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10/03/2024 • 20 min de leitura
Atualizado em 27/07/2025

O processo de independência e a proclamação da independência do Brasil

Compreender a Independência do Brasil vai muito além do famoso "Grito do Ipiranga" de 7 de setembro de 1822. Na verdade, foi um complexo e multifacetado processo histórico que se estendeu por anos, envolvendo intensas articulações políticas, disputas regionais e a persistência de estruturas sociais e econômicas herdadas do período colonial.

1. O Brasil antes da Independência: Um Sistema Colonial em Crise (A Base para Entender o "Porquê")

Para entender por que o Brasil se tornou independente, é fundamental olhar para as transformações que já vinham acontecendo no final do século XVIII e início do XIX. O sistema colonial português, embora ainda vigente, apresentava sinais claros de enfraquecimento.

1.1. As Primeiras Sementes da Insatisfação: Movimentos Emancipacionistas

Você já se perguntou se a ideia de independência surgiu do nada? Definitivamente não! Ao longo do século XVIII, e com mais intensidade no final dele, surgiram diversos movimentos de contestação ao domínio português, muitos influenciados pelas ideias iluministas de liberdade e autonomia que ecoavam da Europa e das Américas. Eles demonstravam um crescente sentimento nativista e emancipacionista.

Entre os mais conhecidos, destacam-se:

  • Inconfidência Mineira (1789): Uma revolta de caráter republicano e separatista, organizada por setores da capitania de Minas Gerais contra o poder colonial, impulsionada por questões políticas e econômicas, como a cobrança excessiva de impostos (o "quinto") em uma época de esgotamento das minas.

  • Conjuração Baiana (1798): Também conhecida como Revolta dos Alfaiates, foi um movimento de cunho popular e republicano que defendia o fim da escravidão, refletindo as tensões sociais da época.

  • Revolução Pernambucana (1817): Este foi um movimento singular, pois foi o único do período colonial que ultrapassou a fase conspiratória e chegou à tomada do poder. Com caráter liberal, federalista e republicano, eclodiu em Pernambuco devido a fatores como a influência iluminista, os enormes gastos da Família Real (que exigiam grandes somas de dinheiro de Pernambuco, a capitania mais lucrativa), a seca de 1816 e o atraso no pagamento de soldados. A república foi proclamada pela primeira vez em terras brasileiras durante este levante, que durou cerca de 75 dias. A repressão foi violenta, com execuções e a desmembramento da comarca das Alagoas do território pernambucano como retaliação.

    • Prioridade para Concursos: A Revolução Pernambucana é frequentemente cobrada por seu caráter republicano, por ter de fato tomado o poder, e por sua relação com os gastos da Corte.

Esses movimentos, embora reprimidos, foram precursores e mostraram que o desejo por autonomia e mudanças já fermentava em diversas regiões do Brasil.

1.2. A Virada do Século: Napoleão, a Corte no Brasil e o Fim do "Pacto Colonial"

A grande mudança que aceleraria o processo de independência veio de um evento inesperado na Europa: as Guerras Napoleônicas.

  • Bloqueio Continental (1806): Napoleão Bonaparte, imperador da França, decretou o Bloqueio Continental para enfraquecer a Inglaterra economicamente, proibindo as nações europeias de comercializar com ela.

  • A Fuga da Família Real (1807): Portugal, antigo aliado da Inglaterra, encontrava-se em uma posição difícil. Para evitar a invasão francesa e a perda do trono, D. João VI (então Príncipe Regente) decidiu transferir a Corte portuguesa para o Brasil. Essa decisão, apoiada pela Inglaterra, garantiu a continuidade da soberania portuguesa e o acesso inglês ao mercado brasileiro. Estima-se que entre 10 e 15 mil pessoas da Corte se mudaram, trazendo consigo a estrutura de poder, obras de arte e recursos.

A chegada da Família Real ao Rio de Janeiro em 1808 marcou o início do Período Joanino (1808-1821) e representou uma "inversão metropolitana". O Brasil deixou de ser uma mera colônia e passou a funcionar como a sede administrativa do Império Português. Isso gerou profundas transformações no Brasil, que visavam modernizar o país e dar suporte à Corte.

Entre as medidas mais impactantes, destacam-se:

  • Abertura dos Portos às Nações Amigas (1808): Uma das primeiras e mais importantes ações de D. João VI, que pôs fim ao monopólio comercial português (o "Exclusivo Metropolitano" ou "Pacto Colonial"). Isso beneficiou a Inglaterra, que tinha melhores condições de comércio, e agradou à elite econômica brasileira, que desejava mais liberdade comercial.

