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23/09/2025 • 12 min de leitura
Atualizado em 23/09/2025

O Regionalismo na Prosa Brasileira

Regionalismo na Prosa Brasileira: Compreender essa vertente literária é fundamental para qualquer estudante ou concurseiro, pois ela não apenas moldou a identidade da literatura nacional, mas também produziu algumas das obras mais complexas e universalmente aclamadas do Brasil.


1. Fundamentos do Regionalismo Literário: Do Local ao Universal

O Regionalismo Literário, ou Literatura Regionalista, refere-se a um corpo de obras de ficção que opta por retratar a vida e os costumes fora dos grandes centros urbanos, focando nas peculiaridades de uma determinada região.

1.1. Definição e Âmbito de Atuação

O Regionalismo é compreendido como uma tendência literária que valoriza a força das peculiaridades locais, as formas particulares de oralidade, e se dedica a explorar descritivamente o lugar geográfico. É a manifestação de grupos de escritores que, programaticamente ou não, defendem uma literatura cujo ambiente, tema e tipos pertencem a uma região rural específica, frequentemente em oposição aos valores e gostos dos citadinos.

Para o crítico Afrânio Coutinho, a substância da literatura regionalista decorre de dois pilares principais:

  1. Fundo Natural: Elementos como clima, topografia, flora e fauna, que afetam diretamente a vida humana na região.

  2. Maneiras Peculiares da Sociedade Humana: O modo de vida, crenças e costumes que tornam essa sociedade distinta de qualquer outra.

1.2. O Regionalismo como Expressão de Nacionalismo (Origens)

O Regionalismo no Brasil nasceu intimamente ligado à busca por uma identidade nacional. Segundo Antonio Candido, ele surgiu em um momento em que a literatura brasileira ansiava por independência, buscando parar de copiar tendências estrangeiras.

Período Romântico (Século XIX):

  • Foi o período em que os autores buscaram construir nos livros os aspectos mais regionais, aquilo que diferenciava o Brasil de Portugal.

  • Obras indianistas e regionalistas (como O Gaúcho, O Tronco do Ipê e O Sertanejo, de José de Alencar) são exemplos, buscando agregar simbolicamente o território e reafirmar as estruturas de poder do Império. Alencar visava exaltar a unidade nacional a partir da diversidade de suas províncias.

A Crise do Sertão e a Literatura das Secas (Final do Século XIX):

O episódio trágico da Seca de 1877-1880 foi determinante para transformar a discursividade sobre o espaço sertanejo.

  • Naturalismo Sertanejo: Francisco Gil Castelo Branco (Ataliba, o Vaqueiro, 1878) e José do Patrocínio (Os Retirantes, 1879) são citados como representantes iniciais do que seria a "Literatura das Secas".

  • Mudança de Paradigma: Essa literatura antepôs-se às representações românticas do sertão. A seca e o êxodo rural desorganizaram a sociedade patriarcal elogiada por Alencar. O sertão, antes visto em obras românticas como Paraíso, passou a ser retratado como Inferno, palco de sofrimento e miséria, contribuindo para a formação de uma "ideologia da natureza perversa".

  • Franklin Távora defendia uma "Literatura do Norte", priorizando o local em detrimento do nacional e buscando uma "exatidão daguerreotípica" (mimetismo da realidade) na descrição das regiões, criticando o excesso de imaginação de Alencar.


2. O Apogeu em Concursos: O Romance de 30 e a Divisão Crítica

O Regionalismo atinge sua maior expressão e complexidade com o Romance de 30 (ou Neorrealismo). Esse ciclo, inaugurado por A Bagaceira (1928), de José Américo de Almeida, é crucial por focar nas questões sociais e ideológicas do país, refletindo a efervescência política da época (Revolução de 1930, Estado Novo).

Autores como Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego e Jorge Amado são os principais expoentes desse movimento, que utilizou a ficção para denunciar as desigualdades e injustiças do Nordeste.

