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14/08/2025 • 21 min de leitura
Atualizado em 14/08/2025

Tomás de Aquino

Tomás de Aquino: como Entender o Doutor Angélico, Sua Filosofia e Teologia

Se você está buscando compreender um dos maiores intelectuais da história, Tomás de Aquino, chegou ao lugar certo. Conhecido como "Doctor Angelicus", "Doctor Communis" e "Doctor Universalis", Tomás de Aquino não foi apenas um frade dominicano, mas uma figura monumental cuja obra continua a moldar o pensamento ocidental.

Em um momento de crises morais e políticas, onde os direitos humanos básicos são constantemente atacados e as leis nem sempre são claras, revisitar os conceitos de lei natural, ética e justiça em Tomás de Aquino oferece um pano de fundo essencial para analisar nosso tempo presente. Vamos mergulhar nessa jornada de conhecimento.

1. Quem Foi Tomás de Aquino e Por Que Ele Ainda É Relevante?

Tomás de Aquino (1225-1274) foi um frade católico italiano da Ordem dos Pregadores. Sua contribuição foi tão significativa que suas obras exerceram uma enorme influência na teologia e na filosofia, especialmente na tradição conhecida como Escolástica. Sua principal obra, a Suma Teológica, é um marco do pensamento cristão.

A relevância de Tomás de Aquino reside em sua capacidade de conciliar a fé com a razão, uma abordagem que divergia de antecessores como Agostinho de Hipona. Ele soube integrar a filosofia aristotélica com os princípios do cristianismo, superando a ideia de uma ética relativista e propondo princípios universais baseados na lei natural. Para muitos comentadores, Aquino representa o ponto central entre a tradição antiga e a moderna no estudo da lei natural, influenciando a ética, a política e a filosofia do direito.

2. A Vida de Tomás de Aquino: Uma Jornada Marcada por Desafios e Dedicação

A trajetória de vida de Tomás de Aquino foi singular, repleta de viagens, debates teológicos e uma dedicação inabalável a Deus.

2.1. Primeiros Anos e a Vocação Inesperada

Tomás de Aquino nasceu em Roccasecca, no condado de Aquino, Reino da Sicília, por volta de 1225. Sua família, nobre e influente, planejava para ele uma carreira eclesiástica de destaque, como a de seu tio Sinibaldo, abade do mosteiro beneditino de Monte Cassino. Aos cinco anos, Tomás iniciou seus estudos neste mosteiro.

No entanto, conflitos militares entre o imperador Frederico II e o papa Gregório IX o obrigaram a se mudar para Nápoles. Foi na universidade recém-criada de Nápoles (studium generale) que Tomás teve seu primeiro contato com os escritos de Aristóteles, além de outros importantes pensadores como Averróis e Maimônides. Lá, sob a influência do pregador dominicano João de São Juliano, Tomás decidiu, aos dezenove anos, ingressar na Ordem dos Pregadores, os dominicanos.

Esta decisão não foi bem recebida por sua família. Em uma tentativa de dissuadi-lo, seus irmãos o capturaram e o mantiveram em "residência forçada" nos castelos da família por cerca de um ano. A lenda narra que, em um ato de desespero, dois de seus irmãos chegaram a contratar uma prostituta para seduzi-lo, mas Tomás a repeliu com um ferro em brasa, e anjos apareceram para fortalecer sua determinação de celibato. Percebendo a inutilidade de seus esforços, sua mãe arranjou sua "fuga" pela janela, permitindo que Tomás finalmente se juntasse aos dominicanos em Roma e depois em Paris.

2.2. O Período de Estudos e Magistério: Paris e Colônia

Em 1245, Tomás foi enviado para a Universidade de Paris, onde provavelmente conheceu o renomado estudioso dominicano Alberto Magno. Alberto, que se tornaria seu mestre e amigo, reconheceu o potencial de Tomás, apesar de sua natureza calada – o que levou alguns colegas a considerá-lo "devagar". Alberto Magno profetizou: "Vocês o chamam de boi mudo, mas em sua doutrina ele produzirá um dia um mugido tal que será ouvido pelo mundo afora".

