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10/03/2024 • 21 min de leitura
Atualizado em 27/07/2025

O período Regencial e as revoltas provinciais

O Período Regencial (1831-1840) é uma das fases mais dinâmicas e cruciais da História do Brasil, servindo como um verdadeiro laboratório para a construção do Estado nacional brasileiro e a formação de suas estruturas políticas e sociais. Compreender esse decênio é fundamental para estudantes e para aqueles que se preparam para concursos públicos, pois suas complexidades e as diversas revoltas que o marcaram são frequentemente cobradas.


O Período Regencial: Uma Introdução Essencial

O que foi o Período Regencial? O Período Regencial foi um intervalo de nove anos na História do Brasil, que se estendeu de 1831 a 1840. Ele se iniciou com a abdicação de Dom Pedro I (o primeiro imperador do Brasil) e durou até o Golpe da Maioridade, que antecipou a coroação de seu filho, Dom Pedro II, então com apenas 14 anos, encerrando as regências e dando início ao Segundo Reinado.

Durante essa década, o Brasil foi governado por regentes eleitos pelo Poder Legislativo, uma situação provisória até que o herdeiro do trono atingisse a maioridade de 18 anos, conforme previa a Constituição de 1824. Este foi um tempo de grande instabilidade política e social, marcado por diversas rebeliões provinciais que desafiaram a unidade territorial do país e a autoridade central.

O Contexto que Moldou as Regências: Descentralização e Conflitos

A abdicação de D. Pedro I em 1831 criou um vazio de poder e expôs as tensões e os conflitos que a Independência do Brasil, construída sobre acordos, havia momentaneamente suprimido. O país, embora politicamente uma monarquia, não tinha um soberano no comando, e o jovem D. Pedro II tinha apenas cinco anos.

Nessa fase, não existia um grupo econômico hegemônico forte o suficiente para assegurar a supremacia nacional. Havia uma disputa de interesses entre diferentes setores, como os grandes proprietários nordestinos (enfraquecidos pela crise do açúcar), os criadores e charqueadores do Sul, e o setor cafeeiro (ainda em crescimento). Essa falta de um "suporte econômico" unificador para um grupo político contribuiu para a instabilidade.

As Primeiras Medidas da Regência: Liberalismo e Descentralização

Inicialmente, o governo regencial, composto por Regências Trinas (Regência Trina Provisória e Regência Trina Permanente), adotou medidas de caráter liberal e descentralizador, na tentativa de pacificar o país e dar voz às elites regionais.

  1. Criação da Guarda Nacional (1831): Idealizada pelo então Ministro da Justiça, Padre Diogo Antônio Feijó, a Guarda Nacional era uma milícia armada controlada pelas elites locais, especialmente os cidadãos mais ricos (com renda anual superior a 200 mil réis nas grandes cidades e 100 mil réis nas demais regiões). Seu objetivo declarado era manter a ordem pública, defender a Constituição e a integridade do Império, reprimindo revoltas locais. Na prática, ela se tornou o principal instrumento de defesa dos interesses privados dos "coronéis" e das oligarquias rurais.

  2. Código do Processo Criminal (1832): Esta medida concedeu plena autoridade judiciária e policial em nível municipal aos juízes de paz. Esses juízes eram, em geral, escolhidos entre os grandes proprietários de uma dada região, o que, assim como a Guarda Nacional, fortaleceu ainda mais o poder das elites locais.

  3. Ato Adicional de 1834: Esta foi a reforma constitucional mais significativa do período. Fruto da maioria liberal na Câmara dos Deputados, que defendia maior autonomia para as províncias, o Ato Adicional visava conciliar as tendências centralizadoras e descentralizadoras. Suas principais inovações foram:

    • Criação das Assembleias Legislativas Provinciais: Substituíram os antigos Conselhos Gerais e tinham poder para legislar sobre questões locais, como organização civil, judiciária e religiosa, instrução pública, desapropriações, funcionalismo, economia municipal, transporte e obras públicas. Isso representou um importante passo na descentralização.

    • Criação do Município Neutro do Rio de Janeiro: Desmembrado da província do Rio de Janeiro, com sua própria sede e governo, visava manter o controle da capital pela administração central.

