O estudo da Literatura Brasileira é essencial para compreender a formação social e cultural do país, pois cada estética literária reflete diretamente os acontecimentos de sua época. A progressão das escolas literárias segue uma ordem cronológica que, didaticamente, parte das primeiras documentações coloniais (Séc. XVI) e evolui através de rupturas, reações e amadurecimentos formais até a multiplicidade da contemporaneidade (Séc. XXI).
Priorizaremos a seguir os períodos de maior incidência em provas: Arcadismo (pelo contexto político da Inconfidência Mineira), Realismo (pelo fenômeno Machado de Assis), Modernismo (pela Semana de 22 e a 3ª Geração, com Clarice e Rosa) e a Literatura Contemporânea.
Apresentamos a seguir as principais Escolas Literárias em ordem cronológica e didática, do mais antigo e descritivo ao mais recente e psicologicamente complexo:
O Quinhentismo, que designa a fase inicial das letras no Brasil, ocorreu durante o século XVI. Este período tem maior valor histórico do que artístico, mas serviu como fonte de inspiração para estéticas posteriores, como o Romantismo e o Modernismo.
O período é marcado pelas Grandes Navegações e a "Conquista" das Américas. No Brasil, iniciou-se com o "Descobrimento" e a instalação das Capitanias Hereditárias (1534), focando na exploração do pau-brasil e a presença dos jesuítas a partir de 1549. A vida social se desenvolveu em torno da exploração da colônia pela metrópole portuguesa.
O Quinhentismo se divide em duas linhas distintas: Literatura de Informação e Literatura de Formação (ou de Catequese).
Vertente | Foco | Características | Autores e Obras Principais |
Literatura de Informação | Documentação do processo colonizador e descrição da terra. | Caráter descritivo, sem preocupação estética. Rica fonte temática para autores posteriores. | Pero Vaz de Caminha (Carta de achamento do Brasil). Hans Staden (Duas viagens ao Brasil). |
Literatura de Formação/Catequese | Evangelização dos nativos. | Textos de cunho pedagógico e moral, com o objetivo de difundir o Catolicismo. Presença de símbolos religiosos. | Padre José de Anchieta (poeta e dramaturgo, autor de autos como Na festa de São Lourenço, e gramática da língua tupi). Manuel da Nóbrega (Diálogos sobre a Conversão do Gentio). |
Dúvida Comum: O Quinhentismo é considerado literatura? R: Embora a Literatura de Informação não tivesse uma "preocupação estética" clara, ela é vital por ser o registro histórico e linguístico do período e por ter fornecido a base temática (o índio, a natureza) para a literatura verdadeiramente brasileira que surgiria depois (Romantismo).
O Barroco, situado no século XVII, é a expressão de um Homem em Conflito, marcado por grandes contradições e um intenso dualismo.
Arte de contrastes e oposições: Uso intenso de antíteses e paradoxos.
Dualismo: Conflito entre o Teocentrismo (fé) e o Antropocentrismo (razão).
Linguagem Rebuscada: Caracterizada pelo ornamentalismo, riqueza de detalhes e inversões sintáticas (hipérbato).
Cultismo (Poesia): Foco nos jogos de palavras e na forma.
Conceptismo (Prosa): Foco nos jogos de ideias e no raciocínio complexo.
Os principais nomes do Barroco, altamente cobrados em provas, são:
Gregório de Matos Guerra: Conhecido por sua poesia (lírica, religiosa e satírica).
Padre Antônio Vieira: Famoso por seus sermões (Conceptismo na prosa).
O Arcadismo, também conhecido como Neoclassicismo, ocorreu no Brasil no século XVIII.
O Arcadismo desenvolveu-se durante o ciclo do ouro no Brasil, tendo Vila Rica (atual Ouro Preto, MG) como um dos principais centros comerciais e artísticos da época.
O Ponto de Exceção (Conteúdo Político): O movimento dialogou diretamente com a Inconfidência Mineira, um movimento separatista. Vários poetas neoclássicos, como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa, foram líderes e participaram ativamente dessa conspiração. Após a delação de Joaquim Silvério dos Reis, eles foram presos, o que levou ao exílio de Gonzaga em Moçambique e, segundo fontes oficiais, ao suicídio de Costa na prisão.
O Arcadismo no Brasil teve forte influência europeia e do Iluminismo francês. Em contraste com o Barroco, ele prezava pela maior simplicidade estilística e racionalidade. Os poemas líricos eram escritos segundo os seguintes preceitos latinos, frequentemente presentes nas questões de múltipla escolha:
Inutilia truncat (Cortar o inútil): A poesia deveria abandonar a linguagem rebuscada, os paradoxos, antíteses e jogos sintáticos típicos do Barroco, favorecendo a linguagem simples e clara.