2.1. O Manifesto Regionalista de 1926 e o Regionalismo Pitoresco

O debate sobre o Regionalismo de 30 foi impulsionado pelo Manifesto Regionalista de 1926, proposto por Gilberto Freyre em Recife, após seu retorno dos Estados Unidos.

  • Objetivo Inicial: O Manifesto buscava "desenvolver o sentimento de unidade do Nordeste" e visava ao seu "desenvolvimento material e moral".

  • Valorização Cultural: O movimento inicialmente enfatizou a valorização da cultura local, do pitoresco, da culinária, da tradição da Casa Grande e do sincretismo religioso.

Antonio Candido estabelece uma importante distinção entre as abordagens do regionalismo, essencial para a crítica literária e concursos:

Tipo de Regionalismo

Características Principais

Exemplos e Consciência

Pitoresco (ou Amplo/Ameno)

Valoriza a cultura e a paisagem local, podendo funcionar como ornamento ou foco no folclore, o que pode encobrir os problemas sociais.

Associado ao Manifesto Regionalista de 1926. Exemplos: José Lins do Rego e Jorge Amado (especialmente em suas primeiras fases, com ênfase na cultura local). Consciência "amena" dos problemas sociais.

Crítico (ou Engajado/Catastrófico)

Prioriza o viés político e a denúncia social. Os problemas locais são incorporados com grande densidade. O regional é secundário, servindo como lente para debater problemas universais.

Associado à consciência catastrófica da modernidade. Exemplos: Graciliano Ramos e Rachel de Queiroz. É um regionalismo sofisticado e engajado politicamente.

2.2. A Crítica ao Preconceito Regionalista

Historicamente, o termo "literatura regionalista" ficou atrelado a um estigma, sendo frequentemente associado a baixo valor estético, anacronismo, ou literatura meramente "documental" e "exótica".

Perguntas e Mitos Comuns:

P: A literatura regionalista é de menor valor estético? R: Não. Embora narrativas que soavam como clichês ou exotizavam demais as regiões tenham gerado esse preconceito, a crítica moderna defende que a tarefa não é negar a universalidade dos grandes autores, mas sim reconhecer que o universal se realiza no particular, superando-se na concretude deste. Autores do Nordeste ainda sentem a expectativa velada de que só devem escrever sobre "sertão, miséria e seca".

P: Se uma obra é regional, ela não pode ser universal? R: Essa é uma dicotomia falsa. O que torna uma obra grandiosa é o modo como ela supera os limites da tendência regionalista pela potencialização de suas possibilidades artísticas. O espaço geográfico, quando entranhado e vivenciado pela consciência dos personagens, é o que permite a concretização do seu universal. O regionalismo, na verdade, é um fenômeno universal e moderno, que surge como contraponto à centralização do Estado-nação e, mais recentemente, à globalização.


3. Exceções e Marcos: As Obras Mais Cobradas em Concursos

A superação estética do regionalismo é demonstrada por autores que, mesmo lidando com temáticas regionais, alcançaram inegável valor universal.

3.1. Graciliano Ramos: A Consciência Crítica e a Forma Desmontável

Graciliano Ramos é o autor mais representativo do regionalismo crítico. Sua obra é marcada pela denúncia da condição subumana do homem vítima da sociedade rural e pela reflexão sobre o homem sucumbido pelo capitalismo. A crítica é unânime em considerá-lo o maior narrador do século XX.

Características Estilísticas Focadas em Concursos:

  1. Concisão e Secura: Graciliano quase não usa adjetivos, sua frase é concisa, com uma seleção primorosa do vocabulário que remete ao universo inóspito, tanto exterior quanto interior dos personagens. Sua escrita é frequentemente associada à poética da escassez e da negatividade.

  2. Discurso Indireto Livre: Essa técnica é amplamente utilizada, permitindo que a voz do narrador se confunda com a da personagem, o que desestabiliza o ponto de vista fixo e confere grande valor artístico.

  3. Vidas Secas (1938): O Romance Desmontável

    • Estrutura Circular: A obra é notável por sua estrutura narrativa e forma de abordar os conflitos existenciais, conferindo-lhe uma dimensão filosófica.