    • Voto para a escolha do Regente Uno: A regência passou a ser exercida por um único regente, eleito por quatro anos, e a escolha era aberta aos eleitores das províncias (grandes proprietários).

    • Extinção do Conselho de Estado: Este órgão, associado ao autoritarismo de D. Pedro I, foi extinto.

    • Suspensão do exercício do Poder Moderador: Também visto como um traço autoritário, sua suspensão agradou aos liberais.

Essas medidas, embora tivessem a intenção de pacificar e descentralizar o poder, ao mesmo tempo que reprimiam a oposição mais radical (exaltados e restauradores), acabaram por revelar e, em muitos casos, acentuar os conflitos latentes. A expectativa de maior autonomia, gerada pelo Ato Adicional, não foi totalmente satisfeita, o que se tornou uma das razões para novas e mais intensas revoltas.

As Regências no Poder: Uma Cronologia Essencial

O Período Regencial foi dividido em quatro fases:

  1. Regência Trina Provisória (7 de abril a 3 de maio de 1831): Composta por Francisco de Lima e Silva, Nicolau Pereira de Campos Vergueiro e José Joaquim Carneiro de Campos, foi eleita às pressas após a abdicação de D. Pedro I para garantir a transição. Anistiou criminosos políticos e afastou estrangeiros suspeitos das tropas.

  2. Regência Trina Permanente (1831-1835): Eleita formalmente, era composta por José da Costa Carvalho (Bahia), João Bráulio Moniz (Maranhão) e Francisco de Lima e Silva (Rio de Janeiro). Esta regência implementou as reformas liberais iniciais, como a criação da Guarda Nacional e o Código do Processo Criminal, e presenciou as discussões que levaram ao Ato Adicional.

  3. Regência Una de Feijó (1835-1837): Padre Diogo Antônio Feijó, do Partido Moderado, foi eleito o primeiro regente único. Sua regência foi marcada por grandes dificuldades e pelo início de conflitos internos sérios, como a Cabanagem e a Guerra dos Farrapos. Enfrentou forte oposição dos Regressistas (que viriam a formar o Partido Conservador). Feijó acabou renunciando por falta de apoio político.

  4. Regência Una de Araújo Lima (1837-1840): Pedro de Araújo Lima, um conservador "calmo, ponderado e tolerante", assumiu após a renúncia de Feijó. Seu governo marcou o fim das políticas liberais e o avanço da centralização do poder. A Lei Interpretativa do Ato Adicional (1840), aprovada sob seu governo, reduziu a autonomia provincial e municipal, controlando a polícia e o Judiciário. Apesar da repressão violenta, Araújo Lima teve que lidar com a continuidade da Farroupilha e Cabanagem, além da eclosão da Sabinada e Balaiada. O aumento das disputas políticas no Congresso, impulsionado pelos liberais, culminou no Golpe da Maioridade.

Formação dos Partidos Políticos

É crucial entender que o Período Regencial foi o palco para a formação dos primeiros partidos políticos brasileiros, que moldariam a política do Império por décadas. Inicialmente, havia facções políticas:

  • Moderados (Chimangos): Principalmente proprietários rurais e comerciantes do interior de Minas Gerais, associados a militares e pequena burguesia urbana. Buscavam reformas políticas que limitassem o poder do Imperador e garantissem sua participação no governo.

  • Exaltados (Jurujubas, Farroupilhas): Composição social heterogênea (médios e pequenos comerciantes, artesãos, funcionários públicos, militares e profissionais liberais). Defendiam reformas mais amplas, incluindo federalismo, e alguns até a República, embora não todos se manifestassem sobre a escravidão.

  • Restauradores (Caramurus): Antigos aristocratas, cortesãos, burocratas do Primeiro Reinado, militares e comerciantes portugueses. Defendiam o retorno de D. Pedro I e uma monarquia fortemente centralizada, opunham-se às reformas liberais e, em alguns casos, lutavam contra a discriminação racial.

