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22/09/2025 • 12 min de leitura
Atualizado em 22/09/2025

Determinismo em "O Cortiço": Análise

1. Introdução: O Contexto e a Estética de "O Cortiço"

O livro "O Cortiço" foi publicado em 1890 em um momento de grande efervescência social no Brasil, marcado pela abolição da escravatura (1888), o incentivo à imigração e o aumento populacional desmedido nas cidades.

A obra se situa no Rio de Janeiro e retrata a vida em uma habitação coletiva (o cortiço), expondo temas considerados impróprios ou evitados na literatura anterior, como o sexualismo, o adultério, a homossexualidade e a exploração social.

Aluísio Azevedo, influenciado pelo escritor francês Émile Zola, buscou aplicar no romance os preceitos do Naturalismo, uma estética que rompia com o idealismo romântico, priorizando a objetividade e o racionalismo do pensamento científico da época.

Ponto Essencial Didático: O cortiço não é apenas um cenário, mas funciona como a personagem principal, um organismo vivo que cresce, se desenvolve e determina o caráter moral de seus habitantes. Além disso, a obra é vista como uma alegoria do Brasil do século XIX, por concentrar diversos problemas e temas sociais em um único lugar, diferentemente das obras de Zola.

2. O Naturalismo, o Cientificismo e a Zoomorfização

O Naturalismo é um desdobramento do Realismo, fortemente alicerçado nas teorias cientificistas da segunda metade do século XIX. Essa estética via o homem como objeto de análise profunda, submetido a leis físico-químicas e à influência do meio.

Aluísio Azevedo, ao aplicar os princípios naturalistas, substituiu a visão subjetiva (típica do Romantismo) por uma análise baseada em teorias científicas. A intenção era expor as mazelas humanas e sociais de maneira objetiva.

2.1 A Visão Mecanicista e a Zoomorfização

A visão naturalista do homem é mecanicista. Os personagens são frequentemente delineados sob uma perspectiva zoomórfica, ou seja, reduzidos à sua condição primária, animal. Isso implica que o comportamento humano é movido primariamente pelo instinto (impulso interior inconsciente para a sobrevivência) e pelos desejos de sexo e nutrição.

Exemplos de zoomorfização na obra incluem:

  • A vida coletiva descrita como "uma aglomeração tumultuosa de machos e fêmeas".

  • Bertoleza e João Romão, tratados como "juntas de bois" ou "besta de carga" em seu trabalho exaustivo.

  • Piedade, em seu pranto, comparada ao "mugido lúgubre de uma vaca chamando ao longe".

  • Jerônimo, após sua transformação, buscando no ato sexual a "satisfação de animal no cio".

  • O cortiço, comparado a um "formigueiro assanhado" ou a "larvas no esterco".

Ênfase para Concursos (Criminologia e Sociologia): Essa redução do ser humano ao instinto animal é frequentemente analisada sob o Determinismo Criminológico, que buscava explicar o comportamento criminoso (ou "desviante") a partir de fatores biológicos e ambientais, reduzindo o indivíduo ao perigo representado pelo seu local de moradia.

3. A Teoria do Determinismo de Hippolyte Taine

O Determinismo, a teoria filosófica que fundamenta a estética naturalista, foi popularizada pelo filósofo, historiador e crítico literário Hippolyte Adolf Taine (1828-1893).

Taine acreditava que o comportamento, o caráter e o destino do homem não eram resultados de um livre-arbítrio, mas sim o resultado inevitável (fatalismo) de três forças primordiais:

3.1 Raça (Fator Biológico/Hereditário)

Refere-se à grande força biológica e aos caracteres hereditários que determinam o comportamento do indivíduo.

  • Aplicação em O Cortiço: A Raça é usada para justificar a inferioridade ou a predisposição a vícios. O autor segue a tese de que a mestiçagem leva à degeneração.

  • Exemplos Notáveis: Bertoleza (cafuza) e Rita Baiana (mulata) buscam, instintivamente, o homem de "raça superior" (o português branco), manifestando um desejo de apuração racial. Rita Baiana, sendo mestiça, é caracterizada como volúvel, festeira e sem compromisso com o trabalho.

