
A água, esse elemento primordial que compõe grande parte do nosso planeta, é muito mais do que uma simples substância química; ela é a base da vida e o motor de todos os ciclos ecológicos. Sem água, a existência, tal como a conhecemos na Terra, seria impossível. No entanto, apesar da sua aparente abundância global, o acesso a este recurso vital é um desafio crescente para bilhões de pessoas em todo o mundo.
A água é um bem essencial à vida. Ela é um componente fundamental da dinâmica da natureza, impulsionando todos os ciclos e atuando como o solvente universal.
A água não é apenas crucial para a sobrevivência humana; ela participa ativamente dos processos bioquímicos responsáveis pelo funcionamento do nosso organismo. Além disso, este recurso é amplamente utilizado em diversas atividades humanas diárias, que vão desde a higiene pessoal e alimentação até o lazer, a geração de energia elétrica e o conforto térmico. A boa qualidade da água é também um fator fundamental na prevenção de doenças, enquanto a sua má qualidade pode ser um meio de propagação de enfermidades ao ser consumida ou entrar em contato direto com a pele.
O planeta Terra é muitas vezes chamado de "Planeta Água", pois aproximadamente setenta por cento de sua superfície é coberta por água. Contudo, essa aparente abundância pode ser enganosa.
Água Salgada vs. Água Doce: Desse vasto volume, cerca de 97,50% é água salgada, encontrada nos oceanos e mares, e não pode ser utilizada para irrigação, uso doméstico ou dessedentação.
A Pequena Fração Doce: Apenas uma pequena parcela, aproximadamente 2,5% do total, é água doce.
Ainda Menos Disponível: Grande parte dessa água doce está armazenada sob a forma de gelo nas calotas polares e geleiras (68,9% da água doce) ou em aquíferos subterrâneos (29,9% da água doce). Isso significa que somente 0,3% do total de recursos de água doce, ou cerca de 100 mil quilômetros cúbicos, está disponível e pode ser facilmente utilizado pelo homem, fluindo em rios, armazenada em lagos ou acessível por meio de águas subterrâneas superficiais.
Dúvida Comum: Como pode faltar água se o planeta é tão abundante em água? Apesar da Terra ser coberta por 70% de água, a maior parte é água salgada e não é diretamente utilizável. A pequena porcentagem de água doce disponível está mal distribuída geograficamente, e a poluição e o uso desordenado por parte das atividades humanas estão diminuindo rapidamente a quantidade e qualidade da água potável acessível. Portanto, a escassez se refere à água doce potável e acessível, não à água em geral.
A distribuição da água doce no mundo não é uniforme. Regiões áridas e desérticas, por exemplo, sofrem com a escassez severa, obrigando seus habitantes a percorrerem longas distâncias para obter água para beber. Esta desigualdade na distribuição de água é um dos principais desafios da gestão de recursos hídricos.
A preocupação com fenômenos globais, como o aquecimento global, é crescente, pois eles são capazes de alterar a disponibilidade de água em algumas regiões, causando episódios de secas prolongadas e enchentes. Nesse cenário de escassez, a migração de populações para áreas com maior disponibilidade de água é uma consequência já observada, alterando os padrões demográficos e a geopolítica mundial.
Para entender a gestão da água, é essencial compreender seu ciclo natural e como as atividades humanas o modificam.
O ciclo hidrológico é a característica essencial de qualquer volume de água superficial (rios, lagos, tanques, represas artificiais) e águas subterrâneas: sua instabilidade e mobilidade. É um ciclo perpétuo, impulsionado pela energia térmica solar, a força dos ventos (que transportam vapor d'água para os continentes) e a força da gravidade (responsável pela precipitação, infiltração e deslocamento das massas de água).
Os principais componentes desse ciclo incluem:
Evaporação: Passagem da água do estado líquido para o gasoso.
Precipitação: Retorno da água à superfície terrestre em forma líquida ou sólida.
Transpiração: Liberação de vapor d'água pelas plantas.
Percolação e Infiltração: Movimento da água através do solo e rochas para as águas subterrâneas.
