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10/03/2024 • 18 min de leitura
Atualizado em 26/07/2025

Movimentos sociais e conflitos no período imperial: A Guerra de Canudos

Movimentos Sociais e Conflitos no Brasil: Do Império à Primeira República

No período de transição da Monarquia para a República no Brasil, que ocorreu formalmente com a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889, o país vivenciou uma série de profundas transformações econômicas e sociais que culminaram em diversos movimentos sociais e conflitos. A nova República herdou da Monarquia um Estado centralizado e com alguma tradição burocrática, porém, a reorganização política com base em novos valores republicanos impôs enormes desafios.

As elites políticas da época estavam divididas entre duas doutrinas principais: a positivista, popular em faculdades de direito e difundida no meio militar por figuras como Benjamin Constant, e a liberal oligárquica, defendida pela elite dos "coronéis" e baseada no individualismo, sem grande preocupação com o bem-estar coletivo. Nesse cenário, as autoridades pouco se importavam em definir claramente os direitos dos trabalhadores brasileiros, e a organização de instituições públicas voltadas para a melhoria de vida da população era escassa. O voto era restrito a homens alfabetizados e não era secreto, o que permitia a prática do voto de cabresto, onde jagunços acompanhavam os eleitores para favorecer seus patrões.

Esse contexto de instabilidade política, crises econômicas, injustiças sociais e abandono estatal serviu como pano de fundo para a eclosão de diversas revoltas. Entre os conhecimentos essenciais sobre os movimentos sociais e conflitos da Primeira República (e seus antecedentes no final do Império), destacam-se:

  • Guerra de Canudos

  • Cangaço

  • Revolta da Chibata

  • Movimento Operário

  • Tenentismo

  • Revolta da Vacina

  • Movimento Sufragista

  • Movimento Negro

  • Coluna Prestes

  • Guerra do Contestado

Dentre esses, a Guerra de Canudos foi o mais célebre, em parte pelo seu desfecho fatal, mas principalmente por ter sido objeto da narrativa da obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha.


A Guerra de Canudos (1896-1897): Um Conflito Fundamental para o Entendimento do Brasil Republicano

A Guerra de Canudos foi um conflito armado entre o Exército Brasileiro e os membros de uma comunidade sociorreligiosa liderada por Antônio Conselheiro. Ocorreu no interior do estado da Bahia, na comunidade de Canudos, entre 1896 e 1897, resultando na destruição completa do povoado e na morte da maioria de seus habitantes.

1. O Líder: Antônio Conselheiro

Antônio Conselheiro, nome de batismo Antônio Vicente Mendes Maciel, é uma figura central e complexa da Guerra de Canudos. Nascido na vila de Quixeramobim, no interior do Ceará, ele cresceu em uma família de padrão de vida mediano, mas confortável, o que lhe permitiu receber uma educação ampla. Sua vida tomou um rumo diferente após sua esposa fugir com um militar, um evento que, segundo relatos, o levou a um período de vergonha e promessa de vingança, iniciando suas peregrinações pelos sertões de Sergipe.

Conselheiro já havia atuado como comerciante, professor e caixeiro-viajante. Sua transformação em "beato" e "peregrino" começou em 1874, com as primeiras notícias a seu respeito no jornal "O Rabudo" de Sergipe. Ele vagava pelos sertões construindo cemitérios, igrejas e capelas, proferindo profecias e conselhos – daí sua alcunha – e expressando seu descontentamento com questões políticas da época, como o casamento civil. Seus discursos eram marcados por um forte teor religioso, defendendo o cristianismo primitivo e a salvação milagrosa. Em 1877, ele chegou a ser acusado de matar sua mulher e mãe e foi preso, mas liberado por falta de provas, continuando suas peregrinações.