Com o tempo, essas facções se reorganizaram. O grupo Progressista (favoráveis à autonomia provincial e a Feijó) evoluiu para o Partido Liberal, enquanto os Regressistas (defensores da centralização) criaram o Partido Conservador. O Partido Liberal atraiu a classe média urbana, clérigos e proprietários rurais de novas áreas agrícolas (São Paulo, Minas, Rio Grande do Sul), enquanto o Partido Conservador se formou a partir de grandes fazendeiros do Vale do Paraíba (café), magistrados, burocratas da Corte e fazendeiros da Bahia e Pernambuco.

As Principais Revoltas Provinciais: Conflitos que Definiram uma Nação

As Revoltas Regenciais foram insurreições populares e regionais que eclodiram em diversas partes do Brasil, impulsionadas pela insatisfação com o governo central, dificuldades econômicas, aspirações por maior autonomia e profundas tensões sociais. Embora diversas, todas convergiam na oposição ao modelo de governo centralizado e à exploração.

Essas revoltas podem ser divididas em duas ondas:

  1. Primeiro Ciclo (1831-1835): Principalmente urbanas, muitas com caráter restaurador ou exaltado, envolvendo ampla participação popular e tropas. Expressavam protestos contra o governo, carestia, inflação, presença portuguesa no comércio e política, e maus-tratos a militares. Destacam-se a Cabanada (Pernambuco) e a Revolta dos Malês (Bahia).

  2. Segundo Ciclo (1835-1848): Após o Ato Adicional, o conflito se descentralizou e se deslocou para as áreas rurais, remexendo em camadas mais profundas da sociedade e revelando perigos mais graves para a ordem e a unidade nacional. As mais importantes foram Cabanagem, Guerra dos Farrapos, Sabinada e Balaiada.

Cabanagem (Pará, 1835-1840)

A Cabanagem foi a revolta mais trágica e uma das mais importantes do Período Regencial, notável pela ampla participação das camadas mais pobres e oprimidas e por ser a única em que os rebeldes chegaram a ocupar o governo provincial por meses.

  • Causas e Contexto: A província do Grão-Pará tinha pouca conexão com o Rio de Janeiro e sofria com a exploração e a marginalização social. A população era majoritariamente composta por indígenas, escravos, mestiços e pequenos agricultores que viviam em cabanas (daí o nome da revolta). A insatisfação com as péssimas condições de vida e o desejo das elites locais por maior participação política (opondo-se aos presidentes provinciais nomeados pela regência) criaram um cenário de tensão. A tensão em torno da regulação do trabalho indígena na província, onde ações e omissões do Parlamento foram cruciais, é vista como um ponto central, muitas vezes obscurecido pela ideia de "guerra de raças". A lei colonial de 1798 permitia o trabalho compulsório de tapuios (indígenas avilados) na Milícia de Ligeiros e "fábricas nacionais", e mesmo após sua extinção formal pelo Parlamento em 1831, a prática continuou "ao arrepio da lei".

  • Acontecimentos e Líderes: Em 1835, os cabanos tomaram Belém, assassinando o presidente provincial Bernardo Lobo de Souza. Os rebeldes, incluindo homens como Félix Clemente Malcher, Francisco Pedro Vinagre e Eduardo Angelim, assumiram o governo da província. Angelim, um cearense de 21 anos, tornou-se um líder popular extraordinário.

  • Objetivos: Inicialmente, havia divergências. Alguns líderes buscavam uma aliança com as elites e os regentes, enquanto Angelim focava na melhoria das condições dos revoltosos. As proclamações revelam ódio a portugueses, estrangeiros e maçons, defesa da liberdade, da religião católica, do Pará e de D. Pedro II, mas não um programa de governo claro. A ideia de separação da província foi proclamada. O Parlamento, por sua vez, via a revolta como resultado da timidez das reformas constitucionais ou do isolamento da província, mas também como uma "guerra de raças".

  • Repressão e Consequências: A repressão foi extremamente violenta. As tropas federais, sob o comando do Brigadeiro Soares de Andréa, massacraram os revoltosos, prenderam e fuzilaram muitos, e impuseram o Corpo de Trabalhadores (trabalho compulsório para homens livres não-brancos). A Cabanagem resultou na morte de aproximadamente 30 mil pessoas, o equivalente a 20% da população da província, e a destruição da capital. A Regência e o Parlamento, embora conscientes do isolamento do Pará, optaram pela repressão mais dura, atrasando os efeitos do Ato Adicional na província.

