A arte, em suas múltiplas manifestações, tem sido uma constante na história da humanidade, intrinsecamente ligada aos avanços tecnológicos e à própria evolução do ser humano. Desde os tempos mais remotos, ela se manifesta como uma necessidade inegável de expressão, um fruto da relação entre o homem e o mundo, permitindo que a humanidade expresse suas necessidades, crenças, desejos e sonhos. As representações artísticas são, de fato, elementos cruciais para a compreensão da história dos povos em cada período.
As Artes Plásticas, também conhecidas historicamente como Belas Artes, são um conjunto de formações expressivas que se concretizam por meio da manipulação de materiais para construir formas e imagens. Essencialmente, elas envolvem técnicas de produção que transformam ou moldam elementos para revelar uma concepção estética e poética em um dado momento histórico.
O termo "plásticas" deriva da capacidade de moldar, modificar ou transformar materiais, que servem como matéria-prima para o artista expressar sua perspectiva, imaginação ou visão específica da realidade. Portanto, uma característica fundamental das artes plásticas é que elas precisam ser tangíveis, reais, visíveis e palpáveis, permitindo que a ideia do artista seja materializada em algo que possa ser tocado. É como se o sentimento e o pensamento do artista ganhassem forma concreta.
Entre as manifestações clássicas das artes plásticas, destacam-se a pintura, a escultura, o desenho, a arquitetura, a gravura, a cerâmica, a ourivesaria, o artesanato e a pintura mural.
Um ponto de confusão frequente, especialmente em concursos e debates acadêmicos, é a distinção entre "Artes Plásticas" e "Artes Visuais". Embora os termos sejam frequentemente usados de forma intercambiável na linguagem coloquial, eles possuem significados e abrangências distintas no campo da arte:
Artes Plásticas (Plastic Arts):
Surgiram como conceito no século XIX.
Referem-se especificamente às artes que envolvem a modelagem ou transformação de materiais para criar obras tangíveis. O foco está na plasticidade dos materiais.
Exemplos clássicos: Pintura, Escultura, Desenho, Gravura, Cerâmica, Ourivesaria, Arquitetura (em seu aspecto estético e formal), Artesanato.
Artes Visuais (Visual Arts):
No século XX, o conceito de arte passou por reformulações, e o termo "Artes Visuais" surgiu para acomodar novas propostas expressivas que não se encaixavam estritamente na definição de manipulação material das artes plásticas.
As Artes Visuais são um termo mais amplo e contemporâneo que engloba as Artes Plásticas e adiciona outras mídias e práticas.
Incluem formas de arte que são percebidas visualmente pelo espectador, mesmo que não envolvam uma grande intervenção material do artista ou que sejam imateriais.
Exemplos: Além de todas as Artes Plásticas (Pintura, Escultura, Desenho, etc.), as Artes Visuais incluem Fotografia, Vídeo Arte, Arte Digital, Instalação, Performance, Ready-mades (objetos prontos, transferidos para um contexto artístico), Colagem, Graffiti e Arte Urbana (Street Art).
Em resumo: As Artes Plásticas são um subconjunto das Artes Visuais. Toda arte plástica é uma arte visual, mas nem toda arte visual é uma arte plástica. A mudança de terminologia reflete a evolução e a ampliação dos meios e conceitos artísticos ao longo do tempo. Para concursos, é crucial entender essa distinção e a razão histórica por trás dela.
É importante notar que, embora a definição mais aceita de "Artes Plásticas" esteja ligada à manipulação de materiais tangíveis, algumas fontes, como a de LatAm ARTE, podem apresentar classificações mais amplas. Por exemplo, uma fonte menciona que as artes plásticas podem incluir arquitetura, pintura, escultura, música, literatura, dança e cinema. No entanto, essa é uma classificação menos comum para o termo "Artes Plásticas" no contexto acadêmico ocidental tradicional.
Normalmente, Música, Literatura e Dança são classificadas como:
Música: Arte auditiva ou sonora.
Literatura: Arte da palavra ou linguística.
Dança: Arte cênica ou performática, com foco no movimento corporal.
Cinema: Frequentemente chamado de "A Sétima Arte", é uma arte híbrida que combina elementos visuais, sonoros, narrativos e performáticos.
