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10/03/2024 • 22 min de leitura
Atualizado em 26/07/2025

Segundo Reinado: O governo de Dom Pedro II e as transformações políticas

O Governo de Dom Pedro II e as Transformações Políticas no Segundo Reinado

O Segundo Reinado (1840-1889) é um dos períodos mais longos e formativos da história do Brasil, caracterizado pela figura central de Dom Pedro II. Compreender seu governo e as complexas transformações políticas, sociais e econômicas que ocorreram nesse tempo é crucial para qualquer estudante de história brasileira.

1. Introdução: Dom Pedro II, o Imperador que Moldou uma Nação

Dom Pedro II, o "Imperador Cidadão", reinou no Brasil por impressionantes 49 anos, 3 meses e 22 dias. Sua longevidade no poder e as profundas transformações ocorridas nesse período o tornam uma das figuras mais marcantes da história do país. O Segundo Reinado (1840-1889) representa o momento em que o Brasil, já independente de Portugal, começou a solidificar suas estruturas como um Estado-nação.

2. Antecedentes do Segundo Reinado: A Fundação de um Legado

Para entender o governo de Dom Pedro II, é fundamental conhecer o cenário que o precedeu, marcado por instabilidade e a preparação de um jovem imperador para um papel de imensa responsabilidade.

2.1. A Abdicação de Dom Pedro I e o Imperador-Menino

Após a Independência do Brasil em 1822, o Primeiro Reinado, liderado por Dom Pedro I, foi politicamente atribulado. Conflitos com a Assembleia Constituinte, a outorga da Constituição de 1824 e a impopularidade crescente devido a casos extraconjugais e à Guerra da Cisplatina (contra as Províncias Unidas, atual Argentina, que resultou na perda da Banda Oriental e oneração dos cofres públicos) levaram Dom Pedro I a abdicar do trono em 7 de abril de 1831.

Seu filho, Dom Pedro de Alcântara, de apenas cinco anos, foi deixado para trás, tornando-se o "órfão da nação". A educação do jovem Pedro II foi extremamente rígida, com um cronograma diário de estudos que incluía idiomas (português, inglês, francês), pintura, arte e aspectos morais baseados no iluminismo e humanismo, tudo visando formar um governante exemplar e ciente de seus deveres. A solidão marcou sua infância, refugiando-se nos estudos.

2.2. O Período Regencial e o Golpe da Maioridade

A abdicação de Dom Pedro I criou um vácuo de poder no Brasil. O país estava em formação, com um sistema político incipiente e sem infraestrutura básica. A opção escolhida foi manter a monarquia, aclamando Dom Pedro II como futuro imperador no mesmo dia da abdicação.

O Período Regencial (1831-1840), que governou em nome do imperador-menino, foi extremamente conturbado. O Brasil foi palco de revoltas internas, guerras civis e movimentos separatistas em diversas províncias, como a Cabanagem no Pará, a Sabinada na Bahia e a Balaiada no Maranhão. A instabilidade e a incapacidade da Regência em manter a paz e a unidade nacional levaram a um sentimento crescente de que o futuro do país repousava no jovem imperador.

Diante da percepção da inviabilidade da Regência e da fé depositada pela população no jovem monarca, surgiu um movimento para antecipar sua maioridade. Embora a Constituição de 1824 não previsse tal antecipação, a pressão política levou à declaração de maioridade imediata de Dom Pedro II em julho de 1840, aos 14 anos, através do que ficou conhecido como o "Golpe da Maioridade". Esse evento marcou o início formal do Segundo Reinado.

3. Os Primeiros Anos de Governo e a Consolidação do Poder Imperial

Assumindo o trono ainda adolescente, Dom Pedro II iniciou um processo de amadurecimento político que o levaria a se tornar a figura central do Império.

3.1. A Influência Inicial e o Amadurecimento do Imperador

Nos primeiros anos de seu reinado, Dom Pedro II, com apenas 14 anos, era uma figura retraída e pouco conhecida, submetida à influência de conselheiros como Paulo Barbosa e Aureliano Coutinho. Contudo, desde o início, ele demonstrou grande interesse pelos negócios do Estado e uma notável energia na inspeção dos diferentes ramos da administração.

