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14/03/2024 • 27 min de leitura
Atualizado em 21/07/2025

Geopolítica mundial

Sumário Executivo: Geopolítica Mundial

  • Geopolítica é a relação entre poder e território, um campo multidisciplinar que usa a geografia, a história e a ciência política para analisar estratégias estatais e as disputas globais.

  • A Nova Ordem Mundial surgiu após o fim da Guerra Fria (1989), caracterizada por instabilidade, ausência de blocos de poder definidos e uma complexidade regida por interesses variados.

  • A competição global mudou de uma corrida armamentista para a busca por novos mercados, tecnologias e ganhos financeiros, incluindo disputas culturais e fundamentalismos religiosos.

  • Os Estados Unidos e a China são as maiores potências mundiais, e sua rivalidade molda o futuro global em todas as dimensões, representando um arranjo sem precedentes na ordem geopolítica atual.

  • O Brasil enfrenta um dilema estratégico em sua política externa diante dessa rivalidade, sendo crucial a busca por uma relação equilibrada e aprofundada com ambas as potências, diversificando sua inserção internacional.

  • Novos temas em geopolítica incluem segurança energética, disputas por recursos no Ártico, ciberespaço, e a crescente desigualdade social.


1. Geopolítica

Para começar, é fundamental entender o que é geopolítica e como ela se diferencia de outros campos do conhecimento.

1.1. Geografia Política vs. Geopolítica: Uma Diferenciação Crucial

Embora frequentemente usados de forma intercambiável, geografia política e geopolítica não são a mesma coisa. A distinção é importante para compreender o foco de cada área.

  • Geografia Política: Pertence ao campo da geografia. Preocupa-se com a relação entre os processos políticos e as características geográficas de um espaço, como localização, território, recursos naturais e população. Ela utiliza conhecimentos da Geografia Física e Humana, inter-relacionadas com a Ecologia, para entender a organização do espaço em termos políticos.

  • Geopolítica: Encontra-se intimamente vinculada à ciência política. É um subproduto da geografia política, apropriando-se de seus postulados para aplicá-los na análise de situações concretas que interessam ao jogo de forças estatais projetado no espaço. A geopolítica preocupa-se com a aplicação de elementos geográficos numa política para fins estratégicos. José W. Vesentini afirma que a palavra geopolítica não é uma simples contração de geografia política, mas algo que diz respeito às disputas de poder no espaço mundial, implicando dominação e relações de assimetria (culturais, sexuais, econômicas, repressivas, militares, etc.), não sendo exclusiva da geografia.

Enquanto a geografia política descreve e analisa as interações entre o espaço e o poder político, a geopolítica foca na dimensão estratégica e nas relações de poder que moldam o uso e a disputa pelo território, seja por Estados ou outros atores.

1.2. O Conceito de Poder na Geopolítica Clássica

As concepções clássicas de poder geopolítico detiveram-se em teorias apoiadas em áreas terrestres, marítimas e aéreas.

  • Poder Terrestre (Heartland): O principal defensor foi Halford Mackinder (1861-1947). Baseando-se em fatores geográficos e históricos, Mackinder defendeu a teoria do "heartland" ou "coração do mundo", que faz parte da Ilha Mundial (caracterizada pelas terras da Europa e Ásia). Ele argumentava que a potência que dominasse essa vasta região, rica em recursos naturais e com saída para mares abertos, poderia desenvolver um poder anfíbio imbatível e dominar toda a Eurásia, decidindo o futuro do mundo.

  • Poder Marítimo (Sea Power): O mais conhecido defensor foi Alfred Thayer Mahan (1840-1914). Mahan via o mar como uma fonte de poder e um obstáculo a ser vencido e transposto. Ele enumerou condições que afetam esse poder, como posição geográfica, configuração física, extensão das costas e quantidade da população voltada para atividades marítimas. Sua teoria defendia que a potência com um poder naval sem igual, capaz de dominar oceanos e passagens entre mares, dominaria o mundo, citando Portugal, Holanda e Inglaterra como exemplos históricos.

  • Poder Aéreo: Com o avanço tecnológico a partir da Primeira Guerra Mundial, o poder aéreo tornou-se fundamental para o combate militar, permitindo uma melhor visualização do inimigo e distinção de alvos.

Essas interpretações clássicas influenciaram diretamente estrategistas e políticos do século XX, como George F. Kennan, Henry A. Kissinger, John Foster Dulles e Zbigniew Brzezinski, moldando a ação das grandes potências.

2. A Evolução da Ordem Mundial: Do Imperialismo à Bipolaridade

A ordem mundial é geralmente definida pela presença de uma ou mais grandes potências. No entanto, toda ordem mundial é instável e plena de conflitos e guerras, o que leva muitos a preferirem o termo "desordem".