A inclusão desses campos na categoria de "Artes Plásticas" por algumas fontes pode indicar uma interpretação mais abrangente e menos rígida do termo, ou uma fusão com o conceito mais amplo de "arte" em geral, ignorando a etimologia da palavra "plástica" (moldável). Para fins didáticos e de concursos, a distinção entre o que é "moldável/tangível" (plástica) e o que é "percebido visualmente" (visual) é a mais relevante.
A arte não é meramente um produto estético; ela é uma necessidade humana profunda e um reflexo da nossa existência. Desde o seu surgimento, a arte se manifesta como um produto do embate entre o homem e o mundo, permitindo interpretar a própria natureza humana, construir formas, inventar e conhecer.
Expressão e Comunicação: A arte é, acima de tudo, uma necessidade de expressão. Por meio dela, a humanidade expressa suas necessidades, crenças, desejos e sonhos, e o artista relata seu momento, sua visão de mundo.
Registro Histórico e Cultural: As representações artísticas oferecem elementos que facilitam a compreensão da história dos povos em cada período. A arte de cada cultura revela o modo de perceber, sentir e articular significados e valores que governam as relações sociais.
Transformação e Reflexão Social: A arte tem uma função social indiscutível. O artista atua como um porta-voz da sociedade, expondo a significação profunda dos acontecimentos, ajudando a sociedade a compreender claramente a necessidade e as relações essenciais entre o homem e a natureza, e entre o homem e a sociedade. A arte não é apenas uma consequência de modificações culturais, mas um instrumento provocador de tais modificações.
Liberdade e Criação: Em um mundo de imenso poder mecânico e tecnológico, a arte mostra que existem decisões livres e que o ser humano é capaz de criar as situações de que precisa. O artista, sendo livre, deve usar essa liberdade para desempenhar seu papel social. A magia da arte reside em sua capacidade de mostrar a realidade como passível de ser transformada, dominada e "tornada brinquedo".
Crítica e Questionamento: Frequentemente, o artista utiliza sua obra para fazer uma crítica a um fato, e a obra só será compreendida se o espectador estiver preparado para essa leitura. A arte pode questionar e desafiar, como o debate entre "Arte" com "A" maiúsculo (considerada mais "nobre" e tradicional) e "artes aplicadas" (muitas vezes vistas como "menos dignas").
As artes plásticas compartilham certos conceitos básicos que são manipulados pelo artista para expressar seus conteúdos:
Cor: As cores são conferidas às obras de arte por meio de pigmentos e materiais. A percepção da cor ocorre quando a luz branca incide sobre a superfície, e essa absorve todas as tonalidades do arco-íris, exceto uma, que é refletida e capturada por nossas retinas. A cor é fundamental na pintura e em muitas formas de cerâmica e arte têxtil.
Forma: Refere-se à geometria das coisas, à sua regularidade ou irregularidade, e aos seus limites visíveis a olho nu. A forma é central na escultura, arquitetura, desenho e gravura, onde o artista define os contornos e volumes.
Textura: É percebida tanto pelo tato quanto pela visão, e diz respeito à superfície dos objetos: sua aspereza ou suavidade, seu contorno, ou as sensações transmitidas por sua camada externa. A textura é vital na cerâmica, escultura e em algumas técnicas de pintura.
Movimento: Em alguns casos, as obras plásticas podem incorporar movimento. Isso pode ser um movimento implícito (a ilusão de movimento em uma pintura) ou um movimento real, como em esculturas que podem ser ativadas por eletricidade para criar formas e cores hipnóticas, como nas obras de artistas como Julio LeParc.
A atividade artística sofreu e continua sofrendo grandes influências tecnológicas ao longo da história da humanidade. A arte está tão ligada aos avanços tecnológicos quanto qualquer outra área do conhecimento humano. À medida que novas formas de trabalho surgem, a atividade artística sofre uma evolução considerável, adaptando-se e gerando novas práticas e profissões.
Os primeiros artistas, os desenhistas e pintores do paleolítico, utilizavam materiais naturais como barro, areia de diferentes tonalidades, musgo, ceras de plantas e tinturas naturais para criar seus desenhos em cavernas e rochas. A arte nessas eras era um instrumento mágico, uma arma da coletividade humana em sua luta pela sobrevivência, e não tinha relação com "beleza" ou "contemplação estética".
