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22/09/2025 • 11 min de leitura
Atualizado em 22/09/2025

Polifonia em Dostoiévski

Descubra o Romance Polifônico de Fiódor Dostoiévski e Mikhail Bakhtin: Voz, Dialogismo e a Arquitetura da Inconclusibilidade Humana.

A polifonia em Dostoiévski é um dos conceitos literários e filosóficos mais cobrados em concursos públicos e exames acadêmicos, representando um divisor de águas na história do romance moderno. Cunhada pelo teórico russo Mikhail Bakhtin (do Círculo "B.M.V"), a polifonia define a maneira única pela qual Fiódor Dostoiévski (1821-1881) organizava suas narrativas, dando vida a personagens que são sujeitos de suas próprias ideias.


1.0 O Contexto e a Gênese do Conceito

1.1 Quem é o Autor-Criador do Romance Polifônico?

Fiódor Dostoiévski é reconhecido por Mikhail Bakhtin (1895-1975) como o criador do romance polifônico moderno. A investigação de Bakhtin sobre a obra dostoievskiana resultou no livro "Problemas da Poética de Dostoiévski" (publicado originalmente em 1929).

A tese central de Bakhtin consiste em defender que a construção das personagens de Dostoiévski é excepcional na literatura moderna, pois propõe personalidades e vozes próprias a cada sujeito da narrativa.

1.2 A Metáfora Musical: Voz e Contraponto

A ideia de polifonia é, fundamentalmente, uma metáfora conceitual retirada da teoria e história da música.

Na teoria musical, a polifonia é um estilo criado na Idade Média, opondo-se ao canto monódico, no qual vozes se distinguem ritmicamente e melodicamente, permitindo que melodias diversas convivam no mesmo campo musical.

O próprio Dostoiévski, ao escrever sobre sua composição, fez uma analogia entre seu sistema construtivo e a teoria musical das "passagens" ou contraposições. Ele chegou a descrever uma de suas novelas como construída no contraponto artístico.

O crítico Leonid Gróssman (apud Bakhtin) destacava o caráter musical no estilo dostoievskiano a partir das categorias de contraponto e polifonia, observando que o "ponto contra ponto" (punctum contra punctum) representa vozes diferentes, cantando diversamente o mesmo tema.

Dostoiévski utiliza o discurso musical polifônico para expressar uma visão do homem inconcluso e inacabado.


2.0 A Base Teórica: Dialogismo

Antes de entender a polifonia, é crucial dominar o dialogismo, o conceito mais abrangente e fundamental da filosofia bakhtiniana, pois ele é constitutivo da linguagem.

2.1 Dialogismo: Um Princípio Universal

  1. Constitutivo da Linguagem: O dialogismo é um princípio constitutivo da linguagem. Não existe linguagem que não seja dialógica; toda fala e todo texto são realizados por meio de relações dialógicas.

  2. Corrente de Enunciados: Cada enunciado (fala ou texto) é um elo na corrente organizada de outros enunciados. O enunciado retoma vozes alheias ou próprias (passadas) e se volta para respostas futuras (próprias ou alheias).

  3. Universalidade do Gênero: O dialogismo está presente em todos os textos, em todas as falas, e em todos os gêneros discursivos (conversas, filmes, e-mails, teses, notícias, etc.).

  4. Natureza Ampla: As relações dialógicas são possíveis entre "outros fenômenos conscientizados desde que estes estejam expressos numa matéria sígnica".


3.0 Polifonia: O Gênero Específico

A polifonia é o conceito que define a inovação estilística de Dostoiévski, sendo, por isso, um tema prioritário em provas de literatura russa.

3.1 Definição Central de Polifonia

A polifonia não é universal como o dialogismo; ela é um modo particular de Dostoiévski organizar e estruturar algumas de suas obras (romances).

No romance polifônico, as ideias dos heróis (personagens) são plenivalentes e estão em igualdade (equipolência) com o autor-criador. O autor age como regente de um coro de consciências que debatem ideias e pontos de vista.

3.2 O Homem Inconcluso: A Nova Visão de Mundo

A polifonia está intimamente ligada à visão inovadora de Dostoiévski sobre o homem.

Para o escritor russo, conforme a leitura bakhtiniana, o homem é um sujeito inconcluso e inacabado.

O romance polifônico é o palco onde:

  • O diálogo não é apenas um meio de revelação, mas a própria ação.

  • O homem não apenas se revela exteriormente, mas se torna, pela primeira vez, aquilo que é, não só para os outros, mas também para si mesmo.

  • "Ser significa co-municar-se pelo diálogo".

3.3 Prioridade em Concursos: Dialogismo vs. Polifonia

É uma dúvida comum e um assunto muito cobrado confundir dialogismo e polifonia. Lembre-se: polifonia é um caso especial de dialogismo.

Característica

Dialogismo

Polifonia

Escopo

Princípio constitutivo da linguagem (Universal).

Modo particular de estruturação da obra (Específico).