3.2 Meio (Fator Socioambiental)

Envolve os fatores geográficos (como o clima) e o ambiente sociocultural, incluindo as ocupações cotidianas da vida e as patologias sociais (miséria, amoralidade, violência).

  • Aplicação em O Cortiço: O meio é a força mais visível e atuante. O cortiço, com sua promiscuidade e insalubridade, molda o destino dos moradores. O clima brasileiro (o sol ardente) e a exuberante natureza local são vistos como elementos corruptores, que levam ao ócio, à sensualidade e à degradação moral.

  • Exemplos Notáveis: Jerônimo e Pombinha são os melhores exemplos do fatalismo imposto pelo meio. A influência do ambiente sobre Jerônimo o transforma de um trabalhador austero em um preguiçoso luxurioso ("abrasileirou-se").

3.3 Momento Histórico (Fator Temporal)

O indivíduo é fruto da época em que vive e se subordina à maneira de pensar característica de seu tempo.

  • Aplicação em O Cortiço: O romance é ambientado no período de intensa exploração do capitalismo selvagem e da crise abolicionista.

  • Exemplos Notáveis: A ascensão de João Romão é moldada pelo momento de ascensão da burguesia e pelo ideal de progresso econômico. O destino trágico de Bertoleza reflete a vulnerabilidade social dos ex-escravos após a abolição, tornando-se "escravo fora da senzala". O momento também dita a busca da elite brasileira por copiar o modelo burguês europeu.

4. Estudo de Caso A: Determinismo Vencendo - Jerônimo e Pombinha

Jerônimo e Pombinha são frequentemente cobrados em exames como os principais exemplos da tese determinista de Azevedo, pois ambos sofrem uma transformação lenta, mas completa, sob a influência do meio e da raça.

4.1 Jerônimo: A Queda do Português pela Natureza

Jerônimo, um imigrante português, chega ao cortiço como um homem metódico, honesto, austero e trabalhador, dedicado à sua esposa Piedade e à filha. Sua moralidade e pureza austera o distinguiam dos demais.

  1. A Atração Fatal (Meio/Raça): Jerônimo é exposto à Rita Baiana, que é a personificação da natureza brasileira. Ela representa "a luz ardente do meio-dia", "o aroma quente dos trevos e das baunilhas", o "veneno e era o açúcar gostoso".

  2. A Metamorfose (Meio/Clima): Ao ouvir a música e ver Rita dançar, Jerônimo inicia uma "revolução" interna. O clima quente e a vida americana o tornam preguiçoso, luxurioso e ciumento. Ele se "abrasileirou", adotando os hábitos locais (violão, comida brasileira, vícios).

  3. A Decadência Criminológica: Jerônimo abandona Piedade e a filha. Ele pratica o homicídio de Firmo para ficar com Rita, aderindo à violência como forma de resolver conflitos, mostrando-se "vencido" pela natureza e pelos costumes do meio.

Dúvida Comum Respondida: Por que Piedade culpa o sol e o clima? Piedade, a esposa abandonada, não culpa Jerônimo diretamente, mas sim a natureza brasileira por corromper a essência de seu marido. Ela reforça a tese do Determinismo Geográfico, que via o clima e o solo tropicais como indutores de ócio e sensualidade, contrários à ordem e ao trabalho duro europeu.

4.2 Pombinha: A Flor Corrompida do Cortiço

Pombinha é a "flor do cortiço", uma menina jovem, delicada e educada. Seu drama central era a espera da menarca (puberdade) para poder se casar com João da Costa.

  1. O Fator Social (Meio): Pombinha trabalha escrevendo cartas, acumulando em seu "coração de donzela toda a súmula daquelas paixões e daqueles ressentimentos" dos moradores, absorvendo as intimidades e angústias do ambiente.

  2. A Influência "Desnatural" e a Metamorfose: Ela é seduzida por Léonie (uma cocote), que a inicia no homossexualismo feminino. É esse ato "desnatural" que, paradoxalmente, desencadeia sua maturidade sexual (menarca).