2.1. A Ascensão do Imperialismo e as Guerras Mundiais

Com a emergência das potências mundiais, o imperialismo tornou-se a forma histórica de relacionamento internacional, caracterizado pela expansão do capitalismo baseado na industrialização crescente e na reprodução ampliada do capital em sua forma monopolista. O campo de interesse e as disputas imperialistas se ampliaram, provocando a Primeira Guerra Mundial, um conflito entre grandes potências estruturadas em blocos e alianças militares, que rapidamente evoluiu para uma corrida econômica e política em escala mundial. Um ponto inovador nesse período foi a emergência dos Estados Unidos como grande potência no final do século XIX, que, após sua independência, empenhou-se em alargar seu território original.

2.2. A Bipolaridade da Guerra Fria (1945-1989)

Após a Primeira Guerra Mundial, sucedeu a Segunda Guerra Mundial e, como consequência desta, a Guerra Fria, caracterizada, principalmente, pela bipolaridade mundial. De 1945 a 1989, a ordem mundial foi marcada pelo confronto Leste-Oeste entre norte-americanos e soviéticos.

  • A "Ordem Legível": Embora tensa devido ao risco de uma terceira guerra mundial, a bipolaridade era "perfeitamente legível ou coerente". As grandes potências político-militares (EUA e ex-URSS) também eram grandes potências econômicas e culturais, com uma definição mais evidente quanto aos conflitos. Os EUA definiram uma logística global, enquanto a ex-URSS atuou como potência política e militar.

  • Corrida Armamentista e Crises: Nos anos 1970, o mapa geopolítico permaneceu, a corrida nuclear foi intensificada e a armamentista radicalizou-se. Economicamente, a crise do petróleo em 1973 desestabilizou a industrialização fordista, mas não definiu uma queda determinante do sistema industrial capitalista, e sim estabeleceu direções para uma nova fase caracterizada pelas tecnologias.

  • O Declínio Soviético: A perda de produtividade e a falta de inovação do mundo socialista levaram a um declínio que desestabilizou progressivamente as relações Leste-Oeste, fazendo cessar o conflito.

  • O Marco Final: A derrubada do Muro de Berlim em 1989 foi um dos momentos mais marcantes do século XX, simbolizando o fim de uma época geopolítica e a fragmentação do bloco soviético, explicada pela incapacidade do sistema de se adaptar ao novo modelo de economia e sociedade no contexto das novas tecnologias da informação e do capitalismo global e flexível.

3. A Nova Ordem Mundial (Pós-Guerra Fria): Uma (Des)Ordem em Transformação

O período pós-Guerra Fria marca a emergência de uma nova ordem mundial, frequentemente denominada também de "(des)ordem mundial" devido à indefinição específica da situação global.

3.1. Características da "Nova Ordem"

  • Instabilidade e Desarticulação: A nova ordem é caracterizada pela instabilidade e desarticulação no cenário internacional, decorrentes da decadência de modelos clássicos.

  • Complexidade e Contradição: A ausência de uma definição de blocos de poder é notória, já que o mundo está envolvido em uma complexidade contraditória e regida por interesses variados.

  • Atores Estatais e Não Estatais: Coexistem atores estatais e não estatais, com a soberania nacional em declínio e uma "desterritorialização", onde a localização perdeu sua antiga importância.

  • Aceleração e Diminuição de Distâncias: As mudanças no mundo atual aceleraram-se, as distâncias diminuíram, a tecnologia transformou-se abruptamente, e hábitos e valores individuais se modificam. As "novas geopolíticas" são tentativas de repensar a realidade pós-Guerra Fria, o mundo da globalização e da terceira revolução industrial.

  • Poucas Modificações Profundas: Apesar da denominação, a nova ordem trouxe poucas modificações em certos aspectos, como o crescimento da degradação social e ambiental e a permanência dos EUA no controle político-militar (embora não mais de forma hegemônica e única). Há também uma concentração do poderio militar paralela à concentração de novos indicadores de poder: tecnologia e informação.

3.2. A Nova Natureza da Competição Global

A competição atual não está mais centrada numa corrida armamentista, como antes, mas sim na busca de novos mercados, novas tecnologias e ganhos financeiros. Nesse sentido, Vesentini (2007) afirma que estão inseridas também as disputas culturais, incluindo os fundamentalismos religiosos de uma civilização contra a outra (ex: ocidental contra islâmica, esta contra hinduísta, chinesa-confuciana, etc.). Conflitos intercivilizações são considerados mais perigosos e com repercussão global, enquanto os intracivilizações teriam apenas importância regional.

