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22/09/2025 • 18 min de leitura
Atualizado em 22/09/2025

Resumo e Análise de "A Hora da Estrela"

A Hora da Estrela: Análise Completa e Guia Didático Otimizado para Concursos e Vestibulares 2025

1. Introdução Didática e Contexto da Autora

A obra A Hora da Estrela, lançada em 1977, pouco antes da morte de Clarice Lispector, é um marco na literatura brasileira e figura indispensável nos principais concursos públicos e vestibulares do país. Uma leitura superficial pode levar à compreensão de que o romance é um texto curto sobre uma órfã nordestina, Macabéa, e sua vida trivial e sofrida. No entanto, o texto clariceano está longe de ser elementar ou simples, o que exige um estudo aprofundado para capturar a complexidade de suas vozes e temas.

1.1. Clarice Lispector e o Estilo

Clarice Lispector nasceu Haia em 1920, onde hoje é a Ucrânia, filha de judeus em migração. Chegou ao Brasil em 1922, vivendo em Maceió e Recife, antes de se mudar para o Rio de Janeiro em 1935.

Seus textos são notáveis por fugirem ao padrão, sendo subjetivos e intimistas, e "nada fáceis para um leitor desatento". As principais características da escrita de Clarice, essenciais para qualquer estudo, incluem:

  1. Subjetividade e Intimismo: O foco se desloca dos fatos externos para o mundo interior e a subjetividade humana, que se torna a diretriz e o eixo condutor da trama. O leitor é convidado a "se deixar levar pela companhia da escritora, dos narradores e personagens que ela cria".

  2. Ausência de Linearidade (Antifabularidade): Os enredos clariceanos não costumam obedecer à ordem tradicional de começo, meio e fim. A descontinuidade é uma marca estética.

  3. Linguagem Elaborada e Desautomatizada: A autora utiliza intensamente a metáfora insólita, o fluxo de consciência e a ruptura com o enredo factual. Clarice busca a "verdadeira exploração vocabular", transformando o ordinário em um mundo sensível.

  4. Rejeição à Classificação: A própria Clarice afirmava ser "inútil querer me classificar" e que seu trabalho escapava aos gêneros fixos. Sua narrativa destoava da prosa regionalista e referencial produzida no Brasil pós-1960.

Em A Hora da Estrela, a autora alia essa linguagem complexa a uma vertente regionalista, algo incomum em suas obras iniciais, levando críticos a falar de uma "nova Clarice".

1.2. Os Múltiplos Títulos

O romance é notável por possuir 13 títulos, o que demonstra os "jogos linguísticos do processo da escrita". Esses múltiplos títulos ajudam a desvendar a obra e se referem aos estados de espírito do narrador ou a momentos cruciais da história.

A lista completa dos 13 títulos é:

  1. A Hora da Estrela: O título oficial, que remete ao momento de maior brilho da protagonista, a hora da sua morte.

  2. A Culpa é Minha: Refere-se ao momento em que o narrador, Rodrigo S.M., tem que decidir sobre a vida e morte de Macabéa.

  3. Ela Que Se Arranje: Expressa a maneira como o narrador atribui a Macabéa a culpa por seu destino.

  4. O Direito ao Grito: Macabéa teria o direito de mudar sua forma de encarar o mundo, mas não o fez. O narrador, contudo, afirma que há "direito ao grito" e ele grita por ela.

  5. Quanto ao Futuro: Uma frase que explica a incerteza do futuro para todos. Macabéa, em especial, não tinha futuro, considerando-o um "luxo".

  6. Lamento de um Blue: Menciona o momento da morte da protagonista, onde soava a melodia de um violino.

  7. Ela Não Sabe Gritar: A incapacidade de Macabéa de "ser" e de se comportar de forma padronizada, sufocando seus gritos interiores.