Drenagem: Escoamento da água superficial e subterrânea, retornando aos oceanos.
Com o aumento da complexidade e diversificação da economia, mais usos foram adicionados aos recursos hídricos, criando um "ciclo hidrossocial" que se sobrepõe ao ciclo hidrológico natural. Este ciclo hidrossocial, embora uma adaptação humana às características da água, causa inúmeros impactos significativos.
A água é utilizada para um grande conjunto de atividades humanas, além das funções vitais, como produção de energia, navegação, produção de alimentos e desenvolvimento industrial e agrícola. Globalmente, a demanda de água é diretamente proporcional ao crescimento da população, urbanização, alimentação e políticas de segurança energética, além de processos macroeconômicos como a globalização e mudanças no padrão de consumo.
A principal distribuição do uso da água doce no mundo é:
Agricultura: Consome cerca de 70% da água doce disponível. No Brasil, a agricultura é responsável por 59% de toda água consumida no país, mas utiliza efetivamente apenas 40% na irrigação, com o restante sendo desperdiçado devido a excesso de aplicação, horários inadequados ou técnicas de irrigação ineficientes.
Indústria: Representa 22% do consumo global. Embora seja o setor que menos consome água no Brasil (19%), perdas também ocorrem.
Uso Individual (Doméstico): Corresponde a apenas 8%. No Brasil, o consumo médio é de 200 litros/dia por pessoa, muito acima dos 40 litros/dia considerados necessários pela UNESCO.
O aumento da demanda e a apropriação dos recursos hídricos em escala maior e mais rápida têm produzido grandes alterações nos ciclos hidrológicos regionais.
Crescimento Populacional e Urbanização: Estas pressões aumentam a dependência dos recursos hídricos, especialmente em regiões áridas ou com grande variabilidade anual no ciclo.
Alterações no Balanço Hídrico:
A construção de barragens aumenta a taxa de evaporação.
A construção de canais para desvio de água produz desequilíbrios.
A retirada de água em excesso para irrigação diminui o volume dos rios e lagos.
Impacto da Urbanização no Solo: A rápida urbanização leva à impermeabilização do solo, o que reduz a capacidade de infiltração da água e aumenta o escoamento superficial. Isso diminui a capacidade de reserva de água na superfície e nos aquíferos.
Águas Subterrâneas: Embora desempenhem um papel fundamental no abastecimento de água e funcionamento de ecossistemas, seu suprimento está diminuindo. Estima-se que vinte por cento dos aquíferos do mundo estão sendo sobre-explorados.
Consequências da Sobre-exploração: Abaixamento de terra e intrusão da cunha salina em áreas costeiras (água salgada invadindo aquíferos de água doce), tornando-a imprópria para consumo e uso agrícola.
Quase 50% da população global (2,5 bilhões de pessoas) dependem de águas subterrâneas para suas necessidades diárias de água, e 43% de toda a água utilizada na irrigação provém dessas fontes.
As áreas mais críticas de declínio do lençol freático são as de agricultura intensiva e ao redor de megacidades.
Poluição: Afeta drasticamente a disponibilidade e a qualidade da água. As principais causas incluem agricultura intensiva (uso de insumos), produção industrial (poluentes industriais), águas residuais não tratadas e escoamento superficial.
Eutrofização: Cargas excessivas de nitrogênio e fósforo (provenientes de esgotos não tratados e fertilizantes) que chegam aos corpos d'água contribuem para a eutrofização, criando "zonas mortas" e erosão de habitats naturais. Prevê-se que o número de lagos com florações de algas nocivas aumentará em quase 20% até 2050.
Pobreza e Acesso Dificultado: A pobreza está diretamente ligada à dificuldade de acesso à água. Muitos moradores pobres precisam pagar preços altos a fornecedores informais ou ficam sem o recurso. A falta de água segura implica em escolhas difíceis entre pagar por ela ou por outros bens essenciais, como alimentação, educação e remédios.
