Para começar nossa jornada, é fundamental compreendermos o que o cinema realmente representa.
Definição: Cinema é um termo que se refere tanto à arte de produção de filmes quanto ao aparelho que projeta rapidamente diversos fotogramas, criando a impressão de movimento em nossos cérebros. No Brasil e em muitos lugares do mundo, a palavra "cinema" também é usada para designar a sala de exibição dos filmes.
Etimologia: A palavra "cinema" é uma abreviação de "cinematógrafo", o invento dos irmãos Lumière. Ela foi formada por dois termos de origem grega: "kinema", que significa "movimento", e "gráphein", que significa "registro" ou "escrita".
A Sétima Arte: O cinema é frequentemente chamado de "Sétima Arte", uma referência à sua capacidade de integrar elementos de outras formas artísticas, como a literatura (roteiro), o teatro (atuação), a pintura (fotografia e cenografia) e a música (trilha sonora).
Por que estudar a história do cinema? Estudar a história do cinema é essencial para compreender como as produções nacionais e internacionais foram moldadas ao longo de mais de um século. A rica e variada trajetória cinematográfica de um país, como o Brasil, por exemplo, reflete as transformações sociais, econômicas, culturais e políticas de seu povo. Além disso, o conhecimento histórico aprofunda a capacidade de análise crítica e apreciação das obras cinematográficas.
Antes do cinema como o conhecemos, diversas invenções e experimentos pavimentaram o caminho para a criação da imagem em movimento.
O Pré-Cinema e a "Persistência Retiniana": O cinema baseia-se na projeção pública de imagens animadas. Sua invenção foi precedida por inovações que combinavam o domínio fotográfico com a síntese do movimento. Embora por muito tempo atribuído à "persistência da visão" ou "persistência retiniana", o efeito de movimento do cinema, na verdade, ocorre em nível neural, um fenômeno que o psicólogo Hugo Münsterberg já negava em 1916, chamando-o de "Fenômeno Phi".
Brinquedos Ópticos Notáveis:
Taumatrópio (1820-1825, John Ayrton Paris).
Fenacistoscópio (1828-1832, Joseph-Antoine Ferdinand Plateau).
Zootrópio (1828-1832, William George Horner).
Praxinoscópio (1877, Charles-Émile Reynaud), que projetava imagens por 10 anos no Musée Grévin.
Estroboscópio (1828-1832, Simon von Stampfer).
Os Primeiros Registros do Movimento:
Eadweard Muybridge (1876): Realizou um experimento histórico, colocando 12 e depois 24 câmeras fotográficas ao longo de um hipódromo para capturar a passagem de um cavalo. Ele decompôs o movimento em várias fotos e conseguiu recompor a sequência com um zoopraxiscópio.
Étienne-Jules Marey (1882): Melhorou o aparelho de Muybridge.
Louis Aimée Augustin Le Prince (1888): Filmou uma cena de cerca de 2 segundos, mas a fragilidade do papel usado impossibilitou a projeção adequada.
Thomas Edison e o Início da Indústria:
William Kennedy Laurie Dickson: Chefe engenheiro dos Edison Laboratories, inventou a tira de celuloide contendo uma sequência de imagens, base para a fotografia e projeção de imagens em movimento.
Cinetógrafo e Cinetoscópio (1891): Edison inventou o cinetógrafo (escreve movimento) para filmar e, posteriormente, o cinetoscópio (observa movimento), uma caixa movida a eletricidade que permitia a projeção interna de imagens para apenas uma pessoa. Esses aparelhos eram populares em estabelecimentos comerciais. Edison, interessado nos lucros, era contra a exibição em grandes salas.
Monopólio da MPPC: No início do século XX, a Motion Pictures Patents Company, de Thomas Edison, tentou monopolizar o cinema nos EUA, impedindo que outros estúdios usassem suas tecnologias. Esse conglomerado só terminou em 1915, após leis antitruste.
Os Irmãos Lumière: O Verdadeiro "Nascimento" do Cinema Público:
Auguste e Louis Lumière: Baseados na invenção de Edison, desenvolveram o cinematógrafo, um aparelho portátil que funcionava como máquina de filmar, de revelar e de projetar. Movido à manivela, era um híbrido eficiente.
A Primeira Exibição Pública Paga: Em 28 de dezembro de 1895, o pai dos irmãos Lumière, Antoine, organizou uma apresentação histórica no Salão Grand Café de Paris. Os irmãos projetaram 10 filmes curtos para uma plateia que pagou para entrar, gerando grande comoção e marcando o que é comumente conhecido como o nascimento do cinema. Hoje, o luxuoso Hotel Scribe ocupa o local da primeira exibição, com uma placa comemorativa.
Filmes Emblemáticos dos Lumière:
L'Arrivée d'un Train à La Ciotat (A Chegada do Trem na Estação): Diz a lenda que o público se assustou e saiu da frente da tela com medo de ser atropelado pelo trem que se aproximava.
Sortie de l'usine Lumière à Lyon (Empregados Deixando a Fábrica Lumière): Considerado o primeiro audiovisual exibido na história.
L'Arroseur Arrosé (O Regador Regado): Uma pequena comédia, considerada o primeiro filme mundialmente conhecido.
O Início do Cinema Brasileiro:
Em 1896, os primeiros filmes curtos retratando o cotidiano europeu foram exibidos no Rio de Janeiro.
Os irmãos italianos Paschoal Affonso e Segreto são considerados os primeiros cineastas do país, tendo realizado gravações da Baía de Guanabara em 19 de junho de 1898. Embora não haja registro desse material, a data é, até hoje, considerada o Dia do Cinema Brasileiro.
Ancoradouro de Pescadores na Baía de Guanabara (1897), dirigido por José Roberto da Cunha Salles, é tido por algumas fontes como o primeiro filme brasileiro.