  • Tratado de Comércio e Navegação (1810): Reforçou os privilégios comerciais ingleses, estabelecendo tarifas alfandegárias mais baixas para produtos britânicos.

  • Criação de Instituições: Foram fundadas escolas (como a Escola de Cirurgia da Bahia), museus, bibliotecas, o Banco do Brasil e a Imprensa Régia, que publicava o primeiro jornal brasileiro, A Gazeta do Rio de Janeiro. Embora houvesse progresso e desenvolvimento intelectual, a imprensa sofria censura, e as publicações contra o governo ou o catolicismo não eram permitidas.

  • Elevação do Brasil a Reino Unido (1815): Para D. João VI garantir sua participação no Congresso de Viena e o reconhecimento da dinastia de Bragança após a derrota de Napoleão, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. Essa medida, além de elevar o status político do Brasil, tinha como objetivo evitar a fragmentação revolucionária que havia ocorrido com os EUA.

Dúvida Comum: Qual a importância da vinda da Família Real? Ela acelerou o processo de independência ao "descolonizar" o Brasil internamente, abrindo os portos e criando uma infraestrutura estatal, mas também gerou insatisfações que impulsionaram o desejo de autonomia.

2. A Jornada para a Separação: Os Marcos da Independência (O "Como Aconteceu")

Apesar das melhorias e do novo status, o descontentamento no Brasil continuava, impulsionado pelas ideias liberais e pela tensão com Portugal.

2.1. A Revolução Liberal do Porto e a Pressão para Recolonizar

Com o fim das Guerras Napoleônicas e a estabilização na Europa, Portugal vivia uma grave crise econômica e política. A burguesia portuguesa, insatisfeita e inspirada pelos ideais liberais, iniciou a Revolução Liberal do Porto em 1820. Os principais objetivos eram:

  • Derrubar a administração inglesa em Portugal e elaborar uma Constituição.

  • Exigir o retorno de D. João VI a Portugal.

  • Recolonizar o Brasil, ou seja, restaurar o monopólio comercial e rebaixar o Brasil à condição de colônia.

Pressionado, D. João VI retornou a Portugal em abril de 1821, levando consigo grande parte do ouro e diamantes do Banco do Brasil. No Brasil, ele deixou seu filho mais velho e herdeiro, D. Pedro de Alcântara, como Príncipe Regente.

2.2. A Regência de D. Pedro: Escalada das Tensões

A partir de 1821, as Cortes portuguesas em Lisboa (a Assembleia Constituinte de Portugal) passaram a emitir decretos que visavam reduzir a autonomia do Brasil e, na prática, fazê-lo retornar à condição colonial. Eles exigiam o retorno imediato de D. Pedro a Portugal, a transferência de importantes instituições criadas no Brasil de volta para Lisboa, e consideravam o Príncipe Regente apenas um "governador de armas" da província do Rio de Janeiro.

Essa intransigência gerou grande insatisfação e reforçou a ideia de separação no Brasil. Grupos políticos se formaram em torno de D. Pedro, buscando a autonomia do Brasil.

2.3. Os Marcos Decisivos da Autonomia

  • Dia do Fico (9 de janeiro de 1822): Diante das crescentes pressões das Cortes para seu retorno, D. Pedro recebeu um abaixo-assinado com milhares de assinaturas solicitando sua permanência no Brasil. Sua resposta, que se tornou célebre (embora a veracidade exata das palavras seja questionada pelos historiadores): "Se é para o bem de todos e felicidade geral da Nação, estou pronto. Diga ao povo que fico". Essa decisão foi um passo crucial e simbólico para a independência, evitando o retrocesso à condição de colônia.

    • Prioridade para Concursos: O Dia do Fico é um marco fundamental. Importante notar que, naquele momento, muitos ainda desejavam manter o vínculo com Portugal, mas com maior autonomia.

  • O "Cumpra-se" (Maio de 1822): D. Pedro decretou que nenhuma lei ou ordem vinda de Portugal teria validade no Brasil sem seu aval prévio. Essa medida reforçou a autoridade do Príncipe Regente e a progressiva separação.

  • Convocação da Assembleia Constituinte (Junho de 1822): D. Pedro convocou eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte brasileira, um passo claro na direção da autonomia legislativa do país.

