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22/09/2025 • 11 min de leitura
Atualizado em 23/09/2025

Quem foi Lima Barreto?

Lima Barreto – Pré-Modernismo, Racismo e a Mais Completa Crítica Social Brasileira

Lima Barreto é um dos escritores mais fundamentais e complexos da literatura brasileira, cujo trabalho se destaca como uma denúncia incisiva do racismo e da exclusão social no período da Primeira República. Sua obra, identificada com o Pré-modernismo, transcendeu as preocupações estéticas de sua época, assumindo uma função social e militante.


1. Quem Foi Lima Barreto e Seu Contexto

1.1. Quem Foi Afonso Henriques de Lima Barreto? (FAQ Essencial)

Afonso Henriques de Lima Barreto (1881–1922) foi um jornalista e escritor brasileiro.

  • Nascimento e Morte: Nasceu em 13 de maio de 1881 e faleceu prematuramente em 1º de novembro de 1922, aos 41 anos, no Rio de Janeiro, vítima de um enfarte agudo do miocárdio.

  • Etnia e Origem Social: Era negro (ou mulato, conforme outras fontes da época), filho de pais negros e pobres, vivendo em uma condição de classe média baixa. Desde cedo, enfrentou o preconceito racial.

  • Movimento Literário: É amplamente identificado com o Pré-modernismo brasileiro.

  • Ocupação: Escritor, jornalista e cronista. Trabalhou como funcionário público do Ministério da Guerra.

  • Obra de Maior Destaque (Magnum Opus): Triste Fim de Policarpo Quaresma.

1.2. O Cenário Histórico e Literário (Pré-Modernismo)

Lima Barreto viveu durante um período de profundas transformações no Brasil: o final do século XIX e o início do século XX, com a Proclamação da República (1889).

O Pré-modernismo (c. 1902–1922) é um período de transição na literatura brasileira. Lima Barreto e outros autores, como Euclides da Cunha, atuaram na virada do século, mas, ao contrário de seus contemporâneos parnasianos e simbolistas, sua obra se concentrava em denunciar as irregularidades do governo e as tensões sociais.

A crítica considera que Lima Barreto virou "pelo avesso a imagem fútil da belle époque carioca", expondo a hipocrisia e a falsidade das relações sociais e da República que havia substituído o regime anterior, mas que era igualmente excludente do ponto de vista socio-racial.


2. A Literatura Militante e a Geografia Social

2.1. O Estilo: Literatura Militante e a "Fala Brasileira"

Lima Barreto definiu seu projeto literário como o de uma "literatura militante", buscando criticar o mundo circundante para provocar mudanças nos costumes e nas práticas que beneficiavam apenas certas classes sociais.

Ele rejeitava o preciosismo estético e o culto ao dicionário, criticando Coelho Neto. Seu estilo era marcadamente coloquial, despojado e direto, o que o levou a ser acusado de "escritor descuidado" por críticos modernistas. No entanto, documentos manuscritos mostram o contrário, revelando que ele escrevia e reescrevia seus textos com atenção.

Sua busca estética era por uma beleza intrínseca à substância da obra, não por aparências formais. Ele queria que a literatura fosse um meio de comunhão entre os homens de todas as raças e classes, para que se compreendessem na "infinita dor de serem homens".

Ponto de Contraste (Muito Cobrado em Provas): Enquanto a elite literária da época adotava um estilo artificial e erudito (como Olavo Bilac e Rui Barbosa), Lima Barreto defendia e praticava o uso de uma linguagem próxima da "fala brasileira", um fator que mais tarde influenciaria os escritores modernistas da Semana de 22.

2.2. A Importância dos Subúrbios e a Etnografia Social

A vida de Lima Barreto e a ambientação de suas obras estão intimamente ligadas aos subúrbios cariocas, especialmente Todos os Santos. Essa escolha de cenário foi revolucionária, pois deslocou o foco da literatura da centralidade aristocrática para as margens da sociedade.

  • Etnografia do Cotidiano: Em seu trajeto diário de trem para o trabalho no Ministério da Guerra, Lima Barreto observava e anotava as pessoas, as roupas, as expressões e a "arquitetura caótica" dos subúrbios. Essa observação detalhada (sua "etnografia das cores") forneceu a base realista para seus romances.

  • Vida Popular e Padrinho Informal: Lima Barreto era profundamente enraizado em sua vizinhança, tratando-o como um padrinho informal. Ele tinha um tremendo afeto pelos subúrbios.

  • O Conceito de "Gatos": O termo "gatos" é usado pelo escritor em suas cartas para descrever os erros de edição (fios soltos) em seus livros, mas também remete metaforicamente aos fios de eletricidade desordenados e emaranhados que percorriam os subúrbios.


3. Análise de Obras e Temas Centrais

3.1. Obras Essenciais e Seu Significado Crítico

Lima Barreto utilizou o romance, o conto e a crônica como instrumentos de denúncia social e resgate do humano.