  3. A Consciência e a Decadência: Pombinha, agora com a consciência de seu "poderio feminino" e da fraqueza dos homens, aceita o casamento apenas para fugir da condição de "larva aprisionada no esterco do cortiço". Contudo, ela se torna uma prostituta ambiciosa e devassa, uma "borboleta" atraída pelo brilho falso dos prazeres mundanos.

Ponto Essencial Didático (Pombinha): Sua história ilustra a tese determinista, mas também apresenta uma complexidade simbólica: a alegoria da borboleta, onde a larva (moça recatada) se transforma em uma mariposa noturna (prostituta), impulsionada por sua inteligência, que, à míngua de educação formal, a trai no ambiente vicioso do cortiço.

5. Conteúdo Essencial para Concursos: As Exceções e as Complexidades

Em provas e concursos, a mera identificação dos fatores deterministas não é suficiente. É fundamental discutir as quebras da tese e as incoerências do projeto naturalista de Aluísio Azevedo.

5.1 João Romão: O Vencedor do Meio e a Ruptura Determinista (Exceção Principal)

João Romão é a principal exceção à regra do Determinismo fatalista na obra.

Enquanto a maioria dos personagens é degradada ou destruída pelo ambiente insalubre, João Romão utiliza a exploração do cortiço e de seus moradores (especialmente Bertoleza) para ascender socialmente.

  1. A Ambição e a Exploração: Romão é motivado por uma "gana" de mudar de classe social. Ele acumula capital de maneira incessante, roubando nos pesos e medidas, e se aproveitando da mão de obra de Bertoleza.

  2. O Inversão do Determinismo: Em vez de ser moldado pelo meio, João Romão molda o meio de acordo com seus interesses. Ele consegue se livrar de seu passado (Bertoleza) e se aliar à burguesia (casando-se com Zulmira, filha de Miranda).

  3. O Cortiço Vencedor: O próprio cortiço ascende com ele, transformando-se de um local de promiscuidade em uma rua mais seletiva ("Rua João Romão"), onde os antigos "pé-rapados" são substituídos por "gente mais limpa".

Argumento Crucial para Provas: Embora João Romão pareça escapar do Determinismo (pois ascende), ele ainda está, de certa forma, determinado pelo Momento Histórico e pelo Meio Social Burguês da época. Sua ascensão é impulsionada pela emulação e inveja que sente do vizinho, Miranda, e pela necessidade de se adequar aos valores neoliberais e burgueses da sociedade do século XIX (ganância, títulos e luxo).

5.2 As Marcas do Romantismo em uma Obra Naturalista (Outra Exceção Importante)

Apesar do esforço de Aluísio Azevedo em seguir o rigor científico do Naturalismo, a crítica especializada aponta a presença de traços do Romantismo, especialmente na descrição de passagens que deveriam ser puramente fisiológicas.

A passagem mais evidente é a descrição idealizada da puberdade de Pombinha. O narrador utiliza linguagem lírica, comparando a menina a uma "delicada planta murcha" e descrevendo a menarca (o "sangue") de forma idealizada, "cor-de-rosa", formando uma "floresta vermelha" e desprendendo "aromas de flor".

Por que é uma exceção? O Naturalismo exigia objetividade e crueza (fisiológica). O uso de metáforas idealizadas e o foco na beleza e dor doce ("doce expressão dolorosa") são resquícios da estética romântica, que o movimento Naturalista visava combater.

5.3 O Determinismo vs. o Instinto Exacerbado (Ambivalência)

Embora o Determinismo postule que o homem é preso a leis biológicas, em "O Cortiço" há momentos em que a descrição dos instintos é tão exagerada que beira a obscenidade e a condenação moral, o que contraria o princípio naturalista de mera constatação científica.

O autor, ao descrever a vida sexual dos personagens, chega a transformar a visão fisiológica em luxúria e, por vezes, em reprovação daquilo que deveria ser considerado natural. Antonio Candido aponta que, em termos de brutalidade verbal, Aluísio Azevedo foi mais explícito que Zola, chegando ao extremo em certas descrições.

6. Perguntas Frequentes

6.1 Qual é o papel do meio ambiente em O Cortiço?

O meio ambiente (o cortiço, o clima, a natureza brasileira) não é apenas um cenário, mas uma força determinante e uma personagem viva. Ele molda o caráter e o destino dos indivíduos, levando à degradação moral (como no caso de Jerônimo). A insalubridade e a promiscuidade do cortiço funcionam como um laboratório social para testar a tese determinista.

