
Proclamação da República e Constituição de 1891: Entendendo a Gênese do Brasil Republicano
Desvende a Proclamação da República (1889) e a Constituição de 1891 do Brasil. Este texto aborda o contexto, as causas, as inovações (Federalismo, Estado Laico, voto), a República da Espada, e o legado. Perfeito para estudantes e preparação para concursos.
A história do Brasil é um tecido complexo de eventos e transformações, e o período que marca a transição da Monarquia para a República é, sem dúvida, um de seus capítulos mais fundamentais. Em 15 de novembro de 1889, o Brasil assistiu à Proclamação da República, e poucos anos depois, em 24 de fevereiro de 1891, foi promulgada a primeira Constituição republicana. Esses dois marcos não apenas mudaram a forma de governo do país, mas também redesenharam sua estrutura política, social e econômica, lançando as bases do que viria a ser a Primeira República Brasileira, também conhecida como República Velha.
Compreender esses eventos é crucial para qualquer estudante, pois eles explicam as raízes de muitas características do Brasil contemporâneo. Para você que busca um conhecimento aprofundado ou se prepara para concursos públicos, este guia é didático, completo e focado nos detalhes que fazem a diferença. Abordaremos as causas, os personagens, as principais características da Constituição de 1891, as exceções, o impacto no voto e as consequências a longo prazo, tudo organizado do mais simples ao mais complexo.
A Monarquia Brasileira não caiu da noite para o dia. A Proclamação da República foi o ápice de um processo de crise e desgaste que se estendeu por décadas, intensificando-se na década de 1880. Diversos fatores contribuíram para minar as bases de apoio do regime imperial, criando um cenário de polarização. Vamos entender cada um deles:
O Legado da Guerra do Paraguai (1864-1870): A vitória brasileira na Guerra do Paraguai foi um ponto de virada. Os militares, que se sentiam negligenciados pela Coroa, retornaram com uma nova consciência de sua importância social e política. Eles ansiavam por maior participação nos destinos do Brasil e por valorização profissional.
O Poder Moderador e a Insatisfação: O imperador Dom Pedro II, através do Poder Moderador, impedia a atuação política direta dos militares, o que gerava um atrito crescente. Os militares do Exército Brasileiro sentiam-se desprestigiados em comparação com as elites civis bacharéis, que ocupavam postos bem remunerados.
A Influência do Positivismo: A partir da década de 1870, ideais como o Positivismo, de Auguste Comte, ganharam força entre os militares. Figuras como Benjamin Constant Botelho de Magalhães foram essenciais na difusão dessas ideias nas Forças Armadas. O Positivismo defendia que a ciência e o progresso poderiam desenvolver o Brasil, e muitos militares passaram a se ver como "salvadores da pátria", os únicos capazes de trazer "ordem e progresso" para o país. O Clube Militar, no Rio de Janeiro, tornou-se um centro vibrante de discussões republicanas entre os oficiais.
A Questão Militar propriamente dita: Conflitos diretos surgiram da proibição de oficiais se manifestarem na imprensa sem autorização do Ministro da Guerra. A percepção de que o império pretendia extingui-los, embora infundada, alimentou a reação do exército.
Subordinação da Igreja ao Estado: Desde o período colonial, a Igreja Católica, embora poderosa, estava subordinada ao Estado. Isso se dava pelo Padroado (o direito do imperador de intervir em assuntos eclesiásticos) e pelo Beneplácito Régio (nenhuma ordem do Papa poderia vigorar no Brasil sem a aprovação imperial).
O Conflito com a Maçonaria: Em 1872, bispos de Olinda e Belém do Pará decidiram seguir uma ordem do Papa Pio IX que excluía maçons da Igreja, sem a aprovação imperial. Dom Pedro II, embora não maçom, recusou-se a ratificar a bula, e os bispos foram presos por desobediência.
Consequências: Apesar de os bispos serem libertados em 1875, o episódio causou um profundo desgaste na imagem do Império junto à Igreja Católica, que até então era um pilar de sustentação do regime. A separação entre Estado e Igreja, que seria um dos marcos da Constituição de 1891, já se gestava nesse contexto de conflito.