3.1.1. Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911): A Sátira do Nacionalismo Ingênuo

O romance, considerado sua magnum opus, narra a história de Policarpo Quaresma, um funcionário público patriota exaltado, metódico, disciplinado, ingênuo e visionário.

O livro é uma sátira mordaz e bem-humorada da sociedade e da política da Primeira República. Quaresma, em sua busca por um nacionalismo utópico, tenta implementar três grandes projetos para resgatar a "verdadeira cultura brasileira":

  1. Projeto Cultural/Linguístico: Propõe ao Congresso Nacional a substituição do português pelo tupi-guarani como língua oficial, por considerá-la a legítima língua brasileira, adequada aos nossos "órgãos vocais e cerebrais".

    • Resultado: É ridicularizado e considerado louco, sendo internado em um hospício.

  2. Projeto Agrícola: Após a internação, isola-se em um sítio ("Sossego") e dedica-se à agricultura, na crença de que o solo brasileiro é o mais fértil do mundo.

    • Resultado: Seu projeto fracassa devido ao descaso do governo, à terra ruim, e à praga das formigas saúvas.

  3. Projeto Político: Envolve-se na Revolta da Armada, esperando que um governo forte (Floriano Peixoto) pudesse mudar o sistema corrupto.

    • Resultado: Vê a crueldade e o autoritarismo do militarismo e, ao denunciar os assassinatos de prisioneiros, é visto como traidor e executado.

Conclusão Crítica (Louco ou Nacionalista?): O romance expõe o desajuste entre o imaginário e o real. Policarpo Quaresma morre decepcionado, percebendo que a pátria que idealizava era um mito. A obra usa a caricatura e a ironia para focalizar os limites da ideologia nacionalista e a rigidez de uma sociedade autoritária.

3.1.2. Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909): Racismo e a Imprensa

Este é um romance de teor autobiográfico. Isaías Caminha, o protagonista, enfrenta preconceitos sociais e raciais em sua busca por ascensão na profissão de jornalista.

  • A Força do Meio Social: Lima Barreto utiliza a ideia do determinismo (influência de Taine) para argumentar que o fracasso de um indivíduo como Isaías não se deve às suas qualidades intrínsecas, mas sim ao fato de ser "batido, esmagado, prensado pelo preconceito", que é uma coisa externa a ele.

  • O Doutorismo e o Branqueamento Social: A obsessão pela instrução superior e pelo título de "doutor" é explorada, pois, para o personagem, ser doutor significava uma tentativa de superação da "vulgaridade inerente da raça" e de conquista de igualdade. O sucesso profissional é, ironicamente, um fator de branqueamento social do personagem.

3.1.3. Clara dos Anjos (1922, Póstumo): A Realidade do Racismo Suburbano

Concluído pouco antes de sua morte, este romance está inteiramente ambientado na etnografia dos subúrbios que Lima Barreto colecionou em seus manuscritos. É uma obra crucial para a compreensão da incidência da população negra em suas narrativas e das situações que envolvem pessoas negras.

3.2. Racismo, Eugenismo e a Crítica à Ciência Biologizante (Exceção/Controvérsia)

Lima Barreto foi um dos críticos mais agudos das teorias raciais, eugênicas e do projeto de branqueamento que dominavam o pensamento intelectual e político da Primeira República.

  • Inferioridade Racial como Estratégia Política: O escritor via as teorias que afirmavam a inferioridade do negro e do mestiço (inspiradas em Gobineau, Lapouge e outros, e defendidas por intelectuais brasileiros como Nina Rodrigues) não como verdade científica, mas como instrumentalização política para proteger os privilégios da raça branca.

  • O Projeto de Branqueamento: O pensamento da época considerava a miscigenação (negros, índios, mestiços) um fator de vergonha nacional e que a imigração europeia era essencial para o embranquecimento da nação, visando o progresso. Barreto criticou veementemente essa mentalidade.

  • Crítica à Antropometria: Lima Barreto satirizou técnicas pseudocientíficas como a Antropometria (medição de crânios). Ele questionava a ideia de que a capacidade intelectual poderia ser medida pelo tamanho do cérebro ou que as variações raciais pudessem ser usadas como critério de superioridade ou inferioridade. Ele satirizou essa técnica em Isaías Caminha.

A Inversão Crítica (Conceito Chave): Barreto problematizou o determinismo biológico. Em vez de aceitar que a raça determinava a posição social, ele argumentou o contrário: o meio social e o preconceito racial é que condicionavam o fracasso e o desajustamento dos negros e mulatos.

3.3. Loucura e Exclusão Social (Experiência Pessoal e Crítica)

Lima Barreto sofreu com crises de alcoolismo e depressão, resultando em várias internações no Hospício Nacional de Alienados. Essa experiência pessoal se transformou em matéria literária nas obras Diário do Hospício (anotações de 1918) e no romance inacabado Cemitério dos Vivos.

