Jean-Paul Sartre (1905-1980) foi uma figura central no cenário filosófico e intelectual do século XX. Nascido em Paris, sua vida e obra foram profundamente moldadas por um período de intensas mudanças e controvérsias, incluindo as duas Guerras Mundiais e a crise da razão, que mostraram a ineficácia dos princípios éticos que norteavam as sociedades. Foi nesse contexto de busca por um novo sentido para a vida humana que o existencialismo, especialmente o sartriano, ganhou destaque.
Sartre popularizou o termo "existencialismo", que chegou a ser visto como uma "moda". No entanto, sua filosofia vai muito além de um mero modismo, sendo uma tentativa profunda de compreender o homem através de seu modo de ser na existência. Este guia completo tem como objetivo desmistificar o pensamento sartriano, focando em seus conceitos-chave, nas críticas que recebeu e em seu duradouro impacto na sociedade moderna.
Para começar a entender Sartre, precisamos partir de seus princípios mais basilares. Sua filosofia, influenciada por pensadores como Søren Kierkegaard, Friedrich Nietzsche, Edmund Husserl e Martin Heidegger, prioriza a existência material e concreta sobre qualquer essência predeterminada.
O pilar central do existencialismo de Sartre é a afirmação: "a existência precede a essência". Mas o que isso realmente significa?
Contrariando a Tradição: Na filosofia ocidental tradicional, desde Platão até pensadores do século XVIII como Descartes e Kant, a essência (aquilo que define algo, sua natureza ou propósito) precede a existência (o fato de algo existir). Por exemplo, uma caneta é projetada com um propósito (escrever) e características específicas (essência) antes mesmo de ser fabricada (existência). Da mesma forma, para a concepção tradicional e cristã, Deus conceberia o homem com uma natureza humana ou projeto antes de sua criação.
O Homem Se Faz: Sartre inverte essa lógica para o ser humano. Para ele, o homem primeiramente existe, surge no mundo, e só depois se define. Não há uma natureza humana predeterminada por Deus ou por qualquer outra instância. Isso significa que o homem é um projeto que se constrói, individualmente, a cada dia, através de suas ações e escolhas. O homem "só existe na medida em que se realiza, não é portanto nada mais do que o conjunto dos seus atos, nada mais do que a sua vida".
Implicações: Esta ideia fundamental torna o homem o único responsável pelo que ele é e pelo que fará de sua vida.
Sartre parte do "cogito" cartesiano ("Penso, logo existo"), mas com uma interpretação fenomenológica.
Consciência Pura e Intencional: Para Sartre, a consciência não é uma substância fechada em si mesma, mas uma "consciência sem dentro", que se esvazia para se dirigir a algo que não é ela mesma. Ela é sempre "consciência de alguma coisa" e, por isso, é pura atividade e espontaneidade.
O "Para-si" e o "Em-si": Sartre distingue dois modos fundamentais de ser:
Ser-em-si (ou Em-si): Refere-se às coisas, aos objetos. É o ser que é idêntico a si mesmo, pleno e opaco, sem consciência.
Ser-para-si (ou Para-si): É a consciência humana. Diferente do Em-si, o Para-si tem consciência de si e do mundo, mas não tem uma identidade definida. Ele é caracterizado pela negatividade e pelo nada.
O Nada no Coração do Ser: O Para-si, ao fazer perguntas sobre o ser, revela o nada que o caracteriza. Esse nada não vem de fora, mas do "coração do próprio ser", e é a raiz da liberdade humana, a total indeterminação do Para-si. O homem é o ser "pelo qual o nada vem ao mundo".
Compreendidos os fundamentos, podemos aprofundar nos conceitos que definem a experiência humana no existencialismo sartriano.
Para Sartre, o homem é inteiramente livre e responsável por tudo o que ele faz. Essa liberdade é tão fundamental que ele afirma: "o homem está condenado a ser livre".
Liberdade como Autonomia de Escolha: A liberdade, para Sartre, não se confunde com a faculdade de obter os fins desejados ou com a ausência de impedimentos físicos ou psicológicos. Significa, acima de tudo, autonomia de escolha. O êxito na concretização de uma escolha não anula a liberdade do ato. Um prisioneiro, por exemplo, é livre para tentar escapar, mesmo que não consiga.
Não Há Como Não Ser Livre: Não podemos escolher não ser livres. A liberdade é nossa própria condição ontológica; ela é o que nos define como humanos.
Liberdade e Situação: Mesmo sendo absoluta, a liberdade sempre se exerce dentro de uma situação específica. Essas "determinações" (lugar, passado, arredores, o outro, a morte) não limitam a liberdade, mas a tornam possível.