Em 1893, Antônio Conselheiro e seus seguidores, após duas décadas de andanças, finalmente se fixaram em uma antiga fazenda abandonada às margens do rio Vaza-Barris, no interior da Bahia. Ali, fundou o arraial do Belo Monte, que rapidamente atraiu milhares de pessoas, chegando a ter cerca de 25.000 a 30.000 habitantes por volta de 1895. A comunidade de Canudos era composta por andarilhos, ex-escravos, jagunços, vítimas da seca e a população pobre do Nordeste. Em Canudos, vigorava um regime de divisão de bens e tarefas, incluindo a terra, sob um sistema comunal e de religiosidade severa.

Antônio Conselheiro era um líder carismático e influente, que acreditava piamente na salvação e sonhava com um Brasil mais justo para suas regiões. Ele defendia que as pessoas deveriam se libertar das injustiças e opressões, buscando a superação dos problemas de acordo com os valores do cristianismo. Essa liderança não se limitava ao plano religioso; ele também organizava a defesa da comunidade e suas ações eram vistas como funcionais no contexto local.

Dúvida Comum/Tópico de Concurso: Antônio Conselheiro era monarquista?

  • O governo republicano, recém-instalado, o acusou de ter como objetivo restaurar a Monarquia. Essa foi uma das teses mais propagandeadas para justificar a intervenção militar.

  • No entanto, as fontes indicam que, embora Conselheiro fosse crítico da República, ele não tinha como objetivo restaurar a Monarquia. Suas críticas se baseavam na percepção de que a República era contra a religião, devido à separação entre Igreja e Estado e a instituição de leis como o casamento civil.

  • Análises posteriores de seus manuscritos e as pesquisas baseadas em depoimentos de sobreviventes desmentiram a tese do fanatismo milenarista ou monarquista. As prédicas de Conselheiro focavam na salvação das almas e em preceitos da doutrina católica, adaptando-os às necessidades e à cultura popular sertaneja.

2. Causas da Guerra de Canudos: Um Conflito de Interesses e Percepções

As causas da Guerra de Canudos são multifacetadas, e sua interpretação evoluiu ao longo do tempo, sendo um ponto crucial para concursos e para o aprofundamento do tema:

  • Estopim Imediato: O incidente que desencadeou o conflito ocorreu em outubro de 1896. Antônio Conselheiro havia encomendado uma remessa de madeira de Juazeiro para a construção da nova igreja em Canudos, mas a madeira não foi entregue, apesar de ter sido paga. Rumores de que os conselheiristas iriam buscar a madeira à força levaram as autoridades de Juazeiro a pedir assistência ao governo baiano, que enviou um destacamento policial.

  • Crise Social e Econômica no Sertão: A região era historicamente marcada por latifúndios improdutivos, secas cíclicas e desemprego crônico. A abolição da escravidão em 1888, poucos anos antes, resultou em milhares de ex-escravos vagando pelas estradas sem acesso à terra ou oportunidades de trabalho, engrossando as fileiras dos pobres sertanejos. A insatisfação com o poder dos grandes proprietários de terras, que se apropriavam das melhores áreas, e a ineficácia do governo em prover serviços básicos ou garantir direitos aos trabalhadores rurais, levaram a uma grande insatisfação popular.

  • Conflito com o Poder Estabelecido:

    • Autoridades Civis e Grandes Fazendeiros: Viam Canudos como uma ameaça à ordem e à propriedade, especialmente porque a comunidade, ao se organizar de forma autônoma e prosperar, questionava o controle tradicional sobre a mão de obra e a terra. A recusa em pagar impostos à República aumentava a tensão.

    • Igreja Oficial: Parte do clero local alegava que os seguidores de Conselheiro eram apegados à heresia e à depravação, vendo a pregação religiosa de Conselheiro como uma ameaça à sua autoridade e doutrina.

    • Governo Republicano: A recém-instaurada República via o movimento de Conselheiro como uma ameaça à sua consolidação e à ordem constituída. Rumores de que Canudos se armava para depor o governo republicano e reinstaurar a Monarquia, embora infundados, foram amplamente divulgados pela imprensa para justificar a intervenção militar e mobilizar a opinião pública.