Com a Idade da Pedra Lascada (Neolítico), a sabedoria de criar pequenas peças e ferramentas (para raspar, cavar e esculpir) foi adicionada a esse universo de produção. Mais tarde, a percepção das propriedades de materiais como madeiras (rigidez, flexibilidade, tonalidade, resistência), carvão, barro e ligas de metal permitiu a criação de peças monumentais e pequenas esculturas que sobreviveram até os dias atuais. No Brasil, registros de arte rupestre podem ser encontrados na Serra da Capivara, no Piauí, considerado o maior acervo do continente americano. Essas pinturas expressavam sentimentos como medo, desespero, amor, alegria e solidão, além de buscarem registrar e marcar território.
Com o desenvolvimento da expressão escrita, os artistas passaram a integrar textos em suas criações. Desenhos, ilustrações, explicações e doutrinas tornaram-se parte do universo de produção de arte, visíveis em exemplos como os pergaminhos egípcios.
Nas civilizações egípcias, na Grécia Antiga e na civilização romana, o pensamento humano evoluiu, levando a um maior refinamento e ao emprego de mais técnicas produtivas nas construções. Nesse período, era comum o uso de pinturas em porcelanas, desenhos em papiro, gravações em couro, tecelagem com fibras tingidas, afrescos em paredes, relevos e frisos arquitetônicos, além da escultura em mármore, típica da arte grega e romana. Na China, já se empregava o uso do papel e da tinta nanquim com pincéis de bambu.
O Renascimento, um movimento artístico e científico dos séculos XV e XVI que valorizava os aspectos humanistas, considerava o homem como a medida para todas as coisas. Os avanços tecnológicos dessa fase foram cruciais para o aperfeiçoamento da atividade artística. Desse momento histórico, são originárias inovações como:
A técnica de desenho de perspectiva linear.
O uso da perspectiva aérea, que estuda a interferência das massas de ar a longas distâncias.
A pintura a óleo.
O uso da tela como suporte para pintura.
Esses avanços permitiram aos artistas criar representações da realidade com um grau de profundidade e realismo nunca antes visto.
Um dos maiores avanços tecnológicos que revolucionou a arte foi a invenção da imprensa por Gutenberg em 1465. Com ela, o artista pôde criar suas peças e reproduzi-las em escala, alcançando uma audiência muito maior. Antes da imprensa, para disseminar uma obra, o artista teria que reproduzi-la manualmente várias vezes, o que limitava severamente o público.
Aliadas à imprensa, outras práticas artísticas e técnicas de reprodução surgiram e se aperfeiçoaram:
Litografia.
Xilogravura.
Serigrafia.
Tipografia móvel.
O aperfeiçoamento do livro.
Isso contribuiu para o surgimento de muitos outros meios de produção artística e de novas profissões, como:
Técnicas de gravura em metal.
Reprodução em off-set.
As atividades profissionais de ilustrador, capista, cartazista, tipógrafo, impressor e, mais tarde, o designer gráfico.
A imprensa tornou possível a comunicação em escala industrial, permitindo que obras de comunicação de massa, como cartazes (vide os de Toulouse-Lautrec), e obras de arte chegassem ao conhecimento de populações menos esclarecidas em várias partes do mundo. Artistas com visão comercial, como William Turner, faziam questão de reproduzir seus desenhos em anuários para conquistar públicos que não podiam acessar suas pinturas em galerias.
No entanto, o surgimento dessas tecnologias – a escrita, a imprensa, o livro – também iniciou um processo de cisão no universo artístico. Passou-se a diferenciar "Arte" (com "A" maiúsculo, referindo-se a obras únicas e tradicionais) de "artes aplicadas" (consideradas "menos dignas", pois podiam ser reproduzidas comercialmente). Esse embate sobre a dignidade e o propósito da arte, e a diferença de valor entre uma obra original e uma cópia, continua a ser um tema de debate no meio artístico.
A invenção da fotografia por Niepce em 1822 marcou um dos maiores inventos modernos que não só mudou os rumos da arte, mas intensificou discussões filosóficas no meio artístico. Com a máquina fotográfica e o uso eficiente da fotografia, que começou a substituir retratos pintados a óleo, a arte tradicional foi duramente questionada. Teóricos chegaram a decretar a "morte da pintura", perguntando: "Por que fazer uma pintura de retrato se uma máquina em muito menos tempo poderia substituir o trabalho do pintor?".