A Lei Áurea (1888): A abolição da escravatura, assinada pela Princesa Isabel em 13 de maio de 1888, foi um golpe fatal para a Monarquia.
A Reivindicação de Indenização: A abolição ocorreu sem qualquer indenização aos grandes fazendeiros escravocratas, especialmente os cafeicultores do Oeste Paulista, que eram uma base econômica e política crucial do Império. Eles haviam investido pesadamente em escravos e sentiram-se traídos pela Coroa.
Os "Republicanos de Última Hora": Essa insatisfação levou esses fazendeiros, muitos dos quais já haviam organizado o Partido Republicano Paulista (PRP) na década de 1870, a aderir massivamente à causa republicana. Eles foram apelidados de "republicanos de última hora" ou "republicanos do 13 de maio", pois se juntaram ao movimento por "vingança" contra a Monarquia, não por convicção ideológica. A frase do Barão de Cotegipe, único senador a votar contra a Lei Áurea, "A senhora acabou de redimir uma raça e perder um trono!", resume a percepção da época.
Endividamento e Inflação: A Guerra do Paraguai deixou o país com elevadas despesas, aumentando a dívida externa e gerando inflação.
Centralização do Poder: Na Monarquia, o poder era altamente centralizado nas mãos do imperador. No entanto, crescia uma forte demanda por descentralização do poder político. Grupos políticos desejavam mais autonomia para as províncias, que viriam a se tornar os futuros estados federados. Essa demanda seria atendida pelo federalismo na Constituição de 1891.
A Questão Sucessória: Dom Pedro II não tinha herdeiros masculinos. A sucessão recairia sobre a Princesa Isabel, casada com o francês Gastão de Orléans, Conde d'Eu. Havia um receio generalizado de que o país fosse governado por um estrangeiro, e o Conde d'Eu não era bem visto pela população, sendo considerado arrogante. A ideia de um "terceiro reinado" era vista com ceticismo.
Saúde de Dom Pedro II: O agravamento do estado de saúde do imperador e suas constantes viagens ao exterior para tratamento enfraqueciam a liderança monárquica e a percepção de sua capacidade de governar, favorecendo o discurso republicano.
A Proclamação da República, em 15 de novembro de 1889, foi um golpe de Estado político-militar, e não um movimento com participação popular significativa. A famosa frase de Aristides Lobo, "O povo assistiu bestializado", ilustra a apatia geral da população diante dos acontecimentos.
Deodoro, Amigo do Imperador: O marechal Manuel Deodoro da Fonseca, figura de prestígio no Exército, era amigo pessoal de Dom Pedro II e, inicialmente, um monarquista convicto. Ele havia expressado o desejo de acompanhar o caixão do imperador.
A Conspiração Republicana: Os republicanos, cientes da necessidade de um líder carismático e respeitado para o golpe, insistiram em sua participação. Duas notícias, uma falsa e outra estratégica, foram decisivas para convencê-lo:
Boato da Prisão: A falsa notícia de que o primeiro-ministro Visconde de Ouro Preto havia expedido uma ordem de prisão contra Deodoro e Benjamin Constant.
Nomeação de Silveira Martins: A informação, talvez verdadeira, talvez usada como tática, de que Gaspar Silveira Martins – um desafeto pessoal de Deodoro (ambos disputaram a mesma mulher no passado) – seria o novo primeiro-ministro. Essa notícia teria sido o ponto de virada para Deodoro.
Antecipação do Golpe: O golpe, inicialmente previsto para 20 de novembro, foi antecipado para 15 de novembro após a divulgação do boato sobre as ordens de prisão.
A Manhã de 15 de Novembro: Deodoro, mesmo doente, liderou tropas do Exército no Campo de Santana, no Rio de Janeiro. O objetivo inicial era apenas depor o gabinete do Visconde de Ouro Preto, não proclamar a República. Há relatos de que ele teria gritado "Viva Sua Majestade, o Imperador!".
