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10/03/2024 • 19 min de leitura
Atualizado em 26/07/2025

Movimentos sociais e conflitos no período imperial: A Revolta dos Malês

A Revolta dos Malês: Um Marco de Resistência e Luta por Liberdade no Brasil Imperial

O Que Foi a Revolta dos Malês?

A Revolta dos Malês foi um dos mais importantes e complexos levantes de pessoas escravizadas na história do Brasil. Ocorreu na madrugada de 25 de janeiro de 1835, na cidade de Salvador, Bahia. Este movimento não foi apenas uma luta pela liberdade individual, mas uma manifestação de identidade religiosa e étnica, que mobilizou cerca de 600 africanos, entre escravizados e libertos, em busca de uma sociedade livre de opressões e, para muitos, a instauração de uma nação negra sob o islamismo na Bahia.

Sua singularidade reside no fato de ter sido majoritariamente organizada e liderada por negros muçulmanos (os Malês), em um período de grande instabilidade política no Brasil, conhecido como Período Regencial (1831-1840). A Revolta dos Malês é um evento crucial para entender a profundidade e a diversidade das formas de resistência à escravidão no Brasil.

1. Contexto Histórico: A Bahia no Início do Século XIX

Para compreender a Revolta dos Malês, é fundamental analisar o cenário do Brasil e, em particular, da Bahia nas primeiras décadas do século XIX.

1.1. O Período Regencial (1831-1840)

O período entre a abdicação de Dom Pedro I (1831) e a maioridade de Dom Pedro II (1840) foi uma fase de intensa instabilidade política e social no Brasil. Caracterizado por disputas entre federalistas e centralistas, liberais e conservadores, monarquistas e republicanos, esse contexto fomentou diversas revoltas populares em várias regiões do país. A Revolta dos Malês é frequentemente classificada como uma dessas Revoltas Regenciais, que incluem a Sabinada, a Cabanagem, a Guerra dos Farrapos e a Balaiada. No entanto, sua ligação com o período regencial é secundária, pois a Revolta dos Malês está, antes de tudo, inserida na tradição de rebeliões escravas na Bahia.

1.2. Salvador: Uma Capital Negra e Escravocrata

Na década de 1830, Salvador era a capital mais negra do Brasil. A demografia da cidade revelava uma realidade marcante: apenas 22% da população era branca, enquanto o restante era composto por negros e mulatos. Cerca de 40% de todos os habitantes de Salvador eram escravizados.

A maioria desses escravizados não havia nascido no Brasil (eram conhecidos como crioulos); quase dois terços eram africanos traficados para cá. Essa alta concentração de africanos recém-chegados, muitos deles jovens e do sexo masculino, gerava uma constante preocupação e medo nas classes dominantes e senhores de escravos.

1.3. O "Haitianismo": Um Pesadelo Constante

O temor de uma revolta de escravos em larga escala era uma realidade palpável para as elites brasileiras, especialmente após a Revolução Haitiana (1791-1804). O Haiti foi a primeira nação negra independente do mundo, resultado de uma bem-sucedida revolta de escravos que derrubou o domínio colonial francês. O "Haiti" tornou-se um pesadelo que permeava as casas senhoriais e os palácios governamentais no Brasil, impulsionando a classe dominante a adotar medidas repressivas para evitar uma situação similar em solo brasileiro. A Revolta dos Malês intensificou esse temor.

2. Quem Eram os Malês? Protagonistas de uma Resistência Única

Os Malês não eram um grupo homogêneo de escravizados; eles representavam uma diversidade cultural, linguística e religiosa que desafiava a visão simplificada da população escrava.

2.1. A Origem do Termo "Malê"

O termo "Malê" era usado no Brasil do século XIX para designar os negros muçulmanos. A palavra tem origem no hauçá "málami" (que significa "professor" ou "senhor") e no iorubá "imalê" (que significa "muçulmano").

