Os movimentos literários Parnasianismo e Simbolismo surgiram na Europa, mais especificamente na França, na segunda metade do século XIX. As duas escolas são contemporâneas e compartilham o mesmo contexto histórico de grandes transformações, como a Segunda Revolução Industrial e a consolidação do poder burguês. No entanto, em termos de ideologia e estética, elas se posicionaram em campos opostos.
O Parnasianismo é um movimento literário de caráter essencialmente poético. Ele se desenvolveu como uma reação ao sentimentalismo e ao subjetivismo exacerbado do Romantismo.
O nome "Parnasianismo" é inspirado no Monte Parnaso, na Grécia Antiga, que era considerado a morada do deus Apolo (inspirador dos artistas) e o local onde os poetas se isolavam do mundo para se integrar com os deuses através da poesia.
Arte pela Arte (Lema Principal): Este é o conceito fundamental. A arte, especialmente a poesia, é vista como um fim em si mesma. Seu objetivo não é a utilidade social, a crítica política ou a expressão de sentimentos, mas unicamente alcançar a beleza formal e a perfeição estética.
Rigor Formal: Há uma obsessão pela forma. O poeta é comparado a um artesão, ourives ou escultor que trabalha minuciosamente o verso, buscando a perfeição técnica (como Bilac descreve em "Profissão de Fé").
Objetividade e Impessoalidade: Em oposição ao Romantismo, o Parnasianismo nega o "eu". A poesia deve ser racional, objetiva e desprovida de sentimentalismo lacrimejante. O poeta assume uma postura de impassibilidade diante do tema.
Descritivismo: A poesia é marcadamente descritiva. Há a preferência pela descrição nítida e detalhada de objetos inanimados, paisagens, cenas, personagens históricos ou mitológicos (como "O Vaso Grego").
Reapropriação Clássica: Retorno a valores e temas da Antiguidade Clássica (greco-latina), como a razão, o Belo Absoluto, e a mitologia.
Uso de Formas Fixas: Há a preferência pelo soneto (quatorze versos), versos clássicos (decassílabos e alexandrinos), e o uso de rimas raras e ricas. O vocabulário é erudito, culto e rebuscado.
O Simbolismo surge nas últimas décadas do século XIX como uma reação direta e oposta ao materialismo, ao cientificismo e ao objetivismo do Realismo/Naturalismo e do Parnasianismo. Seu objetivo principal era o resgate dos valores emocionais e da subjetividade, aproximando-se, nesse ponto, do Romantismo, mas de forma muito mais profunda.
A linguagem do Simbolismo é definida como subjetiva, imprecisa, vaga, transcendental, sensorial, fluida, onírica (relacionada ao sonho), mística e espiritual.
Subjetivismo e Misticismo: O foco está no mundo interior do poeta (o "eu profundo"), explorando o consciente, o subconsciente, o sonho e a irracionalidade. O Simbolismo possui uma concepção anti-racionalista e anti-materialista, unindo aspectos místicos e transcendentais ao subjetivismo.
Musicalidade (A Poesia como Música): O Simbolismo valoriza intensamente a sonoridade e o ritmo. O poeta é comparado a um músico que trabalha com palavras para evocar emoções, em contraste com o poeta parnasiano, visto como escultor.
Sugestão (Não Descrição): O poeta simbolista não descreve a realidade de forma objetiva, mas a sugere através de símbolos e metáforas.
Temas: Os temas explorados incluem o amor, a loucura, o sonho, a mente humana, a dor, o mistério, a morte e a busca pela transcendência espiritual.
Vocabulário e Cores: Há o uso de vocabulário culto (semelhante ao Parnasianismo em seu refinamento formal), mas com ênfase em palavras que evocam sensações e a cor branca (associada à pureza, etéreo e misticismo), como é notório na obra de Cruz e Sousa.
Devido à busca por combinações sonoras e sensoriais, as figuras de linguagem são cruciais no Simbolismo.
Sinestesia: Caracterizada pela combinação de diferentes sensações relacionadas aos cinco sentidos (visão, olfato, paladar, audição e tato). Exemplo: "vozes veladas" (audição + tato/visão).
Aliteração: Repetição de consoantes ou sílabas para potencializar a musicalidade. Exemplo clássico de Cruz e Sousa: "Vozes veladas, veludosas vozes / Volúpia dos violões, vozes veladas".
Assonância: Repetição de vogais.
Onomatopeia: Inserção de sons reais na escrita.
Embora Parnasianismo e Simbolismo sejam contemporâneos e ambos usem o soneto e o vocabulário culto, a diferença fundamental reside no conteúdo e na visão de mundo. O Parnasianismo é a objetividade, e o Simbolismo, a subjetividade.