Fugere urbem (Fugir da cidade): A cidade era vista como um espaço negativo, cheio de ilusões e conflitos, que impedia o homem de atingir a plenitude. Assim, era necessário fugir do ambiente urbano.
Locus amoenus (Lugar ameno): O campo, o espaço bucólico, era o local ideal onde o homem poderia encontrar sua plenitude, longe dos conflitos urbanos.
Carpe diem (Aproveitar o dia): É o convite para viver o presente, em harmonia com a natureza, frequentemente retratando o poeta como um pastor (pastoralismo).
Aurea mediocritas (Equilíbrio do ouro/Vida simples): A vida de luxo e ostentação deveria ser evitada. O poeta exalta uma vida simples, com equilíbrio, sem miséria nem riqueza.
O marco inicial do Arcadismo no Brasil foi o livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, em 1768. As obras árcades se dividem em produções líricas, satíricas e épicas.
Gênero | Autor Principal | Obra Chave | Detalhe Crucial |
Lírico | Tomás Antônio Gonzaga | Marília de Dirceu (1792) | O poeta assume a postura de pastor e idealiza a realidade (pastoralismo). |
Satírico | Tomás Antônio Gonzaga (pseudônimo: Critilo) | Cartas Chilenas (1863) | Críticas diretas e anônimas (na época) ao então governador de Minas Gerais, Luís da Cunha Pacheco e Meneses (chamado de Fanfarrão Minésio). |
Épico | Basílio da Gama | O Uraguai (1769) | Épicas brasileiras que iniciaram a reflexão sobre a identidade e as características do povo brasileiro. |
Épico | Santa Rita Durão | Caramuru (1781) | Constrói um retrato literário de momentos fundamentais da formação do povo brasileiro. |
O Romantismo, que surgiu após a Revolução Francesa, é a estética da Supervalorização do amor e da Liberdade.
O Romantismo coincide com a Proclamação da Independência (1822) e o período imperial no Brasil. A estética é marcada por:
Subjetividade e Sentimentalismo exagerado.
Fuga da Realidade e tendência à idealização.
Nacionalismo (no Brasil, mais ufanista) e Exaltação da Natureza.
Idealização da mulher e do amor.
Romantismo vs. Classicismo (Diferença Crucial): O Romantismo valoriza a Idade Média, o Teocentrismo e o Sentimentalismo, opostos ao Antimedievalismo, Antropocentrismo e Racionalismo do Classicismo.
A poesia romântica brasileira se divide em três gerações, essenciais para a compreensão do período:
1ª Geração (Indianista e Nacionalista): Foco na busca por uma identidade nacional. O índio é idealizado como herói nacional.
Autor: Gonçalves Dias (Canção do exílio, Os timbiras).
2ª Geração (Ultrarromântica ou Byroniana): Marcada pelo egocentrismo, pessimismo, melancolia e forte tendência depressiva. O tema da morte e o sofrimento amoroso são recorrentes.
Autor: Álvares de Azevedo (Lira dos vinte anos).
3ª Geração (Condoreira ou Social): Caracterizada pela crítica sociopolítica e menos idealização. Seu principal tema foi o abolicionismo (Condoreirismo).
Autor: Castro Alves (Os escravos, Espumas flutuantes).
A prosa se diversificou em romance indianista (O guarani, Iracema), romance urbano (retratando a vida burguesa no Rio de Janeiro, como Senhora), e romance regionalista (A escrava Isaura).
Autor central: José de Alencar (Indianista: O guarani, Iracema; Urbano: Lucíola, Senhora).
Obras de Destaque: Memórias de um sargento de milícias (Manuel Antônio de Almeida).
O Realismo e o Naturalismo surgem em meados do século XIX na Europa como uma reação aos exageros sentimentais dos românticos. Eles buscam o retrato fiel da realidade, maior objetividade e racionalidade.
O período é marcado pela consolidação da Revolução Industrial, o crescimento urbano, e a ascensão de novas correntes de pensamento, como o Positivismo (Comte), o Evolucionismo (Darwin) e o Determinismo (Taine).
O marco inicial no Brasil é a publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.
Características: Busca do objetivismo, descrições detalhadas, críticas às instituições sociais e aos valores burgueses, e subordinação do amor aos interesses sociais. Os personagens são mostrados como pessoas comuns, com elaboração psicológica trabalhada.
Machado de Assis (1839-1908) é considerado o principal autor do Realismo no Brasil, sendo uma figura central em todos os concursos e vestibulares.
