Antes de tudo, é crucial entender o tipo de texto exigido: a redação dissertativo-argumentativa. Este modelo de redação, cobrado no Enem, Encceja e vários vestibulares, exige que o autor defenda um ponto de vista (tese) sobre um tema problematizado, utilizando argumentos e exemplos.
A Introdução é o primeiro parágrafo e atua como o cartão de visitas do seu texto. Ela é responsável por três funções vitais: capturar a atenção do avaliador, estabelecer a direção e o foco do texto, e apresentar a tese (a opinião a ser defendida).
Dúvida Comum: A introdução precisa ser longa? Sim, uma introdução ideal deve ter pelo menos dois períodos diferentes, separados por ponto final. No Enem, introduções com duas linhas ou menos são consideradas "embrionárias" e podem prejudicar a nota na Competência 2.
Para alcançar a nota máxima, o modelo de estrutura mais recomendado é o de quatro parágrafos:
Ordem Didática | Parágrafo | Função Principal |
1 | Introdução | Apresentar o tema, contextualizar e definir a Tese e os Argumentos (A1 e A2). |
2 | Desenvolvimento 1 | Defender o Argumento 1 (A1) com repertório sociocultural e aprofundamento crítico. |
3 | Desenvolvimento 2 | Defender o Argumento 2 (A2) com repertório sociocultural e aprofundamento crítico. |
4 | Conclusão | Retomar o tema/objetivo e apresentar a Proposta de Intervenção (PI) completa. |
Essa ordem permite uma organização rápida e segura, sendo o desenvolvimento o "coração da redação" e a conclusão a "última impressão".
Para elaborar uma introdução sem defeitos, ela deve ser dividida em três partes distintas e interligadas:
É a abertura do parágrafo. A contextualização ou assunto é algo mais abrangente do que o tema em si, mas que se conecta a ele. É o momento ideal para inserir o repertório sociocultural produtivo (livros, filmes, citações, dados históricos).
Dica Essencial: A contextualização deve ser conectada à problematização do tema, utilizando recursos coesivos (conectivos) para evitar saltos lógicos.
Após contextualizar, você deve demonstrar como o contexto se liga ao tema proposto. É vital que você evite copiar o tema de forma literal. Em vez disso, reescreva-o com suas próprias palavras, mas garantindo que todos os elementos da proposta temática estejam presentes.
A tese é a opinião ou ideia principal que você irá defender ao longo do texto. Ela concentra o objetivo do seu texto e deve ser pensada de forma completa (ideia, argumentos, consequências e solução).
Como Fazer uma Tese Forte? Pergunte a si mesmo: "O que eu acho sobre o tema?". A partir dessa resposta, você deve formular dois argumentos (A1 e A2) que serão desenvolvidos nos parágrafos seguintes.
Exemplo: Em uma redação sobre a invisibilidade do registro civil, a tese pode ser que o problema persiste devido à precarização do trabalho e à exclusão democrática. Esses se tornam seus A1 e A2.
Prioridade em Concursos: A tese deve ser coesa e coerente. No Enem, a tese deve claramente apresentar o projeto de texto com dois argumentos que serão retomados e comprovados no desenvolvimento.
O desenvolvimento é a parte de argumentação e exemplificação. Cada parágrafo de desenvolvimento (D1 e D2) deve abordar um dos argumentos apresentados na tese.
Tópico Frasal (Afirmação): Retomada do argumento (A1 no D1, A2 no D2).
Repertório Sociocultural: Provar o argumento com repertório sólido (citação, dado, etc.).
Aprofundamento Crítico/Explicação: Explicar como o exemplo sustenta a afirmação e por que o problema ocorre.
Fechamento: Conclusão do parágrafo, ligando o argumento ao tema central.
Embora a argumentação por soma (dois argumentos negativos ou dois positivos) seja comum, a argumentação por contraste (aspectos positivos e negativos) é uma estrutura avançada que pode ser mais relevante dependendo do tema.
Modelo de Introdução por Contraste: "Relativo à/ao (+tema), é possível destacar tanto aspectos positivos quanto negativos. Se por um lado, (Arg.1); por outro, (Arg.2).".
Aplicações: Se você usou contraste na introdução, você deve usar conectivos de oposição (como "No entanto") entre os parágrafos de desenvolvimento (D1 e D2), pois eles tratarão de ideias opostas (positivo vs. negativo).
A capacidade de variar as estratégias de introdução é chave para se destacar. Abaixo, apresentamos 10 formas eficientes, em ordem crescente de complexidade:
É uma das formas mais comuns. Consiste em dar um panorama da temática no Brasil atual, mostrando que o problema é relevante. Procure trazer dados estatísticos ou informações de fontes confiáveis. Você pode, inclusive, usar dados apresentados pela própria proposta de redação (mas não os copie literalmente).