  8. Uma Sensação de Perda: A sensação de vazio que Macabéa sentia em seu próprio âmago.

  9. Assovio no Vento Escuro: O frio da morte chegando para a protagonista.

  10. Eu Não Posso Fazer Nada: A incapacidade de Rodrigo S.M. de salvar a vida de Macabéa.

  11. Registro dos Fatos Antecedentes: Como toda história, registra fatos contados e escritos conjuntamente.

  12. História Lacrimogênica de Cordel: Compara a saga de Macabéa, uma retirante nordestina no Rio de Janeiro, aos grandes feitos da literatura de cordel.

  13. Saída Discreta Pela Porta dos Fundos: A morte iminente da personagem principal e de seu autor/narrador, que só vive enquanto está escrevendo.


2. O Enredo de Macabéa: Resumo e Contextualização

A história de Macabéa, para uma leitura superficial, "parece simples, quase trivial". É o relato de uma jovem órfã, nascida em Alagoas, que migra para o Rio de Janeiro após a morte de seus pais.

2.1. Macabéa: A Nordestina Invisível

Macabéa é criada por uma tia religiosa e moralista, cheia de tabus. Quando moça, muda-se para o Rio de Janeiro e passa a morar em um quarto de pensão com outras quatro moças, todas Marias.

Ela consegue um emprego como datilógrafa, embora tenha "poucas noções da língua portuguesa e de datilografar mal", mantendo-se no emprego apenas pela falta de coragem do chefe em demiti-la. Sua vida é marcada por miséria, não apenas financeira, mas existencial.

A protagonista é caracterizada por sua resignação e apatia. Ela não tem grandes ambições, e seus desejos mais notáveis são triviais, como comprar uma rosa, ir ao cinema ou tomar um refrigerante, ou até mesmo o sonho de comer um creme caro. Macabéa possui uma "alma rala" e vive num "limbo impessoal", sem grande consciência de si. Ela aceita sua realidade sem questioná-la, por não ter conhecido outros modos de vida.

A personagem, muitas vezes, é formulada em termos análogos aos dos animais, sendo descrita como alguém que mal tem corpo para vender, "virgem e inócua, não faz falta a ninguém". Ela é o retrato da "inocência pisada, de uma miséria anônima".

2.2. A Tragédia de Macabéa: Relações e Morte

O percurso de Macabéa na narrativa é marcado por três relações principais:

  1. A Tia: Criou-a sob castigos e repressão, impondo discursos estereotipados e evitando que a sobrinha se tornasse uma "mulher que em Maceió ficavam nas ruas de cigarro aceso esperando homem". Essa opressão inicial molda sua resignação.

  2. Olímpico de Jesus: Um operário metalúrgico, também nordestino (da Paraíba), que se torna o namorado de Macabéa. Ele, ao contrário dela, é ambicioso e deseja ser deputado. Olímpico é construído sob a masculinidade hegemônica, vendo em brigas e atos de violência um grau de honra. O namoro é insensível e sem realização carnal, pois ele a via com desprezo. A relação de Macabéa com ele representa o desejo de ser vista e ter uma conexão com o mundo.

  3. Glória: Colega de trabalho de Macabéa, que é o oposto dela: bem-alimentada, competente e mais habilidosa no "mundo do dinheiro". Olímpico abandona Macabéa para ficar com Glória, que oferecia a ele uma possibilidade de ascensão social (o pai de Glória era açougueiro).

Após ser abandonada e sentir-se constantemente doente (ela recebe um diagnóstico de princípio de tuberculose, que mantém em segredo), Glória a aconselha a visitar uma cartomante, Madame Carlota.

O Clímax (A Hora da Estrela)

Madame Carlota (uma ex-prostituta) prevê um futuro de felicidade: Macabéa casaria com um estrangeiro louro e rico, obtendo ascensão social e amor. Macabéa sente uma "esperança tão violenta" e, inebriada com as previsões, sai para a rua.

