
Para começar nossa jornada, vamos entender um conceito fundamental: a ligação gênica, ou linkage. No cerne da genética, a informação hereditária é transmitida de uma geração para a outra, definindo as características de cada indivíduo. A ligação gênica refere-se à presença de dois ou mais genes diferentes em um mesmo cromossomo. Isso significa que esses genes estão fisicamente "ligados" entre si.
Imagine os cromossomos como longos colares, e os genes como contas dispostas ao longo deles. Quando genes estão no mesmo colar (cromossomo), eles tendem a ser transmitidos juntos durante a formação dos gametas (óvulos e espermatozoides em humanos). Esse fenômeno é crucial para a variabilidade genética das espécies, um tema central na Biologia.
A diversidade biológica de uma espécie – a variedade de suas características morfológicas e fisiológicas – é o que a torna capaz de se adaptar e sobreviver às mudanças ambientais. Essa diversidade é alimentada por mecanismos genéticos complexos. Os principais mecanismos genéticos que geram essa diversidade são a segregação independente e a recombinação gênica, ambos ocorrendo durante a meiose, a divisão celular que produz os gametas. A ligação gênica, em conjunto com a recombinação, garante que novas combinações de genes surjam a cada geração, impulsionando a evolução e a adaptação das espécies ao longo do tempo.
Para entender a ligação gênica em profundidade, é essencial revisar as bases da genética clássica de Gregor Mendel e, em seguida, compreender como o linkage se apresenta como uma "exceção" a uma de suas leis mais famosas.
A Lei da Segregação Independente, também conhecida como a Segunda Lei de Mendel, postula que, em um cruzamento envolvendo mais de um gene, genes diferentes se separam ou segregam independentemente um do outro. Isso ocorre porque esses genes estão localizados em cromossomos diferentes.
Na segregação independente, os cromossomos (e, consequentemente, seus genes) combinam-se aleatoriamente durante a formação dos gametas, como em um sorteio. Para um indivíduo diíbrido (heterozigoto para dois genes, como AaBb), a Segunda Lei de Mendel prevê a formação de quatro tipos de gametas em proporções iguais (1:1:1:1 ou ¼ de cada): AB, Ab, aB e ab.
A segregação independente é verdadeira para:
Genes em cromossomos separados.
Genes no mesmo cromossomo, mas que estejam muito distantes um do outro. Nesse caso, mesmo estando no mesmo cromossomo, a distância é tão grande que a chance de ocorrência de crossing-over (que veremos a seguir) entre eles é de 50%, mimetizando uma segregação independente.
O grande diferencial do linkage é que nem todos os genes se comportam de maneira independente. Quando os genes estão ligados (no mesmo cromossomo), eles tendem a ser herdados juntos, ou seja, segregam dependentemente. Portanto, a ligação gênica é considerada uma exceção à Segunda Lei de Mendel, pois os genes são processados juntos, e não de forma independente.
Nos cruzamentos que envolvem genes ligados, as proporções dos gametas não serão as mendelianas esperadas (1:1:1:1). Observaremos uma proporção maior de combinações parentais (os arranjos originais dos genes nos cromossomos parentais) e uma proporção menor de combinações recombinantes (novos arranjos de genes).
A forma como os genes ligados se comportam depende da distância entre eles no cromossomo. Existem dois tipos principais de ligação gênica: completa e incompleta.
A ligação gênica completa ocorre quando dois genes estão muito próximos um do outro no mesmo cromossomo, impossibilitando a ocorrência de crossing-over (permutação) entre eles. Nesse cenário, os genes são tão fortemente ligados que são sempre herdados juntos, sem nenhuma troca de material genético entre os cromossomos homólogos na região desses genes.
Características da Ligação Gênica Completa:
Sem permutação ou crossing-over.
Formação de apenas gametas parentais.
Para um diíbrido, as proporções de gametas serão de 50% de um tipo parental e 50% do outro tipo parental. Por exemplo, se os genes originais eram AB e ab, os gametas formados serão 50% AB e 50% ab.
Essa situação é rara em organismos com alta taxa de crossing-over, mas pode ocorrer se os genes estiverem extremamente próximos.
A ligação gênica incompleta (ou parcial) é o tipo mais comum de linkage. Ela ocorre quando dois genes estão localizados no mesmo cromossomo, mas a uma distância suficiente para que o crossing-over possa ocorrer entre eles durante a meiose.
Características da Ligação Gênica Incompleta:
Ocorre permutação ou crossing-over.