Tomás acompanhou Alberto Magno para Colônia, onde lecionou como professor aprendiz (baccalaureus biblicus). Em 1252, retornou a Paris para obter o mestrado em teologia, tornando-se baccalaureus Sententiarum ao comentar as "Sentenças" de Pedro Lombardo. Em 1256, foi nomeado regente principal em teologia em Paris. Neste período, defendeu as ordens mendicantes dos ataques de Guilherme de Saint-Amour com sua obra "Contra Aqueles que Ameaçam a Devoção a Deus e a Religião".

2.3. O Retorno à Itália e o Início da Suma Teológica

Em 1259, Tomás deixou Paris e retornou a Nápoles. Em Orvieto (1261-1265), ele concluiu a Suma contra os Gentios e escreveu Catena Aurea. Também compôs obras para o Papa Urbano IV, incluindo a liturgia para a recém-criada festa de Corpus Christi.

Em 1265, a pedido do Papa Clemente IV, Tomás foi convocado a Roma para servir como teólogo papal. Em Roma, no studium conventuale do Convento de Santa Sabina, Tomás de Aquino iniciou a escrita de sua obra mais famosa, a Suma Teológica. Ele a concebeu especificamente para estudantes iniciantes, visando apresentar todo o conhecimento da religião cristã de forma pertinente à instrução.

2.4. Segunda Regência em Paris e os Últimos Anos

Em 1268, Tomás foi nomeado regente mestre da Universidade de Paris pela segunda vez. Este período foi marcado pela ascensão do "averroísmo" (ou "aristotelismo radical"), que propunha a eternidade do mundo e a unicidade do intelecto humano, ideias que contradiziam a doutrina cristã. Em resposta, Tomás escreveu "Sobre a Unidade do Intelecto, Contra os Averroístas".

Apesar de suas defesas, o bispo de Paris, Etienne Tempier, publicou um édito em 1270 condenando treze proposições aristotélicas e averroístas como heréticas. Em 1277, Tempier publicaria uma condenação ainda mais ampla, incluindo vinte proposições de Tomás de Aquino, o que prejudicaria sua reputação por muitos anos.

Em 1272, Tomás deixou Paris e voltou a Nápoles para fundar um studium generale. Em 6 de dezembro de 1273, teve uma experiência mística na Capela de São Nicolau, onde foi visto levitando e conversando com um ícone de Cristo crucificado. Após essa experiência, ele abandonou sua rotina de escrita, declarando ao seu secretário, Reginaldo de Piperno: "Reginaldo, não posso, pois tudo o que escrevi não passa de uma palha para mim" (mihi videtur ut palea). Os católicos acreditam que foi uma experiência sobrenatural de Deus.

Em 1274, a caminho do Segundo Concílio de Lyon, convocado pelo Papa Gregório X para reunir a Igreja Latina e a Igreja Ortodoxa, Tomás de Aquino faleceu em 7 de março na abadia cisterciense de Fossanova, aos 49 anos de idade. Suas últimas palavras foram: "Eu te recebo, Resgate pela minha alma. Pelo teu amor estudei e me mantive vigilante, trabalhei, preguei e ensinei...".

2.5. Canonização e Títulos: A Consagração do Doutor Angélico

A importância de Tomás de Aquino para a Igreja Católica e o pensamento ocidental foi rapidamente reconhecida. Cinquenta anos após sua morte, em 18 de julho de 1323, o Papa João XXII o declarou santo. Em 1567, o Papa Pio V o proclamou Doutor da Igreja, equiparando sua festa à dos grandes Padres latinos.

Além de "Santo" e "Doutor da Igreja", Tomás de Aquino é conhecido por títulos como "Doctor Angelicus" (Doutor Angélico), "Doctor Communis" (Doutor Comum) e "Doctor Universalis" (Doutor Universal), evidenciando a universalidade e profundidade de sua doutrina. Seus restos mortais estão abrigados na Igreja dos Jacobinos em Toulouse.

3. As Obras Fundamentais de Tomás de Aquino

A vasta produção intelectual de Tomás de Aquino é um testemunho de sua genialidade e dedicação.