Lugar: Ocupar um lugar é uma manifestação da nossa liberdade, pois é ela que confere significado e escolhe nossa atitude diante dele.
Passado: Nosso passado não nos determina, mas é algo que escolhemos e ao qual atribuímos significado no presente, em função de nossos projetos futuros.
Arredores/Utensílios: Os objetos e o mundo ao nosso redor só se tornam obstáculos ou ferramentas à luz dos fins que a própria liberdade lhes impõe.
O Outro: A existência do outro é fundamental. Embora o outro possa ser fonte de conflitos e até mesmo um "inferno", ele também é essencial para que possamos nos ver por inteiro e ter acesso à nossa própria essência, ainda que temporária. Sem a convivência, o projeto fundamental não faria sentido.
Morte: A morte é o "inumano por excelência", algo estranho à realidade humana e que não limita a liberdade por não ser um projeto ou uma escolha.
Com a liberdade radical vem uma responsabilidade total. O homem é o único responsável por suas escolhas e por tudo o que fizer de sua vida.
Sem Desculpas: Não há desculpas para o homem. Nenhuma natureza humana predefinida, valores externos, destino, ou mesmo Deus podem justificar suas ações.
Responsabilidade Pela Humanidade: Além de ser responsável por si, o homem é responsável por toda a humanidade. Ao fazer uma escolha, ele está afirmando o valor do que escolhe, não só para si, mas como um modelo para todos.
A consciência dessa liberdade radical e responsabilidade absoluta gera um sentimento de angústia.
Não é Medo: A angústia não é medo, mas a consciência da total responsabilidade diante da infinitude de possibilidades. É o horror de ter de fazer novas escolhas, de criar continuamente o que somos, sem ter a quem recorrer para orientar nossos valores.
Angústia Ética: A angústia ética surge ao percebermos que os valores morais não têm outro fundamento senão nossa própria decisão de criá-los. Estamos lançados em um mundo sem regras pré-estabelecidas e somos nós quem devemos inventá-las.
Diante da angústia da liberdade, o homem pode tentar fugir de sua responsabilidade, o que Sartre chama de má-fé.
Má-fé vs. Mentira: A má-fé é diferente da mentira.
Mentira: Ocorre quando um indivíduo esconde a verdade de outro, criando uma história falsa para enganar o próximo.
Má-fé: É quando "eu mesmo escondo a verdade de mim mesmo". A dualidade entre enganado e enganador é extinta, existindo apenas uma consciência que mascara de si mesma uma "verdade".
Fuga da Angústia: A má-fé é uma conduta de fuga, uma válvula de escape utilizada para evitar a angústia gerada pela consciência da liberdade.
Exemplo do Garçom: Sartre ilustra a má-fé com o exemplo do garçom de café que desempenha seu papel de forma mecânica, tentando se convencer de que é "apenas" um garçom, negando sua liberdade de ser algo mais. Ele representa ser o garçom, personifica o papel, mas não é imediatamente o garçom como um tinteiro é um tinteiro.
Desumanização: Ao viver em má-fé, o indivíduo se recusa a reconhecer a responsabilidade por suas ações, comportando-se como se fosse um objeto ou seguindo papéis sociais pré-determinados, negando o "nada" que o constitui como Para-si. Para Sartre, abandonar a má-fé é essencial para que o homem retome sua liberdade plena, mesmo que isso signifique viver em angústia.
Apesar de sua vasta influência, o existencialismo de Sartre foi alvo de numerosas críticas, principalmente de marxistas e cristãos. Sartre, em sua famosa conferência "O Existencialismo é um Humanismo" (1946), buscou esclarecer o significado de sua filosofia e defender-se dessas acusações.
Os intelectuais marxistas foram alguns dos mais severos críticos de Sartre, classificando seu existencialismo como uma "doutrina obscura, de dureza pessimista, desesperada" e até com uma "configuração capitalista".
Acusações Principais:
Quietismo e Desespero: Acusavam Sartre de incitar as pessoas a permanecerem em um "quietismo de desespero", considerando a ação no mundo como impossível e levando a uma filosofia meramente contemplativa, um "luxo burguês".
Individualismo e Descompromisso Social: Alegavam que, ao focar na subjetividade isolada e nas escolhas individuais, o existencialismo negligenciava a dimensão social da ação e a solidariedade humana. A preocupação seria apenas com o "eu", sem espaço para as ações e projetos do "Outro" ou movimentos sociais.
Filosofia Burguesa: Consideravam-no uma "expressão burguesa" que não abordava os reais problemas da sociedade capitalista opressora.