A estruturação do mercado exibidor no Brasil se deu entre 1907 e 1910, com muitas salas de cinema possuindo suas próprias equipes de filmagem, embora a maioria dos filmes exibidos fosse importada da Europa. Os primeiros filmes gravados no Brasil eram, em sua maioria, documentais.
O período do cinema mudo é crucial para entender a base da linguagem cinematográfica, suas primeiras experimentações narrativas e visuais.
Características do Cinema Mudo: Embora chamados de "mudos", esses filmes não eram totalmente silenciosos. As exibições eram frequentemente acompanhadas por música ao vivo (pianistas, orquestras), narradores e o uso de textos intercena (cartelas com diálogos ou descrições) para que os espectadores compreendessem a história. Atuações eram frequentemente exageradas para compensar a ausência de som.
Pioneiros da Narrativa e Efeitos Visuais:
Georges Méliès (Ilusionista e Mago do Cinema): Adquiriu uma filmadora em 1896 e revolucionou o cinema ao introduzir o que chamamos de "efeitos especiais". Ele explorou a manipulação de imagens, o stop motion (quadro parado), maquiagens e diversas outras técnicas.
Sua obra mais famosa, Viagem à Lua (1902), baseada na obra de Júlio Verne, é considerada a primeira obra cinematográfica de ficção científica e um dos primeiros sucessos mundiais.
Alice Guy Blaché (Pioneira Esquecida): Uma cineasta francesa que revolucionou o cinema narrativo a partir do final do século XIX. Foi roteirista, dirigiu e atuou em quase mil produções, destacando-se no cinema narrativo ficcional. Ela foi uma das pioneiras em efeitos especiais e na sincronização de áudios gravados com as imagens.
Edwin S. Porter: Tornou-se cameraman de Thomas Edison e foi pioneiro na edição de imagens e no cross-cutting (imagens simultâneas em diferentes lugares). Seu filme The Great Train Robbery (1903), um dos primeiros faroestes, demonstrou o poder do cinema como formador de ideias, pois seu final teve que ser alterado para mostrar que "o crime não compensa", tornando-o um cinema "educador".
O Surgimento dos Longas-Metragens:
A duração dos filmes começou a crescer. O filme australiano The Story of the Kelly Gang (1906), com 70 minutos, é lembrado como o primeiro longa-metragem da história do cinema.
Exceção Notável para Concursos: O Photo-Drama of Creation (1914), uma apresentação religiosa de mais de 8 horas de duração, foi o primeiro filme a incluir som sincronizado e imagens coloridas em grande escala. Embora não fosse um filme narrativo tradicional, consistia em slides coloridos e filmes encenados, acompanhados por 96 gravações de discursos bíblicos e música clássica, demonstrando uma inovação tecnológica marcante para a época.
A Ascensão de Hollywood como Centro Mundial:
Com a Primeira Guerra Mundial (1914-1918), a indústria cinematográfica europeia foi devastada, abrindo espaço para os EUA se destacarem. Filmes de Hollywood entravam no Brasil isentos de taxas alfandegárias, enfraquecendo a produção local.
Produtores independentes emigraram para Hollywoodland (posteriormente Hollywood), um pequeno povoado na costa oeste da Califórnia, devido às condições ideais: dias ensolarados quase o ano todo, diversas paisagens para locações e uma variedade étnica para coadjuvantes.
Nasceram os mais importantes estúdios de cinema (Fox, Universal Studios, Paramount), e o star system (sistema de promoção de estrelas) se consolidou, difundindo ideologias de Hollywood.
D. W. Griffith: Diretor americano de destaque, com seu polêmico filme The Birth of a Nation (1915), que foi um dos mais populares da época, mas gerou controvérsia por glorificar a escravatura, a segregação racial e a Ku Klux Klan. Apesar de seu conteúdo racista, é considerado um marco na narrativa cinematográfica por sua complexidade.
Charles Chaplin: Principal ator e uma das maiores celebridades do cinema mudo. Seus filmes, como Carlitos Repórter (1914) e O Vagabundo (1915), são clássicos absolutos.
United Artists: Criada por Charles Chaplin, Douglas Fairbanks, Mary Pickford e D. W. Griffith para desafiar o poder dos grandes estúdios.
O Cinema de Arte no Mundo (A Vanguarda do Mudo):
Expressionismo Alemão (início em 1919): Marcado pela estética sombria, exagerada e distorcida, com temáticas mórbidas. Principais diretores: Friedrich Murnau (Nosferatu) e Fritz Lang (Metropolis). Filmes importantes: O Gabinete do Dr. Caligari (1920) e Metropolis (1927). Este movimento, mesmo guiando-se por certas regras clássicas, já apontava para subversões que levariam ao cinema moderno.
Cinema Impressionista Francês (1919-1929): Também conhecido como cinema de vanguarda, com diretores como Abel Gance e Jean Epstein.
Cinema Surrealista Espanhol: Destacou-se Luis Buñuel, com Um Cão Andaluz (1928).
Escola Soviética de Montagem: Liderada por Sergei Eisenstein, que criou a técnica da montagem intelectual ou dialética. Seu filme de maior destaque foi O Couraçado Potemkin (1925). Dziga Vertov, com O Homem com a Câmera, propôs um documentário sofisticado chamado "Cine-Olho".
A Fragilidade dos Filmes Mudos: Infelizmente, cerca de 90% dos filmes mudos se perderam por falta de cuidado, má conservação ou porque foram derretidos para recuperar o nitrato de prata, um componente caro.
O final da década de 1920 marcou uma das maiores revoluções tecnológicas do cinema: a chegada do som e, posteriormente, da cor, transformando radicalmente a forma de produzir e consumir filmes.