Diferentes Vertentes Interpretativas (Muito Cobrado em Concursos): Existem pelo menos duas grandes vertentes que tentaram explicar a Guerra de Canudos, além das revisões historiográficas posteriores:

  • Tese Euclidiana (Inicial): Baseada na obra "Os Sertões" de Euclides da Cunha, publicada em 1902. Euclides partiu para Canudos com a tese de que o conflito era um embate entre um foco de restauração monárquica e o Exército brasileiro. Sua obra, influenciada por leituras sociológicas do final do século XIX, como o positivismo de Hippolyte Taine e o darwinismo social de Herbert Spencer, frequentemente utilizava categorias dicotômicas como "civilização" (litoral) e "barbárie" (interior). Após retornar da guerra, Euclides da Cunha questionou esses modelos, destacando a miséria e a mestiçagem da população como explicações para a situação, embora ainda usasse termos como "raro caso de atavismo" para Antônio Conselheiro. A obra se tornou canônica, mas sua representação da loucura e do fanatismo do Conselheiro, influenciada por suas próprias obsessões e pela necessidade de justificar o massacre, é um ponto de debate.

  • Tese Marxista (Rui Facó): Surge nos anos 1950 com os artigos de Rui Facó, reunidos no livro "Cangaceiros e Fanáticos" (1963). Essa perspectiva buscava uma interpretação que associasse a Guerra de Canudos à luta pela abolição dos latifúndios, pelo direito à terra e contra a opressão representada pelos militares e a elite cafeeira. Facó via o movimento de Canudos como um capítulo importante na história da luta pela terra no Brasil, conferindo-lhe aspectos mais positivos. Ele observou que os conselheiristas não se viam como "fanáticos", embora ele próprio ainda usasse o termo em sua obra.

  • Historiografia Recente (Anos 1990 em diante): A partir dos anos 1990, a historiografia brasileira revisitou o conflito, buscando novas fontes e subsídios, com uma tendência a torná-lo "menos idealizado", mas sem deixar de destacar os absurdos cometidos contra a população. Esse período de revisão (inaugurado por José Calasans nos anos 1950) utilizou novas fontes e métodos, como a oralidade e as memórias de sobreviventes (e seus descendentes), além da investigação dos manuscritos de Antônio Conselheiro. Essas pesquisas evidenciaram que Canudos representava um modelo social e religioso dissidente do projeto republicano hegemônico, uma forma de resistência cultural e social. A guerra foi, assim, uma "pugna discursiva" onde os termos usados pelas autoridades (fanático, adversário político, restaurador, jagunço) serviam para justificar a violência e a destruição.

3. A Cronologia do Conflito: As Quatro Expedições

A Guerra de Canudos foi marcada por quatro expedições militares, sendo as três primeiras derrotadas pelos sertanejos:

  • Primeira Expedição (Outubro/Novembro de 1896): Após o incidente da madeira em Juazeiro, o governo baiano enviou um destacamento policial de cem praças, sob o comando do Tenente Manuel da Silva Pires Ferreira. A tropa foi surpreendida em Uauá, durante a madrugada de 24 de novembro, pelos seguidores de Antônio Conselheiro, comandados por Pajeú e João Abade. Apesar da surpresa e da ferocidade dos atacantes, as tropas governamentais, mais bem armadas, impuseram pesadas baixas, mas os canudenses se retiraram, deixando um cenário desolador.

  • Segunda Expedição (Janeiro de 1897): Enquanto aguardavam nova investida, os jagunços fortificaram os acessos ao arraial. Comandada pelo Major Febrônio de Brito, esta expedição de 250 homens foi atacada em 18 de janeiro de 1897, após atravessar a serra do Cambaio, e repelida com pesadas baixas pelos conselheiristas, que se reabasteciam com as armas abandonadas ou tomadas da tropa. O Major Brito e seus homens retornaram derrotados, tendo perdido mais de cem soldados.