Respostas de Sartre:
Filosofia da Ação e Otimismo: Contrariamente às críticas, Sartre afirmava que sua filosofia aponta para a emancipação da humanidade pelo exercício da liberdade. Ele defendia que o existencialismo não é uma filosofia do quietismo, pois define o homem pela ação e pela realização de seu projeto. Longe de ser pessimista, é uma "doutrina de crueza otimista", pois o destino do homem está em suas próprias mãos.
Superação do Individualismo: Embora parta do "cogito" (subjetividade pura), Sartre esclarece que o sujeito que se reconhece como existente não o faz isoladamente. No ato de se descobrir, ele apreende também as demais consciências e sujeitos, ou seja, existe o Outro. A liberdade existencialista não se reduz a uma subjetividade individual rigorosa, mas envolve o compartilhar da vida em comunidade.
Crítica ao Marxismo Mecanicista: Sartre criticava a visão marxista que tratava todos os homens como "objetos" ou "um conjunto de reações determinadas", sem considerar as particularidades e experiências individuais. Ele também apontava contradições internas no próprio marxismo, como a luta pelo poder que poderia levar a uma nova forma de ditadura.
Conciliação Posterior: Na segunda fase de seu pensamento, Sartre tentou conciliar o existencialismo com o marxismo, defendendo que as forças socioeconômicas modelam nossas vidas, mas o indivíduo mantém sua autodeterminação. O marxista István Mészáros, em oposição a Herbert Marcuse, defendeu que Sartre pregava a rebelião individual contra o poder do capital, algo que os marxistas muitas vezes falharam em articular.
Os cristãos, especialmente os católicos, viam o existencialismo de Sartre como uma doutrina que negava a Deus, os valores eternos e a moral, levando à permissividade e à libertinagem.
Acusações Principais:
Negação de Deus e Valores Eternos: Para os cristãos, Deus é o planejador e criador do homem, que já teria sido concebido com uma finalidade (essência antes da existência). A negação de Deus por Sartre implicaria a supressão de mandamentos divinos e valores inscritos na eternidade, deixando o homem em um estado de "estrita gratuidade", onde "cada qual pode fazer o que lhe apetecer".
Permissividade e Destruição da Moral: Sem um Deus ordenador da moral ou valores eternos, os críticos cristãos entendiam que não haveria como justificar qualquer responsabilidade ou agir moral, confundindo a liberdade sartriana com "libertinagem".
Respostas de Sartre:
Ateísmo como Libertação e Responsabilidade: Sartre, que desde os 12 anos teve a intuição de que Deus não existia, afirma que seu ateísmo é uma estratégia de libertação do homem. Ao negar Deus como fundamento do ser e como uma essência que precede a existência, ele coloca o homem na posse de seu próprio viver e de sua total responsabilidade.
Criação de Valores e Moral Laica: Sartre reconhece as consequências éticas da ausência de Deus: "tudo é permitido se Deus não existe". No entanto, isso não significa ausência de moral, mas que cabe ao próprio ser humano criar os valores. O existencialismo defende uma moral laica, onde os valores humanos existem sem a necessidade de Deus.
Homem como Legislador: O homem é o "legislador" de si mesmo e do mundo moral. Não há um "a priori" ético que diga como agir em determinada situação; o homem se faz escolhendo sua própria moral e deve agir pensando como seria o mundo se todos agissem da mesma maneira (um eco do imperativo categórico kantiano, mas sem o fundamento divino).
Contra a Fuga: Para Sartre, a ideia de Deus serviu como "invenção para não assumirmos nossa liberdade", uma forma de "mascarar a responsabilidade" diante do vazio da existência e da angústia. O homem deve se persuadir de que "nada pode salvá-lo de si mesmo, nem mesmo uma prova válida da existência de Deus".
Solipsismo: Apesar de algumas interpretações levarem a crer que Sartre defende um solipsismo (a ideia de que só o "eu" existe), ele argumenta que o homem não está sozinho no mundo. O Outro é fundamental para o autoconhecimento e para a constituição do próprio Para-si.
Críticas de Heidegger: Martin Heidegger, de quem Sartre herdou muito da fenomenologia, criticou o existencialismo sartriano por continuar sendo uma "afirmação metafísica" ao apenas inverter a premissa de que a essência precede a existência, sem se libertar do esquecimento da verdade do Ser.
Críticas ao Inconsciente Freudiano: Sartre via a ideia freudiana do inconsciente como um exemplo de má-fé, uma forma de atribuir as escolhas a fatores externos e se afastar do projeto pessoal. Essa interpretação foi criticada por Richard Wollheim e Thomas Baldwin como um mal-entendido de Freud.