3.1. A Suma Teológica (Summa Theologiae): O Magnum Opus

A Suma Teológica é, sem dúvida, a obra mais famosa e influente de Tomás de Aquino. Iniciada em 1265, ela é um vasto compêndio de teologia cristã, projetada para servir como um manual didático para estudantes iniciantes. O objetivo era explicar a fé cristã de maneira concisa e articulada.

Estrutura da Suma Teológica (Pontos-chave para concursos!): A obra é organizada em três partes principais, totalizando 512 questões:

  • Prima Pars (Primeira Parte): Dedica-se a Deus e à criação. Aborda a essência divina, os atributos de Deus, a Trindade, a criação em geral (q.44-46), e as criaturas (q.47-102), incluindo os anjos e o governo divino sobre os homens (q.103-119). Contém 119 questões.

  • Secunda Pars (Segunda Parte): Foca no "retorno do homem a Deus". É dividida em duas subdivisões:

    • Prima Secundae (Primeira da Segunda Parte): Trata dos atos humanos, voluntários e involuntários (q.6-21), as paixões da alma (q.22-48), e, crucialmente, os vícios e as virtudes (q.49-89), sendo a base da ética tomista. Também aborda as influências no agir humano e a graça (q.90-114). Contém 114 questões.

    • Secunda Secundae (Segunda da Segunda Parte): Aprofunda as virtudes teologais (fé, esperança e caridade) (q.1-46) e as virtudes cardeais (justiça, força/coragem e temperança) (q.47-170). Termina com o estudo dos carismas (q.171-189). Contém 189 questões.

  • Tertia Pars (Terceira Parte): Aborda a figura de Jesus Cristo, sua encarnação e sofrimento (q.1-59), e os sacramentos como meios de salvação (q.60-65), detalhando o batismo, eucaristia e penitência (q.60-90). Esta parte ficou inacabada devido à morte de Aquino, sendo completada posteriormente por seus discípulos com comentários sobre as Sentenças de Pedro Lombardo. Contém 90 questões.

A Suma Teológica é um exemplo primoroso da integração entre filosofia e teologia, onde Aquino utiliza o método escolástico de "questão disputada" para apresentar os argumentos e suas soluções.

3.2. Suma contra os Gentios (Summa contra Gentiles)

Outra obra magna de Tomás de Aquino é a Suma contra os Gentios, escrita entre 1259 e 1265. Seu propósito era apologético, visando explicar a religião cristã e defendê-la contra as doutrinas do Judaísmo e do Islamismo. É uma obra mais argumentativa e filosófica, buscando convencer pela razão aqueles que não compartilhavam da fé cristã.

3.3. Comentários sobre Aristóteles

A paixão de Tomás por Aristóteles era notória. Ele escreveu diversos e importantes comentários sobre as obras de Aristóteles, como "Da Alma", "Ética a Nicômaco" e "Metafísica". Aristóteles era frequentemente citado por ele como "o Filósofo", evidenciando sua reverência e a importância que o pensamento aristotélico tinha para Aquino.

A influência de Aristóteles no Ocidente, especialmente no século XIII, foi imensa. Tomás realizou mais de duas mil citações de Aristóteles em suas obras. As traduções de Guilherme de Moerbeke (1215-1286) foram cruciais para que Aquino tivesse acesso direto a esses textos gregos, muitos dos quais eram desconhecidos na Europa Ocidental até então. Aquino, com sua lógica racionalizada, conseguiu adaptar a filosofia aristotélica de forma a harmonizá-la com os ensinamentos da fé cristã, mesmo quando as obras de Aristóteles eram proibidas em universidades como a de Paris.

4. A Relação Crucial entre Fé e Razão em Tomás de Aquino

Ponto Chave para Concursos! A relação entre fé e razão é um dos pilares do pensamento tomista e um tema central em sua obra.

Tomás de Aquino defendia uma relação harmoniosa entre fé e razão, em contraste com as tensões e proibições da época. Para ele, a filosofia e a teologia são duas ferramentas primárias para processar dados teológicos e obter um verdadeiro conhecimento de Deus. Ambas são necessárias e se complementam.