Tomada de Poder: As tropas ocuparam o quartel-general e o Ministério da Guerra, depuseram o gabinete e prenderam o Visconde de Ouro Preto. Floriano Peixoto, que inicialmente deveria defender os ministros, aderiu ao movimento, declarando: "Sim, mas lá (no Paraguai) tínhamos em frente inimigos e aqui somos todos brasileiros!". Ele prendeu o Visconde de Ouro Preto.
A Proclamação Oficial: Na tarde do mesmo dia, na Câmara Municipal do Rio de Janeiro, a República foi solenemente proclamada. José do Patrocínio, figura importante do movimento, redigiu a proclamação oficial da República dos Estados Unidos do Brasil. Somente no dia 16 de novembro, o povo foi oficialmente informado da mudança.
O Exílio da Família Imperial: Dom Pedro II, ao saber dos acontecimentos e desiludido, não ofereceu resistência. A família imperial foi intimada a deixar o país em 24 horas, partindo para o exílio em Portugal na madrugada de 17 de novembro.
Com a queda da Monarquia, um governo provisório foi formado sob a chefia do marechal Deodoro da Fonseca, que assumiu poderes ditatoriais. As prioridades iniciais foram garantir a ordem pública e substituir os símbolos monárquicos.
Primeiras Medidas Importantes:
Forma de Governo: Adotou-se provisoriamente a República Federativa como forma de governo.
Transformação das Províncias: As antigas províncias do Império foram transformadas em Estados federados.
Separação Igreja-Estado: Medida crucial, já iniciada no governo provisório. Instituiu-se o casamento civil (sem efeitos jurídicos para o religioso), a laicização dos cemitérios e proibiu-se o ensino de religião em escolas públicas.
Novo Código Penal: Em 11 de outubro de 1890, foi promulgado o Código Penal dos Estados Unidos do Brasil, que extinguia a pena de morte em tempo de paz.
A Bandeira Nacional: Deodoro rejeitou uma proposta de bandeira similar à dos EUA. Manteve o losango amarelo no retângulo verde da antiga bandeira imperial, substituindo as armas da monarquia por uma esfera celeste com o lema "Ordem e Progresso".
Reconhecimento Internacional: A Argentina foi a primeira nação a reconhecer o novo governo (20 de novembro de 1889), seguida por outros países da América e, posteriormente, pelos EUA e nações europeias. A Rússia só reconheceu a República brasileira após a morte de Dom Pedro II.
Crise do Encilhamento: Economicamente, o governo provisório enfrentou a crise do Encilhamento. Liderada pelo Ministro da Fazenda, Ruy Barbosa, a reforma monetária e bancária, que autorizou bancos a emitir papel-moeda sem lastro, gerou uma grande bolha especulativa e alta inflação, resultando na ruína de muitos investidores.
Convocação da Assembleia Constituinte: O governo provisório convocou eleições para a formação de uma Assembleia Constituinte, com a tarefa de elaborar a nova Constituição e eleger um presidente.
A Assembleia Constituinte, eleita em setembro de 1890, trabalhou por três meses, culminando na promulgação da Constituição em 24 de fevereiro de 1891. Esta foi a segunda Constituição da história brasileira e a primeira do período republicano. Contava com 91 artigos e 8 artigos de disposições transitórias.
Influência Americana: A Constituição de 1891 foi fortemente inspirada na Constituição dos Estados Unidos da América. Essa influência pode ser vista, por exemplo, na adoção do nome "Estados Unidos do Brasil" para o país, e na incorporação da "tradição liberal norte-americana de organização federativa e do individualismo político e econômico".
Forma e Sistema de Governo: A nova Carta ratificou o republicanismo como forma de governo e estipulou o presidencialismo como sistema de governo da república brasileira.
As mudanças trazidas por essa Constituição são de altíssima relevância e devem ser compreendidas em detalhes:
A) Federalismo: Autonomia dos Estados e o Poder dos Coronéis
Inovação Principal: O federalismo foi a maior inovação da Constituição de 1891, implantado de maneira inédita no Brasil.
