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A comunidade ecológica refere-se ao conjunto de diferentes espécies que habitam e interagem em um determinado ecossistema, cada espécie desempenha um papel único e essencial na manutenção do equilíbrio ecológico.
A Ecologia é a ciência que investiga as complexas relações entre os seres vivos e seu ambiente, bem como as interações que eles estabelecem entre si. Para entender essa teia de vida, a Ecologia organiza seus estudos em diferentes níveis de organização, sendo os conceitos de população e comunidade fundamentais.
Para compreender as comunidades ecológicas, é essencial primeiro entender os níveis de organização que as precedem:
Indivíduo: É a unidade básica da Ecologia, um único organismo.
População: Uma população é definida como um conjunto de indivíduos da mesma espécie que vivem em uma área específica durante um determinado período de tempo. Os indivíduos de uma população têm uma maior probabilidade de se reproduzirem entre si do que com organismos de outras populações da mesma espécie. O tamanho de uma população é influenciado por:
Aumento: Nascimentos e imigrações (chegada de novos indivíduos).
Diminuição: Mortes e emigrações (saída de indivíduos). É importante notar que as populações não crescem de forma contínua e ilimitada. Existem barreiras naturais que impedem o crescimento exagerado, como a limitação de recursos, a dificuldade de reprodução e a redução da área de vida. O tamanho máximo que uma população pode atingir em um ambiente natural é conhecido como capacidade limite. Por exemplo, todos os jacarés de uma mesma espécie vivendo no Pantanal representam uma população.
Comunidade (ou Comunidade Ecológica / Comunidade Biológica): Uma comunidade ecológica é um conjunto de populações de diferentes espécies que ocorrem juntas no espaço e no tempo. Em termos mais simples, é o grupo de todos os seres vivos existentes em uma determinada área. As comunidades são o componente biótico (vivo) de um ecossistema. A Ecologia de Comunidades, também conhecida como sinecologia, é o ramo da ecologia que se dedica a estudar as interações entre as espécies dentro dessas comunidades, abrangendo sua distribuição, estrutura, abundância, demografia e as inter-relações entre as populações coexistentes.
Diferença Crucial: Enquanto a população se refere a indivíduos da mesma espécie, a comunidade envolve a interação de diversas espécies diferentes em um mesmo local. Por exemplo, no Pantanal, a comunidade inclui não apenas os jacarés, mas também capivaras, tuiuiús, outras espécies de animais e diversas plantas, todas interagindo entre si.
As populações em uma comunidade interagem entre si através de relações ecológicas, que podem ser classificadas como positivas (harmônicas), trazendo benefícios, ou negativas (desarmônicas), causando prejuízos a pelo menos um dos envolvidos. Essas relações são cruciais para o equilíbrio das populações e para a dinâmica da comunidade como um todo.
Heterogeneidade Espacial: Uma propriedade fundamental das comunidades é sua heterogeneidade espacial, ou seja, como seus componentes se distribuem no espaço. Isso pode se manifestar como:
Zonação: Distribuição em faixas ou zonas, como observado em costões rochosos onde a tolerância dos organismos à exposição ou imersão na água determina seu posicionamento.
Estratificação: Organização em camadas verticais, comum em florestas, com extratos como o emergente, dossel, sub-bosque e arbustivo-herbáceo.
Mosaico: Manchas ou padrões irregulares na paisagem, que podem ser causados por fatores naturais (como a alternância de inundação e seca no Pantanal) ou por interferência humana (como o desmatamento em formato de espinha de peixe na Amazônia).
Hierarquia e Limites da Comunidade: Assim como as populações, as comunidades também possuem limites, mas muitas vezes são difíceis de definir, podendo ser naturais ou arbitrários. Há um aspecto hierárquico, com comunidades encaixadas umas nas outras (ex: organismos da Mata Atlântica > vegetais da Mata Atlântica > bromélias da Mata Atlântica > comunidade animal vivendo na água da bromélia). Isso demonstra que as comunidades não têm divisões claras e rígidas, mas sim um continuum.