Vantagem Didática: É rápido e baseia-se em fatos concretos.
O estudante explica um conceito que seja central para o tema proposto e, em seguida, mostra por que ele é importante.
Exemplo: Definir "Estigma" para o tema de doenças mentais, ou "Isonomia" para o tema de desigualdade social.
Utilizar referências a palavras, ideias ou informações de outras fontes para sustentar seus pontos. Tente fugir das frases mais conhecidas e garanta que a citação escolhida tenha relação direta com o raciocínio e a tese. A citação confere credibilidade e funciona como "argumento de autoridade".
Tipos: Diretas (palavras exatas, entre aspas) ou Indiretas (paráfrase, mantendo o significado, sem aspas). Se não lembrar da frase exata, use a indireta, mas sempre citando o autor.
Cuidado: Evite que a citação seja muito longa, ofuscando o seu próprio texto, pois o corretor valoriza a sua "autonomia".
Iniciar com a menção a uma lei (como a Constituição Federal de 1988) e, em seguida, contrapor essa teoria à prática. Isso demonstra que o problema persiste apesar das garantias legais.
Exemplo: Citar o Artigo 205 da CF/88 (dever do Estado de garantir a educação) para discutir a falta de tradutores de Libras nas escolas.
Contextualiza o assunto destacando pontos da história em que houve a situação abordada no tema.
Cuidado: Use o resgate histórico brevemente (máximo 3 ou 4 linhas). O fato histórico citado deve ser o contexto imediato do tema; citar fatos distantes (como a Revolução Industrial para o trabalho infantil atual) não é eficaz.
Narrar um caso famoso, uma notícia de grande repercussão ou um episódio da política/ciência que se relacione ao tema. A história deve ser verificável pelo corretor (evite casos pessoais).
Levantar questões que gerem discussão e interesse.
Regra de Ouro: Você deve responder a todas as perguntas ao longo do texto!. Por isso, foque em problemas específicos e não seja muito amplo.
Usar uma situação de uma obra (série, filme ou livro) que se relacione ao tema. É crucial conectar claramente a situação ficcional à realidade brasileira (ex: "Já na realidade brasileira...") para não fugir do tema.
Dica Didática: É interessante resgatar essa referência ficcional na conclusão para manter a coerência.
Comparar a situação brasileira com outro país, época ou civilização, muitas vezes buscando inspiração em modelos estrangeiros.
Cautela: Evite a síndrome do vira-lata. Lembre-se que o que funciona em outro lugar pode não funcionar no Brasil devido às características sociais distintas. Além disso, respeite a Constituição Brasileira e a Declaração Universal dos Direitos Humanos.
Referência Literária: Utilizar uma obra que tenha íntima relação com o tema, como Capitães da Areia de Jorge Amado para discutir movimentos antivacina.
Referência Mitológica: Uso de figuras clássicas (como Ulisses) para analogia com os desafios atuais.
Crítica: Criticar de forma equilibrada um fenômeno social (como a globalização levando ao consumismo infantil), com a intenção de buscar soluções, e não apenas o governo.
O repertório sociocultural é fundamental para o Enem e vestibulares, pois mostra repertório cultural e confere credibilidade. As referências versáteis, chamadas de "coringas", se encaixam em uma variedade de temas.
Filósofos e Pensadores: Platão, Aristóteles, Simone de Beauvoir, Foucault, Bauman.
Obras Literárias Clássicas: 1984 (George Orwell) ou O Pequeno Príncipe (Antoine de Saint-Exupéry) – ricos em temas universais como liberdade, poder e responsabilidade social.
Filmes e Séries: A Lista de Schindler ou Black Mirror (abordam ética, tecnologia, direitos humanos).
Movimentos Históricos e Sociais: Iluminismo, Feminismo, Luta pelos Direitos Civis (contextualizam discussões sobre igualdade e justiça).
Obras de Arte e Artistas: Pablo Picasso ou Frida Kahlo (úteis para discutir guerra, identidade, expressão cultural).
Estas citações são repertório coringa e se encaixam em diversos temas de redação.
“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos.” (Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos).
“Aqueles que não conseguem lembrar o passado estão condenados a repeti-lo.” (George Santayana, filósofo e poeta espanhol).
“A educação é a arma mais poderosa que você pode usar para mudar o mundo.” (Nelson Mandela, líder sul-africano).
“A insatisfação é o primeiro passo para o progresso de um homem ou de uma nação.” (Oscar Wilde, escritor).