6.2 O que é Zoomorfismo e quais são os exemplos mais importantes?

Zoomorfismo é a técnica naturalista de reduzir o ser humano à condição animal, destacando apenas seus instintos primários (sobrevivência, sexo, nutrição). Exemplos incluem a comparação de Bertoleza e João Romão a "juntas de bois", o cortiço como um "formigueiro", e o prazer sexual de Jerônimo como o de um "animal no cio".

6.3 O que é o Determinismo Criminológico na obra?

O Determinismo Criminológico (ou Sociológico) é a ideia de que o comportamento "desviante" (crimes, vícios, imoralidade) é resultado direto do local de moradia e da segregação social. No cortiço, a violência (como o assassinato de Firmo por Jerônimo) é vista como a resolução natural de conflitos em um ambiente sem controle social informal. Os moradores do cortiço eram rotulados como "classes perigosas" pela elite.

6.4 João Romão é um exemplo de Determinismo ou de livre-arbítrio?

João Romão é um exemplo complexo. Embora ele seja influenciado pelo Momento Histórico (o ideal burguês de riqueza), ele representa uma ruptura ou manipulação do Determinismo. Ao invés de ser degradado pelo meio, ele o supera e o transforma, ascendendo à burguesia por meio da ambição e da exploração. Ele é o "animal vencedor", que se adapta e utiliza as forças externas para seu próprio enriquecimento, mostrando que a lei do mais forte (econômica) prevalece.

6.5 Qual é a diferença entre O Cortiço e o L’Assommoir de Zola?

Ambas são obras naturalistas que tratam da vida operária e da coletividade. A principal diferença é que Aluísio Azevedo concentrou uma série de temas (política, alto comércio, prostituição, alcoolismo, exploração) em um único livro, enquanto Zola os espalhou por vários romances. Além disso, "O Cortiço" foca na figura do explorador econômico (João Romão) e serve como uma alegoria total da sociedade brasileira.

7. Conteúdo Didático Avançado: A Lógica da Decadência Brasileira

A tese determinista em O Cortiço reflete o debate intelectual brasileiro do final do século XIX, que utilizava teorias europeias (Positivismo, Darwinismo Social, Eugenia) para explicar a formação da nação.

Azevedo utiliza a narrativa para sugerir que a Raça Mestiça e o Meio Geográfico Brasileiro eram fatores de atraso e degeneração.

  1. A Degradação pela Mestiçagem: A mestiçagem (Bertoleza, Rita Baiana) era vista como sinônimo de imoralidade, volubilidade e preguiça.

  2. O Fardo da Natureza Tropical: O clima, o sol ardente e a exuberância da natureza brasileira eram considerados responsáveis por desvirtuar o europeu laborioso, levando-o ao ócio e à luxúria, transformando-o no estereótipo do "brasileiro" preguiçoso e guiado pelo instinto.

  3. O Abrasileiramento como Decadência: O processo de Jerônimo, que abandona sua austeridade portuguesa para se tornar um "brasileiro" indolente e passional, é apresentado como uma decadência moral e física. Ele perde seu espírito de ordem e economia, essencialmente sucumbindo aos vícios que, na visão determinista da época, eram inerentes à terra e à raça inferior.


Considerações Finais

"O Cortiço" se reafirma como um romance Naturalista por empregar, mesmo que forçadamente e com ambiguidades, as teorias cientificistas da época, em particular o Determinismo de Taine. A obra cumpre o papel de denunciar as mazelas da sociedade (como a exploração econômica e a segregação social), mas, ao mesmo tempo, utiliza o Determinismo para justificar o comportamento das personagens a partir de patologias biológicas e sociais.

A ambivalência da obra reside no sucesso de João Romão (o explorador) e na idealização de Pombinha, que demonstram que, embora o Determinismo seja o arcabouço teórico, o autor permite que a força da ambição capitalista e, ocasionalmente, o subjetivismo romântico interfiram na lógica fatalista. Esses pontos de complexidade são os mais valorizados nas análises avançadas do texto.