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22/09/2025 • 13 min de leitura
Atualizado em 22/09/2025

Fernando Pessoa e seus Heterônimos

1. Introdução à Gênese Pessoana: Contexto e Definições Essenciais

Fernando Pessoa (1888-1935) é amplamente considerado um poeta singular da literatura mundial, cuja importância é inquestionável, sendo reverenciado pela crítica até hoje. Nascido em Lisboa em 13 de junho de 1888, é o principal nome do Modernismo em Portugal.

Pessoa não se define como um só; ele foi muitos, utilizando o pretexto da heteronímia. Além de sua carreira literária, ele também atuou como publicitário, astrólogo, tradutor e empresário.

1.1 O Modernismo em Portugal: O Palco da Heteronímia

O Modernismo português iniciou-se em 1915 com a publicação da revista “Orpheu”, um movimento que buscava revolucionar e renovar a literatura e as artes, trazendo tendências de vanguarda, inconformismo, e um desejo de renovação cultural. Fernando Pessoa fez parte da primeira fase modernista (o Orfeísmo) e contribuiu para a fundação e difusão da revista.

1.2 O Que é Heteronímia?

Heterônimos são personalidades literárias criadas por Fernando Pessoa que, diferentemente dos pseudônimos (meros nomes falsos), possuem biografias, características pessoais, estilos de escrita e gostos distintos e particulares.

Estudos indicam que Pessoa assinou textos com cerca de 70 nomes diferentes. No entanto, ele criou biografias completas para apenas três deles, considerados os principais: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Exceção e Nuance (Semi-Heterônimo): Bernardo Soares é classificado como um semi-heterônimo. Essa classificação se deve ao fato de que ele possui características muito semelhantes às do próprio Fernando Pessoa ortônimo. O próprio Pessoa o descreveu como sendo "não diferente da minha [personalidade], mas uma simples mutilação dela" — ou seja, ele seria Pessoa "menos o raciocínio e afetividade".


2. Fernando Pessoa Ortônimo: O "Eu" que Assina e sua Obra Única

Fernando Pessoa é o ortônimo quando assina textos como “ele mesmo”. Curiosamente, a poesia ortônima pode ser vista como a máscara atrás da qual o homem Fernando Pessoa se oculta.

2.1 A Obra Central: Mensagem

A única obra em língua portuguesa que Fernando Pessoa publicou em vida foi o livro de poesia Mensagem, lançado em 1934, um ano antes de sua morte.

Natureza e Características da Obra:

  1. Gênero: Não é um romance, mas sim um livro de poesia.

  2. Temática: A obra é profundamente ligada à valorização da pátria portuguesa e exalta o nacionalismo. É uma poesia de cunho Épico e Lírico.

  3. Forma: Apesar de ser modernista, os versos de Mensagem são Regulares, apresentando métrica e rima, e têm um caráter histórico.

  4. Narrativa Histórica: O livro faz um tour histórico de Portugal, desde a fundação de Lisboa (mencionando Ulisses) até a profecia do Quinto Império.

A Estrutura Didática de Mensagem (As Três Partes)

A obra é dividida em três partes principais, cada uma explorando um aspecto da glória portuguesa:

Parte

Título

Tema Central

Destaque e Figuras Históricas

Primeira Parte

Brasão

Conquistas heróicas e fundação de Portugal.

D. Sebastião é um nome relevante.

Segunda Parte

Mar Português

Conquistas por meio das navegações e exaltação do poderio marítimo.

O mar é personificado. Eu-lírico enaltece nomes como D. João II, Bartolomeu Dias, Fernão de Magalhães e Vasco da Gama, além de reconhecer a dor de personagens anônimos.

Terceira Parte

O Encoberto

Consolidação da crença mística do Sebastianismo e a esperança do Quinto Império.

O eu-lírico presta homenagem a Padre Antônio Vieira.

Conceito-Chave: Sebastianismo (Máxima Cobrança)

O Sebastianismo é um dos temas centrais de Mensagem. Refere-se à crença mística de que o Rei D. Sebastião — que desapareceu após a derrota na Batalha de Alcácer-Quibir (embora seu túmulo exista em Lisboa, sua morte nunca foi confirmada) — retornaria em um momento de névoa para salvar a pátria e restaurar Portugal a um patamar de glória. A obra retrata a crença de que Portugal se tornaria o Quinto Império (o último império) com o regresso de D. Sebastião.


3. Análise Detalhada dos Heterônimos

Os três principais heterônimos (Alberto Caeiro, Ricardo Reis, e Álvaro de Campos) formam um complexo tecido heteronímico. Para entendê-los, é necessário analisar suas biografias, estilos e, crucialmente, suas filosofias.