A Chegada do Som ao Cinema:
Experimentos com som existiam, mas com problemas de sincronização e amplificação.
Photo-Drama of Creation (1914): Como já mencionado, foi um precursor notável ao incluir som sincronizado em grande escala, embora não fosse um filme convencional.
Vitaphone (1926): A Warner Brothers introduziu o sistema Vitaphone, que gravava o som em discos separados do filme.
O Primeiro Filme Falado: Em 1927, a Warner lançou The Jazz Singer (O Cantor de Jazz), um musical que foi o primeiro filme na história do cinema a ter alguns diálogos e cantorias sincronizados, embora ainda contivesse partes sem som. Al Jolson se tornou o primeiro ator a cantar e falar em um filme.
O Primeiro Filme Totalmente Sincronizado: Em 1928, o filme The Lights of New York, também da Warner, tornou-se o primeiro filme com som totalmente sincronizado.
Avanços Posteriores: O som gravado em disco pelo Vitaphone foi rapidamente substituído por sistemas mais eficientes que gravavam o som diretamente na película, como o Movietone da Fox, DeForest Phonofilm e Photophone da RCA.
Consequência da Sonorização: O uso do som diversificou os gêneros cinematográficos, dando origem aos musicais e contribuindo para o desenvolvimento das comédias cinematográficas.
No Brasil: O cinema sonoro se propagou na década de 1930, e o filme nacional pioneiro foi a comédia Acabaram-se os Otários (1929), de Luiz de Barros.
A Chegada da Cor ao Cinema:
Technicolor: A empresa estadunidense Technicolor desenvolveu técnicas para gravação e reprodução de filmes coloridos.
Um processo inicial, caro e pouco utilizado, projetava cores em tons de vermelho e verde, misturadas por um prisma antes da projeção (The Gulf Between, 1917).
Em 1932, a Technicolor desenvolveu um novo sistema mais barato e com cores mais vibrantes, que foi utilizado por Walt Disney pela primeira vez no curta-metragem Flores e Árvores.
Efeito Schufftan: Eugen Schufftan, cineasta, desenvolveu essa técnica que revolucionou os efeitos especiais. Posicionando dois espelhos na frente da câmera, era possível sobrepor duas imagens em escalas diferentes, permitindo, por exemplo, inserir pessoas em maquetes na mesma cena, reduzindo drasticamente os custos de cenários.
A Era de Ouro de Hollywood (Décadas de 1930-1960):
Com a popularização do cinema sonoro e colorido, a sétima arte se tornou a principal forma de entretenimento para a maior parte das pessoas nas grandes cidades do mundo.
Domínio de Hollywood: As distribuidoras norte-americanas investiram massivamente em publicidade e na equipagem das salas de cinema para vender seus "talkies" (filmes falados). O cinema clássico de Hollywood era caracterizado por narrativas lineares, com início, meio e fim bem definidos, e geralmente com finais felizes. A Cinédia, no Brasil, tentou imitar esse modelo com filmes românticos e musicais.
Impacto Político e Moral:
Código Hays (1930): Criado pela Associação dos Produtores e Distribuidores de Filmes da América, estabelecia normas para a produção de filmes nos EUA, determinando o que "não deveria ser mostrado" (ex: nudez, escravidão de brancos, relações interraciais, críticas ao clero) e o que "deveria ser evitado". Esse código influenciou fortemente o conteúdo dos filmes hollywoodianos.
Propaganda: O presidente Woodrow Wilson via o cinema como um meio crucial para os EUA difundirem sua ideologia pelo mundo, criando uma agência governamental para exportar filmes de Hollywood. Durante a Segunda Guerra Mundial, filmes patrióticos e antinazistas foram produzidos.
Grandes Filmes e Gêneros da Década de 1930:
Filmes históricos ou bíblicos: Os Dez Mandamentos (1923), Rei dos Reis (1927), Cleópatra (1934).
Filmes de gângsteres: Little Caesar, The Public Enemy (1931), com destaque para Humphrey Bogart.
Ficção científica e terror: Drácula, Frankenstein (1931).
Comédias: Mae West, Irmãos Marx.
Grandes Sucessos de 1939: O Maravilhoso Mágico de Oz e Gone with the Wind (E o Vento Levou).
Grandes Filmes e Inovações da Década de 1940:
Cidadão Kane (1941) de Orson Welles: Considerado por muitos como o marco do cinema moderno nos EUA, este filme revolucionou com inovações como ângulos de filmagem ousados, narrativa não linear, profundidade de campo, plongée e contra-plongée, elipses temporais radicais e a quebra da "quarta parede" (quando um ator se dirige diretamente ao público).
Casablanca (1943): Um dos maiores sucessos de bilheteria e clássicos que retratou a época da guerra.
It's a Wonderful Life (1946) de Frank Capra.
Listas Negras de Hollywood: Em 1947, o Comitê de Investigação de Atividades Antiamericanas do Senado dos EUA iniciou uma "lista negra", acusando diretores e escritores de promoverem propaganda comunista, o que se estendeu até a década de 1950, incluindo figuras como Charles Chaplin.
A partir da metade do século XX, o cinema passou por intensas transformações, com movimentos que questionaram as fórmulas clássicas e buscaram novas formas de expressão.
Neorrealismo Italiano (Início em 1943):
Contexto: Nasceu como uma reação ao cinema fascista do regime de Mussolini e aos efeitos devastadores da Segunda Guerra Mundial (1939-1945), que alteraram a percepção do mundo sobre a realidade.
Características: Buscava a máxima naturalidade e realismo, com a utilização de atores não profissionais, iluminação natural, filmagens em locações reais e uma forte crítica social.
Importância: É considerado o nascimento do cinema moderno, especificamente com Roma, Cidade Aberta (1945) de Roberto Rossellini.