2.2. Diversidade Étnica e Religiões

Embora o termo "Malê" se referisse a muçulmanos, nem todos os Malês eram da mesma etnia. Muitos vinham do Noroeste da África e falavam iorubá, sendo conhecidos no Brasil como nagôs. Uma parte significativa dos nagôs seguia as crenças tradicionais africanas dos orixás, que se misturaram a outras etnias e deram origem ao Candomblé da Bahia. Contudo, uma parte considerável dos nagôs, assim como muitos haussás (outra etnia importante da mesma região), seguia o Islamismo. Além desses, havia também outras etnias envolvidas, como os Ewe e os Jejês. Embora a maioria dos envolvidos na Revolta de 1835 fosse muçulmana, havia também nagôs que seguiam a religião dos orixás, membros da mesma etnia.

2.3. Cultura e Habilidades: Os Malês Alfabetizados

Os Malês se distinguiam dos outros escravizados e até mesmo de muitos cidadãos livres por seu nível de instrução. Em uma época em que ser alfabetizado era exceção, mesmo entre os mais ricos, muitos Malês sabiam ler e escrever em árabe e também em português. Essa habilidade lhes permitia trocar ideias por escrito, facilitando a discussão de sua situação e a expressão de sua revolta. Eles praticavam sua religião em segredo, reunindo-se em "cantos de trabalho" ou na casa de libertos para recitar o Alcorão, ensinar uns aos outros a ler e escrever, e discutir acontecimentos.

Além de serem cultos, os Malês eram considerados muito trabalhadores e possuíam habilidades valiosas. Muitos eram negros de ganho ou escravos de ganho, trabalhando como ferreiros, alfaiates, sapateiros, pedreiros, vendedores de frutas, carregadores, costureiras e doceiras. Eles entregavam parte de seus ganhos aos senhores e o excedente ficava para eles, permitindo que muitos economizassem para comprar sua própria liberdade.

2.4. A Liberdade Relativa e a Rede de Solidariedade

A condição de "negros de ganho" e a circulação urbana proporcionavam aos Malês uma liberdade muito maior do que a dos escravizados rurais, que geralmente trabalhavam na lavoura. Eles podiam circular livremente pela cidade, muitas vezes moravam separados de seus senhores, vivendo em comunidades com outros africanos (escravizados e libertos), conhecidas como "cantos de trabalho". Essas comunidades, geralmente lideradas por um "Capitão", fortaleciam os laços étnicos e culturais, criando uma rede de amizade e solidariedade. Essa autonomia facilitou a organização e o planejamento da revolta.

2.5. A Exclusão de Crioulos e Mestiços (Tópico Importante para Concursos)

Um ponto crucial e frequentemente abordado em exames é a exclusão dos crioulos (negros nascidos no Brasil) e dos mestiços da Revolta dos Malês. Os líderes Malês os consideravam parte da "terra de branco" – o sistema colonial e escravista contra o qual estavam lutando –, vendo-os como inimigos. Essa visão refletia as tensões existentes entre africanos e afro-brasileiros na sociedade escravista da Bahia. Há indícios de que os planos dos rebeldes vitoriosos incluíam o massacre de brancos, mulatos e crioulos, ou a escravização de mulatos e o possível massacre de africanos que se opusessem à revolta.

3. Causas e Motivações da Revolta: A Luta pela Liberdade e Identidade

A Revolta dos Malês foi um ato de profunda insatisfação e busca por dignidade, impulsionada por uma complexa combinação de fatores.

3.1. Objetivos Centrais

Os principais objetivos dos Malês eram:

  • Abolir o regime escravocrata e libertar todos os escravos africanos.

  • Combater a imposição do Catolicismo e garantir a liberdade de praticar o Islamismo e outras religiões africanas.

  • Tomar o controle da cidade de Salvador, colocando-a sob domínio africano.

  • Estabelecer uma nação negra na Bahia, livre do domínio dos brancos, liderada por muçulmanos, e expandir esse sistema para o nordeste do Brasil, incluindo Pernambuco.

  • Reprimir a população da cidade de Salvador, especialmente a parcela branca.

3.2. A Religião como Motor da Rebelião (Fator Prioritário para Concursos)

A religião islâmica foi um fator de extrema importância para a articulação e planejamento da revolta. O Islã forneceu uma ideologia unificadora e um núcleo dirigente para o movimento. Os Malês, como muçulmanos, encontraram nos textos corânicos conforto espiritual e esperança, sentindo-se mais humanos e buscando ordem e dignidade em suas vidas.