Formação de gametas parentais e gametas recombinantes.
As proporções dos gametas parentais serão sempre maiores que 50% e as proporções dos gametas recombinantes serão menores que 50%. Por exemplo, para um diíbrido AaBb, você pode ter 40% AB, 40% ab (parentais), 10% Ab e 10% aB (recombinantes). A soma das proporções dos gametas recombinantes indicará a distância entre os genes.
A ocorrência de crossing-over nesse cenário aumenta a variabilidade genética das espécies, permitindo o surgimento de novas combinações de alelos.
O crossing-over (também conhecido como permutação gênica ou recombinação gênica) é o processo fundamental que permite a separação de genes que estão ligados no mesmo cromossomo. Sem ele, a ligação gênica seria sempre completa, limitando a variabilidade genética.
O crossing-over é o fenômeno de "embaralhamento genético" que ocorre quando duas cromátides não-irmãs de cromossomos homólogos trocam segmentos ou fragmentos de DNA entre si. Essa troca de material genético acontece especificamente durante a Prófase I da Meiose, na fase de paquíteno, quando os cromossomos homólogos estão pareados.
Principais pontos sobre o crossing-over:
Ocorre na Prófase I da Meiose.
Envolve a troca de pedaços entre cromátides não-irmãs de cromossomos homólogos.
Não há alteração na sequência de nucleotídeos no local da troca; a quebra e a religação são precisas, sem perda, ganho ou alteração de um único nucleotídeo.
O resultado é a formação de gametas recombinantes, com novas combinações de alelos, além dos gametas parentais.
A frequência de recombinação (FR) é uma medida da frequência com que dois genes são separados durante o processo de crossing-over na meiose. Ela é, portanto, um indicador de quão frequentemente ocorre a permuta entre dois genes específicos.
A relação fundamental é:
Quanto maior a distância entre dois genes no mesmo cromossomo, maior a probabilidade de ocorrer um crossing-over entre eles, e, consequentemente, maior será a frequência de recombinação.
Inversamente, se os genes estão muito próximos, a chance de crossing-over entre eles é menor, resultando em uma baixa frequência de recombinação.
Limites da Frequência de Recombinação:
A frequência de recombinação entre quaisquer dois genes nunca ultrapassa 50%.
Quando a FR é de 50%, significa que os genes estão muito distantes no mesmo cromossomo ou estão localizados em cromossomos diferentes. Nesses casos, a segregação se comporta como se fosse independente, e a análise de recombinantes não pode distinguir se os genes estão em cromossomos diferentes ou muito distantes no mesmo cromossomo.
Calcular a frequência de recombinação é um passo prático e essencial para o mapeamento genético. A fórmula é simples e direta, focada na prole recombinante.
A Fórmula: A frequência de recombinação é calculada utilizando a seguinte fórmula:
$$\text{Frequência de Recombinação (FR)} = \left( \frac{\text{Número de Descendentes Recombinantes}}{\text{Número Total de Descendentes}} \right) \times 100$$
Passos para o Cálculo:
Identifique a Prole Parental e Recombinante: Primeiro, você precisa saber o número de descendentes que apresentam os traços parentais e o número que apresenta traços recombinantes. Os descendentes recombinantes são aqueles que possuem novas combinações de alelos que não estavam presentes nos cromossomos dos pais.
Use a Fórmula: Aplique a fórmula acima.
Expresse como Porcentagem: O resultado é expresso em porcentagem, que representa a frequência de recombinação entre os dois genes.
Exemplo Prático (Baseado nos Fontes):
Exemplo 1: Se você tem 20 descendentes recombinantes de um total de 100 descendentes, a frequência de recombinação seria: $$\left( \frac{20}{100} \right) \times 100 = \mathbf{20%}$$ Isso significa que os genes estão a 20 unidades de mapa de distância no cromossomo.
Exemplo 2 (Drosophila - Olhos Púrpura e Asas Vestigiais): Em um cruzamento teste com Drosophila, foram observados os seguintes resultados:
Parentais (olhos vermelhos, asas normais e olhos púrpura, asas vestigiais): 1339 + 1195 = 2534
Recombinantes (olhos vermelhos, asas vestigiais e olhos púrpura, asas normais): 151 + 154 = 305
Número Total de Descendentes: 1339 + 1195 + 151 + 154 = 2839
Calculando a FR: $$\text{FR} = \left( \frac{305}{2839} \right) \times 100 \approx \mathbf{10,7%}$$ Isso significa uma distância de 10,7 unidades de mapa ou 10,7 centiMorgans (cM).
