O Romantismo foi um movimento artístico, político e filosófico que surgiu na Europa no final do século XVIII e se estendeu pela maior parte do século XIX. Ele se estabeleceu como uma visão de mundo oposta ao racionalismo do Iluminismo e do Classicismo, valorizando a sentimentalidade, a individualidade e a liberdade de expressão.
A ascensão do Romantismo está intrinsecamente ligada à Revolução Francesa de 1789 e à ascensão da burguesia ao poder, impulsionando a busca pela realização individual e pelos ideais de liberdade. Na Europa, o movimento teve um forte caráter de agitação e transgressão contra as aristocracias.
As características a seguir são cruciais para entender o movimento em ambos os países e são frequentemente cobradas em exames:
Subjetivismo e Egocentrismo: O “eu” do artista torna-se o centro do universo poético. Há uma tendência à pessoalidade e ao distanciamento da sociedade.
Sentimentalismo e Emoção: A emoção e a sensibilidade superam a racionalidade clássica na determinação das ações e dos temas.
Nacionalismo e Exaltação Patriótica (Ufanismo): Valorização das particularidades locais, da história e da “cor local”. No Brasil, isso se manifestou na busca por uma cultura genuinamente brasileira.
Idealização da Realidade e do Amor: A realidade é vista como "prosaica e sem graça". O artista idealiza o herói, a mulher (vista como um anjo puro e inatingível) e o próprio amor, buscando um universo particular e perfeito (evasão).
Liberdade Formal: Oposto à rigidez clássica. Há uma recusa a modelos pré-estabelecidos e a busca incessante pela originalidade. Victor Hugo sintetizou: “Nem regra, nem modelos”.
Escapismo e Tédio (Mal do Século): Insatisfação com o presente leva à fuga da realidade através do sonho, da fantasia, da natureza, do passado (infância ou Idade Média), e, principalmente, da morte, vista como solução para os sofrimentos.
O Romantismo em Portugal teve início em 1825 e se estendeu até o final do século, em três fases distintas. O contexto histórico foi marcado pela luta entre monarquistas e liberais e pela instauração da Monarquia Constitucional após a Revolução Liberal do Porto em 1820.
Esta fase é conhecida por contribuir para a formação de uma consciência de nação e de cidadania em Portugal.
Características: Temáticas nacionalistas e liberais, valorização da figura do autor. Retomada da história portuguesa, frequentemente com personagens medievais.
Marco Inicial: Publicação do poema Camões (1825), de Almeida Garrett.
Principais Autores:
Almeida Garrett: Marco inicial, autor de Viagens na minha terra e Frei Luís de Sousa. Sua obra refletia a desilusão com as questões políticas e sociais.
Alexandre Herculano: Historiador romântico que buscou a memória recuperada de Portugal.
Também chamado de Ultrarromantismo ou Mal do Século. Esta fase marca o exagero das emoções, distanciando-se dos ideais revolucionários liberais da primeira geração.
Características: Idealização exagerada do amor, tédio constante, pessimismo, macabro, mórbido e fúnebre. Temáticas mais individualistas. Influência de Lord Byron.
Principal Autor (Destaque em Concursos):
Camilo Castelo Branco: Paradigma da cultura portuguesa do século XIX. Conhecido pelo virtuosismo do discurso e por obras passionais e trágicas, como Amor de Perdição (1862), considerado o Romeu e Julieta português.
Outros: Soares de Passos (Noivado do Sepulcro), João de Lemos, e António Feliciano de Castilho (figura de destaque, patrono de jovens poetas).
Esta fase representa uma transição para o Realismo, abandonando os excessos sentimentais da geração anterior e voltando-se para o social e para a realidade.
Características: Pré-realista. Abandono de personagens idealizadas em prol do contato com a realidade. Chamada de "Romantismo Social".
Principal Autor:
Antero de Quental: Pretendia devolver à literatura o espírito revolucionário. Buscava conciliar ciência e metafísica.
Outros: João de Deus e Júlio Dinis.
O Romantismo no Brasil, que ocorreu oficialmente entre 1836 e 1881, foi impulsionado pela Independência de 1822 e pela necessidade urgente de construir uma identidade brasileira e garantir a autonomia cultural em relação a Portugal.