Havia um forte movimento de proselitismo e conversão ao Islamismo na Bahia da década de 1830, o que aumentava a concentração de afro-muçulmanos e fortalecia a rede de resistência. A religião não era apenas uma crença, mas um instrumento de luta pela libertação.

3.3. Etnia e Classe: Um Tripé Explicativo

O historiador João José Reis (autor do clássico "Rebelião Escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês") aponta que o Levante dos Malês pode ser explicado por um tripé de fatores: religião, etnia e escravidão (classe).

  • Religião: A inspiração religiosa do Islã é inegável, com o núcleo dirigente sendo malê.

  • Etnia: A maioria dos revoltosos era de origem iorubana (nagôs e haussás), povos com histórico de combate e guerra na África. A identidade étnica, embora dinâmica, muitas vezes se alinhava à identidade religiosa, tornando o islamismo uma força espiritual e política de negros nagôs e haussás na Bahia.

  • Classe: A Revolta dos Malês também teve uma dimensão de classe, sendo feita e dirigida majoritariamente por escravos e libertos (que também viviam sob forte opressão) e revelando uma face antiescravista. A solidariedade coletiva associada ao trabalho urbano facilitou a mobilização.

3.4. Revoltas Anteriores na Bahia

A Revolta dos Malês não foi um evento isolado; ela se insere em uma tradição de rebeliões escravas na Bahia. Os próprios Malês já haviam participado de várias rebeliões anteriores, como a de 1814, quando um grupo de escravizados haussás tentou marchar sobre o Recôncavo para sublevar escravos de engenhos. Outras conspirações e levantes de africanos islamizados ocorreram entre 1807 e 1835, como as lideradas pelos haussás em 1807, 1809 e 1813. Essa persistência mostra que a Revolta de 1835 foi o auge de um longo processo de resistência.

4. O Planejamento da Revolta: Estratégia e Organização

A organização dos Malês foi notável, aproveitando suas habilidades e a dinâmica da vida urbana.

4.1. Lideranças e Comunicação

Os líderes do movimento de 1835 incluíam tanto escravizados quanto libertos, como Ahuna, Pacífico Licutan, Sule ou Nicobé, Dassalu ou Damalu, Gustard, Manuel Calafate, Luís Sanim e Elesbão do Carmo ou Dandará. Muitos desses mestres ou "alufás" sabiam ler e escrever em árabe, o que era fundamental para a comunicação do grupo.

A divulgação da rebelião era feita por meio de panfletos manuscritos em árabe, distribuídos com a ajuda de escravizados e libertos que trabalhavam nas ruas, como vendedores. Uma dessas pessoas era Luísa Mahin (ou Barrigui), uma quituteira liberta de origem da Costa da Mina, que usava seu tabuleiro para distribuir as mensagens dos revoltosos. Ela era conhecida por sua altivez e por se recusar ao batismo cristão. Acredita-se que ela tenha sido mãe do renomado advogado abolicionista Luís Gama.

4.2. Reuniões Secretas e Proselitismo

As reuniões eram realizadas em segredo, muitas vezes nos "cantos de trabalho" ou nas casas de libertos. Nesses encontros, eles recitavam passagens do Alcorão, ensinavam uns aos outros a ler e escrever (em árabe e português) e discutiam os acontecimentos recentes. Muitos deixaram registros escritos em árabe, a língua sagrada dos muçulmanos, o que ajudou a entender suas motivações. Esse ambiente urbano e a relativa liberdade de circulação dos negros de ganho foram cruciais para a articulação do movimento.

4.3. A Escolha da Data: Estratégia e Simbolismo (Fator Prioritário para Concursos)

A data escolhida para o levante foi estratégica e cheia de simbolismo: a madrugada de 25 de janeiro de 1835, um domingo. Essa data coincidia com o último dia do Ramadã, o mês sagrado do Islamismo, e marcava a celebração da Lailat al-Qadr (Noite da Glória), quando o Alcorão foi revelado a Maomé.