Contudo, grandes gênios artísticos responderam brilhantemente a esse desafio, posicionando-se em outro sentido: "Nós não vamos disputar com a perfeição da máquina". A fotografia, ao realizar a reprodução fiel e rápida da realidade, libertou os artistas para buscar outras formas de expressão que vão além da máquina. Assim, surgiram escolas e correntes artísticas como:
Impressionismo.
Expressionismo.
Futurismo.
E muitas outras correntes que elevaram o trabalho artístico além das potencialidades da reprodução mecânica.
Desse modo, todas as tecnologias, embora se influenciassem, puderam e podem coexistir até hoje, enriquecendo o campo da arte.
Mais uma vez, a máquina, na forma do computador, veio para facilitar o trabalho artístico e criar mais opções técnicas de produção. A utilidade do computador para criar arte é inquestionável, tornando-se parte da "paleta" do artista, assim como seus pincéis, tintas, papéis, telas e lápis. Antes do computador, um erro significava refazer todo o trabalho, perdendo tempo e material caro; agora, basta "desfazer" passos com atalhos.
A Internet, por sua vez, levou a disseminação das publicações impressas a um patamar ainda maior, elevando-a consideravelmente. Este novo meio de comunicação influenciou e distanciou gerações, criando adeptos e aqueles que se mantêm à parte.
O computador, munido de softwares gráficos, e as vastas fontes de informação na Internet, contribuem para uma forma de criar arte sem grandes gastos materiais (e supostamente sem perdas, a não ser de tempo). A arte criada e publicada na Internet é uma arte não-tátil – não é possível pegá-la, não tem cheiro, e o artista não se suja de tinta. O universo digital transformou o ateliê em um estúdio limpo, abrindo um mundo paralelo, rico de experiências, e infinitamente poderoso para os trabalhos artísticos, um universo ilimitado de descobertas extraordinárias.
Em todas essas transformações tecnológicas, a influência e a troca produtiva entre Arte e Tecnologia são visíveis. A cada advento tecnológico, as atividades artísticas se adaptaram, se modificaram e até mesmo surgiram novas profissões ligadas às artes e que fazem uso dessas tecnologias, como designers gráficos, fotógrafos, webdesigners, animadores, entre outros. Contudo, uma coisa parece ser constante ao longo de todo esse fervilhar de novas propostas produtivas: a mensagem. A responsabilidade de saber o que dizer e como dizer ainda é do artista, independentemente do material ou software utilizado.
As artes plásticas são categorizadas com base nos materiais, técnicas e resultados expressivos. Abaixo, detalhamos os principais tipos:
Pintura:
Conceito: É a mais clássica das artes plásticas. Consiste na aplicação de substâncias cromáticas (pigmentos e tintas) sobre uma superfície lisa, como uma tela, para criar representações realistas ou abstratas da realidade. As cores são essenciais, absorvendo todas as tonalidades do arco-íris, exceto a que é refletida e percebida pela retina.
Exemplo: Guernica, de Pablo Picasso (século XX).
Escultura:
Conceito: Utiliza as mãos do artista e diversas ferramentas para moldar, cortar, polir e dar forma a elementos duráveis (como pedras de vários tipos) ou a materiais moldáveis que posteriormente endurecem (como gesso). As primeiras esculturas datam da pré-história. A capacidade de criar formas e figuras 3D continua a impressionar.
Exemplo: O Pensador, de Auguste Rodin (século XX).
Desenho:
Conceito: Consiste em representar perspectivas do visível a olho nu ou do imaginário por meio de linhas no papel. Utiliza materiais como lápis, carvão, tinta ou outros que deixem marcas.
Exemplo: Os esboços de dançarinos de Edgar Degas (século XX).
Gravura:
Conceito: Semelhante ao desenho, a gravura imprime gestos, letras ou outros símbolos em uma superfície, mas neste caso, uma superfície dura e resistente, como metais laminados. Permite a reprodução de imagens, um avanço significativo impulsionado pela imprensa.
Exemplo: A série de gravuras Los Caprichos, de Goya (século XX).
Cerâmica:
Conceito: Semelhante à escultura, envolve dar forma (e, eventualmente, cor) a uma massa de elemento moldável ou maleável (argila, faiança, porcelana). Após a modelagem, a água é extraída naturalmente ou em forno, o que a endurece e a torna rígida e brilhante.