Marco Inicial (Fato Cobrado): Publicação de Suspiros Poéticos e Saudades (1836), de Gonçalves de Magalhães.
O projeto romântico brasileiro baseou-se em três pilares para afirmar o país recém-fundado: a exaltação da Natureza tropical, a figura do Índio como herói nacional e o Nacionalismo.
Esta geração, que atingiu seu auge entre 1840 e 1860, dedicou-se à criação de mitos fundacionais para a nação.
Ufanismo Exacerbado: Exaltação da pátria, que era vista como a "terra da promissão".
Natureza Sublime: A paisagem tropical era retratada como a fisionomia própria da nação e como um "terreal paraíso descoberto".
Indianismo (Tópico Essencial): O índio foi elevado à categoria de herói nacional, funcionando como o cavaleiro medieval europeu (que o Brasil não teve). Ele figurava o sentido da autenticidade americana.
Antilusitanismo: Havia uma clara tentativa de diferenciar a literatura brasileira da portuguesa e de expurgar a herança lusitana, buscando a origem em um passado ameríndio.
Gonçalves Dias (1823–1864) é considerado um dos maiores poetas da literatura brasileira. Ele buscou a formação da identidade cultural através do retorno às raízes históricas, elevando o índio ao patamar do herói medieval.
Perfil do Índio: Em sua poesia, o índio é tipificado como um índio padrão, mais rico em sentido simbólico do que em personalidade individual. A temática indígena é tratada como um espelho de heroísmo e honra.
I-Juca Pirama (1851): Poema de caráter épico que visa a construção do herói indígena. Narra a história de um prisioneiro que chora por seu pai cego, violando o código de honra de sua tribo, e é amaldiçoado. É considerado o mais belo poema longo da literatura brasileira.
Canção do Exílio (1843): Um dos poemas mais famosos do Romantismo brasileiro. Expressa a saudade da terra natal (tópica do "lá" e do "agora já não"). Exalta o Brasil como local de primores e belezas paradisíacas que "não encontro por cá" (em Portugal). Este poema é famoso por ter sido intensamente parodiado pelos modernistas (a partir de 1922) com o intuito de ridicularizar o exacerbado nacionalismo romântico (ufanismo).
O poema Marabá (1851), de Gonçalves Dias, é uma exceção didática fundamental, pois aborda a miscigenação (hibridismo) cultural e racial, um tema moderno para a época.
Conceito: "Marabá" significa a mistura entre o índio e o branco na língua tupi.
O Drama: A personagem, que é mestiça (filha de índia com europeu) e, portanto, possui características físicas não-indígenas (olhos garços, cor de safira, tez alva como lírios), é rejeitada pelos guerreiros da tribo.
Relevância Crítica: O lamento de Marabá assume um caráter coletivo, representando o drama de toda a raça indígena ameaçada pelo contato com a colonização. A índia não se reconhece: "nem é índia nem europeia, não pertence a nenhum povo".
José de Alencar (1829–1877) é o mais importante representante do Indianismo romântico na prosa e é considerado o patriarca da literatura brasileira. Sua obra foi pautada por um ambicioso projeto nacionalista de cobrir o país no tempo e no espaço.
Categorias da Obra: Sua ficção se divide tradicionalmente em: Romances Histórico-Indianistas, Regionalistas e Urbanos.
A Tríade Indianista (Mito da Fundação): Alencar mapeou a história do Brasil colonial através de três romances:
Ubirajara (1874): Situação do índio antes da chegada do colonizador. Foca na cultura indígena pura.
Iracema (1865): O primeiro contato entre a virgem taba-jara e o guerreiro branco Martim. O nascimento do filho dos dois, Moacir (o "primeiro brasileiro"), simboliza a fusão das raças (a mestiçagem do povo brasileiro).
O Guarani (1857): O convívio do índio (Peri) com o colonizador. Peri, um super-herói idealizado, salva Ceci, simbolizando uma união racial impossível, mas desejada, que é resolvida por um final em aberto (o casal desaparece na cheia do rio).
Em concursos e análises críticas aprofundadas, é essencial entender o caráter não-realista do indianismo romântico.