  • Filosofia como "Serva da Teologia" (philosophia ancilla theologiae est): Aquino via a filosofia não como subordinada de forma humilhante, mas como um instrumento valioso que serve à teologia. A razão é capaz de atingir verdades por si mesma, e estas verdades não contradizem as verdades da fé, mas as preparam ou as tornam mais inteligíveis. A fé não começa onde a razão falha, mas onde a razão pode ter êxito, necessitando crer no que foi demonstrado.

  • Revelação Natural vs. Sobrenatural:

    • Revelação Natural: Verdades que podem ser conhecidas pela razão humana através da observação do mundo e da aplicação da lógica (por exemplo, a existência de Deus, como veremos nas Cinco Vias).

    • Revelação Sobrenatural: Verdades que só podem ser conhecidas pela fé, através da inspiração divina e revelação nas Escrituras e na tradição da Igreja (por exemplo, a doutrina da Trindade e da Encarnação).

Ele combatia a ideia da "dupla verdade", segundo a qual haveria uma verdade para a filosofia e outra para a teologia, que poderiam ser contraditórias. Para Aquino, a verdade é una e indivisível, e a razão pode auxiliar a compreender e defender os dogmas da fé.

5. Metafísica e as Famosas Cinco Vias para Provar a Existência de Deus

Tema Frequente em Concursos! A metafísica de Tomás de Aquino é profundamente influenciada por Aristóteles e é o alicerce para suas cinco vias (quinque viae) para provar a existência de Deus.

Para Aquino, Deus não é apenas um conceito abstrato, mas o Ser pleno, o ato puro, onde não há o que se realizar ou atualizar, pois Ele é completo. A existência de Deus, embora autoevidente em si, não é imediatamente evidente para os seres humanos. Por isso, ele propõe demonstrações racionais, partindo do empírico (o mundo sensível) para chegar ao inteligível.

As Cinco Vias para a Existência de Deus (Decore para concursos!):

Todas as cinco vias têm em comum o princípio da causalidade, herdado de Aristóteles, e partem da realidade concreta e hierarquicamente ordenada do mundo.

  1. Via do Primeiro Motor Imóvel (Movimento):

    • Argumento: Tudo o que está em movimento é movido por outro. Não se pode regredir ao infinito em uma cadeia de motores.

    • Conclusão: Deve existir um Primeiro Motor Imóvel, que move tudo sem ser movido por nada. Este é Deus.

  2. Via da Primeira Causa Eficiente (Causalidade):

    • Argumento: Não há efeito sem causa, e toda causa é, por sua vez, causada. Uma regressão infinita de causas é impossível.

    • Conclusão: É preciso que haja uma Primeira Causa Eficiente incausada, que dá início ao movimento das coisas. Esta é Deus.

  3. Via do Ser Necessário e dos Seres Possíveis (Contingência e Necessidade):

    • Argumento: Existem seres que podem ser e não ser (seres contingentes). Se todos os seres fossem contingentes, em algum momento nada existiria. Mas do nada, nada vem.

    • Conclusão: Deve existir um Ser Necessário, cuja existência deriva de si próprio e que fundamenta a existência de todos os seres contingentes. Este é Deus. (Avicena também elaborou a distinção entre ser possível e ser necessário, influenciando Aquino).

  4. Via dos Graus de Perfeição:

    • Argumento: Observamos graus de perfeição nas coisas (mais ou menos bom, mais ou menos verdadeiro, mais ou menos nobre). Qualquer comparação implica uma referência a um máximo.

    • Conclusão: Deve existir um Máximo, que é a causa de toda perfeição e que contém o verdadeiro ser de forma mais completa. Este é Deus.

  5. Via do Governo Supremo (Teleologia/Ordem):

    • Argumento: Vemos no mundo uma ordem e finalidade nas coisas, mesmo naquelas que não possuem consciência. Tendências ordenadas da natureza indicam que as coisas sem consciência são guiadas por algo que a possui.

    • Conclusão: Deve existir uma Inteligência Suprema que governa e organiza todas as coisas racionalmente. A esta chamamos Deus.