Exemplo: Os vasos de cerâmica do Baralho Théodore (século XIX).
Ourivesaria:
Conceito: Trata-se da elaboração de peças artísticas por meio da manipulação e fusão de metais, especialmente metais preciosos como ouro ou prata.
Exemplo: O altar de Santo Ambrósio de Milão, feito por Vuolvinus (c. 850).
Artesanato:
Conceito: Produção de objetos ou recipientes simples, muitas vezes para uso cotidiano, utilizando materiais flexíveis e ferramentas simples, frequentemente com a mão do artista. Embora algumas definições possam excluí-lo por sua função utilitária, outras o consideram parte das artes plásticas pela manipulação material.
Arquitetura:
Conceito: Embora tenha uma função utilitária (construção de edifícios), a arquitetura é considerada uma arte plástica (e visual) devido à sua simbologia e estética, reconhecidas nos espaços públicos, monumentos, igrejas ou templos antigos. A criação de espaços e formas tridimensionais com valor estético é o que a insere nesse campo.
É importante mencionar que, com a evolução da arte, surgiram outras formas que são visuais, mas não se encaixam na definição estrita de "Artes Plásticas" por não envolverem necessariamente a modelagem de materiais:
Fotografia: Imagem criada por luz, não por manipulação física de material na forma tradicional.
Vídeo Arte e Arte Digital: Utilizam mídias eletrônicas e digitais, sem um produto físico "moldado".
Colagem: Composição de diferentes materiais ou imagens pré-existentes.
Ready-mades: Objetos comuns do cotidiano que são transformados em arte simplesmente pela escolha e contextualização do artista, sem grande intervenção manual.
Graffiti e Arte Urbana (Street Art): Embora muitas vezes envolvam pintura, a essência do "graffiti" como categoria artística é o ato performático e o espaço público, que transcende a mera manipulação de tinta sobre um suporte tradicional.
A ascensão dessas novas formas artísticas impulsionou a adoção do termo "Artes Visuais" para abrigar essa diversidade de expressões, reforçando a ideia de que a arte está em constante expansão e ampliação de suportes, ideias e temas.
O estudo da arte em sala de aula é fundamental e vai muito além de ser uma "atividade educativa" acessória. As artes são produções culturais que precisam ser conhecidas e compreendidas pelos alunos, pois é nas culturas que nos constituímos como sujeitos humanos.
Desenvolvimento Integral do Aluno: O ensino de artes na educação básica é necessário para o desenvolvimento da capacidade reflexiva, criativa e crítica do aluno, bem como para despertar saberes sensíveis para com a sociedade em que vive. Ela contribui para a formação de indivíduos mais críticos e criativos, capazes de atuar na transformação da sociedade.
Ampliação da Percepção e Compreensão do Mundo: A criança reflete continuamente suas impressões do meio circundante, e sua compreensão do real se faz por meio de uma inter-relação dessas impressões com as coisas percebidas. A arte permite interpretar o próprio meio social, os hábitos, crenças e valores, interligando-os às representações do homem.
Promoção da Sensibilidade Racional/Cognitiva: A arte pode ser tão educacional quanto qualquer outra área curricular, pois envolve compreensão e racionalidade. Não há separação entre raciocínio lógico, sensibilidade e percepção estética; o homem é um conjunto de sentimento e razão.
Estímulo à Confiança e Autoestima: À medida que os alunos dominam técnicas que lhes possibilitam manejar elementos para conceituar e expressar ideias, eles ficam mais confiantes, tornando-se mais habilidosos e competentes no campo das artes. Essa confiança é um elemento importante na construção da autoestima.
Patrimônio Cultural da Humanidade: Um dos motivos mais importantes para incluir as artes no currículo da educação básica é que elas são parte do patrimônio cultural da humanidade, e uma das principais funções da escola é preservar e dar a conhecer esse patrimônio. O aluno deve reconhecer e respeitar a arte conhecendo seu valor para a sociedade.
Flexibilidade de Pensamento: As atividades artísticas ajudam os alunos a desenvolver um pensamento mais flexível e menos "cristalizado", pois no processo de criação é comum iniciar um projeto com um propósito e trocá-lo para explorar uma oportunidade inesperada, aproveitando os "acasos" do processo criativo.