3.1 Nível 1: Alberto Caeiro – O Mestre do Sentir (A Antítese do Pensamento)

Caeiro é considerado o mestre dos heterônimos, tendo influenciado diretamente Reis e Campos.

A. Biografia (Foco na Simplicidade):

  • Nascimento e Morte: Nasceu em Lisboa em 1889 e morreu em 1915, vítima de tuberculose.

  • Vida: Viveu grande parte da vida no campo com uma tia-avó. Não teve profissão e recebeu apenas formação primária.

  • Obra Principal: O Guardador de Rebanhos.

B. Estilo e Filosofia (Sensacionismo Primordial):

O estilo de Caeiro é marcado pela simplicidade, utilizando linguagem e vocabulário simples, com versos livres. Sua poesia é a da "anti-poesia", que questiona conceitos e ideologias.

  • Anti-Intelectualismo: Caeiro defende que é mais importante sentir do que pensar. Ele "pensa com os olhos e com os ouvidos / E com as mãos e os pés / E com o nariz e a boca". O essencial é "saber ver sem estar a pensar". A única inocência é não pensar.

  • Objetividade (O Real é o que é): Valoriza as coisas como elas são. Para ele, a realidade "simplesmente era e valia por si mesma". Ele compreendeu que "as coisas são reais e todas diferentes umas das outras" com os olhos, e não com o pensamento.

  • Paganismo Natural: É um poeta pagão e o único poeta da Natureza. Sua poesia expressa o "locus amoenus" (lugar ameno).

  • A "Ciência de Não-Ser": Apesar de sua aparente simplicidade, seu estilo esconde reflexões profundas. Ele está assentado em um paradoxo axial: a todo momento ele pensa que não deve pensar e afirma que nunca afirma.

3.2 Nível 2: Ricardo Reis – O Neoclássico da Disciplina (Aprofundamento Filosófico)

Ricardo Reis é o heterônimo neoclassicista, caracterizado pela racionalidade extrema e pela busca por um refúgio na Antiguidade Clássica.

A. Biografia (Foco na Tradição):

  • Nascimento: Nasceu em 1887 no Porto ou Lisboa.

  • Formação: Estudou em colégio de jesuítas e se formou em Medicina.

  • Contexto Político (Exceção): Era monarquista e, por isso, mudou-se para o Brasil em 1919, após a instauração da república em Portugal.

B. Estilo e Forma (Muito Cobrado em Provas):

Reis se distingue pelo seu rigor formal.

  • Neoclassicismo/Horaciano: É definido por Pessoa como o "Horácio grego que escreve em português". Suas poesias são majoritariamente odes (à moda horaciana).

  • Linguagem Culta: Utiliza um vocabulário erudito e uma sintaxe latinizada que abusa do hipérbato.

  • Métrica: Adere absolutamente ao verso branco (metrificado, mas sem rima). Ele emprega a forma fixa, geralmente alternando decassílabos e hexassílabos.

  • Tom Pedagógico: Faz uso constante de verbos no imperativo (ex: "Segue o teu destino"), dando um tom sentencioso e moralizante.

C. Filosofia: Epicurismo e Estoicismo (O Ponto Mais Complexo)

A obra de Reis é um esforço "lúcido e disciplinado" para obter uma calma, fundamentada nas filosofias helênicas do Epicurismo e do Estoicismo.

I. Epicurismo (Carpe Diem e Prazer Moderado):

  • Brevidade da Vida (Memento Mori): O tema da efemeridade da vida é constante. Esta consciência da morte inevitável (e o medo que ela causa) gera o desejo de aproveitar o momento presente: o Carpe Diem horaciano.

  • Prazer Modesto (Aurea Mediocritas): Reis busca o prazer comedido, avaliado pela razão. Ele defende a Aurea Mediocritas (mediania de ouro), repelindo a riqueza e a glória excessivas. O sábio é aquele que se contenta com o mínimo, como "o reflexo do sol ido na água".

II. Estoicismo (Ataraxia e Apatia):

  • Aceitação do Fado: Reis defende a aceitação passiva do destino (Fado), pois o homem pouco pode contra a vida externa.

  • Imperturbabilidade (Ataraxia): Seu objetivo é a Ataraxia (imperturbabilidade da alma) para atingir a Eudaimonia (felicidade).

  • Extirpação das Paixões (Apatia): A busca pela tranquilidade exige a Apatia (extirpação das paixões). Por isso, Reis cultiva um amor platônico e contemplativo com suas musas (Lídia, Cloe, Neera, nomes emprestados de Horácio). Ele prefere não amar carnalmente para que a paixão não lhe perturbe a alma.