4. Desafios Geopolíticos Contemporâneos e Tendências Atuais

A nova ordem mundial trouxe à tona uma série de problemas notórios e crescentes, principalmente nos aspectos sociais e políticos.

4.1. Nova Divisão Internacional do Trabalho (DIT) e Desigualdade

A nova DIT baseia-se nos (des)níveis tecnológicos dos que dominam a engenharia e a tecnologia de ponta, as atividades produtivas padronizadas e a produção voltada para as etapas de execução e montagem. A qualificação técnica, a produção de novas tecnologias e a modernização dos serviços são fatores fundamentais para a diferenciação entre os estados.

O sistema atual é mais desigual do que o precedente. A pobreza elevou-se em todo o planeta, coincidindo com o auge do capitalismo informacional e da globalização. Isso é visível na Europa do Leste, na ex-URSS e, de forma mais aguda, na África Subsaariana, uma região excluída dos fluxos de riqueza e informação e com os piores índices de pobreza e marginalidade.

A ideia popular de que a globalização agrava a pobreza e as desigualdades internacionais é, segundo Vesentini (2007), uma generalização excessiva. No entanto, as relações entre países centrais e periféricos levaram estes últimos de uma dependência a uma irrelevância significativa. Estados periféricos podem se tornar insignificantes ao capitalismo, seja pela escassez de recursos naturais, analfabetismo, ou longas disputas bélicas, tornando-se "terras incógnitas" que não interessam nem para exploração.

4.2. O "Quarto Mundo"

No contexto pós-Guerra Fria, é perceptível o "quarto mundo": locais de pobreza, miséria e marginalidade presentes não apenas em países periféricos, mas também nos países centrais. Esse "quarto mundo" está localizado nas cidades, mas também em áreas rurais, sob novas formas de pobreza geradas pelas políticas neoliberais que promovem desregulação e enfraquecimento do estado de bem-estar social. Isso inclui "bolsões de pobreza de migrantes não absorvidos" no centro. A disseminação da informação e do progresso tecnológico também leva empresas a dispensar empregados mais antigos e bem pagos, substituindo-os por trabalhadores mais jovens e com menor remuneração, ou por máquinas.

4.3. Migrações e Refugiados: Uma Crise Humanitária Global

As migrações intensificaram-se por motivos econômicos principalmente, mas também devido à instabilidade no Terceiro Mundo e aos conflitos bélicos consequentes da queda do Muro de Berlim e do colapso da União Soviética. A questão da imigração aborda a tensão entre a proteção dos direitos humanos universalmente reconhecidos e a soberania estatal.

  • Refugiados: São forçados a fugir de seus países por motivos de raça, religião, nacionalidade, ou por pertencerem a um determinado grupo social.

  • Refugiados Ambientais: Pessoas obrigadas a se deslocar devido à degradação ambiental de seu habitat tradicional por desastres naturais ou atividades humanas. Isso inclui aqueles expulsos por mudanças ambientais repentinas mas reversíveis, permanentemente expulsos por mudanças quase irreversíveis, e aqueles que abandonam seu lugar pela perda de qualidade de vida.

4.4. A Guerra Pós-Moderna e o Terrorismo

A guerra pós-moderna, apesar de estar em crise, não desaparece e apresenta características distintas:

  • Participação de grupos armados não regulares.

  • Ausência de distinção entre população civil e militar, com a população civil sendo, de fato, um objetivo militar.

  • Recurso ao terror indiscriminado contra populações indefesas.

  • Não reconhecimento da neutralidade nem das leis de cessar-fogo.

  • Não respeito aos limites territoriais dos Estados.

  • Financiamento das atividades com origem criminosa.

  • Atos violentos com função claramente propagandista.

O terrorismo é outra forma violenta de protesto que ganhou ampla visibilidade após o ataque às torres gêmeas em 11 de setembro de 2001.

  • Velho Terrorismo vs. Novo Terrorismo: O velho terrorismo caracterizava-se pelo assassinato de líderes do regime combatido e pela assunção dos atos. No novo terrorismo, não existem inocentes, e todos devem sofrer as consequências do regime em que vivem, buscando a atenção da imprensa internacional (sensacionalismo) e não assumindo a autoria dos atentados. O novo terrorismo é global e detém novos e poderosos meios de destruição (químicos, biológicos, tecnológicos), com membros recrutados em outros países e financiamentos diversos.