Estilo Inovador: A partir de Memórias Póstumas de Brás Cubas (sua segunda fase, mais madura), ele desenvolve uma ironia feroz, humor velado e amargo.
Análise Psicológica Profunda: Foco na análise psicológica (microrrealismo) e o universalismo.
Outras Obras Essenciais: Quincas Borba (1891), Dom Casmurro (1899), Esaú e Jacó (1904) e Memorial de Aires (1908).
O Naturalismo teve seu início no Brasil em 1881, com a publicação de O Mulato, de Aluísio Azevedo.
Características Chave (Diferenças do Realismo): O Naturalismo aplica o cientificismo de forma mais rígida.
Defesa das teses deterministas: O ser humano é visto como produto do meio, da raça e do momento.
Zoomorfização do homem: O ser humano é mostrado como animal.
Temas sombrios: Foco em patologias sociais, sensualismo e erotismo.
Outras Obras Essenciais: O Cortiço (1890), de Aluísio Azevedo, e O Ateneu, de Raul Pompeia.
Dúvida Comum: Realismo vs. Naturalismo? | Realismo | Naturalismo |
Foco na Personagem | Elaboração psicológica trabalhada (o interior). | O ser humano como animal, foco na patologia. |
Ênfase | Crítica social aos valores burgueses. | Ênfase na coletividade e nas teses deterministas. |
O Modernismo (Século XX) é o período de maior Ruptura estética com o passado, começando com uma fase de transição (Pré-Modernismo) e culminando na revolução estética da Semana de 22.
Este período (início do Séc. XX) atua como transição entre o academicismo do século XIX e a Revolução Modernista.
Características: Visão crítica da realidade nacional, retrato de tipos humanos marginalizados e temáticas mais regionais do que urbanas.
Autores (Muito Cobrados em Questões de Contexto):
Euclides da Cunha (Os sertões).
Lima Barreto (Recordações do escrivão Isaías).
Monteiro Lobato (contista, Urupês).
A revolução estética começa com a Semana de Arte Moderna (1922), realizada no Theatro Municipal de São Paulo.
Objetivo: Romper com a arte acadêmica, o tradicionalismo, e especialmente o modelo parnasiano (crítica severa ao Parnasianismo).
Características: Humor, irreverência, busca por formas mais livres de expressão, valorização da linguagem coloquial e das temáticas nacionais, e influência das vanguardas europeias.
Autores Centrais da Semana de 22: Mário de Andrade (Pauliceia desvairada, Macunaíma), Oswald de Andrade (Pau-brasil, Memórias sentimentais de João Miramar), e Manuel Bandeira (Libertinagem, que teve Os Sapos lido no evento, criticando o Parnasianismo).
Esta fase é marcada pelo amadurecimento formal e estilístico.
Prosa (Romance Regionalista de 30): Engajamento nas questões sociais. Autores focam nas problemáticas regionais e na vida do Nordeste.
Autores: Graciliano Ramos (Vidas secas, Angústia), Rachel de Queiroz (O quinze), Jorge Amado (Capitães da areia).
Poesia: Carlos Drummond de Andrade, Cecília Meireles, Vinícius de Moraes.
A prosa e a poesia desta fase (pós-1945) buscam uma literatura intimista, psicológica e introspectiva. O ano de 1945 marca a morte de Mário de Andrade, mas não o fim das conquistas estéticas do Modernismo.
O Conteúdo Mais Complexo e Prioritário (Concursos e Vestibulares): A Geração de 45 (incluída na 3ª Geração) é vital pelo seu aprofundamento psicológico e renovação formal.
Foco: Reinvenção do regionalismo. Seu sertão é universalizado, mergulhando no psicológico do homem do sertão.
Linguagem: Propõe uma revolução formal e estilística com experimentalismos diversos, misturando neologismos a arcaísmos e coloquialismos, buscando precisão na palavra.
Obras: Grande Sertão: Veredas (romance) e Sagarana (contos).
Foco: Literatura introspectiva e intimista. O fundamental acontece no interior das personagens (o tempo e espaço são secundários).
Estilo: Marcada pelo "fluxo de consciência" (fusão de falas, narrativas e pensamentos) e o monólogo interior. Utiliza a epifania (revelação provocada por um elemento cotidiano) para alterar a percepção da realidade e do próprio personagem.
Obras: Laços de Família, ***A paixão segundo G. H.***, A hora da estrela.
A Literatura Contemporânea abrange obras escritas desde meados do século 20, por volta da década de 60, até os dias atuais. É o conteúdo mais incidente em Literatura no ENEM.
No Brasil, o período começa em meio a um cenário de grande desenvolvimento, mas é marcado pela Ditadura Militar (com censura), manifestações artísticas como a Tropicália, e posteriormente, o movimento pelas Diretas Já.