    • Não-Sequencialidade: É um "romance desmontável" com treze capítulos que podem ser lidos sem sequência, confirmando a estrutura circular da obra. Essa circularidade implica uma crítica social baseada na repetição cíclica dos episódios, sugerindo a estagnação da história social brasileira.

    • Espaço e Tempo: A lógica espacial se sobrepõe à temporal. Fabiano e sua família (os retirantes) representam o não-lugar e a luta pela sobrevivência e por justiça social.

  4. São Bernardo (1935): O Latifundiário e a Coisificação

    • Crítica ao Capitalismo: Embora regional, o romance transcende o tema para debater os perigos do consumo e do capital.

    • Reificação (Coisificação): O protagonista, Paulo Honório, é consumido por sua ambição e desejo de poder, reificando (transformando em coisa) todas as pessoas ao seu redor. Ele mesmo se torna vítima de sua ambição, no que pode ser lido como um castigo. A obra, assim, aborda o regionalismo a partir do ângulo do latifundiário, trazendo o tema da culpa e do fracasso pessoal.

3.2. Guimarães Rosa: O "Super-Regionalismo" e a Universalidade da Linguagem

Guimarães Rosa representa a superação do conceito de regionalismo nos moldes tradicionais e é uma figura central na discussão da crítica.

  • O "Super-Regionalismo": A crítica associou-o ao conceito de "super-regionalismo". Sua produção transcende a referência empírica do mundo e o pitoresco, buscando uma universalidade. Para Claudia Soares, ele produziu uma mistura, partindo de uma dicção de fundo regionalista e acrescentando neologismos, arcaísmos e estrangeirismos.

  • A Linguagem como Matéria: O que garante a atemporalidade de sua obra é a "extraordinária beleza do texto e forma como ele trabalha com as palavras". Sua linguagem é um "terreno movediço e de limites imprecisos entre a prosa e a poesia".

  • O Sertão como Símbolo: Rosa promoveu o encontro definitivo entre o mundo do doutor e o do sertanejo, entre a cidade e o sertão, entre a cultura rústica (oral) e a cultura letrada. O sertão, em sua obra, "se tornou o mundo", atuando como símbolo.

  • Grande Sertão: Veredas (1956): A obra demonstra a ambiguidade do regionalismo. O próprio Rosa, em entrevista, manifestou uma visão dúbia sobre o termo, rejeitando-o em um momento e aceitando-o em outro, reforçando a complexidade que o tema atingiu. A força da obra reside na construção do sertão enquanto paisagem, um espaço vivido, indissociavelmente ligado à subjetividade. Riobaldo, ao afirmar que "O sertão está em toda a parte", sintetiza essa universalização do espaço regional.


4. O Espaço e a Paisagem na Prosa Regionalista

O estudo moderno da literatura não vê o espaço ou a paisagem apenas como cenário (o fundo). Nos estudos do regionalismo mais sofisticado, a paisagem é um elemento estruturante da narrativa e da subjetividade.

4.1. Lugar vs. Espaço (Michel de Certeau)

É fundamental diferenciar Lugar e Espaço para entender o regionalismo crítico, um conceito recorrente em estudos comparativos e de crítica literária:

  • Lugar: É físico, uma "configuração instantânea de posições", implicando estabilidade.

  • Espaço: É um lugar praticado. Ele se organiza por meio da ação simbólica, cultural e humana.

No Regionalismo de 30 (e no "super-regionalismo" de Rosa), o sertão deixa de ser apenas um lugar físico (geográfico) e se transforma em um espaço praticado ou paisagem, emergindo filtrado pela experiência dos personagens. A região ganha densidade ao ser interpretada e relatada a partir da experiência humana, que lhe confere sentidos.

4.2. Paisagem como Pensamento-Paisagem (Michel Collot)

A paisagem, especialmente na criação artística, não é um objeto exterior, mas uma experiência e um modo específico de ver, sentir e estar no mundo. No texto literário, a paisagem tem um papel crucial na construção de identidades vinculadas a um lugar ou época.