  • Terceira Expedição (Março de 1897): Diante das derrotas, o governo federal assumiu a repressão. O comando foi entregue ao Coronel Antônio Moreira César, uma figura controversa e considerada herói militar, mas popularmente conhecido como "corta-cabeças" por sua violência na Revolução Federalista em Santa Catarina. Essa expedição contava inicialmente com 1.300 homens. Em 2 de março de 1897, após sofrer pesadas baixas na travessia das serras devido à guerra de guerrilhas, a força assaltou o arraial. Moreira César foi morto em combate, e seu substituto, Coronel Pedro Nunes Batista Ferreira Tamarindo, também tombou no mesmo dia. Abalada, a expedição foi forçada a retroceder. A notícia desse fracasso gerou grande comoção e a certeza de que Canudos era um foco monarquista, mobilizando a opinião pública na capital federal, que clamava pela aniquilação da ameaça à República.

  • Quarta Expedição (Abril a Outubro de 1897): Esta foi a investida decisiva. O Ministro da Guerra, Marechal Carlos Machado de Bittencourt, preparou uma expedição massiva sob o comando do General Artur Oscar de Andrade Guimarães, composta por duas colunas e mais de quatro mil soldados (mobilizando cerca de 12.000 homens ao todo de dezessete estados brasileiros), equipados com as armas mais modernas da época. Monte Santo se tornou a base das operações.

    • O primeiro grande combate ocorreu em Cocorobó, em 25 de junho.

    • As tropas chegaram a Canudos em 27 de junho, mas os sertanejos, bem armados com espólios das expedições anteriores, resistiram tenazmente.

    • Os militares usaram a tática de cerco, instalando metralhadoras no alto de colinas e sitiando a cidade, alvejando-a com tiros e canhões.

    • O combate foi longo e brutal. As forças do governo incendiaram o arraial e mataram grande parte da população.

    • Desfecho Fatal: A guerra terminou com a destruição total de Canudos em 5 de outubro de 1897. Estima-se que mais de 20.000 a 25.000 pessoas morreram, incluindo Conselheiro (de causas desconhecidas antes da rendição final). Centenas de prisioneiros foram degolados, inclusive crianças, mulheres e idosos, mesmo após a rendição. Esse ato de "degola" era uma prática já utilizada na Revolução Federalista em Santa Catarina por tropas gaúchas que também combateram em Canudos, sendo vista como uma forma de mensagem de domínio social e de apagamento dos "rastros" da violência estatal.

    • O corpo de Antônio Conselheiro foi exumado, decapitado e sua cabeça levada para a capital baiana como um troféu de guerra para exames frenológicos, na tentativa de comprovar sua "loucura". No entanto, seu crânio se revelou "normal" e foi consumido em um incêndio em 1905.

  • Consequências: A vitória das forças governamentais, em outubro de 1897, marcou a consolidação do regime republicano e, na visão de alguns, o "exorcismo" do "espectro de uma eventual restauração monárquica". A Guerra de Canudos é considerada um dos maiores massacres já cometidos pelo Exército brasileiro em território nacional.

4. Euclides da Cunha e "Os Sertões": O Cânone do Conflito

A obra "Os Sertões" (1902) de Euclides da Cunha é o principal material de referência para os estudos sobre Canudos e um marco fundamental da literatura brasileira. Euclides da Cunha, um tenente reformado e engenheiro, atuou como correspondente de guerra para o jornal "O Estado de S. Paulo", chegando a Canudos em setembro de 1897, pouco antes da queda do arraial.

  • Natureza Híbrida e Contraditória da Obra: "Os Sertões" é um texto híbrido, que mistura crônica jornalística, ensaio historiográfico, análise científica e ficção. A obra é notável por suas antíteses e contradições, que refletem o próprio pensamento do autor e a complexidade do evento.

    • Euclides inicialmente denuncia o crime cometido pelo exército brasileiro contra os sertanejos.

    • Ao mesmo tempo, ele afirma que o sertanejo, embora representando a "rocha firme da nossa nacionalidade", estava "fadado ao fim" por não sobreviver às exigências da civilização moderna.

    • Ele oscila entre a admiração pela bravura dos sertanejos (como na famosa frase "O sertanejo é, antes de tudo, um forte") e a descrição da população como ignorante, degenerada ou anormal, por vezes com um olhar etnocêntrico influenciado por teorias científicas da época como o determinismo racial e geográfico.