Ao atravessar a rua, ela é atropelada por um Mercedes-Benz amarelo guiado por um homem louro. No chão, sangrando e testemunhada por inúmeros espectadores, Macabéa tem o seu fim. Ela alcança a "hora da estrela" – o momento de sua morte, que é também o único instante em que ela se torna visível para as pessoas.


3. Análise da Estrutura e Estilo

A estrutura da obra é tripla e não-linear, fundindo três eixos narrativos simultâneos: a história de Macabéa, a história do drama existencial de Rodrigo S.M., e a história do próprio processo de escrita (metalinguagem).

3.1. O Narrador Rodrigo S.M.: A Verdadeira Estrela

A figura do narrador é o ponto mais complexo e debatido, sendo prioritário em exames. Rodrigo S.M. é um escritor fictício, criado por Clarice Lispector como um narrador-personagem que duela por espaço com Macabéa.

3.1.1. Metalinguagem e Crise da Escrita

O romance se apresenta, sobretudo, como uma discussão substancial sobre o processo de escritura. Rodrigo S.M. não é apenas um contador de histórias; ele se torna o centro das atenções através de suas divagações. Ele problematiza a todo momento o ato de narrar:

  • A Palavra como Material Básico: Rodrigo S.M. explicita o valor da palavra, afirmando que seu material básico é a palavra e que o sentido secreto "ultrapassa palavras e frases".

  • A Crise de Identidade do Autor: O narrador desponta como uma voz de questionamento sobre o papel social do escritor. Ele busca encontrar o estilo e a forma mais adequados, ao mesmo tempo em que investiga o que representa a pessoa escritor.

  • A Mimese do Processo: Rodrigo S.M. relata a história enquanto a escreve, expondo os "bastidores da criação". A narrativa é uma invenção do real que está sendo contada e escrita ao mesmo tempo.

  • O Distanciamento Calculado: Rodrigo S.M. é apresentado como uma figura masculina para contar a história de Macabéa. Hélène Cixous defende que Clarice fez um esforço sobre-humano de deslocamento, passando ao masculino para alcançar a "distância mais respeitosa" de que sua personagem precisava, evitando o "lacrimejar piegas" típico do feminino. O valor supremo é o "sem-piedade, mas um sem-piedade cheio de respeito".

3.1.2. O Duelo de Protagonistas (Exceção Crucial)

A crítica mais aprofundada sustenta que Rodrigo S.M. é o verdadeiro protagonista da obra, mais complexo do que Macabéa. Ele se afirma como um dos personagens mais importantes.

O livro é, na verdade, o "palco" que o narrador constrói para ser o personagem mais importante do enredo. A história passa a ser o trajeto da escrita de Rodrigo S.M..

  • Disputa Constante: Mesmo quando Macabéa passa por questões sérias (como a tuberculose), Rodrigo S.M. interrompe para se lamuriar ou colocar-se em evidência, falando de suas queixas como se fossem os dados mais importantes para o leitor.

  • Identificação e Culpa: Rodrigo S.M. transita entre o amor e o ódio por Macabéa. Ele se sente culpado por viver em um padrão mais elevado que a população marginalizada. Ele chega a se comparar com uma entidade maior ou um tipo de Deus, afirmando-se como "autor da vida".

  • A Questão Central: O grande enredo é o exame das relações entre a matéria da história (Macabéa) e a forma literária (o processo de Rodrigo S.M.).

3.2. A Epifania: O Momento de Iluminação

A epifania (do grego epipháneia, manifestação ou aparição) é um traço definidor da narrativa clariceana. É o momento de "iluminação" ou "tomada de consciência", a partir do qual ocorre uma transformação interior no personagem.

Em Macabéa, contudo, a epifania é uma exceção trágica:

  • Incapacidade em Vida: Diferentemente de outras personagens de Clarice (como Ana de Amor), Macabéa não possui uma revelação interior em vida, pois vive em "apagamento" e não questiona sua identidade. Ela se assustou tanto ao perguntar "quem sou eu?" que parou de pensar.