Conceito-Chave: "Estética da Fome": Termo criado por Glauber Rocha, cineasta brasileiro, que se inspirou nas obras de baixo orçamento do Neorrealismo Italiano. Para Glauber, em um país subdesenvolvido como o Brasil, os parcos recursos se transformavam em estética, uma forma de expressar a realidade da miséria.
Filmes Notáveis: Obsessão (1943), Roma, Cidade Aberta (1945), e o considerado maior representante do gênero, Ladrões de Bicicletas (1948) de Vittorio De Sica.
Chanchadas Brasileiras (Década de 1940):
Contexto: Despontaram com a fundação da Atlântida Cinematográfica no Rio de Janeiro.
Características: Filmes cômicos, musicais e de baixo orçamento, com tramas simples e apelo popular. A ideia da Atlântida era manter uma produção constante em parceria com um circuito exibidor.
Elenco Principal: Oscarito, Grande Otelo e Anselmo Duarte.
Temas: Principalmente o carnaval (Este Mundo é um Pandeiro, Carnaval no Fogo), mas também comédia de costumes e tipos folclóricos cariocas (Nem Sansão Nem Dalila, Matar ou Correr).
Estilo: Possuíam a estética do teatro de revista brasileiro, com narrativa frouxa costurada por números musicais e a incorporação da gag ao novo gênero.
Recepção: Embora o público gostasse, a crítica as considerava ruins (o nome "chanchada" vem da palavra espanhola para "safadeza"). A fórmula eventualmente se esgotou.
Declínio da Era de Ouro e Novas Tecnologias (Década de 1950):
Popularização da Televisão: A chegada da primeira emissora de TV no Brasil, a Tupi, em 1950, fez com que muitos atores do cinema migrassem para a TV. A popularização dos aparelhos de televisão marcou o fim da hegemonia do cinema como principal forma de entretenimento na década de 1960.
Filmes 3-D: Tiveram um breve período de popularidade entre 1952 e 1954.
A Indústria da Vera Cruz (Brasil, 1949):
Fundada em 1949, a Vera Cruz foi um marco na industrialização do cinema brasileiro, com grandes estúdios, equipamentos modernos e a contratação de diretores estrangeiros e elencos fixos. Buscava a estética hollywoodiana.
Exceção Notável para Concursos: O primeiro filme brasileiro a vencer um prêmio internacional no Festival de Cannes saiu dessa produtora: O Cangaceiro (1953), de Lima Barreto.
As comédias de Mazzaropi obtiveram enorme sucesso de público nessa época.
Apesar do sucesso, a Vera Cruz faliu em 1954 devido a dificuldades de distribuição e dívidas.
Nesse mesmo ano, foi lançado o primeiro filme em cores do Brasil: Destino em Apuros, de Ernesto Remani.
Cinema Japonês no Cenário Mundial: Cineastas como Akira Kurosawa (Rashômon, Os Sete Samurais), Kenji Mizoguchi e Yasujiro Ozu projetaram o cinema japonês internacionalmente na década de 1950.
Nouvelle Vague Francesa (Final dos Anos 1950, Início em 1959):
Contexto: Surge como um movimento revolucionário, liderado por colaboradores da revista Cahiers du Cinéma, com o intuito de criar o chamado "cinema de autor", em contraponto ao cinema comercial.
Influências: Inspirou-se no Neorrealismo Italiano e também reconfigurou elementos do cinema clássico hollywoodiano.
Características: Filmes não lineares, repletos de cortes repentinos (quebra da montagem invisível clássica), excelentes diálogos e a consciência do cinema como forma de arte que pode refletir sobre si mesma.
Diretores e Filmes Notáveis: Jean-Luc Godard (O Acossado), François Truffaut (Os Incompreendidos, Jules e Jim), Claude Chabrol.
Cinema Novo Brasileiro (Início dos Anos 1960):
Contexto: Uma leva de jovens cineastas brasileiros começou a questionar a tentativa da indústria de imitar Hollywood. O país passava por um período de ditadura militar.
Influências: Inspirado no Neorrealismo Italiano e na Nouvelle Vague.
Foco: Temáticas populares, com preocupações de cunho social e político, e a busca por um realismo em favor de uma arte autêntica.
Conceito-Chave: "Estética da Fome" (Glauber Rocha): Como mencionado, essa ideia transformava a escassez de recursos em um estilo próprio, com o mote "uma câmera na mão e uma ideia na cabeça".
Diretores e Filmes Icônicos:
Nelson Pereira dos Santos: Considerado um dos precursores do movimento com Rio, 40 Graus (1955) e dirigiu o icônico Vidas Secas (1963).
Glauber Rocha: Um dos maiores cineastas brasileiros, liderou o movimento e dirigiu símbolos do Cinema Novo como Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), Terra em Transe (1967) e O Dragão da Maldade Contra o Santo Guerreiro (1968).
Ruy Guerra (Os Fuzis, 1964) e Joaquim Pedro de Andrade (Macunaíma, 1969).
Cinema Marginal / "Udigrúdi" (Final dos Anos 1960 e Início dos Anos 1970):
Contexto: Em pleno regime militar, esse grupo de cineastas optou por um movimento mais radical, em paralelo ao Cinema Novo.
Características: Propunha a "estética do lixo", rejeitava as fórmulas narrativas tradicionais e buscava um cinema experimental.
Termo: "Udigrúdi" é uma brincadeira com a palavra underground, que denominava os artistas da contracultura norte-americana.
Principais Expoentes: Rogério Sganzerla (O Bandido da Luz Vermelha) e Júlio Bressane (Matou a Família e Foi ao Cinema).