    • A obra foi pensada como um relato descritivo do sertão, do sertanejo e da guerra, mas é também uma narrativa épica com um herói implícito.

    • Utiliza uma linguagem científica, mas também se permite um uso exacerbado de metáforas e lirismo, beirando a poesia.

    • A tragédia é descrita de forma a "estetizar a guerra" e o sofrimento, tornando a dor um "espetáculo que move a audiência", o que foi criticado por autores posteriores.

  • Impacto e Legado da Obra:

    • "Os Sertões" alcançou sucesso editorial imediato e foi amplamente debatida pela crítica, sendo acolhida como uma avaliação do período inicial da República.

    • A obra fixou a Guerra de Canudos na memória brasileira e é considerada uma "obra fundadora" da literatura nacional, capaz de assegurar a permanência das memórias do conflito no debate de questões atuais.

    • Sua influência se estendeu para além das fronteiras brasileiras, inspirando obras de autores internacionais como R. B. Cunninghame Graham, Lucien Marchal, Sándor Márai, Guram Dochanashvili e, notavelmente, Mario Vargas Llosa ("A Guerra do Fim do Mundo").

    • No Brasil, influenciou uma corrente literária regionalista, o "romance canudiano".

    • Críticas à "Gaiola de Ouro": Apesar de sua importância, a obra de Euclides da Cunha, por sua magnitude, também eclipsou outras narrativas e vozes, especialmente as dos sobreviventes sertanejos, que por décadas tiveram suas memórias silenciadas ou desautorizadas socialmente. O historiador José Calasans cunhou a expressão "gaiola de ouro de Os Sertões" para descrever como o universo de Antônio Conselheiro ficou preso na interpretação euclidiana.


Outros Movimentos Sociais e Conflitos Relevantes da Primeira República

A instabilidade social não se limitou a Canudos. Outros movimentos importantes eclodiram, refletindo as tensões da República nascente:

  • Cangaço:

    • Definição e Origem: O termo "cangaço" deriva de "canga", objeto usado no trato com os bois. Manifestou-se como uma forma de protesto diante das injustiças sociais no Nordeste, especialmente o poderio dos grandes proprietários de terras que se apropriavam das melhores áreas, deixando a população na miséria. O historiador Eric Hobsbawm o descreveu como uma "forma bastante primitiva de protesto social organizado".

    • Características: Os cangaceiros viviam de forma errante, carregando consigo tudo o que possuíam. Existiam diferentes tipos: alguns eram apoiados por latifundiários e realizavam serviços como cobrança de impostos ou ações violentas para garantir votos; outros, como a figura mais conhecida, Virgulino Lampião, eram bandidos reprimidos e inimigos públicos, vivendo à própria sorte sem apoio de "padrinhos" poderosos.

    • Fim: O cangaço durou até a década de 1930, sendo finalmente desmantelado após uma ampla campanha instituída por Getúlio Vargas, que passou a considerar os cangaceiros como uma "desordem à paz nacional".

  • Revolta da Vacina (1904):

    • Ocorreu no Rio de Janeiro e foi um levante popular contra a obrigatoriedade da vacinação contra a varíola, imposta pelo governo de Rodrigues Alves, sob a direção do sanitarista Oswaldo Cruz.

    • O movimento rebelde foi dominado pelo governo, mas a lei da vacina obrigatória foi posteriormente modificada para facultativa.

  • Movimento Operário:

    • Emergiu no contexto das transformações econômicas e industrialização do país na República Velha. As autoridades da época pouco se importavam em definir os direitos dos trabalhadores.

    • Inicialmente, a organização operária visava atender a demandas imediatas, mas com o tempo, as reivindicações ganharam maior volume e expressão em manifestações e greves.

    • Havia uma predominância de imigrantes europeus, fortemente influenciados por princípios anarquistas e comunistas, que convocavam os trabalhadores fabris a se unirem em associações que levariam ao surgimento dos primeiros sindicatos.