O nicho ecológico é uma das ferramentas mais importantes para entender as interações entre as espécies dentro de uma comunidade. G.E. Hutchinson, em 1957, propôs que o conceito de nicho abriu um novo caminho para a ecologia de comunidades.
O nicho ecológico pode ser entendido como uma delimitação geométrica (linhas, áreas ou volumes multidimensionais) dentro do espaço definido por um ou mais fatores ambientais que caracterizam a atividade biológica de uma dada espécie. É o "papel" da espécie no ecossistema, incluindo todos os fatores físicos, químicos e biológicos que limitam sua ocorrência e atividade.
Espaço N-dimensional (ou Hipervolume N-dimensional): A reunião de todas as dimensões ambientais que afetam uma espécie forma um espaço N-dimensional. Esse espaço representa o somatório de todos os recursos disponíveis dentro de uma comunidade. O número de espécies em uma comunidade depende não apenas do tamanho desse espaço N-dimensional, mas também do tamanho médio de cada nicho específico.
Se considerarmos apenas uma dimensão (ex: temperatura, umidade), o nicho de uma espécie pode ser tipicamente representado por uma curva em forma de sino. Essa curva ilustra a faixa de um recurso onde a espécie é mais ativa e onde pode ser encontrada de forma sustentável.
Ao analisar os nichos de duas espécies, podemos identificar três regiões principais:
Ótimo de Atividade: É a região do recurso onde a espécie demonstra suas maiores taxas de atividade.
Largura ou Amplitude de Nicho: Refere-se à faixa do recurso onde a espécie pode ser encontrada e explorá-lo de modo sustentável. Um nicho "amplo" indica que a espécie utiliza uma grande variedade de recursos ou tolera uma ampla gama de condições, enquanto um nicho "estreito" indica especialização.
Sobreposição de Nichos (ou Interseção de Nichos): É a área de interseção de dois nichos, ou seja, a parte do recurso que é explorada efetivamente por duas espécies em questão. A sobreposição de nichos pode ajudar a esclarecer as relações entre as espécies, pois essa variável pode refletir o grau de competição existente entre elas. O grau de interpenetração de nichos depende da distância entre os ótimos de pares de espécies envolvidas.
Observação Importante: Os nichos ecológicos não são necessariamente entidades simétricas. A distância entre os ótimos dependerá do tipo de nicho de cada espécie.
A mensuração quantitativa dos nichos é complexa devido a várias propriedades:
Recursos podem ter distribuição contínua (ex: temperatura, umidade).
Recursos podem ter distribuição descontínua.
Há variações comportamentais ou morfológicas entre os indivíduos de uma população.
A disponibilidade de recursos varia em ritmos diários e sazonais.
Por isso, estudos muitas vezes focam na coleta de informações fragmentadas sobre nichos, como a largura dos nichos ou o grau de interseção entre eles, para propor novas hipóteses. A interseção de nichos pode ser medida por parâmetros como itens comuns na dieta, períodos de atividade, áreas de forrageamento e métodos de coleta de alimento.
A Ecologia de Comunidades busca entender como os agrupamentos de espécies estão distribuídos na natureza. As comunidades apresentam propriedades coletivas que as caracterizam.
Riqueza de Espécies: É simplesmente o número de espécies em uma comunidade. É a medida mais fundamental da diversidade. Contar todas as espécies em uma comunidade grande é muitas vezes difícil ou impossível, então amostragens são comuns. A riqueza de espécies depende da área amostrada; ao aumentar a área, o número de espécies aumenta, mas a taxa de ganho diminui após certo ponto.
Diversidade: A diversidade é uma métrica mais complexa que combina o número de espécies (riqueza) com a proporção quantitativa em que essas espécies estão representadas (equitabilidade). O Índice de Shannon é um método comum para calcular a diversidade.
Equitabilidade (Evenness): Mede o quão equilibradas são as quantidades de indivíduos entre as diferentes espécies em uma comunidade. Se todas as espécies estiverem em proporções semelhantes, a equitabilidade é alta.
Dominância: É o complemento da equitabilidade. Refere-se à situação em que algumas espécies acumulam a maior parte dos indivíduos da comunidade, enquanto muitas outras são raras. Uma alta dominância significa baixa equitabilidade.