Presença

Em todos os textos, enunciados e falas.

Apenas em alguns textos e, para Bakhtin, primariamente no gênero romance de Dostoiévski.

Relação

Toda linguagem é dialógica. Pode haver concordância ou discordância entre vozes.

Envolve debate de ideias conflitantes. É mais que isso; nem todo discurso dialógico é polifônico.

Resultado

Não focado na conclusão do debate, mas na relação entre enunciados.

As ideias não são concluídas em uma palavra vencedora.

ATENÇÃO: Para Bakhtin, a polifonia não está presente em todos os textos. A polifonia é uma característica da poética de Dostoiévski, e o filósofo russo afirmou que poucos discursos conseguem essa peculiaridade tão rica.


4.0 Estrutura e Mecânica da Polifonia

Esta seção detalha os elementos arquitetônicos que tornam o romance polifônico único, com foco nas categorias técnicas essenciais.

4.1 Nível 1: As Três Características Essenciais

No início de "Problemas da Poética de Dostoiévski" (PPD), Bakhtin antecipa as três características essenciais que definem a polifonia de Dostoiévski:

  1. Imiscibilidade (Independência): As vozes e consciências das personagens não se misturam, permanecendo separadas.

  2. Equipolência (Igualdade): As vozes têm o mesmo estatuto e não estão subordinadas umas às outras, nem mesmo à voz do autor-criador.

  3. Plenivalência (Plenitude de Valor): As ideias dos personagens possuem valor completo e independente.

4.2 Nível 2: A Relação com o Autor e o Narrador

No romance polifônico, o personagem deixa de ser um "puro objeto do agir do autor-criador para assumir o estatuto de outro sujeito".

  • Autoria Dialógica: A voz do autor-criador jamais "abafa a voz do outro". A voz do narrador pode ganhar espaço e equivaler a outras vozes na história, podendo o próprio narrador ser considerado um personagem.

  • A Ideia como Pedra de Toque: A ideia, embora ocupe uma posição imensa, não é a heroína; o herói é o homem. A ideia é a "pedra de toque para experimentar o homem no homem" ou o "médium" no qual a consciência humana desabrocha.

  • Inconclusibilidade Estrutural: A polifonia se manifesta no não acabamento do discurso. As vozes (ideias e pontos de vista) estão em constante embate valorativo.

4.3 Nível 3: A Arquitetura da Fuga e do Contraponto (Conteúdo Avançado)

Bakhtin demonstra que a dinâmica da composição artística de Dostoiévski obedece, em certa medida, à prática musical polifônica, especialmente a fuga.

  • A Fuga:

    • Caráter Imitativo: Ocorre a passagem do tema por muitas e diferentes vozes.

    • Monotemática: Trata-se de uma peça monotemática (o "sujeito") re-enunciada por diferentes vozes.

    • Vozes: Apresenta tipicamente 3 ou 4 vozes.

    • Forma Aberta: Possui um traço estilístico de contínua expansão.

  • Contraponto: A transposição da teoria da música sugere que "tudo na vida é diálogo, ou seja, contraposição dialógica".


5.0 Obras Centrais, Exceções e Dúvidas Comuns

Para uma análise completa, é fundamental saber onde a polifonia de Dostoiévski se manifesta de forma mais evidente e quais obras apresentam nuances importantes.

5.1 O Romance como Ação: O Diálogo é o Fim

Em Dostoiévski, o diálogo não é apenas um meio ou um limiar da ação, mas a própria ação. O romance se instaura no plano da simultaneidade de acontecimentos. A totalidade dostoievskiana transforma a contradição entre diversas perspectivas no fundamento de iluminar problemas históricos.

Obras Notáveis e Personagens Bivocais:

  • O Duplo: Apresenta o diálogo interior de três vozes nos limites de uma consciência que se decompôs (Goliádkin).

  • O Adolescente: Contém a contraposição (contraponto) e a tensão dialógica das ideias.

  • Crime e Castigo, O Idiota, Os Demônios, Os Irmãos Karamazov: Personagens cruciais como Raskólnikov, Míchkin, Kirilóv, Ivan Karamazov e Sônia Marmieládova participam do concerto polifônico.

5.2 A Protoforma Polifônica: Memórias do Subsolo

"Memórias do Subsolo" (1864) é crucial porque é considerada um divisor de águas na biografia e conteúdo intelectual de Dostoiévski. É nesta obra que aparecem as primeiras generalizações histórico-filosóficas e sociais que servirão de base para a evolução subsequente do autor.

Polifonia, Ceticismo e Bivocalidade em Memórias do Subsolo (Pergunta Obvia: Como a polifonia se manifesta em um monólogo?)

Apesar de ser um solilóquio, a fala do homem do subsolo é um diálogo sumamente tenso e um diálogo fantasmagórico.

  1. Ceticismo Pirrônico (A Voz Cética): O protagonista utiliza modos de argumentação que se assemelham ao ceticismo pirrônico (como a redução ao absurdo e o regresso ao infinito) para recusar o dogmatismo das teorias racionalistas, como as de Tchernichévski.