III. Neopaganismo:

  • Reis adere ao Neopaganismo, aprendido com Caeiro. Ele vê Cristo como um deus "triste" (o deus do sofrimento), enquanto as divindades pagãs (como Ceres, Pã e Diana) guardam resquícios de humanidade e são mais próximas.

3.3 Nível 3: Álvaro de Campos – O Engenheiro da Velocidade e do Excesso (Modernidade e Contradição)

Álvaro de Campos representa o lado vanguardista e a modernidade, com uma personalidade literária elaborada.

A. Biografia (Foco na Modernidade):

  • Nascimento: Nasceu em Tavira em 15 de outubro de 1890.

  • Formação: Formou-se em Engenharia Mecânica e Naval na Universidade de Glasgow, na Escócia.

  • Traços Físicos: Magro, moreno, usava monóculo.

B. Estilo e Filosofia (Sensacionismo Extremo):

Campos é modernista e futurista.

  • Sensacionismo: É adepto do sensacionismo, mas o aceita como um excesso das sensações. Ele se excede ao expressar seus sentimentos e percepções, revelando uma acentuada emoção.

  • Forma: Sua forma é marcada por versos livres e irregulares. Os versos são longos, dando um caráter descritivo que se assemelha à prosa.

  • Temática: Valoriza a modernidade, a máquina, a velocidade e a temática urbana. Contudo, é também um pessimista, angustiado pelo tempo presente, e revela melancolia e desencanto diante da modernidade.

C. As Três Fases da Poesia de Campos (Conteúdo Priorizado)

Sua escrita é didaticamente dividida em três fases que marcam a evolução de seu estilo e visão:

Fase

Características Principais

Temas e Estilo

Obra de Destaque / Exemplo

1ª Fase: Decadentista

Visão pessimista, tédio, busca por novas experiências. Próxima ao Romantismo e Simbolismo.

A inadaptação à realidade e a busca por refúgio.

Opiário: O eu lírico busca o ópio como fuga da realidade, revelando tédio e melancolia.

2ª Fase: Futurista / Progressista

Fascínio pela civilização, máquinas, progresso, velocidade, força. Linguagem febril, agressiva.

Exaltação do urbano, da eletricidade e da dinâmica moderna.

Ode Triunfal: Exaltação da fábrica, das engrenagens, dos grandes ruídos modernos. O eu lírico ama o progresso "carnivoramente".

3ª Fase: Intimista / Pessimista

Introspecção, solidão interior, nostalgia da infância, frustração, angústia e incapacidade de amar.

O sentimento de nulidade e a desilusão com o mundo.

Tabacaria: Expressa o sentimento de não ser nada ("Não sou nada. Nunca serei nada.") e a tragédia do sonho.


4. O Semi-Heterônimo Bernardo Soares e o Livro do Desassossego

Embora não seja um dos três heterônimos principais, Bernardo Soares e o Livro do Desassossego são frequentemente cobrados em exames, dada a sua importância crítica e literária.

4.1 Bernardo Soares: O Ajudante de Guarda-Livros

Bernardo Soares é um semi-heterônimo que, em sua biografia fictícia, era magro, solitário, e trabalhava como ajudante de guarda-livros em Lisboa.

4.2 O Livro do Desassossego

Esta é considerada uma das maiores obras de Fernando Pessoa.

  • Estrutura e Publicação: O livro é fragmentário e permaneceu inacabado. A primeira edição organizada só foi publicada postumamente, em 1982.

  • Estilo: Sua prosa é fragmentada, possuindo teor confessional, caráter niilista e profundamente reflexivo.

  • Interpretações Críticas: A natureza fragmentária do livro levou a interpretações díspares: alguns estudiosos, como Teresa Sobral Cunha, sugerem que existam dois autores na obra (Vicente Guedes e Bernardo Soares); outros, como António Quadros, atribuem a primeira fase a Pessoa e a segunda, mais pessoal, a Soares.


5. Convergências e Divergências no Sistema Heteronímico

O sistema heteronímico de Pessoa revela uma mente complexa que buscava a expressão através da fragmentação do eu.

5.1 O Drama da Criação Pessoana (Teoria Crítica)

O drama da criação pessoana reside na busca impossível por uma unidade essencial implícita na diversidade heteronímica. Essa unidade, segundo a crítica, reside no tédio proveniente da especulação abstrata e na busca aflitiva pelo absoluto diante do implacável ceticismo.

A heteronímia é a forma de Pessoa objetivar sua desintegração subjetiva, transformando a dramaticidade não em ação, mas em transposição lírica para os heterônimos.