4.5. Xenofobia: A Aversão ao Estrangeiro

A xenofobia é uma presença marcante na nova ordem mundial, caracterizada por movimentos nacionalistas com considerável repúdio aos imigrantes e à pobreza advinda dos países periféricos. Essa aversão aos estrangeiros é mais visível em alguns países da Europa, mas também pode ser percebida nos EUA, com a rejeição aos latino-americanos.

4.6. Segurança Energética e Matrizes de Poder

A energia é um recurso de poder crucial e um fator importante na globalização do capitalismo, e a segurança energética é uma das questões geopolíticas mais prementes. O domínio dos recursos energéticos e a capacidade de adaptação às transições energéticas estão intrinsecamente ligados à ascensão e queda das grandes potências.

  • Formas de Sustentar a Segurança Energética: Diversificação das importações, autodependência (matriz heterogênea com recursos internos), e processos políticos de governança (especialmente integração regional).

  • Transição Energética Global: Esforço para substituir combustíveis fósseis por fontes menos poluentes e renováveis. Desafios incluem a busca por minérios estratégicos (terras raras), disputas por tecnologia, expansão de redes elétricas vulneráveis a ciberataques, e a mudança no perfil de consumo de petróleo e gás.

  • Desigualdade no Consumo: O consumo de energia é muito desigual globalmente, com países da OCDE consumindo 41,6% da energia total, enquanto África, Oriente Médio e América Latina consomem parcelas muito menores. O crescimento populacional, principalmente na Ásia e África, indica um potencial conflito distributivo e político associado à energia.

  • Instabilidade no Oriente Médio: A crescente instabilidade na região, decorrente da destruição de Estados (Iraque, Líbia, Síria) e da polarização regional (Irã, Turquia, Arábia Saudita, Israel), aumenta a incerteza sobre o futuro dos recursos energéticos, elevando o valor do petróleo.

  • Tecnologias de Extração: Novas tecnologias permitem a extração de petróleo em locais antes inacessíveis, como o gás de xisto nos EUA, areias betuminosas no Canadá e o Pré-Sal no Brasil, indicando que o petróleo continuará central na economia global.

  • A Estratégia Energética da China: A China, maior consumidora de energia, tem um projeto gigantesco de construção de infraestrutura, a Belt and Road Initiative (BRI), com bilhões de dólares investidos em rodovias, pontes, oleodutos, gasodutos, ferrovias e redes de comunicações em mais de 60 países. Um dos objetivos estratégicos da BRI é melhorar a segurança energética da China, eliminando a dependência de rotas marítimas pelo Estreito de Malaca e Ormuz. Isso inclui a construção de usinas a carvão e gasodutos/oleodutos desde a Ásia Central e o Oriente Médio.

4.7. O Ártico: Um Novo Tabuleiro Geopolítico

A região do Ártico, historicamente palco de exploração e disputas, está se tornando um novo e crucial tabuleiro geopolítico devido às mudanças climáticas.

  • Degelo e Novas Oportunidades: O degelo da região está criando novas rotas marítimas com imenso potencial, que podem competir com o Canal de Suez, e revelando inúmeros recursos naturais, incluindo minerais valiosos (cobre, níquel, ouro, diamante) e novas reservas de petróleo e gás natural.

  • Intensificação das Disputas: Estes fatores intensificam as rivalidades entre países com territórios no Ártico (EUA, Rússia, Dinamarca, Canadá, Noruega) e outros interessados (Suécia, Finlândia, Islândia, China).

  • Rotas Marítimas: As rotas do noroeste e do nordeste podem se tornar grandes rotas do comércio internacional, mas enfrentam instabilidade devido a reivindicações territoriais, como a Rússia declarando a rota do nordeste como parte de sua zona econômica exclusiva.

  • Impacto na Pesca: A pesca, importante atividade econômica na região, é impactada pelo aquecimento global, alterando padrões migratórios de peixes e fomentando disputas. Uma moratória de pesca comercial em águas internacionais foi assinada pelo Conselho do Ártico.

  • Influência Chinesa: A China, sem território no Ártico, investe significativamente em mineração e infraestrutura (ex: Groenlândia, Islândia) e em projetos extrativos com a Rússia, preocupando EUA e Europa com o aumento da influência chinesa na região.

  • Militarização: A Rússia militariza cada vez mais a região com bases e navios de guerra, enquanto a OTAN também se atenta à área, reativando o monitoramento e realizando exercícios militares.

  • Importância Futura: O Ártico representa um dos maiores tabuleiros geopolíticos do futuro próximo, com uma presença russo-chinesa e ocidental cada vez maior disputando a hegemonia e o controle.