Característica | Parnasianismo | Simbolismo |
Foco Ideológico | Objetividade e Perfeição Formal. A forma é mais importante que o conteúdo. | Subjetividade e Espiritualidade. A sugestão do mundo interior é primordial. |
Aptidão do Poeta | Escultor, ourives, artífice da palavra. | Músico, explorador do inconsciente. |
Linguagem | Precisa, clara, nítida, racional. | Vaga, fluida, onírica, mística, imprecisa. |
Temas/Conteúdo | Descrição de objetos, mitologia greco-latina, temas históricos. Mundo Exterior. | Morte, sonho, inconsciente, alma, mistério, dor. Mundo Interior. |
Uso da Forma | Meio de demonstrar perfeição técnica (Arte pela Arte). | Meio de sugerir o indefinível e a musicalidade. |
Figuras Chave | Descrição plástica. | Sinestesia, Aliteração, Assonância. |
O Parnasianismo teve uma repercussão muito maior no Brasil do que em Portugal. Ele se tornou a "escola oficial das letras" durante muito tempo, sendo praticado por poetas integrados à sociedade burguesa. O movimento no Brasil teve início com a publicação de Fanfarras (1882), de Teófilo Dias. O domínio parnasiano foi tão grande que, na fundação da Academia Brasileira de Letras (1896), os simbolistas foram excluídos.
A tríade parnasiana consolidou o movimento, sendo composta por Olavo Bilac, Alberto de Oliveira e Raimundo Correia.
Olavo Bilac (1865-1918):
Foi o poeta mais famoso do Parnasianismo brasileiro e o "Príncipe dos Poetas Brasileiros".
Era considerado um poeta de surpreendente domínio técnico, mas criticado por Antonio Cândido como o "admirável poeta superficial" por abordar temáticas vazias.
Defendeu a forma perfeita, como ilustrado em seu poema Profissão de Fé, onde compara a escrita ao trabalho do ourives, que limpa e lapida a frase para engastar a rima "Como um rubim".
Prioridade em Concursos: O tema do Nacionalismo Ufanista é muito explorado. Bilac foi um patriota convicto, defensor do serviço militar obrigatório e é o autor da letra do Hino à Bandeira. Também tratou do lirismo amoroso, dividindo-se entre o aspecto platônico e o sensual.
Alberto de Oliveira (1857-1937):
Considerado o poeta mais fiel aos padrões estéticos do Parnasianismo.
Sua poesia é marcada pela excessiva preocupação formal, correção técnica e descritivismo exaustivo. Um de seus poemas mais famosos, O Vaso Grego, é um exemplo dessa poesia voltada para a descrição de objetos inanimados. Mário de Andrade o descreveu como "Um poeta que não tem nada a dizer".
Raimundo Correia (1860-1911):
Apresenta uma leve diferença em relação ao racionalismo parnasiano, pois sua obra revela influências do pessimismo de Schopenhauer e um toque mais melancólico.
Apesar do rigor técnico, sua poesia quebra o "gelo descritivista" da escola com uma emoção genuína que humaniza a paisagem.
No Brasil, o Simbolismo teve uma aceitação limitada e foi ofuscado pelo conservadorismo parnasiano. Foi praticado por um número menor de poetas, sendo considerado um movimento "marginal" fora do eixo cultural dominante Rio-São Paulo. O marco inicial no Brasil é 1893, com a publicação de Missal (prosa) e Broquéis (poesia), ambas de Cruz e Sousa.
Cruz e Sousa (1861-1898): O Cisne Negro
É considerado o poeta mais autêntico do Simbolismo no Brasil.
Contexto Biográfico (Importante): Filho de ex-escravos, sua vida foi marcada por padecimentos, preconceito racial e problemas familiares (esposa doente, filhos mortos). O sofrimento social e a segregação são temas presentes em sua obra.
Temática Central: Sua obra é carregada de misticismo, pessimismo e uma visão trágica da vida. Ele explora o conflito entre o desejo sexual (erotismo) e a tentativa de sublimação espiritual.
Obsessão Simbólica: A Obsessão pela cor branca é uma de suas marcas mais estudadas. A cor branca (alvas, claras, límpidas) é usada como símbolo da pureza, do etéreo, da bruma, do luar, e reflete, paradoxalmente, a angústia do poeta negro na sociedade segregatória.
Alphonsus de Guimaraens (1870-1921): O Solitário de Mariana
Conhecido como o "Poeta Lunar" ou "O Solitário de Mariana" por viver isolado do mundo literário.
Sua poesia é marcadamente espiritualista e lírica.
Temática Central: Sua obra é dominada pelo tema da morte da mulher amada (sua prima Constança). Ele explora a dor através de uma atmosfera de rituais católicos e religiosidade.
Augusto dos Anjos (1884-1914): A Poesia Científica da Decomposição
Augusto dos Anjos é uma importante exceção e um ponto de transição, pois sua obra possui traços simbolistas e parnasianos, mas é extremamente original.
Prioridade em Concursos: Sua originalidade reside no uso de um vocabulário técnico, tirado das ciências biológicas e médicas. Ele usa esses termos científicos para tratar de temas como a morte, a decomposição, o vazio da existência e o pessimismo. Ele era o "cantor da poesia de tudo quanto é morto".
A análise do Parnasianismo e Simbolismo em profundidade revela uma zona de transição e sincretismo muito relevante para a crítica avançada e questões discursivas de alto nível.