  • Loucura como Categoria Sócio-Histórica: Para Barreto, e para a crítica atual, a loucura não é apenas um fato biológico, mas uma categoria social usada para excluir. Os grupos em situação de dominação — como negros, pobres e mulheres — eram os "loucos preferenciais".

  • O Hospício como Espelho Social: Ele notou que a ala dos doentes "mais insuportáveis" (a seção Pinel) era majoritariamente ocupada por indivíduos das camadas mais pobres e de pigmentação negra, muitas vezes recolhidos pela polícia. O hospício era uma réplica da estrutura social, com suas divisões de classes.

  • Crítica ao Tratamento: Lima Barreto era cético quanto à finalidade curativa do hospício, considerando-o mais uma forma de "sequestro". Ele sentia o medo de ser usado como "cobaia" pelos médicos, dada sua condição de "pária social".

  • Alcoolismo e Rejeição Social: A sua justificada preocupação com o preconceito racial e as escassas possibilidades de ascensão social motivaram o uso da bebida como forma de extravasamento da rejeição.

3.4. A Exceção da Amizade e o Legado Post-Mortem

3.4.1. A Relação Complexa com Monteiro Lobato

A correspondência entre Lima Barreto e Monteiro Lobato é a mais conhecida do público, mas não necessariamente a mais relevante. Lobato, apesar de ter inclinações à eugenia (chegando a elogiar a Ku Klux Klan), ajudou Lima Barreto em diferentes momentos, publicando um conto dele e o romance Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá.

A troca de cartas era amistosa e cheia de ironia. Em uma passagem famosa, Lobato pediu a confirmação do endereço de Lima, que respondeu de forma irreverente: "eu não sou quilombola, não". Barreto era um mestre informal para Lobato e outros jovens escritores que buscavam seu incentivo e inspiração.

3.4.2. A Conspiração do Silêncio e a Redescoberta

Durante sua vida, Lima Barreto sofreu um "silêncio implacável" e foi excluído da crítica oficial, sendo considerado um marginal das letras por sua "posição combativa" e "crítica contundente".

Sua obra só foi redescoberta e valorizada postumamente, graças ao esforço incansável de pesquisadores como Francisco de Assis Barbosa, que retirou grande parte dos livros do limbo e organizou suas obras dispersas, incluindo a totalidade das cartas encontradas e o Diário Íntimo. Lilia Schwarcz, autora da biografia Lima Barreto, triste visionário (Prêmio Jabuti, 2017), contribuiu para reposicionar Lima Barreto, destacando os marcadores sociais das diferenças (raça, gênero, classe, etc.) e ressaltando as ambivalências de sua personalidade.


4. Falsa abolição

4.1. O Choque entre Abolição e República (Conteúdo Político/Social)

Lima Barreto nasceu apenas sete anos antes da Lei Áurea (1888). Ele reconhecia o 13 de maio como uma data "sagrada" de redenção contra a opressão. No entanto, foi uma das vozes mais contundentes ao denunciar a "falsa abolição".

Para o escritor, a Abolição não aumentou as oportunidades do negro, e a Proclamação da República (1889) foi incapaz de promover a cidadania e a igualdade. Pelo contrário, o regime republicano era visto como plutocrático, corrupto e excludente, continuando a tratar o negro como "cidadão de segunda categoria".

Lima Barreto não amava a República, que para ele era a época em que os pardos eram "mais postos à margem". Sua literatura, ao se dedicar a um retrato sarcástico da sociedade, funcionava como um veículo para combater o autoritarismo e a hipocrisia.

4.2. O Legado Didático: A Literatura como Porta para a Subjetividade Humana

A importância da obra de Lima Barreto reside em sua capacidade de humanizar os grandes personagens e trazer à tona suas contradições. Suas cartas e diários revelam a sua ironia, suas ambiguidades e sua sensação de fracasso.

A leitura de Lima Barreto nos força a uma revisão crítica da história social brasileira do início do século XX. Sua literatura, por não se submeter aos cânones da ciência, permite representar o ser humano em toda a sua complexidade, incluindo a dor, as contradições, e a marginalidade. Ele foi um pioneiro em dar voz aos marginalizados e pobres na literatura nacional.


Lista de Obras Fundamentais de Lima Barreto

Para provas e aprofundamento, as seguintes obras são as mais citadas:

Gênero

Obra (Ano de Publicação Original)

Foco Principal

Romance

Triste Fim de Policarpo Quaresma (1911)

Sátira política e social; Nacionalismo ingênuo; Loucura.

Romance

Recordações do Escrivão Isaías Caminha (1909)

Racismo, ascensão social, crítica ao jornalismo.

Romance (Póstumo)

Clara dos Anjos (1922/1948)

Racismo e opressão da mulher negra nos subúrbios.

Novela (Póstuma e Inacabada)

Cemitério dos Vivos (1920/1956)

Experiência de internação, loucura, autobiografia.

Memórias

Diário do Hospício (1920/1956)

Notas e reflexões durante a internação.

Crônicas

Os Bruzundangas (1923)

Sátira sobre o Brasil (a Bruzundanga).