5.2 Comparação entre Reis e Campos

Aspecto

Ricardo Reis

Álvaro de Campos

Polo no Sistema

Ocupa o polo clássico, tradicional, disciplinado.

Ocupa o polo moderno, futurista, excessivo.

Estilo

Linguagem erudita, rigor formal, ode horaciana, versos regulares e métricos.

Versos livres, longos (próximos da prosa), linguagem agressiva e febril.

Relação com o Tempo

Busca escapar do tempo fugaz pelo Carpe Diem e pela disciplina estoica.

Sente angústia e tédio diante do tempo presente e da modernidade.

Sentimento/Conhecimento

Nega a vontade de se conhecer, alegando que "Ignorar que vivemos / Cumpre bastante a vida". Tenta equilibrar dor e prazer.

Busca o autoconhecimento, encontrando a "vaguidão de seu universo" e a não-existência. Excede-se na dor e expressão.

Sensacionismo

Herda o sensacionismo de Caeiro como meio de descobrir o mundo.

Aceita o sensacionismo como um excesso das sensações e da expressão.

Convergência Chave: Apesar de Reis e Campos parecerem polos opostos, ambos são discípulos de Alberto Caeiro e ambos constroem uma obra permeada pela subjetividade e objetividade, que se entrecruzam, embora cada um escolha a medida de sua aplicação. Ambos buscam, a partir da temática da vida ou autoconhecimento, traçar ideias que, transformadas em versos, revelam suas personalidades.


6. Perguntas Obviamente Frequentes

Para consolidar o aprendizado e sanar dúvidas comuns de vestibulandos:

Q1: Quantos heterônimos Fernando Pessoa criou?

R: Fernando Pessoa assinou textos com cerca de 70 nomes diferentes. Estudos mais recentes apontam a existência de 127 pseudo-autores, incluindo pseudônimos, heterônimos, semi-heterônimos e poetas mediúnicos. Contudo, os principais e com biografias mais detalhadas são apenas três: Alberto Caeiro, Ricardo Reis e Álvaro de Campos.

Q2: Qual a diferença entre heterônimo e pseudônimo?

R: O pseudônimo é apenas um nome falso usado por um autor para assinar sua obra. O heterônimo é uma personalidade completa e fictícia, com biografia, estilo, opiniões e características próprias, que assina as obras como se fosse um autor real e distinto de seu criador.

Q3: Qual foi a única obra em português publicada em vida por Fernando Pessoa?

R: A única obra em língua portuguesa publicada em vida foi o livro de poesia Mensagem, em 1934.

Q4: Por que Alberto Caeiro é chamado de "Mestre"?

R: Alberto Caeiro é o mestre porque é tido como o inspirador e revelador do paganismo para Ricardo Reis e é considerado o mestre dos heterônimos, sendo Ricardo Reis e Álvaro de Campos seus discípulos. Ele representa a base do sensacionismo primitivo, o "ver sem pensar".

Q5: Quais filosofias influenciaram Ricardo Reis?

R: Ricardo Reis foi influenciado pelo Epicurismo (busca pelo prazer moderado, carpe diem) e pelo Estoicismo (aceitação do destino, busca pela ataraxia ou imperturbabilidade da alma, e apatia ou ausência de paixões).

Q6: Quem assina o Livro do Desassossego e qual sua importância?

R: É assinado pelo semi-heterônimo Bernardo Soares, que era ajudante de guarda-livros. O livro é importante por ser uma obra fragmentária, de prosa moderna, confessional e reflexiva, sendo uma das maiores obras de Pessoa.


Referências de Apoio e Sugestões de Estudo Aprofundado (Concursos):

Para estudos mais aprofundados sobre a fortuna crítica pessoana, especialmente o conceito de heteronímia e o Livro do Desassossego, sugere-se a leitura de:

  • Jacinto do Prado Coelho, Diversidade e unidade em Fernando Pessoa.

  • João Gaspar Simões, Vida e obra de Fernando Pessoa (marco biográfico fundamental, embora criticado pelo psicologismo causalista).

  • Eduardo Lourenço, Fernando Pessoa revisitado: leitura estruturante do drama em gente (interpretação sofisticada da heteronímia).

  • José Augusto Seabra, Fernando Pessoa ou o poetodrama (aborda a teia intertextual da obra).

  • Leyla Perrone-Moisés, Fernando Pessoa – aquém do eu, além do outro (aborda a noção do "sujeito vazio" na base da heteronímia).

  • Robert Bréchon, Estranho estrangeiro: uma biografia de Fernando Pessoa (considerado um dos textos mais agradáveis e ágeis sobre o poeta).