Progressivamente, D. Pedro II começou a consolidar sua posição como chefe de Estado e do Executivo. O afastamento das figuras que o influenciavam permitiu seu desenvolvimento como governante, capaz de tomar decisões próprias e avaliar o cenário político com clareza. Um exemplo disso foi sua decisão de destituir o ministério liderado pelo Visconde de Olinda em 1849, devido a uma clara divergência sobre a política em relação ao ditador argentino Rosas e suas pretensões de recriar o Vice-Reinado do Prata. Dom Pedro II, embora não fosse bélico, não aceitava ameaças à geopolítica sul-americana que alterassem a distribuição de poder.

Outro marco de sua proatividade e vontade em intervir nos rumos do país foi seu apoio decisivo à Lei Eusébio de Queirós, aprovada em 1850, que pôs fim ao tráfico internacional de escravizados no Brasil, em meio a forte pressão inglesa e interesses contrários dentro do Partido Conservador.

3.2. O Parlamentarismo no Brasil Imperial e o Ministério da Conciliação

O sistema político brasileiro no Segundo Reinado, embora não fosse um parlamentarismo explícito na Constituição de 1824, operava com base nesse modelo, inspirado na Inglaterra. Em 1847, foi criado o cargo de Presidente do Conselho de Ministros, uma espécie de "primeiro-ministro". O imperador escolhia o presidente do Conselho, que, por sua vez, selecionava os ministros do gabinete. Este gabinete precisava do voto de confiança da Câmara dos Deputados.

Esse mecanismo, ao mesmo tempo em que blindava a figura do imperador, permitia a alternância de poder entre os Partidos Liberal (Luzias) e Conservador (Saquaremas), que dominaram o cenário político do Segundo Reinado. Curiosamente, embora os liberais defendessem a descentralização e os conservadores a centralização, suas ações no poder frequentemente não eram muito diferentes, pois partilhavam uma mesma origem social e muitos interesses em comum. A capacidade de Dom Pedro II de alternar os partidos no poder conferia à Coroa uma imagem de imparcialidade e estabilidade.

Em 1853, buscando abrandar as disputas partidárias e direcionar esforços para a construção do Brasil, formou-se o "Ministério da Conciliação", chefiado por Honório Carneiro Leão, o Marquês de Paraná. Este ministério, que contava com membros de ambos os partidos, representou um período de notável estabilidade política, considerado a "era de ouro" do período imperial. Dom Pedro II entregou a este gabinete uma série de instruções e ideias de governo, incluindo a necessidade de uma reforma eleitoral, a importância da educação básica, a questão fundiária, imigração e infraestrutura. No entanto, após a morte de Paraná em 1856, a conciliação perdeu força, apesar dos esforços do imperador.

4. O Poder Moderador e o Sistema Eleitoral: A Luta pela "Verdade Eleitoral"

Um dos aspectos mais complexos e frequentemente cobrados do Segundo Reinado é o funcionamento do sistema eleitoral e o papel do Poder Moderador.

4.1. O Poder Moderador: O Árbitro da Política Imperial

A Constituição de 1824 concedia ao imperador o Poder Moderador, que o tornava uma figura constitucionalmente irresponsável, ou seja, suas ações não podiam ser questionadas. Dom Pedro II exercia esse poder de forma "ciumenta", buscando o controle e a essência do poder, não apenas suas aparências. Ele se via como o árbitro da política brasileira, responsável por alternar os partidos no poder e garantir a estabilidade.

Essa prerrogativa, no entanto, gerava constantes críticas. Se o imperador usava o Poder Moderador para trocar o partido no governo, era acusado de despotismo; se não o fizesse, a oposição reclamava do "poder pessoal" e da falta de representatividade.