Como Funciona: É um sistema político em que a União (governo federal), os estados e os municípios se unem para formar a nação, mas mantêm grande autonomia política. Isso significou uma forte descentralização política no Brasil.
Poder dos Estados: Os estados ganharam um enorme poder. Seus governantes passaram a ser eleitos (antes eram indicados) e puderam:
Legislar sobre qualquer assunto que não fosse negado pelos princípios constitucionais da União.
Cobrar impostos.
Ter propriedade sobre as minas e terras devolutas em seus territórios.
Consequência Paradoxal: O Domínio das Oligarquias e o Coronelismo: Embora visasse a descentralização, na prática, o federalismo contribuiu para o domínio das oligarquias regionais e o fortalecimento do poder dos "coronéis" durante a Primeira República. O coronelismo, juntamente com o clientelismo (troca de favores por benefícios políticos) e o mandonismo (controle exercido por grandes proprietários rurais sobre a população comum), tornou-se uma característica marcante desse período.
B) Separação entre Estado e Igreja: O Nascimento do Estado Laico
Fim da Religião Oficial: Houve a separação oficial entre Estado e Igreja Católica. O catolicismo deixou de ser a religião oficial do Estado.
Princípio do Estado Laico: O Brasil se estabeleceu como um Estado laico, ou seja, neutro em assuntos religiosos.
Importância: Essa medida é considerada imprescindível para a defesa dos direitos humanos fundamentais e para a consolidação de um Estado democrático de Direito, plural e respeitador da diversidade.
C) Sistema de Três Poderes Independentes
A Constituição estabeleceu o princípio dos três poderes independentes: Executivo, Legislativo e Judiciário. Isso substituiu o modelo anterior que incluía o Poder Moderador Imperial.
D) Garantias de Liberdades Individuais
Um avanço significativo foi a garantia de diversas liberdades individuais, um marco do liberalismo da época. Incluíam:
Liberdade de reunião.
Liberdade de culto (religiosa).
Liberdade de expressão.
Direito à propriedade privada.
Garantia do direito ao habeas corpus.
E) Mandato Presidencial e Extinção do Cargo de Senador Vitalício
O cargo de senador vitalício foi extinto. O presidente e o vice-presidente seriam eleitos para um mandato de quatro anos, sem o direito de reeleição imediata.
A questão do voto na Constituição de 1891 é um dos tópicos mais cobrados em concursos, pois revela as profundas desigualdades e a limitada cidadania no Brasil da época.
A) Fim do Voto Censitário: A Constituição de 1891 eliminou a exigência de comprovar uma renda mínima para poder votar. Isso, em teoria, expandiria o eleitorado.
B) Sufrágio Universal Masculino, MAS com Restrições (EXCEÇÕES IMPORTANTES): Embora se falasse em "sufrágio universal masculino", havia limitações significativas:
O direito ao voto era para todos os homens maiores de 21 anos, desde que não fossem:
Analfabetos (a maioria da população na época, especialmente os recém-libertos).
Mendigos.
Militares de patente baixa (praças).
Religiosos que faziam voto de obediência (monges, freiras, etc.).
Exclusão das Mulheres: A Constituição não fez menção às mulheres, o que, na prática, significava que elas não tinham direito ao voto. Isso demonstra que os constituintes não as consideravam cidadãs com direitos políticos.
C) A Lei Saraiva (1881) e a Baixa Participação Eleitoral:
Antes da República, em 1881, já havia sido aprovada a Lei Saraiva, que reduziu a quantidade de votantes de 10% para apenas 1% da população brasileira.
Com a Constituição de 1891, apesar do fim do voto censitário, o número de votantes aumentou apenas timidamente, passando de 1% para cerca de 2% da população. Em cidades como o Rio de Janeiro, na primeira eleição presidencial direta (1894), apenas 1,3% da população votou.
Essa exclusão reforçava a cidadania limitada a uma minoria privilegiada.
D) Manipulação Eleitoral e o "Voto de Cabresto":
O sistema eleitoral da Primeira República era extremamente conturbado. O voto não era obrigatório nem secreto, o que facilitava a manipulação e a ameaça de eleitores.