5. A Rivalidade China-EUA e o Dilema Estratégico do Brasil

A rivalidade entre os Estados Unidos e a China é uma das maiores e mais longevas entre uma potência hegemônica estabelecida (EUA) e uma potência emergente (China). Os EUA buscam preservar sua hegemonia, enquanto a China almeja restaurar sua pujança imperial e reformar a arquitetura internacional desenhada pelos EUA após a Segunda Guerra Mundial. O centro gravitacional das Relações Internacionais já se deslocou para a Ásia, e a batalha pela supremacia geopolítica entre americanos e chineses moldará o futuro do mundo em todas as dimensões.

Na América Latina, e especificamente na América do Sul, a China está mais bem posicionada que os EUA, tendo avançado suas peças estratégicas e aprofundado relações políticas e econômicas, enquanto os EUA atribuíram uma importância periférica ao hemisfério.

5.1. O Dilema Estratégico Brasileiro

As mudanças no equilíbrio de poder global e na dinâmica regional sul-americana instalaram um importante dilema para a política externa brasileira: a melhor estratégia de inserção internacional diante da ascendente rivalidade entre EUA e China. O artigo argumenta que a imposição de uma escolha binária não prosperará a longo prazo, pois fragmentaria os interesses nacionais brasileiros e deterioraria setores pujantes de seu sistema produtivo.

A magnitude das relações Brasil-EUA e Brasil-China requer uma avaliação pormenorizada, pois cerca de dois terços do comércio exterior brasileiro têm como destino os mercados americano e chinês, sendo vitais para a subsistência do sistema produtivo nacional.

5.2. Análise Comparativa: Dimensão Econômico-Comercial

  • Dependência Comercial: A dependência comercial do Brasil em relação à China é significativamente superior à dos EUA e tende a acentuar-se. Desde abril de 2009, a China se tornou o principal parceiro comercial do Brasil, superando a liderança de 80 anos dos EUA e ampliando sua participação nas importações e exportações brasileiras. Em 2021, o comércio bilateral Brasil-China atingiu US$ 135,55 bilhões, com o Brasil acumulando um superávit de US$ 40,25 bilhões (65% do superávit brasileiro naquele ano). A China é o destino principal de dez dos quinze principais produtos exportados pelo Brasil.

  • Relação com EUA: Os EUA foram, em 2021, a segunda principal origem das importações brasileiras e o terceiro principal destino das exportações. O comércio bilateral atingiu US$ 70,5 bilhões, mas o Brasil acumulou um déficit de US$ 8,3 bilhões. Empresas americanas são as principais concorrentes das brasileiras na exportação de bens para mercados asiáticos e europeus.

  • Dependência Econômica (Investimentos): A dependência econômica do Brasil em relação aos EUA ainda é superior à da China, mas essa tendência pode ser revertida se o ritmo de crescimento dos investimentos chineses for mantido. Em 2020, os EUA ocuparam a segunda posição em investimentos diretos estrangeiros no Brasil (primeira, se considerado o país controlador final do capital). A China, apesar de ter aumentado significativamente seus investimentos no Brasil a partir de 2010 (recebendo 47% dos investimentos chineses na América do Sul entre 2007 e 2020), ocupou apenas a trigésima primeira posição em investimentos diretos estrangeiros em 2020 (sexta, considerando o país controlador final). Os investimentos chineses no Brasil estão fortemente concentrados na indústria manufatureira e nos setores de eletricidade, gás e outras utilidades.

5.3. Análise Comparativa: Dimensão Político-Cultural

  • Vínculos com EUA: Os EUA possuem vínculos estruturais profundos com o Brasil no contexto social, educacional e cultural, incluindo a maior comunidade brasileira no exterior e universidades americanas como importantes destinos para formação de cientistas. No entanto, as intervenções militares e o apoio a regimes ditatoriais na América Latina deixaram cicatrizes e alimentam um sentimento antiamericanista.

    • Espectro Político Brasileiro sobre os EUA: A esquerda se divide entre aqueles que veem os EUA como ameaça constante e os que defendem um diálogo pragmático. A direita se divide entre um alinhamento incondicional (representado pela falange bolsonarista) e um grupo empresarial conservador que vê os EUA como referência de prosperidade, mas com reticências quanto à superioridade. A maioria da sociedade brasileira adota uma visão mais realista e pragmática em relação aos EUA.

  • Vínculos com China: As relações com a China mantêm um caráter fortemente pragmático, com vínculos culturais e sociais menos significativos (menor comunidade brasileira, menos turistas e estudantes).

    • Espectro Político Brasileiro sobre a China: Grupos conservadores da elite brasileira têm aversão ao regime chinês por ser autoritário e violador de direitos humanos. Contudo, a esquerda brasileira crê que a China é um parceiro mais confiável e estável do que os EUA, especialmente após ameaças e apoios a governos golpistas. A direita empresarial, por sua vez, orienta-se pelos interesses econômicos, e os números são favoráveis à China como um mercado aberto para exportações brasileiras (agronegócio).