“Não são as crises que mudam o mundo, e sim nossa reação a elas.” (Zygmunt Bauman, filósofo e sociólogo polonês).
“O indivíduo só poderá agir na medida em que aprender a conhecer o contexto em que está inserido, a saber quais são suas origens e as condições de que depende.” (Émile Durkheim, sociólogo).
“A vontade geral deve emanar de todos para ser aplicada a todos.” (Jean-Jacques Rousseau, filósofo).
“Que tipo de mundo podemos preparar para os nossos bisnetos?” (Richard Rorty, filósofo).
“Não corrigir nossas falhas é o mesmo que cometer novos erros.” (Confúcio, pensador e filósofo chinês).
“Temos de nos tornar a mudança que queremos ver.” (Mahatma Gandhi, ativista indiano).
“O progresso é impossível sem mudança; e aqueles que não conseguem mudar as suas mentes não conseguem mudar nada.” (George Bernard Shaw, dramaturgo).
“Se queres prever o futuro, estuda o passado.” (Confúcio, pensador e filósofo chinês).
“Um país não muda pela sua economia, sua política e nem mesmo sua ciência; muda sim pela sua cultura.” (Herbert José de Sousa (Betinho), sociólogo e ativista).
“A arte é a mentira que nos permite conhecer a verdade.” (Pablo Picasso, artista).
“A inclusão acontece quando se aprende com as diferenças e não com as igualdades.” (Paulo Freire, educador brasileiro).
Em redações como a do Enem, a conclusão é a última impressão e deve oferecer uma Proposta de Intervenção (PI) que respeite os direitos humanos, sendo completa e eficaz. A PI vale 200 pontos da nota total da redação.
Obrigatoriedade: A proposta de intervenção correta e completa precisa ter 5 elementos:
Elemento | Pergunta-Chave | Exemplo (Baseado em uma Nota 1000) |
1. Agente | Quem? (Quem fará a ação?) | Poder Executivo (na esfera federal) ou Ministério da Mulher, da Família e dos Direitos Humanos. |
2. Ação | O Quê? (Qual intervenção será realizada?) | Amplie a verba destinada a órgãos fiscalizadores ou estabeleça políticas públicas efetivas. |
3. Modo/Meio | Como? (De que forma será realizada?) | Pela implantação de um Projeto Nacional de Valorização dos Povos Tradicionais ou por meio de leis e investimentos. |
4. Efeito | Para Quê? (Qual o resultado esperado?) | A fim de combater os preconceitos e promover o respeito ou a fim de diminuir o consumo exacerbado. |
5. Detalhamento | Explicação/Exemplos (Detalhe o agente, a ação ou o meio) | Articular, em conjunto com a mídia, palestras e debates que informem a importância de tais grupos. |
Prioridade em Concursos: Não basta citar a intervenção de forma genérica; é preciso explicar quem é o responsável e como será colocada em prática.
Conhecer os erros mais comuns é vital para evitar a perda de pontos.
Introdução Embrionária: Não ter pelo menos duas linhas de texto.
Falta de Conexão: Não conectar claramente o contexto utilizado (citação, história) com a problematização do tema.
Mistura de Assuntos: Apresentar uma pluralidade de ideias que não serão exploradas ou que não se ligam à tese, deixando o texto poluído.
Períodos Longos Demais: Evitar períodos excessivamente longos no primeiro parágrafo. É recomendável utilizar pelo menos dois períodos diferentes, separados por ponto final.
Autonomia: Embora o repertório seja importante, os corretores valorizam a sua autonomia, que é a capacidade de mostrar ideias próprias, sem deixar que as citações ofusquem seu texto.
Esqueleto Pronto: Lembre-se que escrever a introdução não é o primeiro passo. Você precisa primeiro ler com cuidado a proposta de redação e construir o esqueleto do seu texto, definindo tese e argumentos.
Repertório na Prática: O repertório sociocultural deve ser usado para enriquecer a argumentação. Ele deve ser claro o bastante para dar legitimidade aos seus argumentos.
Coerência Textual: Para que a tese seja forte, é essencial escrever um texto coeso, onde ideias, argumentos, consequências e soluções se combinem em um todo, e não em parágrafos soltos.
A redação dissertativo-argumentativa, especialmente no modelo Enem, exige domínio da estrutura de 4 parágrafos e a correta aplicação dos 3 elementos da introdução (Contextualização, Tema, Tese). Priorizar o uso de repertório sociocultural coringa e garantir que a proposta de intervenção na conclusão contenha os 5 elementos obrigatórios (Agente, Ação, Meio, Efeito, Detalhamento) são passos inegociáveis para quem almeja a nota máxima. Estudar e aplicar essas técnicas de forma prática é o segredo para o sucesso.