Unidades de Medida: A unidade de medida para a distância entre genes em um mapa genético é chamada de unidade de mapa (u.m.) ou centimorgan (cM).
1% de frequência de recombinação (FR) equivale a 1 unidade de mapa (u.m.) ou 1 centimorgan (cM). Essa unidade foi definida por Alfred Sturtevant, um aluno de Thomas Hunt Morgan, em homenagem a Morgan.
O mapeamento genético é uma área fundamental da genética que busca desvendar a localização e a ordem dos genes nos cromossomos. Essencialmente, é uma técnica que permite criar uma espécie de "mapa" que mostra as posições relativas dos genes uns em relação aos outros, utilizando a frequência de recombinação como medida de distância.
Um mapa genético (também conhecido como mapa cromossômico ou mapa de ligação) é uma representação gráfica das distâncias entre genes e de suas posições relativas em um cromossomo. Essa distância é calculada a partir da porcentagem de permutações (taxa de crossing-over) entre os genes.
A lógica por trás do mapeamento é simples: quanto maior for a taxa de recombinação gênica, maior será a distância entre os genes e vice-versa. Isso ocorre porque quanto mais distantes os genes estiverem, maior a possibilidade de ocorrer um crossing-over entre eles.
Componentes de um Mapa Genético: Um mapa genético geralmente indica:
Quais genes estão em um cromossomo particular.
A ordem em que esses genes se encontram no cromossomo.
Um indicativo da distância relativa entre esses genes, medida em centimorgans (cM).
Exemplo de Construção de um Mapa: Suponha as seguintes frequências de recombinação entre genes A, B e C:
FR entre A e B: 19%
FR entre A e C: 2%
FR entre B e C: 17%
Com base nisso, as distâncias seriam:
Distância entre A e B: 19 cM
Distância entre A e C: 2 cM
Distância entre B e C: 17 cM
Observando que a soma das menores distâncias (A-C e C-B) é aproximadamente igual à maior distância (A-B), podemos inferir a ordem dos genes no cromossomo: A - C - B.
A (0 cM) --- 2 cM --- C (2 cM) --- 17 cM --- B (19 cM)
Os cromossomos são chamados de grupos de ligação porque contêm um conjunto de genes que estão ligados (herdados juntos). O número de grupos de ligação em uma espécie corresponde ao número de tipos de cromossomos que ela possui. Por exemplo, em humanos, existem 22 grupos de ligação autossômicos, um grupo de ligação para o cromossomo X e um para o cromossomo Y.
Em indivíduos heterozigotos, o arranjo dos alelos dominantes e recessivos nos cromossomos homólogos pode ser de duas maneiras:
Configuração Cis (Acoplamento): Ocorre quando os alelos dominantes de ambos os genes (e, consequentemente, os recessivos) estão localizados no mesmo cromossomo homólogo. Por exemplo, se os genes A e B estão em linkage, um cromossomo teria "AB" e o homólogo teria "ab". Essa configuração é também chamada de "ligação acoplada".
Configuração Trans (Repulsão): Ocorre quando os alelos dominantes e recessivos estão distribuídos em ambos os cromossomos homólogos. Por exemplo, um cromossomo teria "Ab" e o homólogo teria "aB". Essa configuração é também chamada de "ligação em repulsão".
O cruzamento-teste é uma ferramenta crucial para a análise de ligação gênica e o mapeamento. Ele envolve o cruzamento de um indivíduo heterozigoto para os genes em estudo (AaBb, por exemplo) com um indivíduo homozigoto recessivo para os mesmos genes (aabb).
Por que usar um homozigoto recessivo? Um homozigoto recessivo produz apenas um tipo de gameta (ab), o que garante que o fenótipo da prole seja diretamente determinado pelos gametas produzidos pelo indivíduo heterozigoto. Isso simplifica a identificação dos gametas parentais e recombinantes, tornando os cálculos da frequência de recombinação muito mais acurados.
A análise da prole de um cruzamento-teste permite determinar a proporção de descendentes parentais e recombinantes, e, a partir daí, calcular a frequência de recombinação e a distância entre os genes. Para o mapeamento de múltiplos genes, utiliza-se o cruzamento-teste de 3 pontos, que envolve um tri-híbrido (heterozigoto para três genes) e um testador triplo recessivo, permitindo determinar a ordem e a distância entre os três genes.