Em 2015, 748 milhões de pessoas não tinham acesso a uma fonte que fornecesse água para beber, e bilhões não tinham água realmente segura.
Em 2012, 2,5 bilhões de pessoas não tinham acesso a sistemas de esgotamento sanitário.
O número de pessoas sem acesso a água potável em áreas urbanas aumentou de 111 milhões para 149 milhões entre 1990 e 2012, e o número de moradores urbanos sem saneamento básico cresceu 40% no mesmo período, especialmente entre os mais pobres.
Degradação Ambiental e Saúde Pública: A degradação ambiental e a urbanização acelerada impactam diretamente a disponibilidade e qualidade da água. A poluição dos corpos d'água compromete a saúde pública, podendo levar à contaminação da água potável e à propagação de doenças. A falta de água de qualidade afeta a segurança alimentar e a saúde das comunidades.
Mananciais são locais que fornecem água para o abastecimento público, podendo ser de fontes subterrâneas ou superficiais. Eles devem ter capacidade e qualidade suficientes para atender a uma determinada demanda.
Obras de Captação: São construções para retirar água de reservatórios subterrâneos ou superficiais para o abastecimento. É crucial analisar as condições dos locais, custos e equipamentos.
Águas Pluviais: Podem ser recolhidas de telhados e superfícies e encaminhadas para cisternas, abastecendo pequenas comunidades.
Mananciais Subterrâneos: Apresentam filtragem natural pelo subsolo, exigindo tratamentos menos complexos. Geralmente são auto-renováveis, mas sua qualidade é vulnerável à influência humana, principalmente pela destruição da vegetação.
Qualidade da Água na Captação: Para garantir a potabilidade, são realizadas investigações e testes laboratoriais. Parâmetros comuns de análise incluem condutividade elétrica, pH, coliformes totais, turbidez, nitrato, metais, entre outros.
Regulamentação da Captação: A captação de água bruta em mananciais é uma atividade regulamentada e legal, exigindo outorga de direito de uso concedida por órgão público responsável (estadual ou federal). Para recursos hídricos de domínio da União, as outorgas são competência da Agência Nacional de Águas (ANA).
A forma como a água é conceituada e tratada legal e economicamente tem evoluído significativamente diante da crescente crise hídrica.
Tradicionalmente, a água foi entendida como um bem comum, de livre acesso a todos, sem necessidade de pagamento. No entanto, a poluição e o uso desordenado estão transformando-a em um recurso escasso.
A "Petrolinização" da Água: Diante da escassez, a água passa a ser vista como um bem econômico, com valor e preço de mercado. Esta visão é formalmente estabelecida pelo Princípio nº 4 da Declaração de Dublin, de 1992, que afirma: "a água tem valor econômico em todos os seus usos, devendo ser reconhecida como um bem econômico". (Tópico MUITO COBRADO em concursos!)
Consequências da Valoração:
A valoração busca incentivar o uso racional.
Apresenta um preço de mercado, atendendo aos princípios do poluidor-pagador (o agente poluidor arca com as consequências monetariamente) e de disposição para pagar (quanto as pessoas estão dispostas a pagar para preservar os recursos ou evitar poluição).
Permite a mensuração de custos e benefícios, integrando o meio ambiente na contabilidade econômica dos países.
Valor Econômico Total (VET): Uma Análise Detalhada (Conceito EXCEPCIONAL e COBRADO!) A economia ecológica propõe o conceito de Valor Econômico Total para quantificar o valor da biodiversidade e dos recursos ambientais. O VET abrange valores de uso e de não-uso:
Valores de Uso Direto (VUD): Derivados do uso direto, como recreação, lazer, colheita de recursos, caça, pesca, educação.
Valores de Uso Indireto (VUI): Originam-se dos usos indiretos, como proteção de bacias hidrográficas, preservação de habitats, estabilização climática e tratamento de resíduos.
Valores de Opção (VO): Derivam da opção de usar o recurso no futuro, tanto para usos diretos quanto indiretos.