Artifício e Natureza: A descrição da natureza tropical pelos românticos (Alencar, Dias) não é uma contemplação subjetiva ou realista. É uma reinvenção poética que articula o problema da origem histórica do Brasil à representação teatral da paisagem. A natureza é tratada como "artifício" para constituir e dar um sentido de autenticidade ao "gênio" nacional.
A Tópica da Origem: O índio, como o "homem originário do Brasil" e "poeta tal qual a natureza o criou", é uma ficção de origem. Ele é um ser de cultura primitiva que, paradoxalmente, é civilizado à europeia. O objetivo era pôr em cena o espírito brasileiro no mundo natural.
O Paradoxo (Questão Clássica de Prova): Os intelectuais românticos buscavam a autonomia literária (anti-lusitanista), mas estavam sujeitos a formações culturais alheias (europeias), o que resultava em uma condição paradoxal: só podiam nomear sua especificidade brasileira usando as "imagens emprestadas" pelos europeus.
A fase ultrarromântica brasileira (1850–1860) é o ápice do individualismo e do pessimismo do movimento.
Pessimismo e Desgosto de Viver: Sentimento de inadequação à realidade e tédio constante (spleen).
Mal do Século / Byronismo: Forte influência do poeta inglês Lord Byron. Caracteriza-se por um estilo de vida boêmio, noturno, voltado para o vício (bebida, fumo, sexo) e por uma visão de mundo egocêntrica, angustiada e narcisista.
Culto à Morte e Morbidez: A morte é vista como a fuga total e definitiva da vida, a única solução para o sofrimento.
Idealização Feminina: A mulher é idealizada como um anjo, pura, distante, inalcançável ou, em contraste, como um ser fatal, mas sempre inacessível. O amor é platônico e frequentemente não correspondido.
Álvares de Azevedo (1831–1852): Conhecido como "o poeta da dúvida" e "o poeta da morte". Morreu jovem (aos 20 anos), o que reforçou o mito romântico. Sua obra mais famosa é Lira dos Vinte Anos. Seu poema Se Eu Morresse Amanhã é um exemplo clássico da obsessão pela morte.
Casimiro de Abreu (1839–1860): Famoso por seu saudosismo e a temática da infância perdida (fuga no tempo). Obra-chave: Meus Oito Anos.
Junqueira Freire (1832–1855): Poeta monge, sua obra é marcada pela tensão entre a vida religiosa (clerical) e o mundo material, buscando a liberdade apenas com a morte.
Fagundes Varela (1841–1875): Sua obra ganhou notoriedade após a morte prematura do filho, que inspirou o poema Cântico do Calvário, um hino à dor e à morte.
Há uma relação clara entre o sofrimento exagerado do Ultrarromantismo (o "mal do século") e a música de sofrência do século XXI. Em ambos, o sofrimento é exagerado: no século XIX, morria-se de amor (morbidez); no século XXI, sofre-se exageradamente por traição. Ambos praticam o escapismo e a dor de amor exagerada.
A fase condoreira (década de 1870) marcou o retorno ao foco social e à participação política.
Símbolo: O condor, ave que voa alto e livre, simboliza a liberdade.
Temas: A luta pela liberdade e as questões sociais. O foco principal foi o abolicionismo.
Figuração da Mulher: Diferente do Ultrarromantismo, a mulher aqui é mais presente e carnal.
Orientação: Volta-se para o futuro e para o progresso.
Castro Alves (1847–1871) é o principal nome e é conhecido como "O Poeta dos Escravos". Ele deixou de lado o indígena (tema esgotado) e voltou-se para o negro, tornando o escravizado um assunto nobre na literatura. Sua poesia tinha uma qualidade oratória e um forte viés libertário.
Obra-chave: O Navio Negreiro (Poema épico que denuncia as condições degradantes vividas pelos escravizados).
A prosa romântica brasileira consolidou-se com a publicação em folhetins. Os romances, feitos para a classe burguesa, seguiam uma estrutura linear (início, meio e fim).
A prosa brasileira é frequentemente dividida entre:
Romances Urbanos: Ambientados no Rio de Janeiro, focando no luxo e nos costumes da alta sociedade burguesa, embora Alencar introduzisse uma crítica sutil à hipocrisia burguesa. Ex.: A Moreninha (Joaquim Manuel de Macedo - grande sucesso de época, folhetim); Senhora (José de Alencar - crítica ao casamento por interesse/dote).