É importante notar que, para Aquino, o conhecimento de Deus se dá por analogia (via negativa), afastando-se Dele todo elemento criatural e compreendendo o que Deus "não é" (simples, perfeito, infinito, imutável, uno). Ele se opõe à doutrina da iluminação platônica (defendida por Santo Agostinho), que propõe um contato imediato com Deus.

6. A Ética Tomista: Rumo à Felicidade e ao Bem Comum

Essencial para Concursos! A ética de Tomás de Aquino é uma ética teleológica, ou seja, orientada para um fim: a felicidade (beatitude). Ela é uma síntese da filosofia clássica (Aristóteles) e da teologia cristã.

Para Aquino, a vida humana tem um propósito: a felicidade. Esta felicidade não se encontra nas riquezas materiais, que não possuem "consciência existencial" em si mesmas. A verdadeira felicidade é um estado de espírito que o homem busca constantemente, sendo o guia necessário para a alma. A felicidade perfeita é a união eterna com Deus, alcançada através da visão beatífica, que é a experiência da felicidade perfeita ao presenciar a essência de Deus após a morte.

6.1. Virtudes: Caminhos para o Bem

Tomás de Aquino distingue dois tipos de virtudes:

  • Virtudes Cardeais (Naturais): Consideradas naturais e inerentes a todos os seres humanos, reveladas na própria natureza. Elas são:

    • Prudência: Sabedoria prática, discernimento para agir corretamente.

    • Temperança: Moderação dos desejos e paixões.

    • Justiça: Virtude que estabelece a igualdade nas relações e instituições, combatendo a corrupção e garantindo o bem do próximo.

    • Coragem (ou Fortaleza): Firmeza diante das dificuldades e medos.

  • Virtudes Teologais (Sobrenaturais): Distintas das cardeais por seu objeto ser o próprio Deus, a finalidade última de tudo, e estarem acima do conhecimento da razão humana. Elas são:

    • Fé: Acreditar no que não se vê, mesmo que a razão prove que Deus existe.

    • Esperança: Confiança na vida eterna e na ajuda divina.

    • Caridade (Amor): O maior dos amores, desejar o "bem" do outro.

A ética de Aquino é uma ética da perfeição e da ordem, onde a ordem é uma disposição para atingir a perfeição, e a ação ética se fundamenta na perfeição, tendo o bem como máxima.

6.2. Os Quatro Tipos de Lei (Conceito fundamental para concursos!)

Tomás de Aquino distingue quatro tipos de lei que governam os atos humanos, estabelecendo uma hierarquia e interconexão:

  1. Lei Eterna (Lex Aeterna): É o decreto divino que governa toda a criação. É a própria razão de Deus, imutável e eterna, ordenando o universo com vistas ao bem.

  2. Lei Natural (Lex Naturalis): É a participação da criatura racional na lei eterna. Caracteriza-se como um conjunto de preceitos autoevidentes e comuns a todos os seres humanos.

    • Preceitos Básicos: Incluem a preservação da vida, a conservação da prole (procriação e educação dos filhos), a busca do conhecimento (especialmente de Deus), e a vida em sociedade.

    • Natureza: É inata à natureza humana ou advém de uma reflexão individual. Embora autoevidente, seu conhecimento pode ser prejudicado por falhas do intelecto, paixões e vícios.

    • Importância: Os legisladores da lei humana, os costumes e as ações dos homens deveriam se guiar por ela. É um conceito central em Direitos Humanos e Direito Internacional.

  3. Lei Humana (Lex Humana ou Positiva): São as leis criadas e promulgadas pelos legisladores humanos para uma determinada comunidade política (civitas). Estas leis derivam da lei natural, seja por dedução lógica de seus princípios gerais, seja por uma determinação mais precisa para casos concretos.

    • Condição: A lei humana não pode ser contrária aos princípios básicos da lei natural. As diversas constituições e sistemas políticos devem reconhecer e respeitar tais princípios para garantir sua existência na sociedade.