O Parnasianismo não teve um fim abrupto, mas coexistiu e se misturou com o Simbolismo, e até com o Pré-Modernismo e o Modernismo, especialmente nas duas primeiras décadas do século XX. Essa união de estilos resultou em manifestações de poesia sincretista e de transição.
Uma dúvida comum em concursos é se Cruz e Sousa era puramente simbolista, visto que ele usava frequentemente o soneto e tinha grande preocupação formal.
A crítica literária constantemente aponta que Cruz e Sousa e a poesia simbolista não conseguiram se libertar totalmente do preciosismo vocabular e formal do Parnasianismo.
O uso do soneto em Cruz e Sousa, como em Acrobata da Dor, e a busca por vocabulário requintado, o aproximam dos parnasianos.
O Grande Diferencial: Cruz e Sousa transfigura essa forma. Enquanto os parnasianos buscavam a frieza do mármore grego, Cruz e Sousa infundia no verso um vocabulário inaudito e simbolicamente expressivo, dando vida fremente e emoção ao soneto. Sua luta com o verso era pela magia verbal e a representação da Natureza, não apenas pela técnica.
A crítica de Antonio Candido oferece uma visão complexa sobre a herança simbolista:
A Crítica Inicial (Anos 40): Candido, a princípio, via o Simbolismo internacional de forma restritiva. Ele o associava à "poesia menor" e à poesia hermética, criticando a tendência ao autotelismo estético (a arte pela arte) e o divórcio da poesia com a realidade social e os grandes temas humanos. Para ele, a poesia menor (resultante do Simbolismo) tendia a um divórcio do poeta com o mundo, limitando-se ao "excepcional, ao puro".
O Reconhecimento da Contribuição (Anos 90): Posteriormente, Candido reconheceu a importância histórica do Simbolismo. Ele notou que o movimento, ao se concentrar na obtenção do "momento de poesia" e buscar a "palavra essencial", contribuiu imensamente para desentulhar a poesia de elementos acessórios e ornamentais.
Consciência de Linguagem e "Mundos Factícios": Candido enfatiza que os simbolistas criaram um "universo factício" (artificial, mas que transcende o mundo real). Essa criação de um mundo próprio, mediada pela força criadora da palavra e ancorada na consciência de linguagem (ritmo, sonoridade e simbolização), é a maneira como essa poesia se torna "participativa" e fundamental para a consolidação da poesia moderna no século XX.
A obra de Cruz e Sousa, por sua vez, é vista por Candido e Castello como original por conseguir combinar a impregnação formal parnasiana e o pessimismo realista com as musicalidades e as imprecisões espirituais do Simbolismo.
P. Qual é a principal diferença que define os dois movimentos? R. A principal diferença reside na visão da realidade. O Parnasianismo busca a objetividade, a descrição exata do mundo externo, e a perfeição formal. O Simbolismo busca a subjetividade, a sugestão do mundo interior, do inconsciente e do místico, priorizando a musicalidade.
P. Cruz e Sousa era parnasiano ou simbolista? R. Cruz e Sousa é o principal representante do Simbolismo no Brasil. Contudo, em sua forma, ele usou o soneto e o vocabulário culto, características herdadas do Parnasianismo. Ele se destacou por usar essa forma rígida para expressar conteúdos subjetivos e transcendentais, transfigurando-a com sua potência verbal.
P. Como a forma (estrutura) se relaciona com o conteúdo em cada escola? R. No Parnasianismo, a forma (perfeita, clássica) é o próprio objetivo do poema ("Arte pela Arte"). No Simbolismo, a forma (cheia de aliterações, sinestesias) é um meio para sugerir o indefinível e o emocional, aproximando-o da música.
P. Por que o Simbolismo também é chamado de Neorromantismo? R. O Simbolismo retoma a subjetividade e a exploração dos sentimentos, valores deixados de lado pelas escolas anteriores (Realismo/Parnasianismo). No entanto, o mergulho simbolista no universo metafísico é mais profundo do que o feito pelos românticos. O Simbolismo expressa um profundo "mal-estar" em relação ao mundo materialista, semelhante ao Romantismo.
P. Que autores brasileiros são considerados de transição ou sincretistas? R. Augusto dos Anjos é o principal poeta com traços simbolistas e parnasianos. Ele é uma figura de transição notável devido ao seu uso de vocabulário científico para temas de dor e morte. O próprio Cruz e Sousa é frequentemente citado como tendo elementos parnasianos na forma.
Dominar as distinções entre Parnasianismo e Simbolismo não apenas garante sucesso em provas de Literatura, mas também desenvolve habilidades críticas. O Parnasianismo, com sua obsessão pela forma e pelo detalhe (objetividade e descrição detalhada), e o Simbolismo, com sua busca pela musicalidade e pelo transcendental (subjetividade e uso de símbolos), influenciaram profundamente a literatura contemporânea, a música, as artes visuais e, no mercado atual, são conhecimentos valiosos em áreas como publicidade, marketing e produção de conteúdo. O estudo desses movimentos permite compreender como a arte evoluiu ao manipular a linguagem para reforçar ou atenuar a semelhança com o mundo real, criando o que Antonio Candido chamou de "universo factício".