Romances Regionalistas: Narrativas em regiões afastadas da capital imperial, com o objetivo de exaltar a diversidade do país. Ex.: O Gaúcho (Alencar); O Sertanejo (Alencar); Inocência (Visconde de Taunay - inovador com desfecho trágico e descrições minuciosas); A Escrava Isaura (Bernardo Guimarães - sentimentalismo e crítica, embora equivocada, à escravidão).
Manuel Antônio de Almeida (1820–1864) representa uma exceção fundamental na prosa romântica, sendo um ponto de transição e um precursor do Realismo.
Obra Essencial: Memórias de um Sargento de Milícias.
Ruptura de Padrões: Enquanto a maioria dos românticos focava na alta burguesia e na idealização, Almeida:
Focou nas classes populares e na baixa sociedade colonial.
Utilizou o humor picaresco e o sarcasmo.
Seus personagens são "malandros, cafajestes e praticamente marginais", desmascarando a baixa sociedade e pondo em crise a idealização romântica.
Predomínio do humor sobre o dramático, sendo considerado precursor do Realismo por sua objetividade e descrença nos valores sociais.
Característica Principal | Romantismo no Brasil | Romantismo em Portugal |
Geração Fundadora | Indianista/Nacionalista (busca da identidade/origem). | Liberal/Patriota (busca da consciência de nação). |
Herói Nacional | O Índio (como cavaleiro medieval). | Figuras do passado histórico, como Luís Vaz de Camões. |
Contexto Político | Pós-Independência (busca de autonomia cultural). | Lutas entre Liberais e Monarquistas. |
Geração Social | Condoreira (foco no abolicionismo/negro, Castro Alves). | Renovação Romântica (pré-realista, influenciada por tendências naturalistas). |
A relação entre Brasil e Portugal durante o Romantismo e o século XIX foi marcada por uma ambiguidade. A historiografia romântica no Brasil, ao buscar uma literatura nacional original e anti-lusitanista, frequentemente se definia em confronto com Portugal (a alteridade).
Inversão dos Papéis: Já no século XIX, o historiador romântico Alexandre Herculano observava a inversão das relações, sugerindo que Portugal havia se tornado uma "colônia do Brasil". Essa visão era decorrente da transferência da família real e do enfraquecimento português.
A Posição Crítica (Século XX): Intelectuais como Jorge de Sena abordaram o tema, notando a atitude ambígua brasileira em relação à "Mãe-Pátria", dividida entre o sentimentalismo passadista e o desejo de autonomia desafiadoramente proclamada. Sena apontava que a hostilidade brasileira ocultava um "fascínio apaixonado e perplexo" por um povo que descobriu o mundo, mas que era visto como uma "Roma extinta".
A fundação de uma literatura nacional, meta primordial da historiografia romântica, implicou a definição do "gênio" ou "espírito" de uma nação.
Gonçalves de Magalhães postulou que o gênio poético no Brasil era original porque nascia das "felizes disposições da natureza" local, de modo que os brasileiros "músicos, e poetas nascer deviam".
O Paradoxo da Imitação: Apesar da busca por essa originalidade, a literatura romântica brasileira foi criticada (inclusive por José de Alencar, que criticou o indianismo de Gonçalves de Magalhães) por muitas vezes apenas rearticular fórmulas da tradição retórico-poética. O projeto era frequentemente programático, adotando modelos estrangeiros (como a influência francesa de Ferdinand Denis e a inglesa de Byron) para forjar o que se queria que fosse nacional.
O Romantismo foi um período de fundamental importância para o Brasil e Portugal, pois marcou, em contextos políticos distintos, a busca por uma identidade cultural e literária própria, mesmo que essa busca fosse atravessada por paradoxos entre o ideal de originalidade e a inevitável influência europeia. O estudo aprofundado de suas três fases e seus autores-chave (Gonçalves Dias, José de Alencar, Camilo Castelo Branco, Castro Alves e Manuel Antônio de Almeida) é essencial para o sucesso em concursos públicos e vestibulares.