A genética é um campo em constante evolução, e o mapeamento genético envolve conceitos mais complexos que são importantes para uma compreensão aprofundada.
Um aspecto importante do crossing-over é que ele não é um evento totalmente independente ao longo do cromossomo. A ocorrência de um crossing-over em uma determinada região cromossômica pode afetar a probabilidade de ocorrência de outro crossing-over em uma região adjacente. Essa interação é chamada de interferência.
Interferência (I): Mede o grau em que um crossing-over em uma região reduz a probabilidade de outro crossing-over em uma região adjacente.
Coeficiente de Coincidência (C): Representa a proporção de duplos recombinantes observados em relação ao número esperado de duplos recombinantes.
A relação entre Interferência e Coincidência é: I = 1 - C
Interpretações:
Se C = 0 (Interferência Completa, I = 1): Não são observados duplos recombinantes. Um crossing-over impede completamente a ocorrência de outro nas proximidades.
Se C = 1 (Ausência de Interferência, I = 0): O número de duplos recombinantes observados é igual ao número esperado. Os crossing-overs ocorrem independentemente um do outro.
Na maioria dos casos, a interferência é parcial, o que significa que C estará entre 0 e 1.
Exemplo (Drosophila, adaptado de fonte): Em um exemplo de Drosophila, se a FR para o primeiro segmento é 0,064 e para o segundo é 0,132, o número esperado de duplos recombinantes seria o produto dessas frequências (0,064 * 0,132 = 0,0084 ou 0,84%). Se o número observado de duplos recombinantes for 8 e o total de descendentes for 1448, então 8/1448 ≈ 0,0055 ou 0,55%.
C = (FRDO / FRDE) = (0,0055 / 0,0084) ≈ 0,65
I = 1 - C = 1 - 0,65 = 0,35 ou 35% de interferência. [Adaptado de 264, 272]
É crucial distinguir entre dois tipos principais de mapas cromossômicos:
Mapas Genéticos (ou de Ligação): Baseiam-se na frequência de recombinação e fornecem estimativas das posições relativas dos genes. A distância é expressa em centimorgans (cM). Eles oferecem uma visão relativa e são suscetíveis a variações nas taxas de recombinação, que podem subestimar as distâncias físicas.
Mapas Físicos: Determinam as posições diretas dos genes no cromossomo, expressas em unidades de DNA (número de pares de bases (pb), quilobases (kb) ou megabases (Mb)). Oferecem maior resolução e exatidão, complementando as informações dos mapas genéticos.
Importante: Não existe uma correlação direta entre a distância física (número de pares de bases) e a distância de mapa (cM). Existem "hotspots" de recombinação (regiões onde a probabilidade de recombinação é alta, apesar de uma pequena distância física) e "coldspots" (regiões onde a recombinação é suprimida, como as regiões centroméricas e teloméricas, apesar de uma grande distância física). Isso significa que um mapa genético pode não representar perfeitamente a distância física real, mas é excelente para determinar a ordem dos genes.
Embora o mapeamento genético tenha revolucionado a medicina e a biotecnologia, sua acessibilidade ainda é um desafio significativo em muitas partes do mundo. As principais barreiras incluem:
Disponibilidade no sistema público de saúde: Há uma grande disparidade no acesso à tecnologia de engenharia genética entre a medicina privada e o sistema público de saúde.
Localização geográfica: Países em desenvolvimento e até mesmo micro-regiões de países desenvolvidos podem não ter a tecnologia disponível.
Conhecimento e habilidade dos médicos: A prática da medicina moderna exige atualização contínua dos profissionais para que possam identificar as necessidades dos pacientes e indicar o mapeamento genético adequadamente.
No futuro, espera-se que os testes de mapeamento genético se tornem mais acessíveis, possivelmente sem a necessidade de pedido médico, e que os custos diminuam com a contínua inserção desses exames na prática clínica. O desenvolvimento da inteligência artificial na medicina também promete tornar as informações genéticas mais disponíveis para médicos, facilitando a identificação e comparação de alterações genéticas associadas a doenças.
O mapeamento genético, com seus fundamentos no crossing-over e na frequência de recombinação, tem se mostrado uma ferramenta incrivelmente poderosa e com aplicações vastas em diversas áreas da ciência e da saúde.