  • O Papel de Maria Leopoldina: A Imperatriz, com vasto conhecimento em ciências, línguas e administração, foi uma figura-chave no processo de independência. Em 2 de setembro de 1822, na ausência de D. Pedro (que estava em viagem a São Paulo), ela presidiu uma sessão extraordinária do Conselho de Estado. Após a leitura de novas e intransigentes ordens de Lisboa que exigiam o retorno imediato de D. Pedro e acusavam seus ministros de traição, Leopoldina e os ministros decidiram pela separação definitiva de Portugal, assinando uma declaração de independência. Ela enviou um mensageiro (Paulo Bregaro) para entregar a notícia a D. Pedro.

    • Prioridade para Concursos: A atuação de Maria Leopoldina é um ponto relevante, pois desmistifica a ideia de que a independência foi um ato exclusivo de D. Pedro I. Sua decisão antecipou e solidificou o rompimento.

  • O Grito do Ipiranga (7 de setembro de 1822): Ao receber a carta de Leopoldina e José Bonifácio às margens do riacho Ipiranga, em São Paulo, D. Pedro teria proferido a famosa frase "Independência ou Morte!", rompendo oficialmente os laços com Portugal. Este evento é considerado o marco simbólico da Independência do Brasil.

    • Dúvida Comum: O "Grito" realmente aconteceu como é retratado na pintura de Pedro Américo? A historiografia atual questiona a veracidade literal do evento. A imagem heroica e centralizada em D. Pedro I, popularizada pela pintura "Independência ou Morte" (1888) de Pedro Américo, é vista como uma construção posterior, um "mito" criado para forjar um sentimento de nacionalidade e legitimar a figura do monarca. A realidade provavelmente foi menos teatral e mais fruto de um processo contínuo de decisões políticas e pressões.

2.4. Aclamação e Coroação do Imperador D. Pedro I

A notícia da independência se espalhou, e em 12 de outubro de 1822 (aniversário de D. Pedro), ele foi aclamado Pedro I, Imperador Constitucional e Defensor Perpétuo do Brasil. A escolha do título de "imperador" em vez de "rei" visava simbolizar uma nova ordem, não apenas a continuidade dinástica portuguesa, e a aclamação popular. Sua coroação ocorreu em 1º de dezembro de 1822.

3. As Contradições e as Consequências da Independência (O "Legado Incompleto")

A Independência do Brasil, embora um marco fundamental, não resultou em uma ruptura total com as estruturas coloniais e as hierarquias sociais. Ela foi, em muitos aspectos, uma independência "conservadora".

3.1. As Guerras de Independência: Um Processo Não-Pacífico

Ao contrário do que a narrativa romântica pode sugerir, a independência não foi um processo pacífico em todo o território. Houve resistência de tropas portuguesas e de grupos que se mantiveram leais à metrópole, levando a conflitos armados em diversas províncias.

As principais frentes de resistência ocorreram nas províncias de:

  • Bahia: Cenário de intensas batalhas, envolvendo figuras como Maria Quitéria de Jesus. A independência na Bahia só foi consolidada em 2 de julho de 1823.

  • Pará e Maranhão: Regiões com forte presença de tropas portuguesas, onde também ocorreram combates. A "Adesão do Pará" ao Império independente ocorreu após sufocamento de tropas portuguesas.

  • Cisplatina (atual Uruguai): Província invadida por D. João VI anteriormente, que se tornou palco de conflitos e que, mais tarde, conquistaria sua própria independência do Brasil.

Para conter essas revoltas e formar um exército, D. Pedro I precisou contratar mercenários e solicitar empréstimos à Inglaterra. A guerra de independência brasileira teve um número de combatentes maior do que as guerras de libertação da América Espanhola, com uma estimativa de 2.000 a 3.000 mortos.

3.2. O Reconhecimento Internacional e o Endividamento

O reconhecimento da independência por Portugal veio apenas em 1825, com a assinatura do Tratado de Paz e Aliança. Em troca, o Brasil se comprometeu a pagar uma indenização de dois milhões de libras esterlinas a Portugal. Para isso, o Brasil novamente recorreu a empréstimos com a Inglaterra, que mediou as negociações interessada em privilégios comerciais.

  • Prioridade para Concursos: O endividamento do Brasil com a Inglaterra logo no início de sua vida independente é um ponto crucial, pois marcou o início de uma dependência econômica.

Quanto ao reconhecimento por outros países, por décadas acreditou-se que os Estados Unidos foram os primeiros a reconhecer formalmente em 1824, impulsionados pela Doutrina Monroe. No entanto, estudos mais recentes sugerem que o primeiro país a reconhecer o Brasil pode ter sido o Reino do Daomé (na África Ocidental), ou as Províncias Unidas do Rio da Prata (atual Argentina). Outros países americanos, recém-independentes e republicanos, tinham resistência ao regime monárquico e às tendências absolutistas de D. Pedro I.