4.2. Eleições no Segundo Reinado: Manipulação, Fraude e Violência

As eleições no Brasil imperial são um tema de grande debate histórico. Frequentemente, são caracterizadas pela presença de manipulação, fraude e violência. Contudo, como aponta a historiografia recente, o grau e a forma desses elementos variavam com o tempo e com as mudanças na legislação eleitoral. As denúncias de "falsificação" das eleições eram, muitas vezes, parte da própria luta política entre os partidos.

  • As Instruções de 1824 e a "Eleição do Cacete" (Até 1842):

    • Este período foi marcado por grande poder da Mesa Eleitoral, presidida pelo Juiz de Paz, que concentrava todas as fases do processo, da qualificação dos eleitores à apuração dos votos.

    • A simplicidade da regra levava à máxima de que "feita a mesa, está feita a eleição".

    • A violência era frequentemente empregada na formação das mesas eleitorais, onde "a pancadaria decidia o conflito". A disputa era "horizontal" entre facções, não sobre o controle dos eleitores. A violência era mais comum quando as forças dos partidos estavam equilibradas.

    • As eleições eram comparadas a uma "verdadeira guerra", com "quartéis" para votantes e disciplina militar.

    • A "Eleição do Cacete" (1840) é um exemplo notório. Foi a primeira eleição do Segundo Reinado. Os liberais, em seu primeiro gabinete, usaram capangas, ameaças e fraudaram a apuração. O governo conservador seguinte, em 1841, anulou os resultados. A novidade de 1840 não foi a violência ou a fraude em si, mas o caráter marcadamente partidário da intervenção do governo.

  • O Decreto de 1842: Centralização da Manipulação:

    • Com o objetivo de assegurar sua vitória após a "Eleição do Cacete", o Gabinete Conservador alterou a legislação eleitoral.

    • A principal mudança foi a qualificação prévia dos eleitores por uma junta composta pelo Juiz de Paz, pároco e, crucialmente, o delegado de polícia. Como o delegado era um agente do governo, isso permitia ao ministério no poder controlar o processo eleitoral e manipular a composição do corpo eleitoral.

    • Esse decreto conferiu ao governo (independentemente de sua coloração partidária) os meios para intervir e controlar as eleições em todas as paróquias, tornando o emprego da violência física menos presente, pois os conflitos eram resolvidos antes mesmo da eleição, na qualificação.

    • A capacidade de manipular as eleições tornava-as "menos puras e verdadeiras", já que o resultado perdia a relação direta com a medição de forças.

  • A Lei de 1846: Sofisticação e Novas Formas de Disputa:

    • Ao retornarem ao poder, os liberais buscaram reformular a legislação para neutralizar a ação do governo nas eleições.

    • A Lei de 1846 removeu o delegado da Junta de Qualificação e da Mesa, e o Juiz de Paz, eleito localmente, voltou a dirigir os trabalhos. A lei buscava garantir a independência e representatividade da Junta, assegurando assento para a maioria e a minoria.

    • A intenção era que o Juiz de Paz, eleito localmente e com autonomia, pudesse gerir o processo eleitoral sem ingerências diretas do governo central.

    • Embora a lei fosse "engenhosa e complexa" e visasse a "imparcialidade", ela não eliminou a capacidade do governo de influenciar os resultados. A presidência da Província ainda podia anular qualificações.

    • As eleições se tornaram mais complexas, valorizando a política local e a "qualificação" (alistamento) dos eleitores como o momento central da disputa.

    • Surgiram figuras como o "cabalista", especializado em manipular as listas de qualificação, e o "capanga", contratado para intimidar adversários e dar coragem aos partidários. A compra de votos também era uma prática.

    • A "guerra" eleitoral tornou-se uma "luta constante" que antecedia o dia da eleição. A disputa partidária era em torno do controle da qualificação, com cada lado "desculpando seus próprios vícios" e exagerando os do adversário.

Em suma, o governo de Dom Pedro II, através do Poder Moderador e das sucessivas leis eleitorais, manteve um controle significativo sobre os resultados das eleições, com a alternância partidária no poder sendo, em última instância, ditada pela Coroa. As reformas, embora visando aperfeiçoar o sistema, muitas vezes mudavam a forma da manipulação, mas não a eliminavam completamente.