A possibilidade de haver crossing-over entre os genes é fundamental para a variabilidade genética das espécies. Esse "embaralhamento" permite que dois pais com características semelhantes gerem uma prole com novas combinações de características, simplesmente pela interação de diferentes genes em seu DNA. Ao longo do tempo, esse processo, combinado com a seleção natural, impulsiona a evolução, permitindo que os indivíduos mais adaptados sobrevivam e se reproduzam, garantindo a resiliência e a diversidade da vida na Terra.
Uma das aplicações mais diretas do mapeamento genético é a localização de genes específicos nos cromossomos. Essa capacidade é crucial para identificar genes associados a doenças genéticas. O Projeto Genoma Humano, por exemplo, permitiu investigar possíveis doenças, suas causas e tratamentos, ao mapear e comparar o material genético humano.
A análise conjunta de mapas de ligação com dados de mapas físicos e metodologias moleculares (como o sequenciamento) tem fornecido informações valiosas sobre doenças e seus genes defeituosos. Isso levou à criação de um "mapa mórbido", que representa a associação entre genes e doenças genéticas. Esse mapa tem sido fundamental para:
Rastrear genes de doenças em famílias com doenças genéticas raras.
Auxiliar no aconselhamento genético, informando casais sobre riscos de herdar certas condições.
Melhorar o prognóstico de doenças.
Desenvolver tratamentos específicos e personalizados para diversas doenças genéticas, que antes eram consideradas incuráveis.
Exemplos de doenças cujos genes foram localizados e estudados através do mapeamento incluem a fibrose cística (cromossomo 7), anemia falciforme, doença de Huntington, e muitas outras.
O desenvolvimento de mapas genéticos é considerado uma das aplicações de maior impacto das tecnologias de marcadores moleculares para o melhoramento de plantas e animais.
Localização de QTLs (Quantitative Trait Loci): Permite identificar e mapear genes que controlam características de importância econômica, como produção de grãos, altura da planta, teor de proteína ou resistência a doenças. Essas características são poligênicas (determinadas por múltiplos genes).
Seleção Assistida por Marcadores (SAM): Uma vez que os marcadores genéticos ligados a uma característica de interesse são detectados, é possível selecionar indivíduos com base no fenótipo do marcador, sem a necessidade de avaliar o fenótipo da característica em si. Isso é particularmente útil para características de avaliação difícil ou cara, espécies de ciclo de vida longo, ou características com baixa herdabilidade, resultando em redução de tempo e custos em programas de melhoramento.
A era dos projetos genoma (como o Genoma Humano e diversos genomas procarióticos) impulsionou o desenvolvimento de marcadores moleculares (RFLPs, microssatélites, SNPs, AFLPs, RAPDs) e ferramentas computacionais avançadas para a genômica comparativa.
A Bioinformática e a Biologia Computacional surgiram para lidar com o volume massivo de dados genômicos, desenvolvendo algoritmos, bancos de dados e ferramentas que permitem a análise, organização, armazenamento e comparação de sequências genômicas.
A análise comparativa de genomas permite identificar funções biológicas de novos genes, inferir padrões de recombinação, detectar transferência lateral de genes e entender a perda de material genético ao longo da evolução.
Bancos de dados como GenBank, UniProt, KEGG, e ferramentas como BLAST, Artemis Comparison Tool (ACT), e muitos outros (como os detalhados na Tabela 2 de um dos nossos materiais) são essenciais para pesquisadores em todo o mundo.
Embora o conhecimento esteja fragmentado em diversas fontes, o objetivo é unificá-lo para uma visão integrada da biologia dos genomas e espécies estudadas, promovendo a colaboração entre pesquisadores de diferentes áreas.
Para consolidar seu aprendizado, vamos abordar algumas dúvidas frequentes e destacar os pontos mais importantes para exames.
Para identificar se uma questão de genética trata de linkage, observe as proporções genotípicas ou fenotípicas da prole em um cruzamento-teste ou em um cruzamento entre di-híbridos.
Se a segregação fosse independente (2ª Lei de Mendel): As proporções esperadas para os gametas de um di-híbrido (AaBb) seriam iguais (¼ AB, ¼ Ab, ¼ aB, ¼ ab). No cruzamento-teste, a prole também apresentaria proporções 1:1:1:1.
Se for Ligação Gênica Completa: A prole apresentará apenas combinações parentais, geralmente em proporções 50%:50%.
Se for Ligação Gênica Parcial: Você observará que as proporções das classes parentais são significativamente maiores (mais de 50%) e as proporções das classes recombinantes são menores (menos de 50%). A soma das porcentagens dos genótipos recombinantes diretamente indica a distância entre os genes em unidades de recombinação (UR) ou cM.