Acusações de Autoritarismo: Intelectuais de direita acusaram Sartre de ser apologista da tirania, defensor do stalinismo, maoísmo e do regime de Castro em Cuba. No entanto, Sartre expressou repúdio à invasão da Hungria pelo Exército Vermelho com o ensaio "O Fantasma de Stalin", rompendo com o Partido Comunista Francês e demonstrando seu anti-stalinismo. Além disso, ele condenava veementemente o colonialismo e a violência dos sistemas opressores, como o da França na Argélia, considerando-o desumanizador. Sua visita a Cuba ocorreu antes de Fidel Castro declarar o país comunista e, posteriormente, Sartre e Beauvoir romperam com Fidel Castro diante da prisão do poeta Herberto Padilla.
Filosofia Abstrata ou Concreta? Alguns críticos como Clive James consideravam a filosofia de Sartre como "apenas uma pose". Em contrapartida, defensores como N. Boëchat ressaltam que a filosofia de Sartre se mantém "atrelada ao mundo concreto e à vida cotidiana do homem", abordando o ser através de suas infinitas manifestações.
Jean-Paul Sartre não foi apenas um filósofo; ele foi um "intelectual engajado", que acreditava que os intelectuais deveriam desempenhar um papel ativo na sociedade, usando a palavra como ação política. Sua influência transcendeu a filosofia, alcançando diversas esferas da cultura e do pensamento.
A relação de Sartre com a filósofa e escritora Simone de Beauvoir foi uma das mais notáveis do século XX. Eles mantinham um relacionamento aberto, baseado na liberdade e sinceridade, e formaram uma parceria intelectual fundamental para o desenvolvimento do existencialismo. Beauvoir, com sua obra seminal "O Segundo Sexo", aplicou as ideias existencialistas para explorar questões de gênero e feminismo, com o apoio ativo de Sartre.
O existencialismo de Sartre exerceu uma influência duradoura em várias abordagens da psicologia. A sua filosofia é base fundamental para a Psicologia Fenomenológico-Existencial e influenciou diretamente a Gestalt-Terapia e a Abordagem Centrada na Pessoa (ACP) de Carl Rogers e Fritz Perls. Psiquiatras como David Cooper também foram influenciados por Sartre em sua luta contra a repressão manicomial.
Sartre via a literatura como um meio legítimo de expressão de suas crenças filosóficas e políticas. Suas obras literárias não apenas refletiam sua filosofia, mas também desafiavam os leitores a confrontar questões existenciais.
Romances e Peças Teatrais:
"A Náusea" (La Nausée): Seu primeiro sucesso literário, apresenta o tema da contingência e a profunda sensação de náusea do protagonista ao perceber a falta de sentido inerente à existência.
"Entre Quatro Paredes" (Huis Clos): Peça teatral famosa pela frase "O inferno são os outros". Ilustra a complexa relação entre liberdade individual e a percepção dos outros, onde os personagens são condenados a conviver e se julgar mutuamente.
"As Moscas" (Les Mouches): Outra peça que aborda temas existenciais.
Trilogia "Os Caminhos da Liberdade" (Les Chemins de la liberté): Composta por "A Idade da Razão", "Sursis" e "Com a Morte na Alma", onde Sartre populariza as teses do existencialismo.
Influência Cultural: O existencialismo influenciou a Geração Beat na poesia (Jack Kerouac, Allen Ginsberg), o Teatro do Absurdo e diversos artistas que exploraram temas de identidade e alienação. Na literatura brasileira, a obra de Clarice Lispector é frequentemente citada como influenciada pelo existencialismo sartriano, especialmente em "A Maçã no Escuro".
Sartre também deixou sua marca na música brasileira. A banda Engenheiros do Hawaii faz menção direta a Sartre em canções como "Infinita Highway" ("a dúvida é o preço da pureza", uma frase de "O Muro") e "Guardas da Fronteira". O próprio Humberto Gessinger, líder da banda, confirma as reflexões existencialistas inspiradas em Sartre. Caetano Veloso, por sua vez, afirma ter sido mais "Sartre" do que Merleau-Ponty desde a universidade.
Um grande intelectual brasileiro que sofreu influência de Sartre foi Paulo Freire. Em sua obra "Pedagogia do Oprimido", Freire cita Sartre, reconhecendo a importância do pensamento sartriano para a educação, ao esclarecer a condição do ser humano no mundo e buscar a humanização das relações no processo de ensino-aprendizagem.