Valores de Não-Uso (VNU): Atribuídos pelas pessoas a um recurso ambiental, mesmo sem estar ligado a um uso específico (ex: valor de herança e existência).
Fórmula: VET = VUD + VUI + VO + VNU.
Paralelamente à discussão econômica, o acesso à água tem sido consolidado como um direito humano fundamental.
Reconhecimento Formal pela ONU: O reconhecimento formal da água e do saneamento como direito humano ocorreu com a Resolução da Assembleia Geral da ONU A/RES/64/292, de 28 de julho de 2010. Esta resolução reconhece o direito à água potável limpa e segura e ao saneamento como um direito humano essencial para o pleno gozo da vida e de todos os direitos humanos.
Direito Derivado: Posteriormente, a Resolução do Conselho dos Direitos Humanos A/HRC/RES/15/9, de setembro de 2010, afirma que este direito é derivado do direito a um padrão de vida adequado e está intimamente relacionado com o direito ao mais alto padrão atingível de saúde física e mental, bem como com o direito à vida e à dignidade humana.
Obrigações dos Estados: As resoluções instam os Estados e organizações internacionais a fornecerem recursos financeiros, capacitação e transferência de tecnologia para intensificar os esforços em prover água potável e saneamento para todos. A doutrina eleva o acesso à água a um direito fundamental de sexta dimensão, considerado universal e merecendo proteção no ordenamento jurídico. (Conceito EXCEPCIONAL e COBRADO!)
Apesar do reconhecimento pela ONU, a proteção internacional da água potável e o acesso a ela são resguardados por documentos classificados como "soft law".
Soft Law: São instrumentos (como declarações e resoluções de organizações internacionais) que não possuem força cogente vinculativa (imperatividade). Isso significa que, em caso de descumprimento por parte dos Estados, a imperatividade perante eles é reduzida. Embora não sejam normas jurídicas no sentido estrito, possuem um caráter educativo e influenciador do direito.
Carência de Hard Law: Há uma carência de normas imperativas internacionais na esfera de "hard law" (com força vinculativa), como tratados, pactos ou convenções próprias, para a proteção do recurso hídrico. Tal disciplinamento jurídico internacional é necessário para garantir a proteção e o gerenciamento do recurso em nível global.
Obstáculos à Hard Law: A dificuldade em regulamentar o acesso à água em escala global envolve o interesse de corporações privadas internacionais e suas financiadoras, que veem a água como um bem econômico e gerador de riquezas, submetendo-a às regras do comércio internacional. Além disso, existem interesses políticos que priorizam o uso da água para grandes empreendimentos privados, indo de encontro à sua consagração como direito fundamental.
Iniciativas Internas: Diante da resistência em formular um tratado internacional, muitos países, como o Brasil, têm buscado a incorporação do direito à água em seus ordenamentos jurídicos internos. No Brasil, tramita a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) n.º 4/2018, que pretende incluir o acesso à água potável como direito fundamental no Art. 5º da Constituição Federal, garantindo uma proteção constitucional local.
A gestão de recursos hídricos é crucial para garantir a disponibilidade de água, a preservação ambiental e o desenvolvimento econômico sustentável.
A gestão de recursos hídricos é um conjunto de práticas e estratégias que abrangem o planejamento, uso, distribuição, monitoramento e proteção das fontes de água. É um processo essencialmente multidisciplinar, envolvendo técnicas de engenharia, políticas públicas, gestão ambiental e conscientização social. Aborda tanto o uso racional da água quanto a implementação de sistemas de tratamento e reuso, além da recuperação de áreas degradadas e proteção de ecossistemas aquáticos.
A GIRH é uma abordagem estratégica que se tornou evidente a partir dos problemas resultantes de uma visão setorial e limitada da água. Ela considera a interdependência entre os diferentes usos da água, como abastecimento humano, agricultura, indústria e ecossistemas.
Os elementos fundamentais para um gerenciamento integrado, preditivo e adaptativo, em nível de bacia hidrográfica, são:
Descentralização da gestão em nível de bacia hidrográfica.
Promoção e implantação de instrumentos legais e de ação através da organização institucional.