  • O Elemento Externo: A epifania só é despertada por um elemento externo: a cartomante Madame Carlota. A revelação (ilusória) de um futuro de felicidade a torna "grávida de futuro".

  • Epifania na Morte: O clímax ocorre no instante do atropelamento e morte. A queda no asfalto é o seu "altiplano", o momento de glória. Ela transcende a invisibilidade e, ironicamente, atinge o desejo de validação. Ao morrer, ela se sente como as atrizes que admirava e declara: "Hoje, pensou ela, hoje é o primeiro dia de minha vida: nasci".

A Ironia no Fim: Macabéa conquista a notoriedade que ansiava não pelo sucesso, mas pela tragédia. Ela recebe o olhar da sociedade (os espectadores que se aglomeram), o que "lhe dava uma existência". A morte, para a personagem que sempre viveu à margem, representa sua libertação.

3.3. Existencialismo e a Busca pelo Ser

O romance se insere na tradição da ficção existencialista brasileira pós-1960. O existencialismo em A Hora da Estrela foca na consciência de ser humano, da essência e da existência.

  • Consciência da Morte: O tema existencial é evidente, sendo a consciência de ser humano e a morte a igualdade entre as pessoas.

  • O Vazio Existencial: Macabéa vive uma "vida insignificante, sofrida e impregnada de miséria [...] existencial". A protagonista só se percebe viva na hora de sua morte, ironicamente.

  • Desejo vs. Resignação: O drama de Macabéa é o conflito entre o desejo feminino (de ser, de ser amada, de ter notoriedade, de realização carnal) e a resignação imposta pelas opressões estruturais de gênero e classe. A resignação é a submissão ao destino ou à vontade alheia. Seu desejo é reprimido pela culpa religiosa e pelos padrões patriarcais.

  • Representação Coletiva: Macabéa é vista como a personificação de "angústias de eus-coletivos", representando o nordestino pobre que se depara com um mundo não feito para ele, buscando sobrevivência e identidade.


4. O Debate Crítico: Exceções e Temas de Concurso

Para alcançar a didática e o nível de excelência para concursos, é vital aprofundar-se nas exceções e nos debates críticos que marcam a obra.

4.1. A Ética da Escrita versus a Ética da Alteridade

O romance A Hora da Estrela surge no contexto da ditadura militar nos anos 1970. Na época, havia uma forte "demanda de engajamento" e uma "literatura-verdade" que buscava retratar a realidade brasileira de forma imediata e documental. Clarice, por meio de seu narrador, ironiza essa demanda.

O crítico Luciano Barbosa Justino propõe pensar a obra a partir de duas éticas: a ética da escrita (foco na metalinguagem e no papel do escritor) e a ética do encontro com a alteridade (a semiotização de Macabéa).

  • A Ética da Escrita: A ironia de Rodrigo S.M. confronta a literatura com seus próprios termos e atinge o alvo do realismo estreito do período. O protagonismo da autonomia literária, defendido por Clarice, afasta-se de um compromisso histórico excessivo.

  • A Ética do Encontro com a Alteridade (A Exceção Crítica): A forma como Macabéa é retratada, no entanto, é alvo de crítica. Para alguns, a nordestinidade de Macabéa é construída a partir de bases heurísticas estigmatizantes, que a reduzem a um "essencial atavismo" (falta de densidade, falta de devir).

  • A Semiocracia da Nordestinidade: Macabéa não se apresenta como um problema ou uma opacidade inerente à alteridade; ela é transparente e "é o que é" (capim, ser subterrâneo). Sua identidade nordestina é definida por clichês (raquítica, herança do sertão, febres, diabo, tia beata). Isso é visto como uma "semiocracia" (sistema que produz imagens cuja função é manter imutável a diferença).

Este debate é crucial para provas que exigem uma leitura crítica e contextualizada, mostrando que o romance, ao mesmo tempo que descontrói os paradigmas da ficção moderna, pode, involuntariamente, reforçar estigmas sociais na representação da alteridade.