Exemplo de Questão (Adaptado de ACAFÉ 2014): Um cruzamento entre uma fêmea duplo-heterozigota (AaBb) com um macho duplo recessivo (aabb) revelou a seguinte proporção genotípica entre os descendentes: 40% AaBb, 40% aabb, 10% Aabb, 10% aaBb.
Análise: As proporções 40% AaBb e 40% aabb (totalizando 80%) são as classes parentais, enquanto 10% Aabb e 10% aaBb (totalizando 20%) são as classes recombinantes. Como as classes parentais são muito mais frequentes que as recombinantes, isso evidencia um caso de ligação gênica parcial.
Distância entre os genes: A soma das porcentagens dos recombinantes (10% + 10%) é 20%. Portanto, a distância entre os genes é de 20 UR (unidades de recombinação) ou 20 cM.
Os temas de ligação gênica e mapeamento cromossômico são recorrentes em provas de biologia. Priorize o entendimento de:
Diferença entre a 2ª Lei de Mendel e o Linkage: Entender que o linkage é uma "exceção" é fundamental.
Tipos de Linkage (Completo e Incompleto): Distinguir as proporções de gametas e prole em cada caso.
Crossing-Over: Compreender o processo, sua importância para a variabilidade e a relação com a distância gênica.
Cálculo da Frequência de Recombinação (FR): Dominar a fórmula e sua aplicação, sabendo que 1% de FR = 1 cM.
Mapeamento Genético e Unidades de Mapa: Saber interpretar e construir mapas simples com base nas FRs.
Cruzamento-Teste: A importância de usar um testador homozigoto recessivo.
Conceito de Interferência e Coincidência: Entender como a ocorrência de um crossing-over afeta a probabilidade de outro.
Aplicações Práticas: Conhecer a importância do mapeamento para doenças genéticas, aconselhamento genético e melhoramento genético.
A formulação da teoria cromossômica da herança, que associou genes aos cromossomos, foi um marco decisivo na Genética, permitindo os avanços que vemos hoje nas mais diversas áreas biológicas. A capacidade de construir mapas genéticos, baseada na frequência de recombinantes em cruzamentos, nos ajudou a associar genes a locais específicos nos cromossomos.
Essa poderosa estratégia, aliada a metodologias citogenéticas e moleculares modernas (como o sequenciamento de DNA e a bioinformática), tem revelado uma imensa gama de diversidade, tanto visível (fenótipos) quanto oculta, nos genomas de diferentes espécies.
Para a espécie humana, essa compreensão forneceu dados e metodologias essenciais para a pesquisa médica, impulsionando a construção de ferramentas que, em breve, poderão salvar inúmeras vidas através de diagnósticos mais precisos e tratamentos personalizados. Além disso, a análise de ligação e o mapeamento contribuem para estudos de filogenia, compreensão da diversidade entre espécies próximas, e o avanço do melhoramento genético animal e vegetal.
Esperamos que este guia completo tenha esclarecido suas dúvidas e aprofundado seu conhecimento sobre a ligação gênica e o mapeamento cromossômico. Dominar esses conceitos não só é essencial para a Biologia, mas também abre portas para entender as inovações que moldam o futuro da medicina e da biotecnologia. Continue estudando e explorando esse fascinante campo!
Questão 1: Qual é a definição de ligação gênica?
a) A transferência de genes de um organismo para outro.
b) A tendência de genes estarem associados em um mesmo cromossomo.
c) A troca de segmentos de DNA entre cromossomos.
d) A relação entre diferentes genes em um organismo.
Questão 2: O que é um mapa cromossômico?
a) Uma representação gráfica das proteínas presentes em um cromossomo.
b) Um diagrama que mostra a localização dos genes em uma célula.
c) Uma tabela que lista os diferentes tipos de cromossomos em um organismo.
d) Uma representação da posição relativa dos genes em um cromossomo.
Questão 3: Por que a ligação gênica é importante na genética?
a) Porque permite prever a probabilidade de recombinação genética.
b) Porque indica a troca de material genético entre organismos.
c) Porque determina a função dos genes em um cromossomo.
d) Porque facilita a transmissão de genes de uma geração para outra.
Gabarito:
b) A tendência de genes estarem associados em um mesmo cromossomo.
d) Uma representação da posição relativa dos genes em um cromossomo.
a) Porque permite prever a probabilidade de recombinação genética.