Padrão Geral de Abundância: É comum observar que, em muitas comunidades, há poucas espécies muito abundantes e muitas espécies raras.
A diversidade de uma comunidade é influenciada por uma multiplicidade de fatores, incluindo interações biológicas e características do habitat:
Predação: Predadores podem atuar como reguladores de espécies competidoras dominantes, permitindo a coexistência de outras espécies e, assim, mantendo uma alta diversidade. Um exemplo clássico é a estrela do mar controlando populações de mexilhões e cracas em costões rochosos, o que impede a exclusão de outras espécies.
Competição: A competição entre espécies por recursos limitados pode reduzir a diversidade se uma espécie for excluída. No entanto, a diferenciação ou estreitamento de nichos entre competidores pode diminuir a competição, permitindo que mais espécies coexistam no mesmo ambiente, aumentando a diversidade.
Recursos: Ambientes com maior amplitude na variação dos recursos ou maior diversificação de recursos tendem a abrigar mais espécies. Quando os recursos são muito disponíveis, a sobreposição de nichos pode ser maior sem levar a uma competição extrema, o que também contribui para a diversidade.
Tamanho e Heterogeneidade do Habitat:
Tamanho: Ambientes maiores geralmente suportam um maior número de espécies (ex: ilhas maiores no Caribe têm mais espécies).
Heterogeneidade: Habitats mais complexos, com maior variedade de microambientes (pedras, buracos, refúgios), permitem que mais espécies coexistam, aumentando a riqueza.
A estrutura das comunidades não é estática; ela está em constante mudança. A sucessão ecológica é um processo gradual e progressivo de alterações na composição e estrutura da comunidade de um ecossistema, que ocorre após uma perturbação ou o surgimento de um novo habitat, culminando no estabelecimento de uma comunidade clímax, que é relativamente estável.
Sucessão Ecológica Primária: Ocorre em ambientes que nunca haviam sido ocupados por outros organismos, ou seja, em áreas praticamente sem vida (estéreis). Exemplos incluem afloramentos rochosos, superfícies de areia recentemente expostas, e lava vulcânica recém-solidificada (como a ilha de Krakatoa após a erupção de 1883). Este processo é geralmente mais lento, pois o ambiente precisa ser transformado para sustentar vida (ex: formação de solo).
Sucessão Ecológica Secundária: Acontece em áreas que já tiveram uma comunidade estabelecida, mas que foi destruída por algum tipo de distúrbio. Exemplos incluem áreas desmatadas, regiões afetadas por furacões ou clareiras em florestas. Como podem existir vestígios de organismos (sementes, raízes) e o ambiente já é mais propício, a sucessão secundária ocorre de forma mais rápida que a primária.
A sucessão pode ser dividida em três estágios principais:
Comunidade Pioneira (ou Ecese): Formada pelos primeiros organismos a se instalarem na região. São espécies com características que favorecem a colonização rápida, como crescimento e amadurecimento acelerados, fácil dispersão e brotos intolerantes à sombra (ex: líquens e musgos em rochas). As espécies pioneiras podem facilitar o desenvolvimento de outras espécies (ex: aumentando a biomassa e permitindo a formação do solo) ou, em alguns casos, inibi-lo.
Comunidade Intermediária (ou Sere): Uma comunidade de transição onde se observa um aumento na diversidade, mas o ecossistema ainda não atingiu seu ponto máximo de estabilidade.
Comunidade Clímax: O estágio final da sucessão, onde se observa o auge da diversidade em um ecossistema. Caracteriza-se por uma maior biomassa e uma teia alimentar mais complexa. É uma comunidade estável, na qual as taxas de fotossíntese e respiração tendem a se igualar.
Durante o processo de sucessão ecológica, ocorrem diversas modificações no ecossistema. É crucial entender essas tendências para concursos:
Aumento da biodiversidade e da complexidade da comunidade.
Aumento da biomassa total.
Tendência ao aumento do tamanho dos indivíduos.
Surgimento de organismos com ciclo de vida mais complexo e longo.