3.3. Uma Cidadania Restrita e a Colonialidade Persistente

Apesar dos ideais liberais que circulavam, a independência brasileira não promoveu grandes rupturas sociais. Ao contrário do que muitos esperavam, o Brasil optou por uma monarquia (sendo a única no continente, junto com a haitiana e mexicana, no período pós-independência das Américas).

Um dos maiores legados da colonialidade foi a manutenção da escravidão, que só seria legalmente abolida em 1888. Escravizados e indígenas, grupos historicamente marginalizados, continuaram sem maiores direitos e participação política.

  • A Noção de Cidadania: A cidadania no Brasil imperial era extremamente restrita e hierarquizada. José Murilo de Carvalho (2002) define cidadania em três dimensões: direitos civis (liberdade, propriedade, igualdade perante a lei), direitos políticos (participação no governo, voto) e direitos sociais (educação, trabalho, saúde). No Brasil do século XIX, os escravos estavam totalmente excluídos de todas essas dimensões. Mesmo os "homens livres da ordem escravocrata" e os brancos pobres não eram plenamente contemplados.

    • A Constituição de 1824, outorgada por D. Pedro I após fechar a Assembleia Constituinte de 1823, estabeleceu uma cidadania vinculada à nacionalidade, mas com base na propriedade e renda. Havia a distinção entre:

      • Cidadania Ativa: Reservada aos cidadãos-proprietários, com direito a voto e a cargos públicos.

      • Cidadania Passiva: Para os brasileiros pobres, que eram súditos de direitos, mas não de direitos políticos, considerados politicamente inaptos.

    • Grande parte da população, incluindo "arraia miúda" (pobres), negros escravizados e ex-escravizados, e trabalhadores urbanos, tinha acesso parcial ou nenhum acesso à cidadania. A "boa sociedade" detinha os atributos para o governo.

  • Colonialidade e Racismo como Pilares: O processo de formação do Estado brasileiro se deu em conjunto com a criação de uma classe dirigente e a expansão de uma civilização. No entanto, os preceitos colonialistas, como o racismo, não foram abandonados. A noção de colonialidade é fundamental para entender esse período.

    • A colonialidade é a face da modernidade europeia que cabe aos colonizados, um padrão de poder que emerge da relação colonial e persiste mesmo após os processos de independência. Ela se manifesta em eixos de poder como a ideia de raça e a naturalização de uma relação de inferioridade, além de uma estrutura de trabalho baseada em servidão e escravidão.

    • Essa ideia de raça levou à hierarquização de povos e lugares, culminando em uma noção muito restrita de cidadania. Argumentos racistas foram utilizados para excluir indígenas, negros e mestiços, ou seja, a maioria da população brasileira.

    • Dehumanização e "Não-Ser": Maldonado Torres (2007) argumenta que a ideia de raça permitiu a substituição da noção de "Outro" pela noção de "não-ser". Isso se manifestou na classificação das pessoas em graus de humanidade, onde "quanto mais branca a pele, mais próximo o sujeito estaria de representar uma humanidade completa – e, consequentemente, estar apto à cidadania".

    • Prioridade para Concursos: O conceito de colonialidade, a persistência do racismo e a exclusão da maioria da população (indígenas, negros, pobres) da cidadania são pontos essenciais para uma análise crítica da independência.

  • O Tratamento Indígena: Embora a humanidade dos povos indígenas não fosse oficialmente contestada (para justificar uma unidade populacional), na prática, a noção do indígena "selvagem, bestial e feroz" justificava violências e expropriações de terra. A política de assimilação (Diretório Pombalino) e a prática de "guerra justa" (invocada por D. João VI no século XIX) para tomar terras de indígenas "insubmissos" e "inaptos ao processo civilizatório" demonstram a persistência da violência colonial.

3.4. Os Desafios da Unidade Nacional

Apesar da proclamação da independência, o Brasil ainda precisava consolidar sua unidade territorial e um sentimento geral de pertencimento. Havia regiões com identidades específicas, forjadas por séculos de domínio colonial.

  • Regionalismos: Algumas regiões tinham laços mais estreitos com Portugal ou com o continente africano. Deputados da Bahia, Pernambuco, Pará e Maranhão buscavam diminuir a drenagem de recursos para o Rio de Janeiro. Pernambuco, por exemplo, resistia a uma ideia de unidade construída a partir do sul, mantendo sua autonomia e um circuito comercial e político independente do Rio de Janeiro.