Revolta dos Malês (Bahia, 1835)

A Revolta dos Malês é considerada a maior revolta de escravizados na história do Brasil. Apesar de sua curta duração, ela causou grande temor nas elites escravocratas e teve um impacto significativo na legislação e repressão à população negra.

  • Causas e Contexto: Ocorreu em Salvador, Bahia, uma província com alta concentração de africanos escravizados, especialmente nagôs (iorubás) e haussás. A insatisfação era profunda devido à exploração, violência, e a repressão à religiosidade africana e islâmica (o catolicismo era imposto como religião oficial).

  • Acontecimentos e Líderes: Foi organizada por africanos escravizados, muitos deles muçulmanos (chamados "malês", do iorubá "imalê", que significa muçulmano). Os líderes incluíam nomes como Ahuna, Pacífico Licutan e Manoel Calafete. O levante, planejado para o final do Ramadã, eclodiu na madrugada de 25 de janeiro de 1835, mobilizando cerca de 600 escravizados, a maioria urbanos. Os rebeldes usavam abadás brancos e amuletos com passagens do Alcorão.

  • Objetivos: Principalmente abolir a escravidão, tomar o controle de Salvador, garantir a liberdade religiosa e combater o catolicismo, e reprimir a população branca. Embora houvesse a ideia de "exterminar brancos e mulatos" (esses últimos vistos como integrados ao sistema), o movimento se focava na libertação dos negros.

  • Repressão e Consequências: A revolta foi denunciada e rapidamente reprimida pela Guarda Nacional, durando menos de um dia. Resultou na morte de 70 africanos e nove nas forças governistas. As punições foram severas: prisão, açoite, deportação (milhares de negros para a África) e execução (quatro líderes fuzilados). O temor de uma "Revolução Haitiana" no Brasil foi reforçado. Além disso, a Revolta dos Malês influenciou a aprovação da Lei de 10 de junho de 1835, que diferenciou a situação judicial dos cativos, permitindo a pena de morte por decisão de dois terços dos jurados para crimes específicos de escravos, sem recurso.

Sabinada (Bahia, 1837-1838)

A Sabinada foi uma revolta de caráter autonomista e separatista transitório, ocorrida na Bahia, liderada principalmente pela classe média urbana.

  • Causas e Contexto: A Bahia enfrentava uma crise econômica e social (expansão da produção açucareira em outras localidades, redução da oferta de alimentos, inflação, moedas falsas). A divisão de poderes do Ato Adicional excluiu as camadas médias de Salvador dos cargos da Assembleia Legislativa, beneficiando apenas os latifundiários. A insatisfação com a Corte do Rio de Janeiro e com os poderosos locais (legalistas) impulsionou o movimento.

  • Acontecimentos e Líderes: Liderada pelo médico e jornalista Francisco Sabino Álvares da Rocha Vieira (daí o nome) e pelo advogado João Carneiro da Silva Rego. Iniciou-se em 7 de novembro de 1837, com a tomada da Câmara Municipal de Salvador e a proclamação de uma "República Baiana". Esta república, no entanto, seria provisória, durando apenas até a maioridade de D. Pedro II, evidenciando um caráter moderado e unionista. A maioria dos participantes eram profissionais liberais, funcionários públicos e pequenos comerciantes.

  • Objetivos: Criação de uma República Bahiense interina, separação provisória do governo central, e defesa da autonomia provincial. Curiosamente, o antilusitanismo não foi um traço marcante, e a participação de escravos foi limitada, pois a revolta não propunha a abolição geral (apenas libertaria crioulos que pegassem em armas, uma medida de ocasião). O medo de uma revolta escrava (herança dos Malês) também inibiu o apoio total.

  • Repressão e Consequências: Sem o apoio das elites rurais e da massa escrava, a repressão do governo imperial (sob Araújo Lima) foi facilitada. Em março de 1838, Salvador foi retomada com grande violência, resultando na morte de cerca de 1.800 pessoas. Os líderes foram condenados, mas alguns, como Sabino, tiveram penas amenizadas e foram exilados.

Balaiada (Maranhão, 1838-1841)

A Balaiada foi uma rebelião popular no Maranhão, impulsionada pela crise na produção algodoeira e pelas graves desigualdades sociais.