5. Grandes Questões do Segundo Reinado: Desafios e Transformações

O governo de Dom Pedro II foi marcado por grandes questões que moldaram o Brasil e que são temas essenciais para qualquer prova de história.

5.1. A Guerra do Paraguai (1864-1870): O Conflito Sangrento e suas Consequências

A Guerra do Paraguai foi o maior e mais sangrento conflito da história da América do Sul. Durou de 1864 a 1870 e resultou na completa destruição do Paraguai.

  • Causas: Estudos recentes indicam que as causas da guerra não se relacionaram ao imperialismo inglês, mas sim ao processo de formação e consolidação das nações da Bacia Platina (Argentina, Uruguai, Brasil e Paraguai).

  • Início: Em 1864, o ditador paraguaio Solano López capturou o navio brasileiro Marquês de Olinda e invadiu o Mato Grosso, como retaliação à intervenção brasileira no Uruguai, que visava derrubar o governo Blanco, aliado de López, e instalar os Colorados.

  • A Tríplice Aliança: A declaração de guerra de López à Argentina, após Mitre (presidente argentino) negar passagem às tropas paraguaias por Corrientes, levou à formação da Tríplice Aliança (Brasil, Argentina e os Colorados uruguaios) em 1º de maio de 1865.

  • O Papel de D. Pedro II: O imperador tomou a liderança ativamente na condução do conflito, chegando a ir para o front da batalha no Rio Grande do Sul, onde acompanhou o cerco de Uruguaiana. Sua obstinação em "exterminar López" era notória e determinante. Ele insistiu que a guerra só terminaria com a captura do ditador paraguaio e a restauração da "honra nacional", que ele comparava à sua própria. Sua determinação levou a crises com ministros, como Zacarias de Góis, pela manutenção de Caxias no comando das tropas.

  • Principais Acontecimentos: A ofensiva paraguaia no Rio Grande do Sul e Corrientes foi um fracasso. A Batalha Naval de Riachuelo (junho de 1865) foi crucial, garantindo à Tríplice Aliança o controle das águas platinas e isolando o Paraguai. A guerra se prolongou devido a desentendimentos no comando aliado, à difícil geografia paraguaia e à alta moral das tropas paraguaias. A fase final foi de esgotamento paraguaio, com a queda de Humaitá (1868) e o saque de Assunção (1869). A guerra terminou com a morte de Solano López na Batalha de Cerro Corá em março de 1870, sob o comando do Conde d'Eu, genro de D. Pedro II.

  • Consequências para o Brasil:

    • Impacto econômico: Gastos elevadíssimos (11 vezes o orçamento anual de 1864), endividamento, principalmente com bancos ingleses.

    • Fortalecimento do Exército: A guerra elevou o status do exército como instituição, transformando-o em uma força política relevante. Muitos militares tornaram-se heróis, como o Duque de Caxias.

    • Início da decadência da Monarquia: O custo humano e financeiro, o fortalecimento militar e as crises políticas causadas pela guerra contribuíram para o enfraquecimento da Monarquia.

  • Consequências para o Paraguai: Foi a nação mais prejudicada, com grande destruição material e uma enorme perda populacional, estimada em aproximadamente 150 mil mortos, sendo que 90% dos sobreviventes eram do sexo feminino e 75% dos homens eram idosos ou crianças. O país também foi forçado a abrir mão de litígios territoriais.

5.2. A Questão da Escravidão: Um Desafio para o Império

A escravidão era uma instituição profundamente enraizada na sociedade brasileira do século XIX. A abolição foi um processo gradual e um dos fatores decisivos para a queda do Império.

  • O Fim do Tráfico Negreiro (1850): Embora a Lei de 1831 já proibisse o tráfico internacional, ela era amplamente ignorada ("lei para inglês ver"). Somente em 1850, sob forte pressão britânica e com o apoio decisivo de Dom Pedro II, a Lei Eusébio de Queirós efetivamente suprimiu o tráfico negreiro.