A trajetória do cinema brasileiro é marcada por ciclos de fomento e desmonte, que influenciaram diretamente sua produção e reconhecimento.
A Era Embrafilme (1969-1990):
Criação: A Empresa Brasileira de Filmes (Embrafilme) foi criada em 1969 com o objetivo de financiar as produções cinematográficas que se alinhassem às exigências do governo militar.
Estrutura: Sob controle estatal e regulamentada pelo Conselho Nacional de Cinema (Concine), a Embrafilme visava promover a conquista de mercado pelo cinema brasileiro, embora os filmes fossem aprovados por censura.
Sucessos de Bilheteria: A exibição de longas nacionais foi estimulada, resultando em êxitos como Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto, que deteve um recorde de público (10,7 milhões de espectadores) superado apenas em 2010 por Tropa de Elite 2. As comédias dos Trapalhões também atraíram milhares de pessoas.
Pornochanchadas (Década de 1970): Paralelamente, os cineastas paulistanos da Boca do Lixo produziam as pornochanchadas, filmes inspirados em comédias italianas com muito conteúdo erótico. A mistura de humor e erotismo tornou o gênero popular, aproveitando a reserva de mercado para filmes nacionais, mas decaiu com a popularização do pornô hardcore nos anos 1980.
A Crise dos Anos 1980:
Fatores: A popularização do videocassete e a deterioração da situação econômica do país (dívida externa, falta de recursos) levaram o cinema nacional ao declínio. Cineastas não tinham verba para produzir, e espectadores não podiam pagar ingressos.
Resistência: Proprietários de salas de cinema passaram a lutar contra a lei de obrigatoriedade de exibição de filmes brasileiros.
Nova Geração: Surgiu uma nova geração de cineastas em São Paulo (Sérgio Bianchi, Eduardo Coutinho – Cabra Marcado Para Morrer), cujos filmes se limitavam, contudo, ao público de festivais como o Festival de Gramado, o mais importante do país na época.
O Desmonte (1990):
Com a eleição de Fernando Collor em 1990, a Embrafilme cessou suas atividades. O presidente também extinguiu o Ministério da Cultura, o Concine e a Fundação do Cinema Brasileiro, acabando com as leis de incentivo à produção e a regulamentação do mercado.
Impacto: Em 1992, ano do impeachment de Collor, apenas três filmes brasileiros foram lançados nos cinemas, evidenciando a difícil situação da produção.
A Retomada (1992-2003):
Início: O período entre 1992 e 2003 é conhecido como a Retomada do cinema brasileiro.
Fomento: O governo Itamar Franco criou a Secretaria para o Desenvolvimento do Audiovisual, que regulamentou a Lei do Audiovisual, possibilitando a produção de centenas de filmes nacionais. O primeiro filme realizado por meio desse recurso foi Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1994), de Carla Camurati.
Sucesso e Reconhecimento Internacional:
Grandes destaques desse período incluem O Quatrilho (1995) de Fábio Barreto, O Que é Isso, Companheiro? (1997) de Bruno Barreto, e Central do Brasil (1998) de Walter Salles. Todos foram indicados ao Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em anos consecutivos.
Exceção Notável para Concursos: Central do Brasil (1998) também rendeu a Fernanda Montenegro uma indicação ao Oscar de Melhor Atriz, tornando-a a primeira latino-americana, a única brasileira e a única atriz já indicada ao prêmio por uma atuação em língua portuguesa.
Conceito-Chave: "Cosmética da Fome": Segundo Ivana Bentes, a Retomada trouxe essa "cosmética da fome" para designar a estetização da miséria nas telas brasileiras. Essa estética projetou os filmes nacionalmente, mas não conseguiu atrair o público brasileiro aos cinemas de forma massiva, que ainda lutavam contra a dominação do mercado por distribuidoras estrangeiras.
Globo Filmes: Uma empresa de grande sucesso nessa fase, expandindo os negócios da televisão para o cinema e conquistando bilheterias milionárias, principalmente com comédias. Em 2003, filmes com participação da Globo foram responsáveis por 90% das receitas de bilheteria do cinema brasileiro.
Fim da Retomada: O longa Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles, marcou o fim da Retomada, com quatro indicações ao Oscar (melhor diretor, roteiro adaptado, direção de fotografia, edição) e um Globo de Ouro de melhor filme estrangeiro. Seu sucesso de crítica e público deu novo fôlego ao cinema contemporâneo brasileiro.
A Pós-Retomada (2003-Presente):
Consolidação: Nesse período, os filmes brasileiros se consolidaram como opções "vendáveis" no mercado.
Grandes Fenômenos: Cidade de Deus abriu portas para produções como Carandiru (2003) de Hector Babenco, e Tropa de Elite (2007) de José Padilha. Tropa de Elite foi um dos maiores fenômenos nacionais, ganhando fama por cópias piratas e, posteriormente, conquistando o público nos cinemas pelo "boca a boca".
Estética Popular: Comédias populares como De Pernas pro Ar (2010) e Minha Mãe é uma Peça (2013) adotaram uma estética que mesclava programas da Globo e blockbusters hollywoodianos para atrair grandes massas.
Cinema Independente e Reconhecimento Internacional: Paralelamente ao sucesso comercial, produções independentes brasileiras ganham cada vez mais espaço em festivais internacionais, com destaque para cineastas como Kleber Mendonça Filho (Aquarius, O Som ao Redor), Anna Muylaert (Que Horas Ela Volta?), Karim Aïnouz, Petra Costa, entre outros.
Desafios Atuais (Pós-2016): As crises econômicas e políticas no Brasil, com a ameaça de extinção do Ministério da Cultura, têm surtido efeitos negativos sobre as políticas de fomento público.