A escolha do domingo de 25 de janeiro também tinha razões táticas: era o dia da festa católica de Nossa Senhora da Guia, que levaria grande parte da população livre e do corpo policial para o Bonfim, periferia de Salvador. Com o centro da cidade esvaziado, os revoltosos esperavam ter mais facilidade para tomar o poder.

4.4. Vestimenta e Símbolos

Os cerca de 600 homens que se prepararam para a revolta vestiam o abada branco, uma vestimenta típica dos muçulmanos trazidos para o Brasil, e usavam uma carapuça, pois os homens muçulmanos não devem andar com a cabeça descoberta. Eles também utilizavam amuletos islâmicos, que eram trechos do Alcorão escritos em papel e guardados em pequenas bolsas. Esses amuletos, feitos por líderes religiosos, acreditava-se que garantiam a vitória e proteção aos portadores.

5. O Dia da Revolta: O Confronto em Salvador

Apesar do planejamento meticuloso, o levante foi deflagrado antes do previsto.

5.1. A Denúncia (Fator Prioritário para Concursos)

Os planos dos Malês foram frustrados por uma denúncia. Na madrugada do dia 24 para 25 de janeiro, a ex-escrava Guilhermina de Souza (uma liberta), juntamente com seu marido, Liberte Fortunato, delataram o motim às autoridades, em um ato de lealdade ao seu ex-patrão. Isso permitiu que a polícia agisse rapidamente para reprimir o levante.

5.2. O Início da Batalha

Uma patrulha policial surpreendeu os rebeldes reunidos no porão da casa do escravo Manuel Calafate. Cerca de 60 guerreiros africanos, armados com lanças e paus, tentaram resistir, mas a polícia, com armas de fogo, levou vantagem. O ataque planejado à Câmara Municipal de Salvador para libertar o líder Pacífico Licutan, que estava preso por dívidas de seu senhor, não foi bem-sucedido.

5.3. O Confronto nas Ruas

Os Malês não desistiram e saíram pelas ruas, convocando outros escravizados a se unirem a eles. O grupo engrossou, e eles decidiram marchar até o Forte de São Pedro, mas foram recebidos a bala e tiveram que recuar. Os confrontos com a polícia se espalharam por diversos locais da cidade, desde o Pelourinho até a Cidade Baixa.

A batalha final ocorreu no quartel da cavalaria em Água de Meninos. Os revoltosos ficaram encurralados entre o fogo do quartel e o mar. Foi um massacre: dezenas foram mortos pelos tiros, e muitos que tentaram fugir nadando acabaram se afogando.

A Revolta dos Malês durou apenas algumas horas, menos de 24 horas. No total, mais de 70 rebeldes foram mortos, além de cerca de 10 soldados e policiais. Centenas de pessoas foram presas, muitas delas sem nenhum envolvimento com a revolta, apenas por serem Malês ou da mesma etnia.

6. Consequências e Repressão Pós-Revolta: O Legado do Medo

A derrota dos Malês levou a uma das repressões mais severas da história da escravidão no Brasil, com repercussões duradouras.

6.1. Punições Severas

As autoridades baianas agiram com rapidez e brutalidade para fazer dos rebeldes um exemplo. Há registros de processos contra 234 revoltosos (220 homens e 14 mulheres). As penas incluíam:

  • Prisão

  • Açoitamento: As chibatadas variavam de 200 a mais de mil. Pacífico Licutan, mesmo idoso e tendo passado a revolta na cadeia, foi condenado a 1.200 chibatadas. Pelo menos uma pessoa jovem morreu em consequência dos açoitamentos.

  • Morte: 16 homens foram condenados à morte, mas a pena de 12 foi comutada. Quatro foram executados por fuzilamento no Campo da Pólvora em 14 de maio de 1835: Jorge Cruz Barbosa (liberto) e os escravizados Pedro Gonçalo e Joaquim (todos nagôs).

  • Deportação para a África: Muitos foram deportados para a África, sendo essa a primeira vez que essa pena foi instituída no Brasil. Essa medida visava diminuir a influência dos muçulmanos sobre outros negros.

6.2. Aumento da Repressão e Controle da População Africana

O pânico gerado pela Revolta dos Malês entre a população livre e, especialmente, os senhores de escravizados, levou a uma maior repressão contra os negros, tanto escravizados quanto libertos, não só na Bahia, mas em todo o Império.