  4. Lei Divina (Lex Divina): É a lei especificamente revelada por Deus nas Escrituras. Ela tem duas facetas: a Antiga Lei (Antigo Testamento) e a Nova Lei (Novo Testamento, através de Cristo).

    • Necessidade: É necessária porque a lei natural e a humana sozinhas não são suficientes para dirigir o comportamento humano à salvação ou revelar verdades que excedem a razão (como a Trindade).

6.3. Justiça e Bem Comum

Para Aquino, a lei é uma regra e medida para a ação, orientada pela justiça e visando ao bem comum. A lei é promulgada por aquele que tem a responsabilidade pela comunidade política (o Estado, a civitas). A justiça, para Tomás, tem a função de estabelecer a igualdade nas relações e instituições sociais, combatendo o vício da corrupção.

7. A Contribuição de Tomás de Aquino ao Direito

O pensamento jurídico-tomista é uma elaboração da relação entre o Direito e a Moral, onde a moral se justifica por assumir características jurídicas, fruto da interiorização do direito vindo do Legislador supremo (Deus).

  • Definição de Lei: "uma ordenação da razão no sentido do bem comum, promulgada por quem dirige a comunidade".

  • Hierarquia das Leis: A concepção jurídica de Aquino consiste em uma forma de corrente, onde um elo leva, necessariamente, ao outro, desde a lex aeterna (razão divina que governa o universo) até a lex humana (lei positiva criada por autoridades humanas).

  • Direito de Resistência: Tomás de Aquino afirmava que aqueles que resistem a um governo tirânico em nome do bem comum não podem ser chamados de sediciosos. Pelo contrário, o verdadeiro sedicioso é o próprio tirano que governa em proveito próprio, fomentando discórdias.

  • Teoria da Guerra Justa: Influenciado por Santo Agostinho, Aquino definiu as condições para uma guerra ser considerada justa:

    1. Causa Justa: A guerra deve ocorrer por uma causa boa e justa, nunca pela busca de riqueza ou poder.

    2. Autoridade Legítima: Deve ser declarada por uma autoridade legalmente instituída (como um Estado).

    3. Intenção Correta: A paz deve ser a motivação central em meio à violência.

  • Preço Justo: No campo econômico, Aquino defendeu o conceito de preço justo, geralmente o preço de mercado ou regulamentado, suficiente para cobrir o custo de produção do vendedor. Ele argumentava que era imoral para os vendedores aumentar os preços simplesmente porque os compradores precisavam muito do produto.

8. O Conhecimento em Tomás de Aquino (Epistemologia)

A epistemologia (teoria do conhecimento) de Tomás de Aquino é outro ponto essencial para entender seu sistema filosófico.

  • Origem do Conhecimento: Para Aquino, o conhecimento humano começa a partir do material sensível e da sensação. Os objetos se apresentam primeiro à sensação.

  • Processo de Abstração: O que a teoria da abstração busca explicar é a origem das species intelligibiles (formas inteligíveis) a partir da experiência sensível. Embora os objetos apreendidos pela sensação sejam particulares e singulares, os conceitos formados são abstratos e universais.

  • Intelecto em Potência (Tabula Rasa): A alma, por si só, está em pura potência de conhecimentos, capaz de se tornar tudo (quo est omnia fieri intelligibilia), mas nada sendo em ato. Aqui, Aquino emprega a expressão "tabula rasa" para designar o intelecto em potência. O aperfeiçoamento do intelecto ocorre pela ação dos objetos sobre ele.

  • Os Dois Intelectos: Aquino, seguindo Aristóteles, postula a necessidade de dois intelectos para o processo de conhecimento:

    1. Intelecto Possível (Intellectus Possibilis): É a faculdade que recebe as formas inteligíveis e se torna a coisa conhecida. É passivo, uma "tabula rasa" que pode ser atualizada.

    2. Intelecto Agente (Intellectus Agens): É um princípio ativo que atua sobre as imagens sensíveis (fantasma) para extrair ou abstrair o inteligível. Ele ilumina os phantasmata (imagens sensíveis retidas na mente), tornando-os inteligíveis em ato. A ação do intelecto agente é como a luz que torna as cores visíveis.