5.4. Análise Comparativa: Dimensão Diplomática das Instituições de Estado

  • Relação Brasil-EUA: Desde a República, as relações bilaterais com os EUA têm sido sistemicamente relevantes para a política externa brasileira. No Itamaraty, há o embate entre o paradigma americanista (alinhamento com os EUA) e o universalista (diplomacia diversificada). As Forças Armadas brasileiras mantêm uma forte tradição de cooperação em defesa com o eixo ocidental e os EUA. Contudo, o corpo diplomático brasileiro percebe que os resultados com Washington não corresponderam às expectativas, com os EUA apoiando candidatos opositores aos brasileiros em eleições para foros multilaterais (OMC, FAO) e não endossando explicitamente a aspiração brasileira por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. A hesitação americana em endossar o acesso do Brasil à OCDE também é vista como subestimação da importância estratégica da relação. A pressão dos EUA para o impedimento da Huawei na rede 5G brasileira sem oferecer alternativas concretas e robustas, além da recordação da espionagem americana contra a ex-presidente Dilma Rousseff, prejudicou a relação. A relativização do discurso moral e ético dos EUA e suas sanções unilaterais ferem os princípios do direito internacional na visão do establishment brasileiro.

  • Relação Brasil-China: A China sempre procurou tratar o Brasil como uma potência em ascensão equiparável, mesmo com assimetria de poder, e foi mais estratégica e efetiva em decodificar o funcionamento dos agentes públicos brasileiros. O tratamento protocolar chinês tem criado sinergias e encurtado caminhos. Embora a China não tenha dado apoio explícito à pretensão brasileira no CSNU, Pequim sempre franqueou seu voto às candidaturas brasileiras em foros multilaterais. Na visão do establishment brasileiro, há uma clara percepção de que a China é uma potência mais suscetível a compartilhar poder com nações em desenvolvimento do que os EUA, que buscam mais seguidores.

5.5. A Estratégia Recomendada para o Brasil

A imposição de uma escolha binária (EUA ou China) para o Brasil não é viável e fragmentaria os interesses nacionais. A estratégia que melhor defende o interesse nacional brasileiro é a busca de uma relação equilibrada e aprofundada com os Estados Unidos e a China, diversificando a inserção internacional do Brasil e tirando de cada parceiro o melhor que podem oferecer para a consecução dos interesses nacionais.

  • Contribuições dos EUA: É imprescindível que os EUA demonstrem maior sofisticação na relação com a América Latina e o Brasil, expandindo o comércio bilateral, eliminando barreiras comerciais, fazendo concessões agrícolas, apoiando candidaturas brasileiras em organizações internacionais, e sinalizando apoio à aspiração brasileira no Conselho de Segurança da ONU.

  • Contribuições da China: É importante que a China aprofunde as relações bilaterais para além da dimensão comercial, construindo vínculos socioculturais mais duradouros e diversificando investimentos em áreas como portuárias, transporte, logística, construção civil e indústria para diminuir gargalos de infraestrutura no Brasil. Há também grandes oportunidades de cooperação em ciência, tecnologia e inovação (IA, economia digital, IoT, 5G, cidades inteligentes), além de uma maior concertação política em organizações internacionais (ONU, OMC) e no BRICS.

6. Novos Temas e Conceitos na Geopolítica Atual

A geopolítica não se restringe aos Estados e suas estratégias militares, mas se expandiu para incluir uma gama diversificada de temas que moldam o cenário global.

6.1. O Mundo do "G-Zero"

A consultoria Eurasia prevê que em 2025, o mundo continuará vivendo sob o modelo "G-zero", onde nenhuma potência ou grupo de potências é capaz de comandar a agenda global ou proteger a ordem internacional. Isso levará a novos vácuos de poder, mais atores "trapaceiros" e um risco ampliado de acidentes, erros de cálculo e conflito. O risco de uma crise geopolítica é considerado o mais alto desde os anos 1930 ou a Guerra Fria.

6.2. Geopolítica do Ciberespaço e da Tecnologia

Com a disseminação da informação e do progresso tecnológico, as redes de comunicação modernas, como a internet, tornaram-se elementos de análise geopolítica. O ciberespaço envolve uma base física (troncos de fibra óptica, satélites) e está relacionado a comunicações civis e militares, guerra eletrônica e militarização do espaço sideral. A Inteligência Artificial (IA) avança rapidamente, mas sem salvaguardas ou regras adequadas, devido à deterioração da cooperação global, o que faz com que as capacidades e riscos da tecnologia continuem a crescer sem controle.