  • Paisagem e Subjetividade: O conceito de Pensamento-Paisagem (proposto por Collot e Berque) manifesta uma relação íntima e inseparável entre o ser humano e o mundo, convocando uma forma relacional e "trajetiva" de estar nele.

  • Transformação do Espaço: Nos romances Grande sertão: veredas (Rosa) e Outros cantos (Maria Valéria Rezende), a força das obras reside no trabalho com o espaço regional, que é estruturante à medida que afeta a subjetividade dos personagens e é constituído pela percepção delas. Quando Riobaldo e Maria atribuem significado ao sertão, eles o convertem em um espaço praticado dotado de múltiplos sentidos.

Um exemplo notável dessa transformação do espaço pela subjetividade ocorre em Grande Sertão: Veredas, quando Riobaldo, após seu suposto pacto com o diabo, retoma a travessia do Liso do Sussuarão. O mesmo lugar, antes áspero e seco, assume uma nova expressão, com flora colorida e cheia de vida. A apreensão de um mesmo lugar de forma diametralmente oposta pelo personagem ilustra como o espaço, enquanto praticado, é múltiplo e dependente do relato que lhe atribui sentidos.


5. Perguntas Obvias e Tópicos de Concurso

Pergunta Comum

Resposta Completa baseada nos estudos

O que é o "Romance de 30"?

É a produção ficcional brasileira de inspiração realista/neorrealista que surgiu após 1928, focada em questões sociais e ideológicas, denunciando as desigualdades no contexto de efervescência política da época (Estado Novo).

Qual é a diferença entre Regionalismo Crítico e Pitoresco?

O Crítico tem um viés político explícito e uma "consciência catastrófica", usando o regional para denunciar problemas sociais profundos (Graciliano Ramos). O Pitoresco tem uma "consciência amena", focando na valorização cultural e pitoresca, podendo ocultar os problemas sociais (José Lins do Rego).

Por que Guimarães Rosa é uma "exceção" ao regionalismo?

Ele é considerado o autor que "superou" o regionalismo ao transpor a referência empírica e o pitoresco, elevando o sertão a um plano universal e simbólico. Sua escrita é inovadora (neologismos, arcaísmos, prosa poética) e é alçado à condição de Universal, enquanto outros com menor qualidade estética são relegados a "Regional".

Quais são os principais autores do Regionalismo de 30?

Graciliano Ramos, Rachel de Queiroz, José Lins do Rego, Jorge Amado e Érico Veríssimo.

O que significa a estrutura "desmontável" de Vidas Secas?

Refere-se à estrutura circular da narrativa, onde os capítulos podem ser lidos sem sequência, e onde a lógica espacial se sobrepõe à temporal, simbolizando a repetição cíclica e a estagnação social.

Qual é a crítica social em São Bernardo (Graciliano Ramos)?

A obra critica o capitalismo e o desejo de consumo do latifundiário Paulo Honório. Ele se torna vítima de sua ambição, passando por um processo de reificação (coisificação), estendendo essa brutalidade a todos ao seu redor.

O Regionalismo é um fenômeno brasileiro?

Não, a crítica de Ligia Chiappini sustenta que o Regionalismo é um fenômeno universal e moderno, que se manifesta em reação à centralização (ou globalização) em diversas literaturas.


6. A Relevância Contínua do Regionalismo

O regionalismo na prosa brasileira, longe de ser uma "praga" a ser superada, é um fenômeno vigoroso que continua a se manifestar na literatura contemporânea, ressignificando e dialogando com as matrizes construídas desde o Romantismo. O estudo dessas obras permite ao leitor uma compreensão profunda do país e de seus traumas não superados.

A força desse movimento está na sua capacidade de transformar o local em linguagem expressiva, revelando que a "regionalidade é o resultado da determinação como região ou província de um espaço ao mesmo tempo vivido e subjetivo, a região rural internalizada à ficção, momento estrutural do texto literário". Assim, o Regionalismo não é apenas sobre o Brasil arcaico, mas uma chave essencial para entender a complexidade social, política e estética da nação.