4.2. Crítica Social e Incomunicabilidade

A crítica social na obra se manifesta de forma irônica, especialmente no uso de um narrador masculino que inferioriza a mulher e sua origem. A ironia funciona como uma crítica ao modo como a sociedade enxerga o que taxa de "menor".

  • Invisibilidade Social: A condição de Macabéa como migrante nordestina pobre no Sudeste (Rio de Janeiro) a torna invisível. A migração nordestina é tratada como uma decorrência "natural" da fome e da seca, o que contribui para a invisibilidade histórica do migrante.

  • Opressões de Classe e Gênero: Macabéa é atravessada por opressões estruturais de gênero e classe. A fome é uma realidade, forçando-a a mastigar papel para mascarar a necessidade. A disparidade social é exposta no diálogo com o médico, que a trata com rejeição.

  • Incomunicabilidade e Vazio: A narrativa aborda a incomunicabilidade entre os seres humanos. Os diálogos entre Macabéa e Olímpico são rasos, marcados pela incapacidade de Macabéa de se comunicar ou entender. O vazio existencial de Macabéa, que só "sobrevive", é uma reflexão sobre a condição humana.

4.3. Adaptações e Legado

A importância de A Hora da Estrela estende-se para além da literatura, com diversas adaptações:

  • Cinema (1985): Ganhou uma versão cinematográfica, dirigida por Suzana Amaral, com Marcélia Cartaxo como Macabéa e Fernanda Montenegro no elenco. O filme foi eleito um dos 100 melhores filmes brasileiros de todos os tempos.

  • Teatro Musical (2020): Estreou sob o título "A Hora da Estrela ou O Canto de Macabéa", com adaptação e direção de André Paes Leme, e composições originais de Chico César.

  • História em Quadrinhos (2025): A obra ganhará uma adaptação em HQ com lançamento previsto pela editora Rocco, buscando uma releitura visual para aproximar o público jovem, com roteiro de Leticia Wierzchowski e arte de Line Lemos.


5. Dúvidas Comuns e Conteúdos Prioritários para Exames

Pergunta 1: Qual é a verdadeira função de Macabéa na narrativa?

Resposta: Embora seja o fio condutor da história e a protagonista aparente, Macabéa é, na verdade, um catalisador e o objeto que permite a Clarice Lispector explorar a crise da escrita e a figura do narrador Rodrigo S.M.. Ela é o "tablado" usado pelo narrador para construir o seu próprio enredo. A história de Macabéa é usada para discutir a relação entre a matéria da história e a forma literária.

Pergunta 2: Por que o narrador é homem (Rodrigo S.M.) e não mulher?

Resposta: Clarice Lispector optou por um narrador masculino para criar o distanciamento necessário para narrar a vida de Macabéa com o respeito e a frieza exigida. O narrador masculino (Rodrigo S.M.) evita o "lacrimejar piegas" que, segundo ele, seria característico de uma escritora mulher. Hélène Cixous afirma que essa foi a "distância mais respeitosa em relação ao seu pequeno talo de mulher", sendo o masculino o auge do afastamento que Clarice poderia assumir.

Pergunta 3: O que significa "A Hora da Estrela"?

Resposta: Significa o momento de glória e notoriedade de Macabéa, que coincide, ironicamente, com sua morte. Macabéa era invisível em vida; só quando está morrendo, atropelada por um carro de luxo, ela atrai espectadores e ganha uma existência, tornando-se, finalmente, uma "estrela".

Pergunta 4: O que é a Metalinguagem na obra?

Resposta: É a reflexão do texto sobre seu próprio processo de criação. Em A Hora da Estrela, a metalinguagem é explícita e constante. O narrador Rodrigo S.M. passa grande parte da narrativa discutindo como deve escrever, qual linguagem usar (simples ou suculenta), e se questionando sobre seu papel como escritor. Isso forma um dos três eixos narrativos centrais.