Foram criadas várias leis para controlar a população africana. Uma dessas leis na Bahia autorizava a deportação de qualquer africano suspeito de envolvimento com revoltas, mesmo sem condenação. Bastava ser Malê ou da mesma etnia para ser suspeito. Estima-se que 20% da população negra liberta de Salvador foi forçada a retornar à África, principalmente para onde hoje são Benim e Nigéria.

6.3. O Fenômeno dos "Agudás"

Os brasileiros retornados à África, conhecidos como agudás, levaram consigo hábitos e costumes aprendidos no Brasil, como a construção em alvenaria, profissões, habilidades e, muitas vezes, dinheiro. Com o tempo, eles se tornaram uma elite econômica local e até hoje formam comunidades distintas nesses países, usando expressões em português, celebrando o carnaval e comendo feijoada. No Benim, muitos políticos, intelectuais e empresários são agudás.

6.4. O Impacto no Islamismo Brasileiro

A religião islâmica sofreu severa repressão após 1835, o que dificultou sua difusão no Brasil. Os cultos malês foram desestruturados, e os muçulmanos, hostilizados e imersos na população afrodescendente, começaram a perder sua identidade e a adquirir novos costumes e crenças.

7. O Legado da Revolta dos Malês: Resistência e Inspiração Contínua

A Revolta dos Malês, embora reprimida, deixou um legado duradouro na história e na cultura brasileira.

7.1. Símbolo de Resistência e Luta por Liberdade

A revolta demonstrou a inabalável determinação dos Malês em lutar por sua liberdade e justiça. Ela evidenciou que os escravizados não eram passivos ou submissos, mas, ao contrário, ofereciam diversas formas de resistência à opressão. O movimento inspirou e continua a inspirar a luta por direitos civis e movimentos de libertação ao longo da história do Brasil. É um capítulo essencial na luta contra a escravidão.

7.2. Contribuição Cultural

O legado dos Malês é visível na diversidade cultural e religiosa do Brasil. Sua influência pode ser percebida na religião (como o sincretismo no Candomblé, influenciado pelas tradições Malês), na música, na culinária e em outras expressões culturais afro-brasileiras.

7.3. Desconstrução de Estereótipos

A inteligência e organização dos Malês, com sua capacidade de ler e escrever em árabe e português, e suas estratégias de mobilização, romperam com muitos estereótipos da época sobre os escravizados. Eles provaram a grande capacidade de organização e resistência que existia entre os cativos.

7.4. Importância Acadêmica e Social

A Revolta dos Malês é um tema de grande interesse para pesquisadores, sendo o trabalho de João José Reis, "Rebelião Escrava no Brasil: a história do Levante dos Malês", considerado a análise mais completa sobre o assunto. A promoção da articulação entre o conhecimento acadêmico e os movimentos sociais, como destaca a ABEPSS, contribui para o avanço da pauta antirracista no Brasil, utilizando a Revolta dos Malês como inspiração para a luta atual por justiça e liberdade para a população negra.

8. Perguntas Frequentes e Tópicos Essenciais para Concursos

8.1. A Revolta dos Malês Foi uma "Jihad" (Guerra Santa)? (Tópico de Debate e Exceção para Concursos)

Este é um ponto de debate entre historiadores. Alguns autores, como Raymundo Nina Rodrigues, Etienne Ignace e Alberto da Costa e Silva, atribuem à Revolta dos Malês o caráter de uma "jihad" ou guerra santa, entendendo que os muçulmanos no Brasil visavam dar prosseguimento às guerras de expansão do islamismo que ocorriam na África.

No entanto, João José Reis defende que o levante de 1835 não foi uma "jihad" clássica, mas sim uma "dar al-harb" (uma guerra comum), sem os preceitos de imposição violenta do Islã. Reis argumenta que participaram do levante tanto nagôs islamizados quanto não islamizados, e que não há provas de que o objetivo principal era impor o monopólio religioso sobre outros africanos. Ele aponta que os muçulmanos na Bahia aprenderam a conviver com outras religiões de matrizes africanas, e que o próprio Islã baiano assumiu um caráter sincrético, compilando características do culto dos orixás e do cristianismo. Para Reis, a revolta tinha como objetivo romper com a ordem e a dominação branca na Bahia, e não necessariamente uma expansão religiosa em si.