Formação de teias alimentares mais complexas.
A produtividade primária bruta aumenta no início do processo e depois se estabiliza.
A reciclagem de nutrientes aumenta no início, tornando-se mais rápida.
A taxa de fotossíntese é maior que a de respiração inicialmente, e depois tendem a se igualar.
Para entender como as comunidades estão organizadas e como as espécies interagem, é fundamental compreender as teias e cadeias alimentares, que ilustram a transferência de energia.
Os organismos vivos em um ecossistema são divididos em:
Organismos Autótrofos (Produtores): Utilizam energia química ou luminosa (fotossíntese ou quimiossíntese) para produzir a energia necessária à sua manutenção. São a fonte primária de energia para os animais. Exemplos: plantas, algas e algumas bactérias. Ocupam o primeiro nível trófico.
Organismos Heterótrofos: Obtêm energia alimentando-se de outros organismos.
Consumidores: Alimentam-se de outros organismos.
Consumidores Primários (Herbívoros): Alimentam-se diretamente dos produtores (ex: plantas). Ocupam o segundo nível trófico.
Consumidores Secundários (Carnívoros): Alimentam-se de herbívoros. Ocupam o terceiro nível trófico.
Consumidores Terciários: Alimentam-se de consumidores secundários, e assim por diante.
Onívoros: Animais que se alimentam tanto de plantas quanto de outros animais, podendo ocupar mais de um nível trófico.
Decompositores: Degradam a matéria orgânica contida em todos os outros níveis tróficos, incluindo organismos mortos, excrementos e resíduos metabólicos. Eles fracionam os compostos, tornando dióxido de carbono, água e outros produtos inorgânicos disponíveis para reabsorção pelas plantas. Exemplos: fungos e bactérias.
Cadeia Alimentar: Uma sequência linear de seres vivos onde um serve de alimento para o outro. É uma representação simplificada do fluxo de energia. Exemplo: Vegetais → Gafanhoto → Lagarto → Falcão.
Teia Alimentar (ou Rede Trófica): Em um ecossistema, as cadeias alimentares são conectadas umas às outras, formando uma rede complexa de relações e transferência de energia. As teias alimentares são uma forma mais abrangente e realista de estudar um ecossistema, pois a influência das espécies é mais ramificada. Elas se situam entre a ecologia de comunidades e de ecossistemas, pois envolvem a dinâmica de populações interagindo e as consequências dessas interações para processos do ecossistema, como o fluxo de nutrientes.
Dentro das teias alimentares, algumas espécies desempenham papéis desproporcionais na estabilidade do sistema:
Espécies Chave (Keystone Species): São espécies que exercem tanta influência na estabilidade do sistema que sua remoção pode produzir um efeito significativo em ao menos uma outra espécie (como extinções ou grandes mudanças de densidades de outros organismos relacionados). A definição foi proposta por Robert Paine em 1969. O exemplo clássico de Paine é a estrela do mar que, ao predar mexilhões e cracas, impede que estas espécies dominem o costão rochoso, permitindo que uma maior diversidade de invertebrados persista. Sua remoção levou a uma explosão populacional de mexilhões e à exclusão de quase todas as outras espécies.
Cascata Trófica (Trophic Cascade): Ocorre quando há efeitos indiretos dentro de uma teia alimentar, onde a alteração (remoção ou mudança na densidade) de uma espécie em um nível trófico se alastra sobre outros níveis. Por exemplo, a introdução da truta-marrom na Nova Zelândia (um predador) levou à redução da biomassa de herbívoros invertebrados (efeméridos) e, consequentemente, a um aumento na biomassa de algas (produtores). Essa cascata alterou até mesmo a taxa de captura de energia luminosa e a ciclagem de nitrogênio no ecossistema.
As interações entre os seres vivos são o cerne da Ecologia de Comunidades. Elas podem ser classificadas em intraespecíficas (entre indivíduos da mesma espécie) e interespecíficas (entre indivíduos de espécies diferentes).