Proteção do hidrociclo e dos mananciais.
Purificação e tratamento de águas (efluentes industriais e esgotos domésticos).
Conservação da biodiversidade e dos habitats na bacia hidrográfica.
Gerenciamento conjunto da quantidade e qualidade da água.
Proteção do solo, prevenção da contaminação e eutrofização.
Gerenciar conflitos e otimizar usos múltiplos adequando-os à economia regional.
Monitoramento sistemático e permanente da qualidade e quantidade da água.
Promoção de avanços tecnológicos na gestão integrada (monitoramento em tempo real, indicadores biológicos).
Ampliar a capacidade preditiva do gerenciamento para promoção de orientações estratégicas e busca de alternativas.
A GIRH busca uma gestão colaborativa que envolva diversos setores e níveis de governo. Seus benefícios incluem a minimização de disputas, a promoção de um uso mais eficiente e sustentável da água, e a contribuição para a resiliência das comunidades frente a crises hídricas e mudanças climáticas.
A gestão enfrenta vários desafios, que variam por região e nível de desenvolvimento:
Desigualdade na distribuição: No Brasil, a região Norte concentra grande parte dos recursos hídricos (68,5%), enquanto Sudeste (6%) e Nordeste (3,3%), com maior população, enfrentam escassez.
Poluição e degradação ambiental: Descarte inadequado de resíduos industriais, esgoto sem tratamento e uso excessivo de pesticidas afetam a qualidade da água.
Desperdício e uso ineficiente: Perda de água tratada no sistema de abastecimento e uso irracional nos setores doméstico, agrícola e industrial. Cerca de 40% de toda água tratada no Brasil é desperdiçada.
Mudanças climáticas: Secas prolongadas, chuvas intensas e outros eventos extremos ameaçam as fontes de água.
Interesses econômicos: O interesse de multinacionais em categorizar a água como bem econômico e a priorização para grandes empreendimentos privados dificultam sua consagração como direito fundamental.
Dificuldade de acesso: Muitas vezes, o acesso à água é dificultado por se encontrar em propriedades privadas, com restrições dos proprietários.
A gestão sustentável exige a adoção de diversas estratégias e tecnologias:
Reuso e Reciclagem de Água: O reuso em processos industriais e agrícolas reduz a necessidade de captação de novos recursos, diminuindo o impacto ambiental.
Investimento em Saneamento Básico: A ampliação da coleta e tratamento de esgoto é essencial para evitar a contaminação dos mananciais e melhorar a qualidade da água. No Brasil, o limitado serviço de esgotamento sanitário é um problema ambiental urbano significativo.
Tecnologias de Monitoramento e Gestão: Sistemas em tempo real, sensores e automação permitem acompanhar o consumo e o estado dos recursos hídricos, facilitando a tomada de decisões.
Educação e Conscientização Ambiental: Fundamental para fomentar uma cultura de conservação e uso responsável da água.
Políticas Públicas Eficientes: Governos e agências reguladoras têm papel central na criação e fiscalização de políticas que assegurem normas sustentáveis. As políticas devem ser sensíveis às necessidades e realidades das comunidades locais, promovendo a participação da população.
A oferta permanente de água depende das características regionais e de como ela é aproveitada.
Conservação de Matas Ciliares: Manter as matas nas margens de rios, córregos, lagos e olhos d'água ajuda a proteger essas fontes e mantém a quantidade e qualidade da água.
Construção de Açudes: Devem ser construídos corretamente para fornecer água de boa qualidade para o gado e outros usos, com matas e cercas ao redor para evitar contaminação direta pelo rebanho.
Aumento da Infiltração: Construir barragens de captação para águas pluviais com terraços em curvas de nível e canais mais profundos ajuda a aumentar a infiltração da água no solo, evita erosões e recupera córregos e rios.
Planejamento: Preparação da terra para integrar o sistema produtivo, com construções longe das Áreas de Preservação Permanente (APPs).