O professor de arte tem um compromisso crucial na formação dos indivíduos e na valorização da disciplina. Para que o ensino seja bem-sucedido, os objetivos do professor devem coincidir com os objetivos de estudo do aluno, visando ao desenvolvimento de suas forças intelectuais.
Mediação do Conhecimento: O trabalho do arte-educador é realizar a mediação entre o conhecimento de arte e o educando, preparando-o para a expressão e reflexão da arte em sua relação com a sociedade.
Transformar Percepções: Muitos professores e pais ainda veem as artes com um caráter utilitário ou em segundo plano, ansiosos com a alfabetização e sem compreender a finalidade das aulas de artes. Cabe ao educador transformar esse pensamento, mostrando o verdadeiro sentido e a importância da arte na escola.
Compreender o Aluno e a Arte: O educador necessita compreender o processo de conhecimento da arte pela criança, "mergulhar em seu mundo expressivo". É preciso saber por que e como a criança compreende a arte, e saber ser professor de arte junto às crianças.
Oferecer Experiências Enriquecedoras: O professor deve oferecer ao educando experiências que lhe permitam compreender a arte como um elemento presente em seu cotidiano, onde desejos e criatividade se unem em uma representação. A escola é o ambiente que permite ao aluno compreender a arte como uma forma de expressão de seu universo, sendo a arte infantil fruto de vivências e a arte adulta, da relação e compreensão do meio.
No Brasil, a arte foi incluída no currículo escolar em 1971, pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB), com o título de "Educação Artística", mas inicialmente como "atividade educativa" e não como disciplina. Somente anos mais tarde foi considerada uma disciplina, passando por inúmeras transformações desde então.
A proposta DBAE (Disciplines Based Art Education), que surgiu no século XIX e foi adaptada no Brasil pela professora Ana Mae Barbosa em 1978, valoriza a arte como objeto do saber, com base na construção, elaboração e organização desse saber. Ela acrescenta à dimensão do "fazer" a possibilidade de apreciar e entender o patrimônio artístico cultural da humanidade. Contudo, ainda há uma dicotomia entre a prática em sala de aula e uma compreensão mais ampla do campo da arte, sua relação com a história e a sociedade. O papel transformador e crítico da arte como forma de expressão e reflexão do homem e da sociedade parece, por vezes, ausente ou secundário nas discussões.
As Artes Plásticas, e as Artes Visuais de forma mais ampla, continuam a evoluir rapidamente, impulsionadas por inovações tecnológicas e novas perspectivas teóricas. O artista plástico contemporâneo atua em um cenário complexo e dinâmico, que chamamos de Sistema das Artes.
Os últimos dois séculos trouxeram uma série de transformações que redimensionaram a prática artística e a concepção do teor plástico. Ocorreram não apenas inovações tecnológicas, como a produção da imagem fotográfica e a possibilidade de reprodutibilidade, mas também perspectivas teóricas que estimularam uma produção visual enriquecida por abordagens linguísticas, antropológicas, sociológicas e pesquisas sobre o inconsciente.
Na perspectiva da arte contemporânea, há uma expansão e ampliação de suportes, ideias, temas e campos. Isso significa que:
O espaço da galeria pode se tornar uma tela.
A tela pode ser o corpo.
O corpo pode ser uma escultura.
A escultura pode passar a ser um "objeto encontrado" no dia a dia da vida comum (como nos ready-mades).
A imaterialidade se torna uma possibilidade de pesquisa e exploração de conceitos, sobrepondo-se à primazia de técnicas ou exercícios de representação da figura humana ou da paisagem.
Essa abordagem moderna exige que o artista vá além das limitações materiais, alimentando-se de conhecimento e experiências enriquecedoras, pois a técnica de hoje pode não ser a de amanhã. A sabedoria adquirida com a prática de técnicas tradicionais (desenho, pintura) é valiosa ao migrar para a arte digital, pois é todo um conhecimento adquirido que se adapta aos novos saberes.
Ascendeu um complexo sistema de apresentação e legitimação da arte e dos artistas, composto por uma estrutura dinâmica que inclui:
Artistas: Sejam eles individuais ou em coletivos artísticos.
Críticos de arte: Informam o público sobre acontecimentos e questões da arte contemporânea, exercendo uma pedagogia artística.