A utilização do "voto de cabresto" era uma prática comum: os "coronéis" (grandes proprietários rurais, detentores de poder local) exerciam controle sobre a população, exigindo votos em favor de seus candidatos ou dos candidatos das oligarquias, muitas vezes por meio de ameaças ou troca de favores. Isso assegurava a eleição dos representantes das oligarquias. Somente a partir da década de 1930 o Brasil começou a criar mecanismos para combater a fraude eleitoral.
Apesar das inovações liberais, é fundamental notar as grandes lacunas sociais da Constituição de 1891, que perpetuaram problemas históricos do Brasil:
Não tratou da questão da reforma agrária.
Não criou nenhuma disposição legal para atender ou dar garantias aos escravos recém-libertos. Isso contribuiu para a marginalização de uma vasta parcela da população.
A primeira fase da República Velha é conhecida como República da Espada, um período entre 1889 e 1894, caracterizado pelo governo de dois marechais militares: Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. É amplamente considerada a primeira ditadura militar republicana brasileira.
Eleição Indireta: Após a promulgação da Constituição, Deodoro da Fonseca foi eleito o primeiro presidente constitucional do Brasil em sufrágio indireto pelo Congresso Constituinte. Ele obteve 129 votos, contra 97 de Prudente de Morais.
Vice-Presidente Opositor: No entanto, para a vice-presidência, foi eleito o marechal Floriano Peixoto, que era candidato da oposição, com 153 votos.
Tensão Política: O governo constitucional de Deodoro (que durou de fevereiro a 3 de novembro de 1891) foi marcado por forte tensão política. Havia um claro conflito entre os militares, que defendiam a centralização do poder, e os políticos civis, que desejavam a volta dos militares aos quartéis e um governo descentralizado e federalista.
Tentativa de Golpe de Estado (3 de Novembro de 1891): Diante da oposição do Congresso e da população (agravada pela crise econômica), e com o Congresso tentando aprovar uma "Lei de Responsabilidades" para limitar seus poderes, Deodoro reagiu. Em 3 de novembro de 1891, ele decretou a dissolução do Congresso Nacional, lançando um "Manifesto à Nação" para justificar seu ato. Tropas militares cercaram os prédios legislativos, líderes oposicionistas foram presos e a imprensa foi censurada, com a decretação do estado de sítio.
Renúncia de Deodoro: Esse evento, conhecido como o Golpe de Três de Novembro, foi o último grande ato de Deodoro. O desgaste político, a falta de respaldo e a iminência de uma guerra civil levaram-no à renúncia. A Primeira Revolta da Armada, em 23 de novembro de 1891, liderada pelo almirante Custódio de Melo, que ameaçou bombardear o Rio de Janeiro, foi o fator decisivo para a renúncia de Deodoro, que entregou o poder ao vice-presidente, Floriano Peixoto.
Assunção do Poder: Com a renúncia de Deodoro, Floriano Peixoto assumiu a presidência. Ele rapidamente anulou o decreto de dissolução do Congresso e suspendeu o estado de sítio.
"Marechal de Ferro": Floriano ficou conhecido como o "Marechal de Ferro" devido à sua postura firme e veemência no combate aos opositores.
Repressão à Oposição: Seu governo foi marcado pela repressão a movimentos que contestavam o regime militar, como a Revolução Federalista (iniciada em fevereiro de 1893, no Sul do país) e a Segunda Revolta da Armada (setembro de 1893, no Rio de Janeiro). Floriano afastou governadores que haviam apoiado o golpe de Deodoro, substituindo-os por aliados. Ele recusou as pressões pela convocação de novas eleições imediatas, gerando mais instabilidade política.
Consolidação da República: Apesar das tensões e repressões, Floriano Peixoto é creditado por ter conseguido consolidar a república no Brasil. No entanto, seu governo também é lembrado pela perseguição a opositores e monarquistas, muitos dos quais foram exilados ou fuzilados. A mudança do nome da capital de Santa Catarina, de Nossa Senhora do Desterro para Florianópolis (Cidade Floriana), é um exemplo de seu autoritarismo.