Manejo de Pastagens: Formação de pastagens mantendo distâncias regulamentadas das fontes de água, escolha do pasto adequado ao solo para evitar solos expostos.
Incentivos ao "Produtor de Água": Pecuaristas que utilizam a água de forma eficiente podem ter benefícios econômicos (valorização da propriedade) e ambientais (conservação do solo, melhoria da sanidade animal). Em muitas regiões do Brasil, produtores rurais que aumentam a vazão de água em suas propriedades recebem monetariamente por isso, tornando-se "produtores de água".
O Brasil possui uma das maiores reservas de água doce do mundo (cerca de 12% dos recursos hídricos globais). Para gerenciar essa riqueza, foi instituída a Política Nacional de Recursos Hídricos (PNRH) pela Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997, conhecida como a Lei das Águas.
Marcos da Lei das Águas:
Criou o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos (SINGREH).
Caráter descentralizador (integra União e estados) e participativo (criação de comitês de bacias hidrográficas com participação do poder público, usuários e sociedade civil).
Deu maior abrangência ao Código de Águas de 1934, que centralizava as decisões no setor elétrico.
Estabeleceu como fundamento o respeito aos usos múltiplos da água.
Definiu como prioridade o abastecimento humano e a dessedentação animal em casos de escassez.
Reconheceu a água como um recurso finito e vulnerável e com valor econômico.
Adotou a bacia hidrográfica como unidade de planejamento.
O Plano Nacional de Recursos Hídricos (PNRH): Estabelecido pela Lei nº 9.433/97, é um conjunto de diretrizes, metas e programas aprovado em 2006.
Objetivo Geral: "Estabelecer um pacto nacional para a definição de diretrizes e políticas públicas voltadas para a melhoria da oferta de água, em quantidade e qualidade, gerenciando as demandas e considerando ser a água um elemento estruturante para a implementação das políticas setoriais, sob a ótica do desenvolvimento sustentável e da inclusão social".
Objetivos Específicos: Assegurar a melhoria das disponibilidades hídricas (superficiais e subterrâneas), a redução dos conflitos de uso e dos eventos hidrológicos críticos, e a percepção da conservação da água como valor socioambiental relevante.
Instrumentos da PNRH:
Enquadramento dos corpos d'água em classes.
Outorga dos direitos de uso de recursos hídricos.
Sistema de Informações sobre Recursos Hídricos.
Cobrança pelo uso de Recursos Hídricos.
A Agência Nacional de Águas e Saneamento Básico (ANA): A ANA é o órgão responsável por monitorar a qualidade das águas superficiais e subterrâneas do país.
Rede Nacional de Monitoramento de Qualidade da Água (RNQA): Lançada em 2013, busca padronizar e ampliar o monitoramento em nível nacional, cooperando com os operadores estaduais.
Índice de Qualidade das Águas (IQA): Principal indicador qualitativo usado no país, avalia a qualidade da água para abastecimento público após tratamento convencional. É calculado com base em parâmetros como temperatura, pH, oxigênio dissolvido, coliformes termotolerantes e turbidez.
Competência sobre as Águas no Brasil: A Constituição de 1988 e a Lei das Águas (9.433/1997) definem que as águas (superficiais ou subterrâneas) são geridas pelos estados, mas pertencem à União se atravessarem mais de um estado ou servirem de fronteira internacional.
Regra da Escadinha: Uma norma que estabelece obrigações de recuperação de Áreas de Preservação Permanente (APPs) nas propriedades rurais de acordo com seu tamanho, de forma escalonada.
Apesar de ter uma legislação considerada avançada para os recursos hídricos, o Brasil ainda apresenta poucos resultados práticos na sua aplicação. A falta de articulação entre os órgãos competentes perpetua problemas, e grande parte da população brasileira não recebe água tratada, enquanto a quase totalidade do esgoto produzido é lançado em rios e no mar sem tratamento. Isso contribui para que 80% das doenças e 65% das internações hospitalares de crianças sejam decorrentes do precário saneamento básico.