  • Contra a Iluminação Divina Direta (Agostinho): Embora reconheça a necessidade de auxílio divino para o conhecimento de qualquer verdade, Aquino rejeita a doutrina da iluminação divina direta, defendida por Santo Agostinho e a escola agostiniana. Para Aquino, a luz da inteligência humana vem de uma causa primeira (Deus), mas o conhecimento das verdades racionais se dá pela virtude do intelecto agente, que nos foi dado por Deus, sem necessidade de uma intervenção imediata da "luz incriada".

9. Tomás de Aquino no Século XXI: Legado e Influência Duradoura

A influência de Tomás de Aquino no pensamento ocidental é inegável e continua a ser objeto de estudo e releitura.

  • Impacto no Pensamento Ocidental: Sua filosofia teve grande impacto na ética, lei natural, metafísica e teoria política. Ele é considerado o professor modelo para aqueles que estudam para o sacerdócio.

  • Direitos Humanos e Direito Internacional: O estudo da lei natural em Tomás de Aquino é uma "chave de leitura" para temas como os Direitos Humanos e o Direito Internacional, pois seus princípios básicos para a natureza humana (preservação da vida, conservação da prole) são fundamentais para as leis positivas.

  • Neo-Escolástica e Tomismo: No século XX, o pontificado de Leão XIII (com a encíclica Aeterni Patris em 1879) impulsionou o movimento da Neo-Escolástica e do Tomismo moderno, buscando assegurar a atualidade da obra de Aquino no campo filosófico-teológico e na cultura em geral. Nomes como Jacques Maritain, Etienne Gilson e Joseph Pieper foram cruciais para a presença do tomismo além do âmbito eclesiástico.

  • Críticas e Controvérsias: A obra de Tomás de Aquino não esteve isenta de críticas. A condenação de 1277 pelo bispo Etienne Tempier, que incluiu proposições de Aquino, prejudicou sua reputação por anos. Filósofos posteriores, como Bertrand Russell, criticaram Aquino por partir de conclusões predeterminadas pela fé católica e não seguir o argumento "até onde ele possa levar", argumentando que isso não seria filosofia pura. Russell também apontou supostas falhas lógicas nas "cinco vias", especialmente no que diz respeito à impossibilidade de uma série infinita sem um primeiro termo, algo que matemáticos modernos não veem como impossibilidade. No entanto, outros filósofos, como Lorenz Puntel, embora reconheçam as críticas, ainda veem contribuições definitivas de Aquino.

  • Influência Contemporânea: Tomás de Aquino continua a influenciar pensadores contemporâneos na ética (como Philippa Foot e Alasdair MacIntyre, em sua ética das virtudes para evitar o utilitarismo ou deontologia kantiana), na semiótica (Umberto Eco) e na literatura (James Joyce).

Por Que Estudar Tomás de Aquino Hoje?

Estudar Tomás de Aquino é mais do que revisitar um filósofo medieval; é mergulhar em um sistema de pensamento que oferece ferramentas valiosas para entender os desafios do presente e do futuro. Sua capacidade de integrar a fé e a razão, adaptar a filosofia aristotélica ao cristianismo, desenvolver a lei natural, e construir uma ética teleológica voltada para a felicidade e o bem comum, faz dele uma referência indispensável.

Em um cenário de complexidades éticas, políticas e morais, a clareza e a profundidade de Aquino podem nos ajudar a refletir sobre a natureza humana, a justiça e a ordem na sociedade. Sua obra é uma "memória do espírito no tempo" (memoria spiritus), que nos convida a uma reflexão profunda sobre o sentido da vida e a relação do ser humano com a realidade. A persistência de questões metafísicas no século XXI, que a tecnociência não pode responder, faz com que as teses de Aquino sobre a existência e a essência do ser assumam uma surpreendente atualidade.

Portanto, para estudantes e para todos que buscam um entendimento mais profundo sobre a história da filosofia, a teologia e a própria condição humana, Tomás de Aquino permanece como um guia essencial, capaz de iluminar as encruzilhadas do nosso tempo e do milênio que se inicia.


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