  • Identidade Fragmentada: Jancsó (2003) afirma ser um equívoco reduzir a formação do Estado brasileiro à ruptura com Portugal. Um pernambucano, por exemplo, tinha Pernambuco como pátria, Brasil como país e Portugal como nação. O termo "brasileiro" não era amplamente identificado pelos naturais da terra, e a escravidão era um fator central na organização social.

  • Criação de um "Mito Nacional": O Império buscou forjar uma unidade através da criação de um mito nacional, utilizando datas comemorativas (como o 7 de abril, data da abdicação de D. Pedro I, comparada ao 7 de setembro), a recunhagem da moeda e a imposição da língua portuguesa.

3.5. A Resistência Popular e a Construção da Cidadania "de Baixo para Cima"

A população não foi inerte a esse processo de exclusão. A cidadania se construiu no cotidiano, através de levantes, resistências e lutas por direitos, inclusão e reconhecimento.

  • Politização das Ruas: A imprensa, recém-criada, e os grupos políticos de oposição (liberais moderados e exaltados) difundiram ideias de autonomia e liberdade. Isso levou à "politização das ruas", com a revitalização de espaços de sociabilidade política, mobilização da opinião pública e intensa participação popular.

  • Petições à Câmara: Mesmo após o fechamento da Assembleia Geral, a Constituição de 1824 garantia o direito de petição. Essas petições eram vistas como uma ponte entre o código e o cotidiano, ajudando a construir a imagem da Câmara como defensora do cidadão.

  • Manifestações e Revoltas Urbanas e Rurais:

    • A população livre pobre, ao se encaixar nos requisitos básicos de cidadania (nacionalidade brasileira, não-escravo), buscava usufruir dos novos direitos.

    • Havia um receio constante entre as elites de grandes rebeliões de escravizados, especialmente no Rio de Janeiro (maior cidade escravista das Américas), alimentado por exemplos como a Revolta de São Domingos (Haiti) e a Revolta dos Malês (1835).

    • A "Noite das Garrafadas" (março de 1831), um confronto entre defensores e críticos de D. Pedro I nas ruas do Rio de Janeiro, demonstra a tensão da época e contribuiu para a abdicação do imperador. Os manifestantes eram frequentemente descritos como de "baixa condição social," "negros e pardos da ínfima classe".

  • Lutas Contra-Colonialistas e Abolicionismo: A formação de quilombos em todo o território nacional foi uma forma contundente de resistência dos escravizados. O movimento abolicionista, um dos maiores do final do século XIX, articulou diferentes grupos sociais em torno do direito à liberdade. As lutas abolicionistas formaram uma identidade e experiência para lutas posteriores.

  • Resistência Indígena: Apesar da tutela governamental, os povos indígenas resistiram ativamente, com conflitos locais violentos e tentativas de recorrer às vias oficiais contra abusos, como as denúncias dos Xucurus de Pernambuco em 1825.

4. Personagens Chave e Suas Nuances (Para Foco em Concursos)

Algumas figuras tiveram papéis centrais, e é importante entender suas complexidades:

  • D. Pedro I (Pedro de Alcântara Francisco Antônio João Carlos Xavier de Paula Miguel Rafael Joaquim José Gonzaga Pascoal Cipriano Serafim de Bragança e Bourbon): Herdeiro da casa real portuguesa, transformado no primeiro imperador do Brasil. Seu protagonismo político na Independência é inegável. No entanto, seu autoritarismo e intransigência marcaram o Primeiro Reinado. Ele fechou a Assembleia Constituinte de 1823 e outorgou a Constituição de 1824, que protegia a escravidão. Sua popularidade declinou devido à Guerra da Cisplatina e ao assassinato do jornalista Líbero Badaró, levando à sua abdicação em 7 de abril de 1831. Ele retornou a Portugal para lutar pelo trono de sua filha.

    • Prioridade para Concursos: Entender que D. Pedro I foi o protagonista, mas também um líder autoritário que limitou a participação política, é fundamental.

  • José Bonifácio de Andrada e Silva: Conhecido como o "Patriarca da Independência". Inicialmente, ele defendia a manutenção dos vínculos com Portugal, mas com autonomia brasileira. Convencido da necessidade de rompimento, tornou-se o principal ideólogo da independência política. No entanto, sua visão era conservadora e centralizadora, pregando a independência sem mudança de regime (sem república ou abolição da escravatura). Ele foi o mentor de periódicos que defendiam a manutenção do Brasil em um reinado.