  • Causas e Contexto: A província do Maranhão, com uma grande população de escravos e sertanejos miseráveis, via o poder controlado por proprietários rurais e comerciantes. A insatisfação social era antiga e aumentou com a tentativa dos conservadores de aumentar os poderes dos prefeitos.

  • Acontecimentos e Líderes: A revolta começou em 1838 com a ação de Manuel Francisco dos Anjos Ferreira (o Balaio), fabricante de balaios, que buscava vingança contra um oficial. A ele se juntaram Raimundo Gomes (o Cara Preta), um vaqueiro, e o líder quilombola Cosme Bento (Negro Cosme), que reuniram até 12 mil revoltosos. Os balaios tomaram a Vila da Manga, libertaram prisioneiros, e em 1839, conquistaram a importante cidade de Caxias.

  • Objetivos: Combater a violência e a exploração dos grandes latifundiários, buscar melhores condições de vida para os trabalhadores rurais e a liberdade dos escravizados. Eles também exigiam a demissão de portugueses do exército e da administração. Embora recebessem apoio político dos liberais (os "bem-te-vis"), que tentavam usar o movimento para seus próprios fins, os balaios eram essencialmente um movimento rural e popular.

  • Repressão e Consequências: A repressão foi comandada por Luís Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. Muitos revoltosos se renderam sob a promessa de anistia, mas foram severamente punidos. Os líderes Negro Cosme e Cara Preta foram executados, com Cosme sendo enforcado em praça pública como exemplo. A Balaiada, como a Cabanagem, foi uma expressão da resistência popular contra as desigualdades e injustiças da sociedade escravista.

Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 1835-1845)

A Guerra dos Farrapos, ou Revolução Farroupilha, foi a mais longa guerra civil do Brasil, estendendo-se por quase uma década e chegando ao Segundo Reinado. É única por ter sido liderada pela elite local, embora tenha contado com participação popular.

  • Causas e Contexto: A principal causa econômica foi a questão fiscal envolvendo o charque (carne seca), o principal produto da economia rio-grandense. Os estancieiros gaúchos pagavam impostos altos, o que os colocava em desvantagem em relação ao charque importado da Argentina e Uruguai, que tinha impostos menores. Politicamente, havia a disputa entre os farroupilhas (liberais, que queriam maior autonomia para a província) e os caramurus (conservadores, defensores da centralização). A forte influência de ideias republicanas das vizinhas repúblicas do Prata (Uruguai, Argentina, Paraguai) também foi um fator importante.

  • Acontecimentos e Líderes: Iniciou-se em 20 de setembro de 1835, quando os farroupilhas, liderados por Bento Gonçalves, tomaram Porto Alegre e depuseram o governador conservador. Com a radicalização do conflito, o separatismo e a proclamação de uma república tornaram-se objetivos principais. Em 11 de setembro de 1836, foi proclamada a República Rio-Grandense (República Piratini). Em 1839, com a ajuda do italiano Giuseppe Garibaldi, foi conquistada Laguna (Santa Catarina) e proclamada a República Juliana.

  • Objetivos: Inicialmente, a deposição do governador adversário e objetivos fiscais (redução de impostos sobre o charque gaúcho e aumento sobre o platino). Posteriormente, radicalizou para o separatismo e a proclamação de repúblicas. A maioria dos líderes era estancieiros, muitos oficiais do exército do Império, como Bento Gonçalves e David Canabarro.

  • Fim e Consequências: A guerra só terminou em 1º de março de 1845, já no Segundo Reinado, com o Tratado de Poncho Verde (Paz de Poncho Verde), negociado por Luís Alves de Lima e Silva (Barão de Caxias) e David Canabarro. Os farrapos, embora derrotados militarmente, obtiveram uma vitória política significativa, com a maioria de suas reivindicações atendidas: anistia total, presidente da província escolhido pelos farrapos, redução de impostos sobre o charque gaúcho e aumento sobre o importado, e incorporação de oficiais revoltosos ao Exército Imperial.