Novas Oportunidades: O meio digital proporcionou uma "democracia" em termos de produção e custos. Além disso, a Lei nº 12.485 (a partir de 2013) obriga canais por assinatura a exibir conteúdo nacional e produção independente em horário nobre. Negociações sobre streaming para conteúdo audiovisual brasileiro também seguem.
Apesar da influência de filmes estrangeiros no mercado interno, as iniciativas para o fomento da indústria e a busca por profissionalização estão se ampliando. Em 2017, o público de filmes nacionais ultrapassou 17 milhões de espectadores, gerando R$ 240 milhões.
A tecnologia sempre esteve no cerne da evolução cinematográfica, e a transição para o digital representa uma das mudanças mais profundas, redefinindo produção, distribuição e consumo.
As Gerações da Imagem em Movimento: Estamos vivendo a quarta ou quinta geração da imagem em movimento: preto e branco, colorida, eletrônica e, atualmente, digital. A televisão, fotografia e cinema tendem a migrar para sistemas digitais.
O Que é a Imagem Digital?
Ao contrário da imagem analógica, a imagem digital oferece o controle de cada um de seus elementos mínimos constitutivos: os pontos ou pixels (abreviação de picture element).
Cada pixel é codificado ou decodificado em termos de números (zeros e uns, em códigos binários), formando uma matriz numérica. Isso permite controle preciso sobre a crominância (cores) e luminância (quantidade de luz) de cada ponto.
A digitalização abriu imensos campos de trabalho com imagens, como videogames e imagens de síntese (imagens construídas artificialmente a partir de matrizes numéricas, como as vinhetas da Globo).
Efeitos Especiais e Modelagem Digital:
Na computação gráfica, programas automatizam operações de cálculo, permitindo a criação e manipulação de imagens sem necessidade de conhecimento avançado em matemática.
As imagens digitais são amplamente usadas em efeitos especiais no cinema, tomografias computadorizadas e realidade virtual.
"Caixas Pretas Digitais": Equipamentos como o chromakey e o ADO tornaram possíveis efeitos antes impensáveis.
Chromakey: Permite anular um fundo colorido (geralmente azul ou verde) e inserir a personagem em outra imagem, modelando-a por meio de cores.
ADO (Ampex Digital Optics): Caixas pretas para efeitos visuais, permitindo alterar os eixos X, Y e Z da imagem.
TBC (Timing Basic Correct): Permite corrigir e controlar cada uma das linhas que constituem a imagem eletrônica, algo impossível com fotogramas em cinema e fotografia.
Evolução da Modelagem: Da fotografia (molde fixo) ao cinema (molde móvel), à imagem eletrônica (molde móvel com interferência via caixas pretas), e à imagem digital, onde a modelagem é virtualmente ilimitada e o único limite é a imaginação.
Integração de Mídias e Desafios Tecnológicos:
Uso do Vídeo na Produção Cinematográfica: Filmes como 2001: Uma Odisseia no Espaço (final dos anos 60) já usavam o vídeo para criar imagens específicas e o video-assiste (equipamento de vídeo acoplado à câmera cinematográfica para visualização imediata).
HDTV (High Definition Television): Antonioni, no final dos anos 70, fez um filme usando televisão de alta definição (HDTV), transferindo as imagens de fita magnética para película (processo de quinescopagem). Apesar de a HDTV já existir há 15 anos em 1999 (data do texto), sua implantação comercial era travada por problemas políticos e de padrão entre conglomerados.
O Fim do Suporte Físico (Tese de André Parente): O autor sugere que suportes como a película e o magnético são fases transitórias. No futuro, a imagem cinematográfica tende a ser absolutamente virtual, existindo em memórias eletrônicas digitais (discs-laser, redes de comunicação). A imagem se transforma em informação, em números e dados, assim como o texto.
Pós-Produção Totalmente Digital: Atualmente, o digital está entrando lentamente para a produção de efeitos especiais. Filmes como A Última Tempestade, de Peter Greenaway, já foram retrabalhados massivamente usando processos digitais antes da transferência para película.
Custos e Futuro da Exibição: A transferência de imagens digitais para película (necessária para salas de cinema tradicionais) ainda é um processo caro, que consome grande quantidade de memória (cerca de 20 megabytes por imagem). Contudo, a tendência é que, com o desenvolvimento de dispositivos de exibição de alta resolução, a passagem para um suporte hardcopy (físico, como a película) não seja mais necessária, permitindo o uso de memórias eletrônicas digitais do início ao fim do processo.
Novas Possibilidades de Linguagem e Interação:
Modelagem Ilimitada: No cinema digital, é possível reiluminar, reenquadrar sem perdas de definição, refocar, modificar cores, corrigir defeitos, remodelar totalmente uma imagem (mudando até cor de pele, olhos, cabelo), pois há controle sobre cada pixel.
Acesso e Visualização Ativa: Imagens digitais podem ser acessadas via computador ou rede, permitindo ao usuário modelar a própria visualização (diminuir/aumentar quadro, mudar cores).
Rede e Realidade Virtual (RV): A interconexão de memórias eletrônicas em rede e a realidade virtual (com capacete, macacão, luvas para imersão e interação) expandem o uso do computador, permitindo que o usuário entre no espaço da imagem e interaja em tempo real.
Vantagens da Digitalização:
Durabilidade e Fidelidade: Cópia é igual ao original, garantindo maior durabilidade e cópias equivalentes, sem perda de geração em edições.
Acesso à Distância: Com cabeamento óptico e satélites, o acesso a imagens em movimento à distância será plenamente possível.
Interatividade: Diferente da imagem analógica, a digital permite interatividade.
Hibridização: Possibilita a criação de amálgamas de diversos meios (fotografia, cinema, vídeo, desenho animado).
Restauração: Facilidade extraordinária na restauração de imagens, com modificação de cores, foco e outros aspectos.