Os eventos de 1889 e 1891 tiveram impactos profundos e duradouros na formação do Brasil republicano:
Fim da Monarquia e do Poder Moderador: A Proclamação da República marcou o fim definitivo do Segundo Reinado e da monarquia no Brasil, bem como a extinção do Poder Moderador.
Ascensão do Militarismo: Os primeiros anos da República foram dominados por governos militares, a chamada República da Espada, que exerceram grande influência na política nacional.
Estado Laico Consolidado: A separação oficial entre Estado e Igreja transformou o Brasil em um Estado laico, garantindo a liberdade de culto e eliminando a influência da Igreja Católica nas decisões governamentais.
Federalismo e Autonomia Estadual: A implantação do federalismo concedeu grande autonomia política, fiscal e legislativa às antigas províncias, agora estados.
Fortalecimento das Oligarquias Regionais e o Coronelismo: Embora o federalismo visasse a descentralização, na prática, ele fortaleceu as elites regionais. O controle do voto não secreto e as limitações no eleitorado permitiram o crescimento do coronelismo, onde grandes proprietários rurais exerciam domínio sobre a população local e, consequentemente, sobre a política dos estados e, por extensão, a nacional.
Exclusão Social e Política Continuada: Apesar das mudanças formais e da abolição do voto censitário, a República manteve uma profunda exclusão social e política da maioria da população. O alto índice de analfabetismo e as restrições ao voto garantiram que a cidadania plena e o direito ao voto permanecessem restritos a uma minoria. Não houve avanços significativos em questões sociais como a reforma agrária ou garantias para os escravos recém-libertos.
Caminho para a "Política do Café com Leite": A República da Espada, com sua centralização de poder, pavimentou o caminho para a próxima fase da República Velha: a República Oligárquica (ou República do Café com Leite). Nesse arranjo, as oligarquias de São Paulo (produtores de café) e Minas Gerais (produtores de leite) se revezavam no poder presidencial, consolidando o controle agrário sobre a política nacional, uma prática que perduraria até a Revolução de 1930.
Para fixar o aprendizado, confira as respostas para as dúvidas mais comuns sobre esse período:
O que foi a Proclamação da República? Foi um golpe de Estado político-militar que, em 15 de novembro de 1889, pôs fim à Monarquia Imperial no Brasil e instaurou a República Presidencialista.
Quando e onde ocorreu a Proclamação da República? Ocorreu em 15 de novembro de 1889, no Campo de Santana, na cidade do Rio de Janeiro, que era a capital do Império na época.
Quem proclamou a República? O movimento foi liderado pelo marechal Manuel Deodoro da Fonseca, que se tornou o primeiro presidente do Brasil. O jornalista José do Patrocínio redigiu a proclamação oficial.
A Proclamação da República foi um movimento popular? Não. A Proclamação da República teve pouquíssima ou nenhuma participação popular. Relatos da época, como o de Aristides Lobo, descrevem o povo como "bestializado", apenas assistindo aos acontecimentos. Foi essencialmente um movimento militar.
Quais foram as principais causas da Proclamação da República (as "questões")? As principais causas, frequentemente chamadas de "questões", foram a Questão Militar (insatisfação do Exército e influência do Positivismo), a Questão Religiosa (conflito entre Estado e Igreja Católica) e a Questão Abolicionista (descontentamento dos cafeicultores não indenizados após a abolição da escravidão). A demanda por descentralização do poder e a saúde debilitada de Dom Pedro II também contribuíram.
Quando foi promulgada a Constituição de 1891? A Constituição foi promulgada em 24 de fevereiro de 1891.
Quais as principais características da Constituição de 1891? As características mais importantes incluem a adoção da República Presidencialista, a implantação do Federalismo com grande autonomia para os estados, a separação oficial entre Estado e Igreja, a instituição dos três poderes independentes (Executivo, Legislativo, Judiciário), e a garantia de liberdades individuais como reunião, culto, expressão e o habeas corpus.
Quem podia votar e quem não podia votar pela Constituição de 1891?