A "abundância" do recurso no país favorece uma consciência de inesgotabilidade, levando a um consumo distante dos princípios de sustentabilidade. A oferta gratuita da água (onde a cobrança existente só cobre custos de administração, não seu valor econômico) e a crença em sua capacidade ilimitada de recuperação contribuem para essa postura descomprometida.
A sustentabilidade hídrica e ambiental urbana é um dos grandes desafios da gestão de recursos hídricos. O ciclo hidrológico é fortemente alterado pela urbanização, gerando impactos como inundações e contaminação do ar, solo, rios e aquíferos.
Para as cidades, os serviços de água essenciais para a sustentabilidade são:
Abastecimento de água.
Coleta e tratamento de esgoto.
Drenagem urbana.
Gestão de resíduos sólidos.
No contexto urbano brasileiro, o principal problema ambiental é o serviço limitado de coleta e tratamento de esgoto. Melhorar esses serviços exige investimentos significativos, mas resulta na redução de impactos ambientais.
O quadro global de escassez e degradação da água exige uma reflexão sobre o futuro e o papel de países como o Brasil.
As projeções indicam um cenário preocupante:
Atualmente, um terço da população mundial habita áreas com estresse hídrico.
Em 2025, projeta-se que dois terços da população humana estarão vivendo em regiões com estresse de água.
Até 2050, quando a população global pode atingir 9,3 bilhões de pessoas, entre 2 bilhões e 7 bilhões de pessoas podem não ter acesso a água de qualidade.
Cerca de 40% da população mundial já sofre com a escassez de água. Países com disponibilidade inferior a 1.000 m³/ano per capita são considerados escassos, e aqueles entre 1.000 e 1.600 m³/ano per capita sofrem estresse hídrico.
A crescente falta de água pode agir como um catalisador de conflitos futuros. Se já existem guerras por petróleo, a água pode se tornar o foco de disputas, ignorar o problema e desperdiçar água hoje é negligenciar o futuro.
O Brasil, com suas vastas reservas hídricas, tem um papel estratégico no cenário global.
Dominância Hídrica: O país detém 12% dos recursos hídricos globais e 50% do total da América do Sul.
As Grandes Bacias Brasileiras: Os recursos hídricos estão agregados em três grandes bacias (Amazônica, Tocantins, São Francisco) e dois complexos de bacias (Prata e Atlântico).
A Bacia Amazônica: A Bacia Amazônica é a de maior potencial, gerando sozinha 8% dos recursos mundiais e 71,1% do total de recursos hídricos gerados no Brasil. Considerando seu poder de influência, ela representa 77% do total da América do Sul e 17% dos recursos mundiais em escoamento. (Tópico MUITO COBRADO em concursos!)
Desigualdade Interna: Apesar da abundância geral, a água está distribuída de forma desigual no Brasil. A região Norte concentra 68,5% dos recursos, enquanto a Sudeste (6%) e Nordeste (3,3%), que possuem maior concentração populacional, enfrentam escassez.
Oportunidade Estratégica: A posse de grandes quantidades de água de qualidade confere ao Brasil uma posição estratégica no mercado global de água. A gestão adequada e a valoração deste recurso podem alavancar o crescimento e o desenvolvimento do país.
A imensa riqueza hídrica do Brasil, se não for priorizada e utilizada de forma sustentável, pode representar um risco à soberania dos territórios amazônicos, tornando-se um alvo prioritário em uma eventual tentativa de internacionalização desses recursos, como já ocorre com patentes de produtos amazônicos.
Para garantir um futuro hídrico seguro e sustentável, o Brasil e o mundo precisam:
Mudar o Padrão de Comportamento: Abandonar o consumo ineficiente e predatório.
Valorar a Água Efetivamente: Criar mecanismos de cobrança pelo uso dos recursos hídricos que reflitam seu valor econômico real.
Investir em Educação Ambiental: Conscientizar a população sobre a importância da água potável, a dificuldade de sua obtenção e a necessidade de mantê-la adequada ao consumo.