Modelagem Ilimitada: O processo de modelagem da imagem digital nunca acaba: da produção à pós-produção e até a visualização, o usuário pode continuar a remodelar a imagem.
Debates e Reflexões sobre a Era Digital:
Perda de Referência: A desvantagem de uma imagem que pode ser remodelada à vontade é que ela "perde seu poder de revelação e de referência", pois ninguém mais a creditará como preexistente, tratando-a como auto-referente. Isso gera uma "imagem virtual", muitas vezes "fruto de condicionamentos, de convenções, de verdades preestabelecidas".
Impacto Ético e Filosófico: Essa "despotencialização" da imagem pode ter aspectos positivos (fabulação infinita) e negativos (congelamento, impedimento do novo).
Tecnologia como Ferramenta: O virtual e o digital não são intrinsecamente melhores ou piores. Embora abram muitas possibilidades técnicas, há o risco de serem usados apenas para aprimorar modelos superados e consolidar o que já é hegemônico. Para uma nova estética e visão de mundo, é preciso que os artistas tenham algo a dizer, não apenas elogiar a tecnologia. A interatividade, se for apenas do tipo estímulo-resposta de videogames, é considerada pobre.
Conhecer os filmes mais influentes e as maiores bilheterias é fundamental para uma compreensão completa da história do cinema brasileiro.
As Maiores Bilheterias Brasileiras por Década:
Anos 1970:
Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto.
A Dama do Lotação (1978), de Neville de Almeida.
O Trapalhão nas Minas do Rei Salomão (1977), de J.B. Tanko.
Lúcio Flávio, o Passageiro da Agonia (1977), de Hector Babenco.
Os Trapalhões na Guerra dos Planetas (1978), de Adriano Stuart.
Anos 1980:
Os Saltimbancos Trapalhões (1981), de J. B. Tanko.
Os Trapalhões na Serra Pelada (1982), de J. B. Tanko.
Anos 1990:
Lua de Cristal (1990), de Tizuka Yamasaki.
Anos 2000:
Se Eu Fosse Você 2 (2009), de Daniel Filho.
Dois Filhos de Francisco (2005), de Breno Silveira.
Carandiru (2003), de Hector Babenco.
Anos 2010 (filmes com mais de 4 milhões de espectadores, em ordem cronológica):
Os Dez Mandamentos – O Filme (2016), de A. Avancini.
Tropa de Elite 2: O Inimigo Agora é Outro (2010), de José Padilha.
Minha Mãe é Uma Peça 2 (2016), de César Rodrigues.
De Pernas pro Ar 2 (2012), de Roberto Santucci.
Nosso Lar (2010), de Wagner de Assis.
20 Filmes Imperdíveis da História do Cinema Brasileiro (Segundo Lucilene Pizoquero, Professora da AIC):
Barro Humano (1929), de Adhemar Gonzaga.
Sangue Mineiro (1929), de Humberto Mauro.
Limite (1931), de Mário Peixoto.
Ganga Bruta (1933), de Humberto Mauro.
Carnaval Atlântida (1953), de José Carlos Burle e Carlos Manga.
Sinhá Moça (1953), de Tom Payne e Oswaldo Sampaio.
O Cangaceiro (1954), de Lima Barreto.
O Pagador de Promessas (1962), de Anselmo Duarte.
Deus e o Diabo na Terra do Sol (1964), de Glauber Rocha.
São Paulo, Sociedade Anônima (1965), de Luiz Sérgio Person.
Terra em Transe (1967), de Glauber Rocha.
O Bandido da Luz Vermelha (1968), de Rogério Sganzerla.
Matou a Família e Foi ao Cinema (1969), de Júlio Bressane.
O Homem que Virou Suco (1981), de João Batista de Andrade.
Cabra Marcado para Morrer (1984), de Eduardo Coutinho.
Central do Brasil (1998), de Walter Salles.
Notícias de uma Guerra Particular (1999), de João Moreira Salles e Kátia Lund.
O Invasor (2002), de Beto Brant.
Cidade de Deus (2002), de Fernando Meirelles.
Jogo de Cena (2007), de Eduardo Coutinho.
Para solidificar seu aprendizado e preparar-se para qualquer avaliação, é fundamental dominar os conceitos e termos técnicos mais importantes.
Cinema Clássico:
Definição Historiográfica: Abrange um período que vai do nascimento do cinema (1895) até o início do movimento neorrealista italiano (década de 1940).
Características Estilísticas: Narrativas lineares com início, meio e fim bem definidos e encerramento fechado. Buscava gerar uma certa "magia", ocultando os artifícios cinematográficos (montagem "invisível", o público não sente cada corte). Personagens geralmente maniqueístas (bem definidos entre "bons" e "maus"). Eram comuns os finais felizes e/ou conciliatórios, especialmente no cinema hollywoodiano. A câmera era mais estática, e a música contribuía para a relação catártica do espectador com o filme, sem "quebra da quarta parede" (atores não se dirigem ao público). A Era de Ouro de Hollywood é um período clássico.
Exemplos: Filmes de John Ford (No Tempo das Diligências), Ernst Lubitsch (Ladrão de Alcova), Charles Chaplin (Tempos Modernos), Akira Kurosawa (Os Sete Samurais), Alfred Hitchcock (Os 39 Degraus) – que transitou entre clássico e moderno. Muitos filmes da Era de Ouro de Hollywood são clássicos: ...E o Vento Levou (1939), Casablanca (1942), Cantando na Chuva (1952), Psicose (1960).
Cinema Moderno:
Definição Historiográfica: Nasce com o Neorrealismo Italiano (especificamente com Roma, Cidade Aberta, 1945). É uma transição e reinvenção do cinema clássico.