Curadores: Profissionais que concebem e organizam exposições.
Diretores de instituições: Responsáveis pela gestão de espaços artísticos.
Organizações e Espaços: Galerias, museus (como os diversos museus de arte do Brasil, que vão desde o Acervo Municipal de Artes Plásticas de Caxias do Sul ao Museu de Arte de São Paulo (MASP), Museu Nacional de Belas Artes, entre muitos outros listados em), centros culturais e espaços autônomos de arte.
Publicações: Impulsionam a produção, avaliação, divulgação, circulação e comercialização da arte.
Projetos e Editais: Relacionados a equipamentos culturais e políticas públicas.
As academias e escolas de arte se dedicam ao ensino das artes plásticas, enquanto os museus, muitas vezes com origem em fundações particulares, têm a missão de cuidar da herança artística do passado e da conservação de importantes obras da arte contemporânea. Essas instituições tornam acessíveis ao público quadros, esculturas, trabalhos gráficos e artesanato artístico, além de realizarem restaurações, organizarem exposições e promoverem intercâmbios culturais.
A compreensão da relevância da produção em arte e do campo artístico na atualidade leva à formação do artista-pesquisador contemporâneo. Este profissional é capacitado a atuar de forma crítica e ativa no meio cultural, e naquilo que é capaz de transformar em si e no mundo.
Os cursos de Artes Visuais, por exemplo, como o da Universidade de Brasília, vêm reformulando seus projetos pedagógicos para aprofundar a relação com as dinâmicas contemporâneas. Isso inclui:
Interesse no sistema das artes.
Aprofundamento em linguagens artísticas.
Experimentação dos modos de escrita sobre arte.
Relação da arte com outros campos do saber.
Inclusão de vertentes da arte-social, abordando as relações da arte com a comunidade.
Estudos das visualidades indígenas e afro-brasileiras, inseridos na formação para um enfoque mais completo e crítico.
Hoje, para todos os artistas, sejam eles "tradicionais" (pintores, desenhistas, escultores) ou "digitais" (fotógrafos, designers, webdesigners, animadores), o mais importante é o conteúdo, e não apenas o primor técnico. A técnica evolui, novos processos produtivos e softwares surgem a cada ano, mas a essência do que se tem a dizer com a arte permanece a cargo da responsabilidade do artista. É fundamental enriquecer-se culturalmente para ter o que falar, seja com o lápis ou com o Photoshop.
Ao longo da história, a arte tem sido um reflexo dinâmico da capacidade humana de adaptação e inovação. A evidente influência e troca produtiva entre Arte e Tecnologia demonstram que, a cada advento tecnológico, as atividades artísticas se adaptam, modificam e dão origem a novas expressões e profissões.
Desde os primeiros desenhos nas cavernas, passando pela revolução da imprensa, o desafio da fotografia, e a era digital da informática e da internet, a arte sempre encontrou novas maneiras de existir, ser produzida, disseminada e apreciada. Essa capacidade de coexistir e se reinventar permite que as mais variadas formas de arte, antigas e novas, continuem a florescer.
No cerne de toda essa transformação, uma coisa permanece constante: a mensagem. Ainda que surjam inúmeras opções materiais e tecnológicas para criar arte, a mensagem a ser transmitida continua sendo de responsabilidade do artista, a quem cabe saber o que dizer e como dizer.
Para ser um verdadeiro artista, é preciso ir além das limitações materiais, buscando incessantemente conhecimento e experiências enriquecedoras. A técnica, embora de grande utilidade, está em constante mudança, mas a sabedoria adquirida com a prática de qualquer forma de arte tradicional só agrega valor ao se migrar para os modos de fazer arte digital.
As artes plásticas, em sua essência e em sua evolução para as artes visuais contemporâneas, continuam a ser um campo ilimitado de descobertas extraordinárias. Elas são a representação da relação do homem com o mundo, estando este eternamente em evolução. O desenvolvimento da criatividade e do senso crítico que as atividades artísticas proporcionam são ferramentas essenciais para tornar o indivíduo um cidadão ativo, pensante e atuante na sociedade, capaz de participar de sua transformação.
Portanto, compreender as artes plásticas é mergulhar na própria história da humanidade e em sua inesgotável capacidade de criar, comunicar e transformar o mundo.