    • O Massacre de Porongos: Um episódio trágico próximo ao fim da guerra (1844) foi o assassinato de mais de uma centena de lanceiros negros que lutavam pelos farrapos (cerca de um terço das tropas farrapas eram negras). Para muitos pesquisadores, esses soldados foram traídos pelos próprios líderes farroupilhas (como David Canabarro), que temiam negros armados após o conflito.


Perguntas e Respostas Comuns sobre o Período Regencial e suas Revoltas

Para solidificar o conhecimento e esclarecer dúvidas frequentes, compilamos as respostas para as perguntas mais comuns sobre o Período Regencial e suas revoltas.

1. O que causou a instabilidade e as revoltas no Período Regencial? A instabilidade foi multifatorial:

  • Vazio de poder: A abdicação de D. Pedro I deixou um herdeiro criança, gerando incertezas sobre o futuro do Império.

  • Descontentamento com o governo central: Muitas elites regionais e camadas populares se opunham à centralização excessiva do poder no Rio de Janeiro e à nomeação de governadores sem respaldo local.

  • Crise econômica: Dificuldades econômicas, como a desvalorização do açúcar e algodão, inflação e impostos pesados, afetaram diversas províncias e camadas sociais.

  • Lutas políticas: As disputas entre as facções políticas (moderados, exaltados, restauradores) e a busca por maior participação e autonomia provincial foram constantes.

  • Tensões sociais: Desigualdades sociais, exploração da mão de obra (especialmente indígena e escrava), e o desejo de liberdade de grupos marginalizados (escravos, libertos, indígenas, camponeses) foram motores importantes.

2. O que foi o Ato Adicional de 1834 e qual sua relação com as revoltas? O Ato Adicional de 1834 foi uma reforma da Constituição de 1824 que buscou descentralizar o poder. Ele criou as Assembleias Legislativas Provinciais, deu mais autonomia às províncias, aboliu o Conselho de Estado e o Poder Moderador, e estabeleceu a eleição de um regente único. paradoxalmente, o Ato Adicional tanto visava pacificar quanto, em alguns casos, intensificou as tensões. Para alguns, as reformas foram tímidas demais, não atendendo às expectativas de maior autonomia e levando à frustração. Para outros, a centralização mantida ou restabelecida posteriormente (com a Lei Interpretativa do Ato Adicional em 1840) foi a causa da revolta. Assim, as reações revolucionárias foram diversas: alguns se revoltaram pela aplicação estrita da lei, outros por considerá-la insuficiente.

3. Quais foram as principais Revoltas Regenciais e suas características gerais? As cinco principais revoltas foram:

  • Cabanagem (Pará, 1835-1840): Revolta popular com forte participação de indígenas, mestiços e escravos. Única onde os rebeldes tomaram o poder provincial. Extrema violência e alto número de mortos.

  • Revolta dos Malês (Bahia, 1835): Maior levante urbano de escravos no Brasil, liderado por muçulmanos (malês). Focada na abolição da escravidão e liberdade religiosa.

  • Sabinada (Bahia, 1837-1838): Movimento de classe média urbana com caráter separatista provisório (até a maioridade de D. Pedro II). Buscava autonomia provincial.

  • Balaiada (Maranhão, 1838-1841): Revolta popular de vaqueiros, artesãos e escravos, motivada pela crise econômica e desigualdades sociais.

  • Guerra dos Farrapos (Rio Grande do Sul e Santa Catarina, 1835-1845): A mais longa guerra civil brasileira, liderada pela elite estancieira por questões fiscais e autonomia, culminando no separatismo e proclamação de repúblicas.

4. Qual foi a revolta mais longa do Período Regencial? A Guerra dos Farrapos foi a mais longa, durando nove anos e meio (de 20 de setembro de 1835 a 1º de março de 1845), estendendo-se inclusive para o Segundo Reinado.

5. Houve participação de escravos nas Revoltas Regenciais? Sim, a participação de escravos foi significativa e variada.

  • Na Revolta dos Malês, os escravos muçulmanos foram os protagonistas e organizadores.

  • Na Cabanagem, escravos e libertos (além de indígenas e mestiços) compunham grande parte da base social e foram fundamentais para a ocupação do governo.

  • Na Balaiada, escravos fugidos formaram quilombos e lutaram ativamente sob lideranças como Negro Cosme.