  • A "Libertação" Gradual: Após a Guerra da Secessão (1865), o Brasil se tornou uma das poucas nações ocidentais a manter a escravidão. Dom Pedro II, pessoalmente contrário à escravidão desde cedo, começou a impulsionar reformas.

    • Lei do Ventre Livre (1871): Fruto do esforço do ministério Visconde do Rio Branco e impulsionada por Dom Pedro II, essa lei declarava livres os filhos de mulheres escravizadas nascidos a partir de sua promulgação. A lei visava uma abolição gradual e "tranquila", mas a execução foi deficiente. Políticos contrários acusaram o imperador de "abuso de poder" e de ser "um projeto pessoal do monarca".

    • Lei dos Sexagenários (1885): Também conhecida como Lei Saraiva, libertava escravos com mais de 60 anos. No entanto, sua versão final foi mais favorável aos escravistas, gerando críticas de abolicionistas como Joaquim Nabuco, que acusaram D. Pedro II de ter "abandonado a causa".

  • A Lei Áurea (1888) e o Fim da Escravidão: O movimento abolicionista ganhou força na década de 1880. Com a saúde de Dom Pedro II debilitada e ele em viagem à Europa, a Princesa Isabel, como regente, assinou a Lei Áurea em 13 de maio de 1888, abolindo a escravidão imediatamente e sem indenizações.

  • Consequências da Abolição:

    • Perda de Apoio dos Latifundiários: A abolição sem indenização alienou a elite agrária escravista, que havia sido um dos principais pilares de apoio da Monarquia desde o início do Império.

    • Aumento da Popularidade entre Libertos: Paradoxalmente, a Monarquia ganhou popularidade entre os recém-libertos, que viam o gesto da Princesa Isabel como um ato paternal/maternal. Muitos se organizaram na Guarda Negra para defender o regime, causando desordens em comícios republicanos. Contudo, a restrição eleitoral (voto censitário e, após 1881, a exigência de alfabetização, reduzindo drasticamente o eleitorado de 10% para 1% da população) inviabilizou que esse apoio se traduzisse em força política para sustentar a monarquia.

5.3. A Crise dos Bispos (Questão Religiosa): O Conflito com a Igreja

A relação entre Estado e Igreja Católica no Brasil era peculiar, herdada de Portugal. A Constituição de 1824 estabelecia o catolicismo como religião oficial e o Estado remunerava os membros do clero (Padroado). Além disso, o governo tinha o direito de veto (placet) sobre documentos papais.

  • O Conflito: A crise começou em 1872, quando o Papa Pio IX emitiu a bula Syllabus, que condenava a maçonaria e ilegalizava o placet. Bispos, como Frei Vital Gonçalves de Oliveira (Olinda) e o bispo do Pará, passaram a exigir que o clero abjurasse a maçonaria e proibiram irmandades de manter membros maçons.

  • Reação Imperial: Como muitas figuras políticas (inclusive o Visconde do Rio Branco, chefe de gabinete) eram maçons, as irmandades recorreram ao governo. Dom Pedro II apoiou seu gabinete e ordenou que os bispos suspendessem as interdições, vendo a desobediência como uma afronta pessoal e uma violação dos direitos do poder temporal.

  • Prisão dos Bispos e Anistia: Diante da recusa dos bispos, eles foram condenados pelo Supremo Tribunal de Justiça e presos em 1874. A intransigência do governo imperial, incentivada por D. Pedro II, prolongou a crise. Somente em 1875, sob forte pressão do novo ministério chefiado pelo Duque de Caxias, Dom Pedro II cedeu e concedeu anistia aos bispos, embora a contragosto.

  • Consequências: O episódio abalou definitivamente as relações entre a Igreja e o Imperador, contribuindo para o desgaste da Monarquia.

6. Crise da Monarquia e Proclamação da República: O Fim de um Ciclo

A partir de 1870, o Império enfrentou uma crescente insatisfação em diversos setores sociais, que, curiosamente, convergiam para uma mesma solução: o fim da monarquia e a instauração da República.

