduos e o apoio à energia limpa – até as complexas transições sistêmicas em energia, indústria e uso da terra.
A transição para uma economia de baixo carbono, impulsionada por energias renováveis e a implementação de tecnologias de remoção de dióxido de carbono (CDR), juntamente com estratégias de adaptação baseadas na natureza, são cruciais. A cooperação global, o financiamento climático e o combate à desinformação climática são pilares para garantir um futuro sustentável e equitativo.
O "futuro está em nossas mãos". Ao compreender profundamente os desafios e as oportunidades, e ao unir esforços em todos os níveis – individual, comunitário, governamental e internacional –, podemos e devemos construir um planeta mais resiliente e seguro para as futuras gerações. A educação e o conhecimento são as ferramentas mais poderosas para essa transformação.
Questões de Múltipla Escolha:
Qual é uma das principais causas do aquecimento global?
a) Desmatamento
b) Diminuição da população mundial
c) Aumento da área de reservas naturais
d) Uso de fontes de energia renovável
Quais são alguns dos efeitos do aquecimento global mencionados no texto?
a) Diminuição da temperatura média global
b) Redução da biodiversidade
c) Aumento da produtividade agrícola
d) Diminuição da frequência de eventos climáticos extremos
Como as pessoas podem contribuir para a redução do impacto do aquecimento global?
a) Aumentando o uso de combustíveis fósseis
b) Utilizando mais transporte individual, como carros particulares
c) Adotando hábitos de consumo mais conscientes
d) Desenvolvendo práticas agrícolas intensivas
Gabarito:
a) Desmatamento
b) Redução da biodiversidade
c) Adotando hábitos de consumo mais conscientes