  2. O Combate ao Dogmatismo: O homem do subsolo recusa a ideia de reduzir a natureza humana a um aspecto uno e racional. O discurso cético identifica atitudes de recusa à fé na ciência e ao determinismo. Ele ironiza o "Palácio de Cristal" (símbolo do socialismo utópico).

  3. Voz Bivocal e Dialógica Interior: O homem do subsolo está sempre "com sua própria voz a voz de outra pessoa". Ele se dirige a "senhores" imaginários (o público), antecipando e rebatendo suas críticas, o que torna sua fala um diálogo constante e tenso. O diálogo interno é uma "dialética determinista" que impulsiona a contradição.

5.3 Exceção e Gradualidade da Polifonia (Material de Destaque)

Embora Bakhtin defenda a polifonia como uma característica de Dostoiévski, estudos semióticos mais recentes sustentam a gradação do conceito.

  • Totalidade A (Mais Polifônica): Obras como Crime e Castigo e Os Irmãos Karamázov apresentam traços mais polifônicos, com recorrência dos procedimentos de imiscibilidade, equipolência e interindependência de vozes.

  • Totalidade B (Menos Polifônica): Obras como Um Jogador (The Gambler) apresentam traços menos polifônicos. Nesses casos, a recorrência dos procedimentos centrais da polifonia é menor.

Isso responde à pergunta óbvia: A polifonia não é um estado binário (presente ou ausente), mas uma categoria apreensível e escalar na estética dostoievskiana.


6.0 Debates Críticos e Romance Monológico

Para concursos de alto nível, é crucial entender as críticas a Bakhtin e a distinção entre polifonia e monologismo, que Bakhtin utiliza como contraponto.

6.1 O Contraponto Monológico

O romance monológico é aquele no qual as vozes das personagens estão subordinadas à voz do autor. O autor é a única voz dominante, e as personagens são figuras objetificadas, meros transmissores de suas ideias.

  • Características do Monologismo: Está associado ao autoritarismo e ao acabamento. O discurso monológico é "concluído e surdo à resposta do outro", coisificando a realidade.

  • Tolstói como Exemplo: Bakhtin usa Tolstói como contraponto para demonstrar que a polifonia não implica uma hierarquia valorativa. No romance monológico (ou dialogismo monofônico), as vozes são hierarquizadas, "abafadas" por uma voz reinante.

6.2 As Críticas à Tese da Polifonia

A tese da polifonia foi o ponto mais polêmico na recepção do livro de Bakhtin em 1929.

  1. Acusações de Idealismo: O tom dominante da crítica soviética foi "desmascarar" a filosofia idealista de Bakhtin sob uma roupagem sociológica. Críticos como Gróssman-Róchin e Berkóvski rejeitaram a polifonia, alegando que se deveria ouvir uma "única voz de classe".

  2. Ausência de Abordagem Histórica: A primeira edição (1929) foi criticada pela ausência de uma abordagem histórica. Bakhtin admitiu essa limitação.

  3. Correção de Rota (Poética Histórica): Na segunda edição (1963), Bakhtin incluiu a poética histórica, rastreando as origens do romance polifônico até os diálogos socráticos e a sátira menipeia. O diálogo socrático, que busca a verdade e se contrapõe ao monologismo oficial, é considerado um dos princípios da linha evolutiva do romance, levando à obra de Dostoiévski.

  4. Analogia Musical (Imprecisão): Alguns críticos acusaram Bakhtin de imprecisão por usar terminologia musical (polifonia) em vez de primar pela precisão científica.


7.0 Resumo Final para Revisão

Para dominar o conceito de Polifonia em Dostoiévski:

Conceito-Chave

Resumo Prático

Prioridade em Concursos

Polifonia

Modo estrutural de Dostoiévski, baseado na metáfora musical, onde as vozes dos personagens coexistem em igualdade (equipolência) com o autor.

Alta. Definição, origem (Bakhtin) e contraste com monologismo.

Dialogismo

Princípio constitutivo da linguagem; universal e presente em todos os gêneros.

Média/Alta. Essencial para o contraste com a polifonia (o específico vs. o universal).

Arquitetura

Imiscibilidade, Equipolência, Plenivalência. Uso de Contraponto e Fuga (estrutura monotemática com múltiplas vozes).

Alta. Conhecer os termos técnicos musicais e as três características.

Visão do Homem

O diálogo é a própria ação, revelando o homem inconcluso e inacabado.

Alta. Ligação Filosofia/Estética.

Exceção

A polifonia é escalar; obras como Um Jogador são menos polifônicas que Os Irmãos Karamázov.

Média/Alta. Demonstra conhecimento aprofundado e nuances.

Obras-Chave

Memórias do Subsolo como protoforma dialética, utilizando o ceticismo contra o dogmatismo utilitário de Tchernichévski.

Alta. Obra mais filosófica e concentrada.