  • Maria Leopoldina de Habsburgo-Lorena: Como já detalhado, sua decisão de assinar a declaração de independência em 2 de setembro de 1822 foi crucial e muitas vezes subestimada na narrativa oficial. Ela representa a agência feminina e a complexidade das relações de poder na Corte.

  • Joaquim Gonçalves Ledo: Uma figura liberal e maçônica, que atuava em jornais e lojas maçônicas, criticando o colonialismo e defendendo a separação total da metrópole. Ele desenvolveu um jornal independente, o Revérbero Constitucional Fluminense, que incentivava a Assembleia Constituinte. Ele e José Bonifácio, ambos maçons, representavam as duas principais correntes ideológicas (liberal radical vs. conservadora absolutista) que influenciavam D. Pedro I no processo de independência.

  • A Maçonaria: As ideias liberais e progressistas da Maçonaria, que pregam a liberdade de pensamento, igualdade de direitos e fraternidade social, estiveram presentes nos conflitos e eventos que levaram à Independência. Lojas maçônicas funcionavam, por vezes clandestinamente, como espaços de liberdade de pensamento e acesso à bibliografia política e filosófica, em uma época de censura. Na ausência de partidos políticos, a Maçonaria agiu como um verdadeiro partido político da Independência, com muitos de seus membros jurando realizar a independência do Brasil ao ingressar na ordem.

5. O Legado e o Caminho Inacabado da Cidadania (O "Para Onde Fomos")

O processo de independência, que culminou no Império do Brasil, foi um período de modernização que, contudo, manteve a estrutura de privilégios já estabelecida. A cidadania, como ideal de inclusão, não se tornou completa.

  • República Velha e a Exclusão Persistente: Mesmo após a Proclamação da República em 1889, a Constituição de 1891 continuaria a excluir grande parte da população do direito ao voto (analfabetos, mulheres, sem-teto, soldados, membros de ordens religiosas), caracterizando um "liberalismo excludente".

  • Símbolos Nacionais: Novos símbolos surgiram na República, como Tiradentes, e instituições como o IHGB (Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro), que já no Império produzia uma visão elitista da história e exclua o negro da nacionalidade, se adaptaram à nova realidade.

  • Continuidade das Lutas: Nas cidades e no campo, os excluídos continuaram a se levantar em movimentos sociais. Antonio Bispo dos Santos (2019) ressalta que o Estado brasileiro, desde sua fundação até hoje, tem atuado como inimigo de povos e comunidades tradicionais, como quilombolas e indígenas, além da população mais pobre e vulnerável. No entanto, essas comunidades persistem em reivindicar seus direitos, seja por meios legais ou outras formas de resistência.

6. A Independência como Processo Contínuo

A análise da Independência do Brasil sob a luz dos estudos decoloniais revela que a modernidade brasileira foi construída a partir de uma colonialidade persistente, onde a hierarquização racial e a exclusão foram pilares fundamentais. O Estado buscou forjar uma noção de cidadania supostamente homogênea, negando as diferenças e hierarquias que ele mesmo criava.

É crucial entender que o 7 de setembro de 1822 foi um momento simbólico de ruptura política, mas a verdadeira construção de uma nação brasileira inclusiva e de uma cidadania plena é um caminho longo e inacabado, que se estende até os dias atuais. Ao estudar este período, reflita sobre as complexidades, as vozes silenciadas e as permanências, para ter uma compreensão mais completa e crítica da nossa história. A independência não foi um evento isolado, mas o ápice de um processo e o início de outro, que ainda hoje desafia a sociedade brasileira.


Questões:

  1. Quem proclamou a independência do Brasil às margens do rio Ipiranga? a) Dom João VI
    b) Dom Pedro II
    c) Dom Pedro I
    d) Dom Manuel I

  2. Qual foi o modelo de governo estabelecido pela constituição de 1824 após a proclamação da independência? a) Monarquia absolutista
    b) Monarquia parlamentarista
    c) Monarquia constitucional
    d) República presidencialista

  3. Qual grupo assumiu o controle do Brasil após a independência, implementando políticas que favoreciam seus interesses? a) Escravos alforriados
    b) Elite brasileira
    c) Governantes portugueses
    d) Líderes religiosos

Gabarito:

  1. c) Dom Pedro I

  2. c) Monarquia constitucional

  3. b) Elite brasileira