São interações entre indivíduos da mesma espécie. Podem ser:
Harmônicas (Positivas):
Sociedade: Organismos se reúnem em grandes grupos com alto grau de hierarquia e divisão de trabalho, aumentando a eficiência na sobrevivência da espécie (ex: formigas, cupins, abelhas, lobos, babuínos).
Colônia: Organismos se encontram ligados fisicamente uns aos outros, formando um conjunto coeso (ex: caravelas, algas filamentosas, esponjas, pólipos de recifes de coral).
Desarmônicas (Negativas):
Competição Intraespecífica: Disputa por recursos (alimento, água, espaço) entre indivíduos da mesma população quando os recursos são insuficientes. Favorece os mais aptos, e a privação de recursos pode diminuir taxas de natalidade e fecundidade e aumentar a mortalidade, afetando o crescimento populacional.
Canibalismo: Um indivíduo mata e se alimenta de outro da mesma espécie.
São interações entre indivíduos de espécies diferentes.
Harmônicas (Positivas ou Neutras):
Mutualismo: Relação que beneficia ambas as espécies envolvidas.
Mutualismo Trófico: Cada parceiro é especializado em fornecer um nutriente ou recurso limitante para o outro (ex: líquens, micorrizas, bactérias Rhizobium com plantas, bactérias em ruminantes).
Mutualismo Defensivo: Uma espécie oferece alimento ou abrigo em troca de defesa contra herbívoros, predadores ou parasitas (ex: peixes e camarões limpadores, formigas protegendo acácias).
Mutualismo Dispersivo: Envolve o transporte de pólen entre flores (em troca de néctar) ou o consumo de frutos com dispersão de sementes (ex: plantas e polinizadores como insetos, animais que comem frutos e dispersam sementes).
Importante: Alguns materiais didáticos distinguem mutualismo obrigatório (relação essencial para a sobrevivência de ambos) e protocooperação ou mutualismo facultativo (ambos se beneficiam, mas podem viver independentemente, ex: anêmona e paguro).
Inquilinismo: Um indivíduo obtém proteção ou abrigo associando-se a outro, sem beneficiá-lo ou prejudicá-lo. (Ex: orquídeas e bromélias vivendo sobre árvores para obter mais luz; a árvore não é parasitada). Frequentemente classificado como um tipo de comensalismo.
Comensalismo: Apenas uma espécie se beneficia, sem causar prejuízo à outra. Geralmente ocorre em busca de alimento (ex: peixes-piloto se aproveitando de restos de alimento de tubarões).
Observação sobre Simbiose: Em muitos materiais, simbiose é erroneamente usada como sinônimo de mutualismo. Contudo, simbiose se refere a qualquer associação permanente entre indivíduos de espécies diferentes, que geralmente influencia o metabolismo recíproco, seja essa influência positiva ou negativa. Assim, mutualismo, comensalismo e parasitismo podem ser considerados formas de simbiose.
Desarmônicas (Negativas):
Amensalismo (ou Antibiose): Uma espécie inibe o crescimento de outra, sem se beneficiar. Frequentemente ocorre pela liberação de substâncias químicas (ex: "marés vermelhas" onde algas liberam toxinas que matam outros organismos; fungos que secretam antibióticos impedindo multiplicação de bactérias).
Predação: Um organismo (o predador) consome todo ou parte de outro organismo (sua presa), beneficiando-se e afetando negativamente a presa (reduzindo crescimento, fecundidade, sobrevivência).
Predadores "verdadeiros": Matam suas presas rapidamente e consomem muitos exemplares ao longo da vida (ex: guepardo caçando gazela).
Pastejadores (Herbívoros): Consomem apenas parte de cada planta e geralmente não a matam, embora isso possa afetar o crescimento ou fecundidade da planta (ex: gado pastando grama).
A predação pode ter efeitos subletais ou até benéficos para a população da presa, como a redução da competição intraespecífica entre os sobreviventes. Predadores e presas frequentemente exibem ciclos de abundância.
Parasitismo: Uma espécie (o parasita) se alimenta de parte de outro organismo (o hospedeiro), vivendo sobre ou dentro dele. O parasita é geralmente muito menor que o hospedeiro e raramente o mata. Ele obtém nutrientes do hospedeiro, enfraquecendo-o gradualmente.