Jean-Paul Sartre foi um pensador que desafiou as normas, provocou reflexões profundas e manteve um diálogo constante com seu tempo. Sua filosofia existencialista, centrada na liberdade radical e na responsabilidade absoluta do indivíduo, continua a ressoar nos debates contemporâneos sobre identidade, autenticidade, ética e alienação.
Longe de ser uma doutrina do pessimismo ou do quietismo, o existencialismo sartriano é uma filosofia da ação engajada e um otimismo cruel, pois deposita no homem a total capacidade e responsabilidade de construir a si mesmo e o mundo. Ele nos convoca a abraçar nossa liberdade, aceitar a responsabilidade por nossas escolhas e criar significado em nossas vidas, um chamado que permanece profundamente relevante hoje.
Para consolidar seu aprendizado, respondemos às dúvidas mais comuns sobre o existencialismo de Jean-Paul Sartre.
1. Quem foi Jean-Paul Sartre e qual sua importância na filosofia moderna? Jean-Paul Sartre foi um filósofo, escritor e crítico francês, figura central do existencialismo do século XX. Sua importância reside em sua abordagem única da liberdade e responsabilidade individual, impactando profundamente não apenas a filosofia, mas também a literatura, a arte e a política.
2. O que significa "a existência precede a essência" em Sartre? É o princípio fundamental do existencialismo de Sartre. Significa que, para o ser humano, não há uma natureza ou propósito predefinido antes de sua existência. O homem primeiro existe, surge no mundo, e só então se define e constrói sua própria essência através de suas escolhas e ações.
3. O que é a liberdade para Sartre? O que significa "condenado a ser livre"? Para Sartre, a liberdade é a condição ontológica do homem, o que o define. Ser "condenado a ser livre" significa que o homem não escolheu ser livre, mas uma vez que existe, não pode escapar dessa liberdade. Ele é inteiramente responsável por tudo o que faz, sem desculpas externas ou determinações prévias.
4. O que é a má-fé no pensamento de Sartre? Como ela se manifesta? A má-fé é um autoengano, uma fuga da liberdade e da responsabilidade. Ela se manifesta quando o indivíduo se recusa a aceitar sua liberdade radical e vive de acordo com papéis sociais ou expectativas externas, como se fosse um objeto (um "ser-em-si"), negando sua própria subjetividade ("ser-para-si"). O exemplo clássico é o garçom que se comporta de forma mecânica, tentando convencer a si mesmo de que é apenas aquilo.
5. Qual a diferença entre "ser-em-si" e "ser-para-si"? São os dois modos fundamentais do ser em Sartre. O "ser-em-si" (Em-si) refere-se aos objetos e coisas, que são plenos e idênticos a si mesmos, sem consciência. O "ser-para-si" (Para-si) é a consciência humana, que é consciente de si e do mundo, mas não tem uma identidade definida; é caracterizada pela negatividade e pelo nada, sendo fundamentalmente livre.
6. Como as críticas marxistas e cristãs influenciaram a obra de Sartre? As críticas marxistas e cristãs levaram Sartre a esclarecer e defender seu existencialismo, especialmente na conferência "O Existencialismo é um Humanismo".
Marxistas criticavam o existencialismo como individualista, pessimista e burguês. Sartre respondeu afirmando que sua filosofia é de ação, engajada e otimista, e que o homem, embora parta da subjetividade, existe em comunidade.
Cristãos acusavam-no de destruir a moral e os valores ao negar Deus. Sartre defendeu que a ausência de Deus torna o homem totalmente responsável, cabendo a ele criar seus próprios valores em uma moral laica.
7. Qual o papel da angústia no existencialismo sartriano? A angústia é o sentimento que surge da consciência da liberdade radical e da responsabilidade total. Não é medo, mas a percepção de que o homem está sozinho no mundo, sem desculpas ou valores predefinidos, e deve criar continuamente seu próprio sentido e suas próprias regras.
8. Qual o impacto de Sartre na literatura? Sartre revolucionou a literatura ao utilizá-la como veículo para suas ideias filosóficas. Obras como "A Náusea" e "Entre Quatro Paredes" são marcos da literatura existencialista, explorando temas como o vazio da existência, a liberdade e as complexas relações humanas. Ele influenciou a Geração Beat, o Teatro do Absurdo e autores como Clarice Lispector.
9. Sartre era otimista ou pessimista? Apesar de ser frequentemente associado ao pessimismo devido a conceitos como angústia e má-fé, Sartre se defendia afirmando que o existencialismo é, na verdade, uma doutrina "de crueza otimista". Isso porque ele coloca o destino do homem inteiramente em suas próprias mãos, destacando a capacidade humana de ação e de construção de sentido, sem fatalidades inevitáveis.