Pergunta 5: A obra possui elementos autobiográficos?

Resposta: Sim, Clarice utilizou referências de sua vida. A autora nasceu Haia (Ucrânia) e viveu em Maceió e Recife, assim como Macabéa, que é alagoana. Clarice também visitou uma feira de nordestinos em São Cristóvão e "capturou o ar meio perdido" do nordestino no Rio de Janeiro. Além disso, a ideia do atropelamento após a visita à cartomante também foi inspirada em uma imaginação de Clarice. O narrador Rodrigo S.M. chega a citar: "Sem falar que eu em menino me criei no Nordeste".


6. Ênfase Didática em Tópicos de Maior Complexidade

Para aprofundar a preparação, os estudantes devem focar nas intersecções abaixo:

6.1. O Contraste entre a Nordestinidade (Regionalismo) e o Intimismo Existencial

A Hora da Estrela é incomum na obra clariceana por abordar o discurso regionalista, mas o faz de maneira atípica. Enquanto o regionalismo da Segunda Geração Modernista foca na denúncia social com o espaço como categoria narrativa, Clarice usa Macabéa para investigar a análise psicológica mais aprofundada e o fluxo de consciência.

Embora o romance descreva a luta do nordestino para escapar da miséria e do subdesenvolvimento, ele o faz sem aderir aos clichês ou ao proselitismo comum da época. Macabéa representa a miséria social, mas a análise do romance é elevada pelo narrador à discussão sobre o sentido da existência.

6.2. A Não-Linearidade e a Desestruturação da Forma

A descontinuidade e a quebra da linearidade (características centrais do estilo clariceano) são explicitadas na obra:

  • Digressões: O narrador Rodrigo S.M. frequentemente se desvia da história de Macabéa para inserir seus questionamentos pessoais, filosóficos e metalinguísticos. Ele atrasa a narrativa, estendendo-se em explicações.

  • O "Fundo-Forma Indivisível": Clarice acreditava que a verdadeira inovação literária (como a dos romances de 1930) não era a descoberta de um tema, mas sim a criação de um "fundo-forma indivisível" – uma apreensão de um modo de ser. Em A Hora da Estrela, a forma (a metalinguagem de Rodrigo S.M.) e o conteúdo (a vida de Macabéa) são inseparáveis, sendo a forma, na verdade, o tema principal.

6.3. O Paradoxo da Resignação e do Desejo

Macabéa vive em um estado de resignação (submissão e aceitação do destino). Ela é destituída de liberdade e, sob o olhar de Rodrigo S.M., destituída de existência ética.

No entanto, o paradoxo reside no desejo velado que, mesmo reprimido, a atravessa.

  • O Desejo Estético/Social: O desejo de ser como as atrizes Marilyn Monroe ou Greta Garbo revela uma busca ingênua por validação social e reconhecimento, um anseio de preencher o vazio.

  • O Desejo Carnal/Proibido: Macabéa sente o desejo, mas o reprime com culpa, rezando mecanicamente, pois o bom devia ser proibido.

  • A Liberdade na Solitude: Seu desejo de liberdade só se manifesta em momentos de solitude, quando ela se permite dançar e sente-se "l-i-v-r-e!". É a negação momentânea da resignação, embora a dor permaneça.

  • A Concretização Final: A morte é a concretização irônica e trágica do desejo. Ao ser atropelada, ela sente o reflorescimento como mulher desejante e o reconhecimento social, atingindo a sensualidade na pré-morte.

A Hora da Estrela é um romance complexo que utiliza a história de Macabéa como fio condutor para uma investigação mais profunda sobre o ato de escrever e a crise existencial e social da época. A prioridade de estudo deve ser a figura de Rodrigo S.M., a metalinguagem, e o caráter irônico e excepcional da epifania de Macabéa. A obra, vencedora do Prêmio Jabuti em 1978, permanece como um dos textos mais instigantes e representativos da literatura brasileira contemporânea.