6.1. O Desgaste com os Militares (Questão Militar)

A Guerra do Paraguai havia fortalecido o Exército brasileiro como instituição. No entanto, a Monarquia não valorizava essa nova força, preferindo a antiga Guarda Nacional. A política de "enfraquecimento" do Exército, com cortes de gastos, restrições a soldos e promoções, e a transferência de tropas para zonas de fronteira (vista como degredo), gerava grande descontentamento.

  • Profissionalização do Exército: A reforma de 1850 estabeleceu critérios de promoção baseados em antiguidade e desempenho em combate, marcando o início da profissionalização do Exército. Essa mudança, juntamente com a criação de cursos preparatórios e exigências intelectuais (matemática, história, geografia, francês, latim) nas academias militares, atraiu jovens de origem humilde e promoveu uma elite baseada no mérito, não mais na aristocracia.

  • Fim das Lideranças Aristocráticas: A morte de figuras como Caxias (1880) e Osório (1878) deixou o Exército sem defensores influentes perante o imperador, e abriu espaço para a ascensão de líderes como Benjamin Constant e Deodoro da Fonseca, que eram mais críticos da monarquia.

  • Oposição Ativa: As angústias e decepções dos militares nas décadas de 1870 e 1880, somadas à humilhação de serem obrigados a capturar escravos e participar de violentas campanhas eleitorais, culminaram na formação de um poderoso movimento de oposição à monarquia nos clubes militares a partir de 1887.

6.2. O Crescimento do Republicanismo

Embora o ideal republicano existisse no Brasil desde a Inconfidência Mineira (Colônia) e em surtos durante as Regências, foi a partir de 1870 que o republicanismo se estruturou de maneira concreta e ganhou apoio significativo.

  • Fundação do Partido Republicano: Em 1873, o Partido Republicano Paulista (PRP) foi fundado com o apoio de importantes cafeicultores de São Paulo. O movimento defendia a descentralização e o federalismo, em oposição à forte centralização do Império e à representação política desproporcional das províncias mais ricas (Centro-Sul) em relação às do Norte e Nordeste.

  • Críticas ao Poder Moderador: As elites regionais, especialmente as cafeeiras, reclamavam da constante interferência do governo imperial na vida política, que impedia a perpetuação de uma mesma facção no poder e indispunha D. Pedro II com os partidos. A monarquia passou a ser vista como um obstáculo ao pleno domínio das oligarquias regionais.

  • Ideais e Contradições: O republicanismo da época, especialmente a facção paulista, era politicamente moderado e socialmente conservador. Alguns líderes, como Assis Brasil, viam compatibilidade entre republicanismo e escravidão, defendendo o fim desta apenas pela difusão lenta do trabalho livre, não por decreto ético.

6.3. O Fim da Monarquia: A Proclamação da República

A combinação do descontentamento militar (Questão Militar), a perda do apoio dos latifundiários escravistas (Questão Abolicionista), o abalo nas relações com a Igreja (Questão Religiosa) e o crescimento do movimento republicano criou um cenário insustentável para a Monarquia.

  • Os Últimos Anos de Império: Nos últimos anos, com Dom Pedro II com a saúde fragilizada e sem a mesma energia de antes, uma nova geração de políticos via o Brasil já consolidado como Estado-nação e a monarquia como dispensável e não condizente com as noções de modernidade. A Princesa Isabel, vista por parte da elite como "beata" e casada com "o francês" (Conde d'Eu), não era considerada uma sucessora crível, o que contribuía para a incerteza quanto ao futuro da dinastia.

  • O Golpe de 15 de Novembro de 1889: Em novembro de 1889, as tensões entre o Exército e o governo imperial atingiram o auge. Rumores de substituição de batalhões por Guardas Nacionais e ataques a quartéis precipitaram os acontecimentos. Na manhã de 15 de novembro, o Marechal Deodoro da Fonseca, apesar de doente, liderou um grupo de militares que marchou sobre o Campo de Santana e destituiu o ministério Ouro Preto, então no poder.