Ectoparasitas: Vivem na parte externa do corpo do hospedeiro (ex: carrapatos, pulgas, piolhos).
Endoparasitas: Vivem internamente no corpo do hospedeiro (ex: vermes, tênias, microrganismos).
Embora nocivos para o hospedeiro, os parasitas desempenham um papel ecológico importante, podendo promover a diversidade de espécies ao controlar populações dominantes e evitar a exclusão de outras espécies, semelhante à predação.
Competição Interespecífica: Ocorre quando duas populações de espécies diferentes, na mesma comunidade, apresentam nichos ecológicos semelhantes, resultando em disputa por recursos quando estes são insuficientes. Isso pode levar ao controle da densidade de ambas as populações ou até à exclusão competitiva de uma das espécies, caso não haja diferenciação de nicho. Exemplo: a competição entre espécies de peixes salmonídeos que, em caso de coexistência, se especializam em diferentes altitudes para evitar a competição direta.
Além de serem sistemas complexos de interações, os ecossistemas, através de sua estrutura e função, fornecem serviços ecossistêmicos, que são benefícios fundamentais para a sociedade humana. A compreensão desses serviços ganhou destaque com a crescente perda da biodiversidade, que ameaça a capacidade dos ecossistemas de prover esses benefícios.
Os serviços ecossistêmicos são classificados em:
Serviços de Provisão: Fornecem bens ou produtos ambientais consumidos ou comercializados pelos humanos. Exemplos: água, alimentos (pesca, grãos), madeira, fibras, fármacos e extratos. A biodiversidade é uma fonte imensa para a medicina, com muitos medicamentos modernos derivados de plantas, fungos, bactérias e animais. A perda de uma espécie significa a perda de sua programação genética única, uma informação irrecuperável que poderia, por exemplo, oferecer soluções para doenças humanas (ex: estudo do metabolismo do urso polar para osteoporose/diabetes).
Serviços de Suporte: Mantêm a perenidade da vida na Terra. Exemplos: ciclagem de nutrientes, decomposição de resíduos, produção e manutenção da fertilidade do solo, polinização, dispersão de sementes, controle de pragas e vetores de doenças, proteção contra radiação UV, e manutenção da biodiversidade e do patrimônio genético.
Serviços de Regulação: Contribuem para a manutenção da estabilidade dos processos ecossistêmicos. Exemplos: sequestro de carbono, purificação do ar e da água, moderação de eventos climáticos extremos, manutenção do equilíbrio do ciclo hidrológico, minimização de enchentes e secas, e controle de erosão. A floresta amazônica, por exemplo, é crucial na evapotranspiração e no ciclo da água, influenciando fenômenos climáticos globais.
Serviços Culturais: Benefícios não materiais providos pelos ecossistemas. Exemplos: recreação, turismo, identidade cultural, experiências espirituais e estéticas, e desenvolvimento intelectual. O princípio da biofilia sugere uma atração humana inata pelas formas de vida na natureza e a busca por manter uma conexão com a natureza íntegra.
A ação humana tem gerado impactos negativos significativos nos ecossistemas naturais, com consequências diretas para a saúde e bem-estar humanos. Os três grandes impactos incluem:
Perda e alteração de hábitats e da biodiversidade.
Exploração predatória de recursos.
Introdução de espécies exóticas nos ecossistemas.
Recentemente, adicionaram-se outros impactos importantes: 4. Aumento de patógenos. 5. Aumento de tóxicos ambientais. 6. Mudanças climáticas.
Essas perturbações, como a expansão urbana, conversão de vegetação nativa para pastagens/agricultura, desmatamentos, queimadas, grandes obras de infraestrutura (rodovias, hidrelétricas) e a introdução de espécies exóticas invasoras, alteram profundamente o ambiente natural.
Impactos na Saúde Humana:
Propagação de Patógenos e Vetores de Doenças: A modificação de ecossistemas naturais e a proximidade entre humanos, animais domésticos e silvestres tornam o ambiente mais suscetível ao aparecimento e proliferação de doenças infecciosas.