  • Na Guerra dos Farrapos, milhares de escravizados lutaram nas tropas farroupilhas, muitas vezes sob a promessa de liberdade, embora essa promessa tenha sido traída no Massacre de Porongos.

  • Na Sabinada, a oferta de liberdade aos escravos nacionais foi feita, mas não teve adesão massiva e não foi o foco principal do movimento.

6. Qual o papel do Parlamento durante o Período Regencial? O Parlamento teve um papel central nos debates e decisões que moldaram o Período Regencial.

  • Fonte de reformas e tensões: As decisões do Parlamento, como a reforma constitucional de 1834 (Ato Adicional) e a Lei Interpretativa do Ato Adicional (1840), foram diretamente apontadas como causas ou catalisadores das revoltas.

  • Debates sobre autonomia e centralização: Deputados e senadores debatiam intensamente sobre o grau de autonomia provincial versus a centralização do poder, com a Cabanagem e a Farroupilha monopolizando a agenda por anos.

  • Omissões e Intervenções: O Parlamento foi criticado por suas omissões, como a falta de uma legislação específica para o trabalho indígena, que permitiu a continuidade da exploração compulsória e alimentou tensões no Pará. Por outro lado, interveio em momentos de crise, como na discussão da elevação do Rio Negro a província como forma de controlar o território.

  • Repressão: Parlamentares acompanhavam com apreensão as revoltas, influenciando decisões de repressão, como a autorização para a quebra das garantias constitucionais nas províncias.

7. Quais foram as consequências gerais das Revoltas Regenciais? As consequências foram profundas para o Brasil:

  • Manutenção da Unidade Territorial: Apesar das tendências separatistas em algumas revoltas, a unidade do Império foi mantida, embora a um custo social elevado.

  • Fortalecimento do Estado Imperial: As revoltas e sua repressão contribuíram para a consolidação de um Estado mais centralizado, especialmente com as políticas conservadoras da Regência de Araújo Lima.

  • Golpe da Maioridade (1840): A principal consequência imediata foi a antecipação da coroação de D. Pedro II, aos 14 anos, como uma manobra política para conter as revoltas e restaurar a ordem, marcando o fim do Período Regencial.

  • Formação de Partidos Políticos: As disputas e a necessidade de organizar as forças políticas contribuíram para a formalização do Partido Liberal e do Partido Conservador, que dominariam a cena política do Segundo Reinado.

  • Custos Humanos e Econômicos: As revoltas resultaram em dezenas de milhares de mortes e grande destruição econômica em diversas províncias.

  • Debates sobre Questões Sociais: Indiretamente, as revoltas disseminaram ideias sobre a abolição da escravidão e a instituição de uma República do Brasil, temas que seriam central no futuro.


O Legado de um Período Turbulento

O Período Regencial, longe de ser um mero interregno, foi um tempo de profundas transformações e conflitos que moldaram o Brasil Império. A crise de autoridade, as disputas políticas, as reformas liberais (e sua posterior reversão conservadora), e a eclosão das revoltas provinciais, com variada participação popular, evidenciaram as tensões latentes de uma nação recém-independente e a luta pela definição de suas estruturas sociais e políticas.

A compreensão desses eventos é essencial para perceber como o Brasil conseguiu manter sua unidade territorial, como se formaram seus primeiros partidos políticos e como as questões sociais e econômicas do povo se manifestaram em meio às disputas das elites. Estudar as Regências é, portanto, mergulhar nas raízes do Brasil contemporâneo e em seus desafios persistentes.

Questões:

  1. Qual foi o período em que o Brasil passou por um governo de regências após a abdicação de D. Pedro I?

a) 1825-1830
b) 1831-1840
c) 1841-1850
d) 1851-1860

  1. Qual das seguintes revoltas provinciais ocorreu no Pará?

a) Balaiada
b) Sabinada
c) Cabanagem
d) Inconfidência

  1. Qual era o objetivo principal da Revolta da Balaiada?

a) Independência da província
b) Abolição da escravidão
c) Melhores condições de vida para a população urbana
d) Luta pela descentralização do poder

Gabarito:

  1. b) 1831-1840

  2. c) Cabanagem

  3. c) Melhores condições de vida para a população urbana