6.3. Espaços Sem Governo e Crises Regionais

O cenário de "G-zero" levou ao surgimento de muitos lugares com pouca ou nenhuma presença governamental, como Faixa de Gaza, partes do Líbano, Síria, Iêmen, Etiópia, Sudão, Mianmar e Haiti. As consequências dessa negligência serão sentidas muito além dos países diretamente afetados. A Guerra na Ucrânia é um exemplo claro de um conflito geopolítico recente que provoca mudanças em escala global, acirrando tensões e reconfigurando alianças.

6.4. Crise Financeira Global e "Mundo Sem Dinheiro"

As disrupções geradas por conflitos e rivalidades (como EUA-China) dificultam a recuperação econômica pós-pandemia. Muitos países precisarão escolher entre aumentar impostos ou cortar gastos públicos, em um cenário de preocupação dos investidores com a estabilidade e a falta de confiança nos governos.

7. A Geopolítica no Brasil: Desafios Internos e Externos

O território brasileiro também configura um cenário geopolítico complexo, com características socioeconômicas, desenvolvimento sustentável e inserção na economia internacional.

7.1. Aspectos Internos da Geopolítica Brasileira

  • Regiões e Desenvolvimento: As características socioeconômicas das diferentes regiões do país, o desenvolvimento sustentável, e os conflitos entre o desenvolvimento agrário/populacional e os biomas nativos (no rural) e o crescimento urbanístico são objetos da geopolítica brasileira.

  • Questões Territoriais e Ambientais: Temas como a reforma agrária, estudos de planejamento urbano (Plano Diretor dos municípios) e as relações entre o Estado e a sociedade (ou governo Federal e regiões) no que tange à administração ambiental das áreas naturais-administrativas, são centrais.

  • Áreas Estratégicas: Áreas importantes incluem o litoral com ricas reservas de petróleo (pré-sal), o Rio Prata (incluindo o Pantanal), e a Floresta Amazônica (Legal ou internacional), além das fronteiras do país.

  • Recursos Naturais: A Amazônia Azul (4.500.000 km²) é um espaço geográfico de grande relevância, especialmente para a exploração do pré-sal.

7.2. A Matriz Energética Brasileira e a Segurança

O Brasil possui uma matriz energética relativamente diversificada, com 45,3% de sua produção proveniente de fontes renováveis (recursos hídricos, biomassa, etanol, eólica e solar), e 75% da energia elétrica vindo de hidrelétricas. Contudo, cerca de metade da matriz energética brasileira ainda é sustentada por gás natural (9,3%) e petróleo/derivados (38,4%).

  • Pré-Sal: A descoberta das reservas do Pré-Sal e o desenvolvimento de tecnologias de extração colocam o Brasil no grupo de países com caminho ascendente na produção de petróleo.

  • Segurança e Defesa: Se o Brasil decidir utilizar estrategicamente o Pré-Sal, será necessário desenvolver capacidades dissuasórias e de interdição e negação de área críveis para asseverar a soberania sobre a Amazônia Azul. Uma estratégia de defesa em camadas busca otimizar a dissuasão, defender o Pré-Sal e a Amazônia, negar o uso do mar por potências extrarregionais, consolidar a defesa da integração sul-americana e integrar objetivos políticos, econômicos e estratégicos.

  • Riscos Atuais: A privatização de empresas estratégicas como a Eletrobrás, concessão de campos de petróleo no Pré-Sal, e o afastamento de iniciativas de integração regional (como a UNASUL) são vistos como riscos à segurança energética.

7.3. Nomes Relevantes da Geopolítica Brasileira

Grandes nomes dos estudos geopolíticos clássicos no Brasil incluem Everardo Backheuser, Josué de Castro, Mário Travassos, Carlos de Meira Mattos, Golbery do Couto e Silva, Therezinha de Castro e José Oswaldo Meira Penna. Atualmente, inúmeros pesquisadores em universidades brasileiras (Geografia, Geologia, Ecologia, Climatologia, Ciência Política, Política Internacional, Estudos Estratégicos e de Segurança e Defesa) contribuem para o campo.

8. Como Estudar Geopolítica para Concursos e Além

Para um estudo aprofundado e estratégico, especialmente visando concursos públicos, é crucial adotar uma abordagem didática.

8.1. Perguntas Frequentes (FAQs) em Geopolítica Mundial

  • O que impulsiona a geopolítica hoje? A busca por recursos (especialmente energia e minerais raros), o controle de rotas comerciais, o avanço tecnológico (incluindo IA e cibersegurança), e as disputas culturais/ideológicas.