A estética contemporânea é um reflexo das complexidades do mundo moderno, caracterizada por uma pluralidade e mistura de tendências.
Pluralidade e Diversidade: Abraça a multiplicidade de estilos e gêneros, com uma forte expressão da pluralidade cultural e da diversidade de identidades.
Narrativas Fragmentadas e Não Lineares: Diferente das estéticas anteriores, frequentemente adota estruturas narrativas que saltam no tempo e exploram diferentes perspectivas, capturando a natureza fragmentada da experiência humana.
Experimentação Linguística: Autores usam neologismos, coloquialismos e jogos de palavras (tendência já identificada em Modernistas como Guimarães Rosa).
Temas Atuais: Abordagem de questões sociais, políticas, econômicas e tecnológicas, servindo como um espelho da sociedade.
União do Erudito com o Popular: Referências culturais variadas, misturando a "alta cultura" com manifestações populares e cultura de massas (incluindo redes sociais).
Formatos Reduzidos: Destaque para minicrônicas, minicontos e poesias curtas, alinhando-se à dinâmica da vida moderna e à era da informação rápida.
Novas Tendências: Inclui o Hibridismo de gêneros (mesclando fantasia, ficção científica, realismo mágico) e a Autoficção (mistura de elementos autobiográficos com ficção).
Gênero | Vertente | Autor(es) Essencial(is) | Obra/Característica |
Prosa | Romance Contemporâneo | Milton Hatoum (Dois Irmãos). Raduan Nassar. | Narrativas que refletem a complexidade da vida moderna e problemáticas sociais. |
Prosa | Conto e Crônica | Rubem Fonseca, Dalton Trevisan. Rubem Braga (Cronista de destaque). | Contos curtos e reflexões subjetivas sobre o cotidiano. |
Poesia | Poesia Social | Ferreira Gullar. | Aborda questões sociais e políticas. Gullar explorou o Poema sujo durante o exílio na ditadura. |
Poesia | Poesia Marginal | Paulo Leminski, Cacaso, Chacal. | Origem em movimentos contraculturais, irreverência e contestação. |
Teatro | Teatro Contemporâneo | Nelson Rodrigues (Vestido de Noiva, 1943). | Explora a psique humana e a sociedade brasileira de maneiras provocativas. |
Autores para Provas (ENEM e Concursos): É imprescindível o conhecimento de vozes que representam a diversidade e o engajamento:
Conceição Evaristo: Voz importante da literatura afro-brasileira, abordando identidade e racismo (Ponciá Vicêncio).
Carolina Maria de Jesus: Visão visceral da vida nas favelas (Quarto de Despejo).
Dalton Trevisan: Mestre do conto breve e enigmático ("Vampiro de Curitiba").
A seguir, respondemos a dúvidas óbvias e recorrentes sobre a Linha do Tempo da Literatura Brasileira:
1. Qual é o marco inicial do Arcadismo no Brasil? O marco inicial é o livro Obras Poéticas, de Cláudio Manuel da Costa, publicado em 1768.
2. Qual é o marco inicial do Realismo no Brasil e quem é o autor? O marco inicial é a obra Memórias póstumas de Brás Cubas (1881), de Machado de Assis.
3. O que define a Literatura de Informação no Quinhentismo? É caracterizada pela documentação descritiva do processo colonizador e das terras, escrita por viajantes e missionários, sem uma preocupação estética, mas com grande valor histórico. O principal exemplo é a Carta de Pero Vaz de Caminha.
4. O que é "fluxo de consciência" e qual autora moderna o utiliza? O "fluxo de consciência" é um estilo em que falas, narrativas e pensamentos do personagem se fundem, explorando o psicológico. É uma característica marcante de Clarice Lispector.
5. O que são os "jogos de palavras" e "jogos de ideias" do Barroco? Os jogos de palavras são chamados de Cultismo (foco na forma e linguagem rebuscada), e os jogos de ideias são chamados de Conceptismo (foco no raciocínio complexo).
6. Qual movimento literário brasileiro estava diretamente ligado à Inconfidência Mineira? O Arcadismo (ou Neoclassicismo). Poetas como Tomás Antônio Gonzaga e Cláudio Manuel da Costa eram líderes do movimento separatista.
7. Qual é o período da Literatura Contemporânea? Geralmente, abrange obras escritas desde meados do século 20, por volta da década de 60, até os dias atuais.
8. Qual foi o principal evento que deflagrou o Modernismo no Brasil? A Semana de Arte Moderna (1922), que buscou a ruptura estética com o passado e a valorização da identidade nacional.