    • As reivindicações incluíam melhores salários, jornada de trabalho reduzida e assistência social, convivendo com perspectivas políticas mais incisivas que lutavam contra a propriedade privada e o "Estado Burguês".

  • Guerra do Contestado (1912-1916):

    • Contexto e Localização: Conflito armado entre camponeses (caboclos) e forças do Exército, ocorrido na região litigiosa (contestada) entre os estados de Santa Catarina e Paraná. É considerado o maior embate do Brasil no século XX.

    • Causas: Grande parte da população local (posseiros) foi expulsa de suas terras para dar lugar à extração madeireira e à colonização por imigrantes europeus.

    • Caráter Messiânico: Os caboclos eram uma população muito religiosa, devota de monges que circulavam na região, pregando princípios de solidariedade e coletividade. O líder mais conhecido foi José Maria, que reuniu seguidores, mas morreu no primeiro conflito. Após sua morte, os caboclos formaram "cidades santas" ou redutos, afirmando serem guiados por mensagens espirituais dos monges falecidos.

    • Conflito e Desfecho: As forças policiais locais, milícias de empresas e jagunços dos coronéis combateram os caboclos. Inicialmente defensivos, os caboclos passaram a contra-atacar a partir de 1914. Duas expedições do exército foram enviadas, com a última, em 1914, comandada pelo General Setembrino de Carvalho. Ele organizou um cerco, controlando o fluxo de pessoas e suprimentos. Com o tempo, os redutos se renderam, mas, assim como em Canudos, muitos sertanejos foram degolados.

  • Revolta da Chibata (1910): Uma manifestação de insatisfação dos marujos contra os castigos físicos na Marinha.


O Legado dos Conflitos

Os movimentos sociais e conflitos como a Guerra de Canudos, o Cangaço, a Revolta da Vacina e a Guerra do Contestado são mais do que meros eventos históricos; eles são expressões das profundas contradições e injustiças sociais que marcaram o Brasil em sua transição para o regime republicano. As elites republicanas, ao mesmo tempo em que buscavam consolidar o novo regime político e "rotinizar" a administração pública, frequentemente o faziam através de estratégias que beneficiavam grupos de interesse e negligenciavam as demandas das populações mais vulneráveis.

A aniquilação de Canudos e a brutalidade dos métodos empregados (como a degola) serviram como um exemplo dissuasório para outras comunidades rurais que pudessem se insurgir contra a ordem republicana. No entanto, a memória desses eventos, impulsionada por obras como "Os Sertões" e a historiografia posterior que deu voz aos vencidos, continua a ser um campo de debate sobre a violência, a exclusão social e a formação da identidade nacional.

Para concursos, é crucial não apenas memorizar os fatos, mas também compreender as causas multifacetadas, as diferentes interpretações historiográficas (especialmente as teses euclidiana e marxista de Canudos), o papel dos líderes, e as consequências de longo alcance desses movimentos para a sociedade brasileira. A capacidade de analisar as contradições e complexidades desses eventos demonstra um entendimento aprofundado da história do Brasil e sua relevância para o presente.

Questões de Múltipla Escolha:

  1. Qual era o líder religioso que liderou a comunidade de Canudos durante a Guerra de Canudos?

a) Antônio Conselheiro

b) Lampião

c) Padre Cícero

d) Zumbi dos Palmares

  1. Por que o governo brasileiro considerou a comunidade de Canudos uma ameaça durante a Guerra de Canudos?

a) Porque estavam envolvidos em conflitos territoriais com tribos indígenas.

b) Porque promoviam ideais de modernização e progresso.

c) Porque eram liderados por um líder religioso que pregava a volta às tradições e ao modo de vida simples.

d) Porque buscavam estabelecer uma monarquia no Brasil.

  1. Quantas tentativas fracassadas foram feitas pelo exército brasileiro antes de Canudos ser finalmente destruída?

a) Uma

b) Duas

c) Três

d) Quatro

Gabarito:

  1. a) Antônio Conselheiro

  2. c) Porque eram liderados por um líder religioso que pregava a volta às tradições e ao modo de vida simples.

  3. c) Três