Podiam votar: Homens maiores de 21 anos que não se enquadrassem nas proibições.
Não podiam votar: Analfabetos (maioria da população), mendigos, militares de patente baixa (praças), religiosos que faziam voto de obediência e, notavelmente, mulheres.
O que foi a Lei Saraiva e qual sua relação com o voto na República? A Lei Saraiva, aprovada em 1881 (antes da República), já havia reduzido drasticamente o número de votantes de 10% para 1% da população. Com a Constituição de 1891, apesar do fim do voto censitário, o eleitorado aumentou apenas timidamente para cerca de 2% da população, mantendo a exclusão da maioria.
O que foi o "Voto de Cabresto"? Foi uma prática eleitoral comum na Primeira República. Por meio dela, os "coronéis" (grandes proprietários rurais com poder local) manipulavam e controlavam os votos da população em suas regiões, muitas vezes por meio de ameaças, pressões ou troca de favores. Era facilitado pelo voto não ser secreto.
O que foi a "República da Espada"? Foi a primeira fase da República Velha (1889-1894), caracterizada pelos governos militares dos marechais Deodoro da Fonseca e Floriano Peixoto. É considerada uma ditadura militar inicial, marcada pela centralização do poder e pela repressão a movimentos oposicionistas.
O que significa "Estado Laico" na Constituição de 1891? Significa que o Estado brasileiro deixou de ter uma religião oficial, tornando-se neutro em assuntos religiosos. O catolicismo perdeu seu status de religião do Estado, e houve uma separação formal entre a Igreja e o governo.
O que significa "Federalismo" na Constituição de 1891? Significa a organização do país em União, estados e municípios, que formam uma nação, mas onde os estados e municípios mantêm grande autonomia política, fiscal e legislativa. No contexto brasileiro, essa autonomia fortalecido as oligarquias regionais e o fenômeno do coronelismo.
A Proclamação da República e a Constituição de 1891 marcaram formalmente o início de um novo capítulo na história do Brasil, introduzindo conceitos modernos de organização estatal como o presidencialismo, o federalismo e o Estado laico. No entanto, a transição foi complexa e não resultou em uma mudança radical das estruturas sociais e políticas pré-existentes.
Apesar dos ideais de "Ordem e Progresso", a República nascida desse "golpe" militar teve uma participação popular mínima. As elites agrárias, mesmo perdendo o apoio monárquico, rapidamente se adaptaram, utilizando as novas regras do federalismo e as limitações do voto para consolidar seu poder através do coronelismo. A República da Espada demonstrou a instabilidade inicial e a forte influência militar na política, que seria gradualmente substituída, mas não eliminada, pela hegemonia das oligarquias na "Política do Café com Leite".
A Constituição de 1891, embora um avanço liberal, falhou em abordar questões sociais cruciais, como a reforma agrária e as garantias para os recém-libertos, perpetuando a exclusão de grande parte da população. Compreender esse período é fundamental para desvendar as complexas interações entre poder, sociedade e economia que moldaram e continuam a moldar o Brasil contemporâneo.
Questões:
Qual foi o principal líder da Proclamação da República no Brasil?
A) Dom Pedro II.
B) Marechal Deodoro da Fonseca.
C) Luís Alves de Lima e Silva.
D) José Bonifácio.
O que marcou a primeira Constituição republicana, promulgada em 1891?
A) Estabelecimento de um regime monárquico.
B) Separação entre Igreja e Estado.
C) Centralização do poder nas mãos do imperador.
D) Restrição das liberdades individuais.
Quais foram alguns dos desafios enfrentados pelo novo regime republicano no Brasil?
A) Estabilidade política e igualdade social.
B) Concentração de poder nas mãos das elites agrárias e instabilidade política.
C) Aumento dos direitos trabalhistas e melhoria das condições de vida dos militares.
D) Aproximação entre Igreja e Estado e descentralização do poder.
Gabarito:
B) Marechal Deodoro da Fonseca.
B) Separação entre Igreja e Estado.
B) Concentração de poder nas mãos das elites agrárias e instabilidade política.