Desenvolver Modelos de Exportação: Caso a água seja tratada como commodity, o Brasil precisa desenvolver um modelo para sua exportação que garanta a autonomia na gestão dos recursos e gere benefícios econômicos.
Fortalecer Parcerias: Ampliar a cooperação técnica, científica e financeira, tanto doméstica quanto internacionalmente, para um desenvolvimento sustentável.
Sensibilizar Lideranças: Os debates em conferências internacionais são de grande relevância para sensibilizar chefes de Estado e representantes na criação de projetos de lei para acessibilidade e proteção do recurso.
A água é, inequivocamente, um bem imprescindível à vida e à dignidade humana. Apesar do reconhecimento internacional de sua importância e da possibilidade iminente de escassez, a proteção efetiva do recurso e a promoção de seu acesso como direito humano fundamental e universal ainda se mostram frágeis. Isso se deve, em grande parte, ao fato de que os documentos internacionais existentes, como as Resoluções da Assembleia das Nações Unidas e do Conselho de Direitos Humanos, estão na esfera da "soft law", carecendo de força vinculativa e caráter cogente.
É urgente, portanto, a necessidade de um disciplinamento jurídico internacional na esfera da "hard law" para o tema, que tenha um caráter cogente, obrigando os Estados a garantir este direito. O reconhecimento do acesso à água como direito fundamental universal, já defendido por alguns juristas como uma sexta dimensão de direitos, pode ser o impulso necessário para a inclusão de sua proteção em tratados internacionais com amplo compromisso dos países signatários.
Enquanto isso, a exemplo do Brasil, muitos países vêm buscando incorporar o direito à água em seus ordenamentos jurídicos internos, garantindo, no mínimo, uma proteção constitucional local à sua população. As discussões atuais em conferências internacionais são cruciais não só para a confecção de futuros tratados, mas para a sensibilização dos líderes globais em relação à criação de legislações nacionais que garantam a acessibilidade e proteção desse recurso.
A gestão integrada e sustentável dos recursos hídricos é a chave para garantir a segurança hídrica e a saúde pública. Essa gestão deve considerar de forma holística os diversos usos da água, minimizar conflitos e fomentar a colaboração entre todos os setores. Além disso, a gestão sustentável é crucial para assegurar que os recursos hídricos atendam às necessidades atuais sem comprometer a capacidade das futuras gerações. Isso envolve a redução do desperdício, a promoção da conservação e a garantia da qualidade da água.
É fundamental que as políticas públicas sejam moldadas considerando as especificidades locais e as práticas culturais das comunidades. A educação ambiental e a participação da população são elementos-chave para fomentar uma cultura de conservação e uso sustentável da água, assegurando que todos tenham acesso a esse recurso vital a longo prazo.
Avançar nas pesquisas sobre a eficácia das tecnologias ambientais e a implementação de práticas de conservação da água é imperativo. Somente através de uma abordagem integrada, sustentável e colaborativa, que valorize a água como um bem comum e econômico, poderemos enfrentar os desafios hídricos e construir um futuro onde a água, um bem tão precioso, seja preservada e utilizada com responsabilidade por todos.
Questões de Múltipla Escolha:
O que são recursos hídricos superficiais?
a) Águas armazenadas em aquíferos.
b) Águas encontradas em rios, lagos, represas e reservatórios.
c) Águas subterrâneas.
d) Águas provenientes de fontes naturais.
Qual é o principal rio do Brasil mencionado como responsável pelo abastecimento de água de cerca de 14% da população brasileira?
a) Rio Amazonas.
b) Rio São Francisco.
c) Rio Paraná.
d) Rio de Janeiro.
O que envolve a gestão adequada dos recursos hídricos?
a) Aumento da poluição dos corpos d'água.
b) Uso irracional e desperdício de água.
c) Preservação dos corpos d'água, controle da poluição e uso eficiente da água.
d) Restrição ao acesso à água potável.
Gabarito:
b) Águas encontradas em rios, lagos, represas e reservatórios.
b) Rio São Francisco.
c) Preservação dos corpos d'água, controle da poluição e uso eficiente da água.