Dengue e Febre Amarela: Mosquitos como o Aedes aegypti (originário da África) e Aedes albopictus (espécie exótica introduzida) proliferam em aglomerados urbanos desorganizados e áreas rurais/urbanas, sendo vetores dessas doenças.
Doenças em Recifes de Corais: A diversidade microbiana associada à presença humana e contaminação orgânica/fecal pode causar doenças em corais.
Malária: Alterações ambientais, especialmente ligadas a desmatamentos e assentamentos precários, favorecem a proliferação de mosquitos do gênero Anopheles, vetores do protozoário causador da malária. As mudanças climáticas (aumento de temperatura e alterações no regime de chuvas) podem intensificar os surtos de doenças transmitidas por insetos vetores, pois estes tendem a ser mais ativos em temperaturas elevadas e precisam de água para reprodução.
Leishmaniose: Associada à invasão, desmatamento e ocupação de áreas naturais, que aumentam o contato humano com roedores silvestres, marsupiais e cães domésticos (reservatórios) e mosquitos flebotomíneos (vetores).
Caramujo Africano (Achatina fulica): Uma espécie exótica invasora, introduzida no Brasil na década de 1980, que se espalhou por todos os biomas e é hospedeiro intermediário de um nematódeo que causa angiostrongilíase meningoencefálica em humanos.
Febre Maculosa (Febre do Carrapato): Carrapatos (Amblyomma), ectoparasitas de capivaras (que invadem áreas urbanas via rios), podem transmitir bactérias (Rickettsia) ao homem.
Hantavirose: O contato do homem com roedores silvestres tem causado surtos, especialmente com a expansão da ocupação humana em ambientes naturais.
Gripe Aviária (H5N1) e Gripe A-H1N1: A modificação de hábitats naturais, sua redução e fragmentação, influenciam a relação entre populações silvestres, domésticas e humanas, facilitando o surgimento de doenças.
Raiva: A alteração ambiental e a introdução de animais domésticos podem desequilibrar comunidades de morcegos, favorecendo o aumento de morcegos hematófagos (Desmodus rotundus), que são transmissores da raiva.
Moscas-de-Estábulo (Stomoxys calcitrans): Surto associado a atividades sucroalcooleiras e acúmulo de resíduos (palha de cana, vinhoto), que favorece a proliferação de larvas e o ataque a gado e trabalhadores rurais.
A conservação da biodiversidade e a proteção dos ecossistemas naturais são vistas não como um obstáculo ao progresso humano, mas como intrínsecas ao bem-estar e à saúde humana, reconhecendo o valor ético e estético da biodiversidade e seu imenso potencial para a economia e a produção de fármacos. A degradação ambiental, ao contrário, reflete uma aversão à natureza íntegra, contrariando o princípio da biofilia.
Esperamos que este material detalhado seja um recurso valioso para seus estudos em Ecologia! Lembre-se de que a compreensão das interações, estrutura e dinâmica das comunidades, juntamente com o conceito de nicho ecológico e os serviços ecossistêmicos, são pilares para o entendimento da vida em nosso planeta e são frequentemente abordados em avaliações de conhecimento.
Qual é a definição de comunidade em ecologia?
a) Um grupo de seres vivos do mesmo sexo que compartilham recursos.
b) Um conjunto de indivíduos da mesma espécie que habitam uma mesma área.
c) Um conjunto de populações de diferentes espécies que interagem entre si em uma mesma área.
d) Um ecossistema formado apenas por organismos não vivos.
Que tipos de interação podem ocorrer dentro de uma comunidade?
a) Apenas competição.
b) Apenas predação.
c) Apenas simbiose.
d) Competição, predação, simbiose, mutualismo, entre outras.
Qual é um exemplo de comunidade mencionado no texto?
a) Uma cidade industrial.
b) Um deserto vasto.
c) A floresta amazônica.
d) Uma geleira polar.
Gabarito:
c) Um conjunto de populações de diferentes espécies que interagem entre si em uma mesma área.
d) Competição, predação, simbiose, mutualismo, entre outras.
c) A floresta amazônica.