Para concursos, é crucial entender ambos os pontos de vista e a complexidade do debate. Reconheça que a inspiração religiosa era forte, mas a motivação não era exclusivamente religiosa, abrangendo também aspectos étnicos e de classe.

8.2. O Que Aconteceria se a Revolta Tivesse Sido Bem-Sucedida?

Essa é uma questão hipotética, mas as fontes fornecem algumas pistas sobre os ambiciosos planos dos Malês. Se o levante tivesse funcionado, os Malês pretendiam:

  • Fundar uma república islâmica ortodoxa na Bahia, que inicialmente dominaria Salvador e o Recôncavo Baiano.

  • Expandir esse sistema para o estado de Pernambuco, após libertar todos os escravizados muçulmanos.

  • Assassinar ou escravizar brancos, mestiços e negros que não aceitassem ficar do lado deles.

  • Acabar com o catolicismo e queimar imagens religiosas em praça pública.

Consequentemente, a sociedade brasileira teria uma configuração muito diferente, com uma forte influência do Islamismo e uma diminuição da influência do Cristianismo, talvez com a predominância de religiões de matriz africana como a Umbanda e o Candomblé. A visão sobre a história dos povos escravizados seria radicalmente alterada.

8.3. Por Que Crioulos e Mestiços Foram Excluídos?

Essa exclusão se deu porque os Malês os consideravam parte da "terra de branco". Na visão dos revoltosos, crioulos e mestiços eram aliados dos brancos, identificação que vinha do fato de terem nascido na "terra de branco" e muitas vezes atuarem no controle e repressão aos africanos, fazendo o "trabalho sujo dos brancos". Essa divisão mostra uma complexa polarização entre africanos e "brasileiros" dentro da sociedade escravista.

8.4. Qual o Papel da "Escravidão de Ganho"?

A "escravidão de ganho" foi fundamental para a Revolta dos Malês. Os escravos de ganho, ao contrário dos rurais, tinham maior mobilidade e autonomia para circular pela cidade, prestar serviços ou vender mercadorias. Essa liberdade relativa facilitava os contatos pessoais, a prática de cultos religiosos secretos e, crucialmente, a organização das revoltas. As casas dos libertos, muitas vezes ex-escravos de ganho, serviam como pontos de reunião, depósito de armas e locais de interação cultural e social.

Eternidade da Luta Malê

A Revolta dos Malês é um evento de inquestionável relevância na história do Brasil, um poderoso exemplo da capacidade de organização e resistência dos povos africanos e afrodescendentes contra a escravidão. Longe de serem passivos, os Malês – com sua rica cultura, religião e anseio por liberdade – protagonizaram um levante que, embora duramente reprimido, ecoou por todo o Império e deixou marcas indeléveis.

Seu legado transcende o século XIX, inspirando até os dias atuais a luta antirracista no Brasil. Compreender a Revolta dos Malês é reconhecer a complexidade da identidade negra no Brasil, a persistência da opressão e a força contínua da resistência. É um lembrete vívido de que a busca por liberdade e igualdade é uma jornada secular, que continua a exigir engajamento e reflexão em nossa sociedade contemporânea.



Questões de Múltipla Escolha:

  1. Qual foi o principal objetivo da Revolta dos Malês em 1835?

a) Obter melhores condições de trabalho.

b) Lutar pela independência da Bahia.

c) Alcançar a liberdade dos escravos.

d) Estabelecer um novo governo.

  1. Qual era a principal característica religiosa dos Malês envolvidos na revolta?

a) Cristianismo.

b) Islamismo.

c) Hinduísmo.

d) Budismo.

  1. Qual foi o impacto da Revolta dos Malês na sociedade baiana?

a) Maior tolerância religiosa.

b) Aumento da tensão social.

c) Redução da escravidão.

d) Estabilidade política.

Gabarito:

  1. c) Alcançar a liberdade dos escravos.

  2. b) Islamismo.

  3. b) Aumento da tensão social.