  • A Reação de D. Pedro II: Dom Pedro II, em Petrópolis, foi avisado da proclamação da República e não ofereceu resistência, aceitando o exílio com a família. Ele expressou cansaço e a intenção de descansar após tantos anos de trabalho. A família imperial embarcou para a Europa em 18 de novembro.

  • A "Bestialização" do Povo: A proclamação da República foi, em grande parte, uma surpresa para o povo, que "assistiu à queda da monarquia 'bestializado, atônito, sem conhecer o que significava'". O movimento republicano, embora existente, não era revolucionário e sua difusão era restrita. O novo regime deveu mais ao descontentamento nos quartéis do que à propaganda republicana.

  • Consequências Imediatas da República: Os primeiros anos da República foram marcados por instabilidade política (ditaduras militares, como as de Deodoro e Floriano Peixoto) e conflitos (Revolta da Armada, Revolução Federalista). O regime consolidou a "política dos governadores", um sistema de domínio das oligarquias regionais. A população negra recém-liberta enfrentou preconceitos e marginalização, com a ciência da época muitas vezes justificando visões racistas.

7. O Legado de Dom Pedro II e a Construção do Brasil Moderno

Apesar de sua queda e do exílio, o legado de Dom Pedro II na história do Brasil é inegável e profundo.

  • Consolidação do Estado-Nação: O Segundo Reinado foi o período de consolidação do Brasil como uma nação unificada e um Estado-nação, livre dos riscos de fragmentação que marcaram as repúblicas vizinhas e o período regencial.

  • Estabilidade Política: Apesar das críticas e das manipulações eleitorais, o sistema político imperial, com o Poder Moderador como árbitro, conseguiu manter uma relativa estabilidade em comparação com as convulsões de outros países sul-americanos da época.

  • Cultura Política e Cidadania: Dom Pedro II contribuiu para a criação de uma cultura política e um ideal de cidadania que, em certa medida, sobreviveram à sua queda. Sua administração buscou promover uma agenda política moderada e civilizada.

  • Reconhecimento Internacional: O imperador era respeitado internacionalmente por sua erudição e interesse em ciências, artes e letras. Visitou cientistas como Graham Bell e foi elogiado por Victor Hugo como "um grande cidadão; o neto de Marco Aurélio".

  • Bases para a República: As estruturas políticas, sociais e econômicas estabelecidas durante o Segundo Reinado, incluindo a abolição da escravidão, pavimentaram o caminho para o regime republicano que o sucedeu em 1889.

O governo de Dom Pedro II, com sua complexa interação entre o poder pessoal do imperador e as dinâmicas partidárias, a superação de grandes desafios como a Guerra do Paraguai e a abolição da escravidão, e as constantes tentativas de reformar o sistema político, deixou uma marca indelével na construção do Brasil. Seu reinado foi um período de transição fundamental, consolidando as bases de uma nação que, mesmo após a mudança de regime, carregaria muitos de seus legados. A compreensão desse período é essencial para qualquer estudo aprofundado da História do Brasil e suas transformações políticas.


Questões:

  1. Qual foi uma das principais transformações políticas promovidas por Dom Pedro II durante o Segundo Reinado?

a) Descentralização do poder político nas províncias.
b) Implantação de um sistema absolutista de governo.
c) Centralização do poder político nas mãos do governo imperial.
d) Adoção de um sistema de governo republicano.

  1. Qual lei foi aprovada durante o Segundo Reinado, concedendo liberdade aos filhos de escravos nascidos a partir de sua data de promulgação?

a) Lei dos Sexagenários.
b) Lei Áurea.
c) Lei do Ventre Livre.
d) Lei dos Homens Livres.

  1. Qual foi um dos conflitos marcantes do Segundo Reinado que durou de 1864 a 1870?

a) Guerra dos Farrapos.
b) Guerra dos Emboabas.
c) Guerra do Paraguai.
d) Guerra dos Canudos.

Gabarito:

  1. c) Centralização do poder político nas mãos do governo imperial.

  2. c) Lei do Ventre Livre.

  3. c) Guerra do Paraguai.