  • Qual o papel dos blocos econômicos na geopolítica atual? Após a Guerra Fria, a formação ou consolidação de blocos econômicos regionais/continentais (União Europeia, NAFTA, Mercosul, ASEAN) tornou-se uma característica do mundo multipolar no plano econômico.

  • Como a globalização afeta a geopolítica? A globalização impulsiona a aceleração da economia, diminui distâncias, transforma a tecnologia, e gera interconexões que facilitam tanto a disseminação de riqueza quanto de problemas como crime e corrupção. Contraditoriamente, ela também acentua as desigualdades e a "irrelevância" de certos estados periféricos.

  • A ONU ainda é relevante? A ONU, embora com uma estrutura anterior à Segunda Guerra Mundial, ainda possui relevância política e diplomática, mas é influenciada por grandes potências (como os EUA), o que questiona a igualdade soberana de seus membros. Muitos veem que não está totalmente preparada para os desafios do novo contexto geopolítico.

8.2. Sugestões de Leitura para aprofundamento

Para aqueles que buscam aprofundar seu conhecimento em geopolítica moderna, as fontes sugerem diversas obras e abordagens:

  • Clássicos e Teorias Fundamentais:

    • Leviatã de Hobbes (para entender o papel do Estado).

    • The Tragedy of Great Power Politics (A Tragédia da Política das Grandes Potências) de John Mearsheimer.

    • A Ordem Mundial de Henry Kissinger.

    • The Influence of Sea Power Upon History de Alfred Thayer Mahan (para poder marítimo).

  • Geopolítica Contemporânea:

    • Prisoners of Geography (Prisioneiros da Geografia) de Tim Marshall (para entender a influência da geografia na postura geopolítica dos países).

    • As Rotas da Seda de Peter Frankopan.

    • People, States and Fear de Barry Buzan.

    • The Great Economic Rivalry: China vs the U.S. de Graham Allison et al..

    • Destined for War: Can America and China Escape Thucydides's Trap? de Graham Allison.

    • Novas Geopolíticas de José William Vesentini.

    • Geopolítica, identidade e globalização de Font & Rufí.

    • Geopolítica da Amazônia de Bertha K. Becker.

    • A Nova Geopolítica da Energia de Michael T. Klare.

  • Relatórios e Análises Atuais:

    • Relatórios de pesquisa de entidades públicas ou privadas como a Rand Corporation.

    • Análises de consultorias como a Eurasia (ex: "Os 10 maiores riscos globais").

Além disso, é importante acompanhar fontes de notícias confiáveis e debates de especialistas para se manter atualizado sobre os conflitos geopolíticos recentes (ex: Guerra na Ucrânia) e as projeções futuras.

Um Mundo em Constante Reconfiguração

A geopolítica é um campo de conhecimento dinâmico, que se adapta às constantes transformações do mundo. O fim da bipolaridade da Guerra Fria não trouxe uma "nova ordem" clara, mas sim uma "geopolítica da complexidade" e uma "desordem" repleta de novos desafios. As disputas se tornaram multifacetadas, envolvendo tecnologia, informação, economia, cultura e até questões ambientais, para além dos tradicionais conflitos territoriais e militares.

A rivalidade entre EUA e China molda o século XXI, exigindo que países como o Brasil adotem estratégias diplomáticas equilibradas para proteger seus interesses nacionais. A compreensão dos conceitos-chave, da evolução histórica e dos temas emergentes na geopolítica é fundamental para navegar e interpretar a realidade global complexa e interconectada em que vivemos.


Questões de Múltipla Escolha:

  1. Qual é um dos exemplos mencionados de competição na geopolítica mundial?

    a) Disputa por territórios na Europa.

    b) Competição por recursos naturais no Ártico.

    c) Disputa por territórios na América do Sul.

    d) Competição por recursos naturais no continente africano.

  2. Por que o Mar do Sul da China é importante na geopolítica mundial?

    a) Por ser uma rota estratégica de comércio e rica em recursos naturais.

    b) Por sua localização próxima à Europa.

    c) Por ser uma região de intensa atividade cultural.

    d) Por sua importância religiosa para várias nações.

  3. Qual é um dos fatores que influenciam a disputa pelo controle do petróleo no Oriente Médio?

    a) Diversidade étnica.

    b) Clima ameno.

    c) Interesses econômicos.

    d) Localização próxima ao Oceano Pacífico.

Gabarito:

  1. b) Competição por recursos naturais no Ártico.

  2. a) Por ser uma rota estratégica de comércio e rica em recursos naturais.

  3. c) Interesses econômicos.