Características Estilísticas: Quebra de padrões e regras do cinema clássico. Personagens mais complexos, multifacetados, menos maniqueístas. A câmera ganha mobilidade e o movimento torna-se um grande vetor. A montagem não cria necessariamente um percurso linear e os finais são frequentemente abertos. Há maior fidelidade à ideia de vida real e uma noção acurada do cinema como uma forma de arte que pode refletir sobre si própria.
Exemplos: Cidadão Kane (1941) de Orson Welles (considerado por muitos um clássico e um marco do moderno), Sombras (John Cassavettes), Os Incompreendidos (François Truffaut), O Acossado (Jean-Luc Godard), A Doce Vida (Federico Fellini), Vidas Secas (Nelson Pereira dos Santos), Deus e o Diabo na Terra do Sol (Glauber Rocha).
Diferença entre Cinema Clássico e Moderno: A principal diferença é a liberdade do cinema moderno de se reinventar, quebrar supostas regras e buscar experiências mais múltiplas e íntimas. Enquanto o clássico buscava envolver o espectador em um universo mágico e ilusório, o moderno surgiu com preocupações mais profundas, refletindo sobre sua própria natureza e papel social, convidando o espectador a meditar sobre o processo durante a sessão.
Estética da Fome: Termo cunhado por Glauber Rocha para descrever a abordagem do Cinema Novo brasileiro, inspirada no Neorrealismo Italiano. Transformava os parcos recursos financeiros em uma linguagem estética para retratar a realidade do subdesenvolvimento e da miséria no Brasil.
Cosmética da Fome: Termo proposto por Ivana Bentes para descrever a estetização da miséria nas telas brasileiras durante o período da Retomada. Embora tenha projetado filmes nacionalmente, não atraiu o público brasileiro de forma massiva.
Monopólio da MPPC: A Motion Pictures Patents Company, de Thomas Edison, que tentou controlar a indústria cinematográfica nos EUA no início do século XX, impedindo a concorrência e o uso de suas tecnologias.
Star System: Sistema de promoção de estrelas de cinema, desenvolvido pelos estúdios de Hollywood na Era de Ouro, para consolidar a popularidade de atores e, por consequência, a ideologia dos estúdios.
Quebra da Quarta Parede: Recurso narrativo em que um personagem reconhece ou se dirige diretamente ao público, rompendo a ilusão de que as ações do filme não são reais. Era incomum no cinema clássico e tornou-se uma das inovações do cinema moderno.
Glossário de Termos Técnicos Digitais:
ADO (Ampex Digital Optics): Caixas pretas para realização de efeitos especiais digitais em ilhas de edição, permitindo a criação de uma vasta gama de efeitos visuais por meio de alterações nos eixos X, Y e Z da imagem.
Chromakey: Pode designar a "caixa preta" ou os efeitos que ela permite, como a incrustação de partes de uma imagem sobre outra pela anulação de uma cor (geralmente azul ou verde).
Hardcopy: Qualquer forma de sinal de saída impresso ou que se inscreve de forma tangível em um suporte físico (ex: imagens impressas, película fotográfica/cinematográfica, fitas cassete). É uma imagem passiva, que não pode ser alterada pelo modo de visualização.
HDTV (High Definition Television): Televisão de alta definição, com imagens de resolução quase fotográfica. Sua implantação comercial tem sido dificultada por questões de padronização entre empresas.
Imagem Digital: Imagem obtida pela digitalização de cada pixel, atribuindo números a eles com base em sua crominância e luminância. Pode ser uma imagem analógica digitalizada ou uma imagem de síntese.
Imagem de Síntese: Imagem obtida por meio da síntese de matrizes numéricas, gerada artificialmente (não capturada do real). Utilizada em videogames, simuladores de voo, vinhetas e efeitos especiais. É dita virtual por não remeter a um "real preexistente".
Output: Sinal de saída de vídeo ou computador.
Pixel: Abreviação de picture element. É a menor unidade de uma imagem eletrônica, seja digital ou analógica.
Softcopy: Imagem virtual cujo "suporte" é o disco ou a memória de um computador. A imagem não se confunde com o suporte físico, sendo intangível e ativa, podendo ser alterada pelo modo de visualização e interação do usuário.
Quinescopagem: Processo de transferência de uma imagem eletrônica (vídeo ou TV) para a película cinematográfica.
Video-assiste: Equipamento acoplado à câmera cinematográfica que permite visualizar imediatamente o que foi filmado, um avanço em relação à espera pela revelação da película.
O Cinema em Constante Reinvenção
A história do cinema é um testemunho da capacidade humana de inovar e se expressar. Desde os experimentos de Muybridge, a curiosidade de Edison e a invenção dos Irmãos Lumière, que deram o "pontapé inicial" em 1895, a sétima arte tem se reinventado continuamente.
Atravessou fases de silêncio e glória em Hollywood, passou por movimentos revolucionários de crítica social e experimentação como o Neorrealismo Italiano, a Nouvelle Vague e o Cinema Novo brasileiro. Enfrentou crises e renascimentos, como a Retomada no Brasil, e agora se posiciona na vanguarda da era digital, onde a imagem se torna cada vez mais manipulável e virtual.
O cinema de hoje, influenciado por filmes estrangeiros e impulsionado por iniciativas de fomento e profissionalização, busca um equilíbrio entre o sucesso comercial e o reconhecimento artístico internacional. Embora a tecnologia digital abra possibilidades ilimitadas de modelagem e acesso, ela também levanta questões sobre a natureza da imagem e sua relação com a realidade.
Independentemente dos desafios e das constantes transformações tecnológicas e culturais, a paixão pela tela e a busca por contar histórias permanecem como o coração da sétima arte, garantindo que o cinema continue a evoluir e a cativar espectadores em todo o mundo.