
O uso do hífen na Língua Portuguesa é um tema que historicamente gera muita apreensão e resistência entre falantes, estudantes e até mesmo gramáticos. A frase de José Saramago – "Vou continuar a escrever como escrevo hoje. [...] Os revisores encarregam-se disso" – ilustra bem o sentimento de muitos diante das constantes mudanças e da percepção de incoerência nas regras. O mestre Mattoso Câmara Júnior já afirmava que "O emprego deste sinal é incoerente e confuso". Se até os estudiosos e o próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) apresentam divergências, é natural que o leigo se sinta perdido.
No entanto, é fundamental compreender que a ortografia é uma norma, uma convenção social, e não a língua em si. Mudanças nas regras de escrita não alteram a pronúncia das palavras nem degradam o idioma; elas são frutos de acordos sociais para promover um parâmetro gráfico que permita a todos os falantes se entenderem no plano da escrita. O Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, em vigor no Brasil desde janeiro de 2009, trouxe alterações significativas no uso do hífen, buscando simplificar a grafia, unificar normas entre os países lusófonos e facilitar o aprendizado.
Antes de mergulharmos nas regras, é crucial entender o que é o hífen e qual sua função.
O hífen (também conhecido como traço-de-união ou tirete) é um pequeno traço horizontal (-). Sua finalidade principal é unir ou separar elementos em palavras compostas e derivadas. Além disso, ele é usado para separar sílabas no final de linha (translineação) e marcar ligações enclíticas e mesoclíticas.
No contexto das palavras compostas, o hífen serve para indicar a formação de um novo vocábulo composto que possui um sentido único, uma unidade semântica, que vai além da mera soma dos significados de seus elementos isolados. Por exemplo:
caixa-preta: refere-se ao gravador de dados em aeronaves.
caixa preta: significa, literalmente, uma caixa de cor preta.
ano-novo: designa a virada do ano.
ano novo: refere-se aos doze novos meses.
saia-justa: indica uma situação embaraçosa.
saia justa: descreve uma peça de vestuário justa.
O hífen, portanto, atua como uma marca gráfica de união lexical. Estudos em psicolinguística indicam a importância do reconhecimento gráfico da palavra como unidade lexical no processo de leitura, e o hífen pode ser um dos elementos responsáveis por essa decodificação, facilitando a visualização do grupamento como uma unidade sólida. A supressão do hífen em certas formações pode, inclusive, acarretar um tempo de processamento maior na leitura, evidenciando a importância do diacrítico.
Um dos maiores desafios e uma fonte constante de dúvidas no uso do hífen reside na distinção entre palavra composta e locução. O Novo Acordo Ortográfico gerou grande polêmica justamente nesse ponto.
Uma palavra composta é formada pela união de dois ou mais lexemas (unidades de base do léxico). Essa união resulta na criação de uma nova unidade fixa com um sentido único, ou uma "unidade de sentido", ou "bloco semântico estável".
Critérios para Identificação de Compostos (Basílio, 2000; Monteiro, 2002):
Impossibilidade de permutar a ordem dos elementos: Em "guarda-chuva", não podemos dizer "*chuva-guarda".
Impossibilidade de omitir um dos elementos: Não se pode usar apenas "*guarda" para se referir ao objeto.
Impossibilidade de inserir um terceiro elemento no bloco semântico: Não se pode dizer "*guarda-pequeno-chuva".
Se um termo passa por esses "testes sintático-semânticos", ele geralmente é uma palavra composta. Exemplos de palavras compostas que geralmente levam hífen:
agua-marinha (substantivo + adjetivo)
arco-íris
guarda-roupa
criado-mudo (significa um móvel, não um "serviçal mudo")
decreto-lei
porta-retrato
primeiro-ministro
mesa-redonda
couve-flor
Uma locução é um agrupamento de palavras que, embora mantenham seus significados individuais, funcionam como uma única categoria gramatical (substantivo, adjetivo, advérbio, etc.).
**Pela nova ortografia, as locuções de quaisquer categorias (substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais, prepositivas, conjuncionais) NÃO levam hífen, em geral.
Exemplos de locuções que NÃO levam hífen:
Locuções Substantivas: fim de semana, mão de obra, bico de papagaio (no sentido de deformação na coluna ou parte anatômica), dia a dia (substantivo).
Locuções Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho.
Locuções Adverbiais: à toa (sentido de "inutilmente", "sem motivo"), à vontade, de mais, depois de amanhã, em cima, por isso.
Locuções Pronominais: cada um, ele próprio.
Locuções Prepositivas: a fim de, acerca de, acima de.
Locuções Conjuncionais: a fim de que, logo que.
O Novo Acordo Ortográfico incluiu a categoria de "locuções substantivas", que não era prevista na Nomenclatura Gramatical Brasileira (NGB) nem na maioria das gramáticas tradicionais da época. Autores como Azeredo, Bechara, e Cunha & Cintra não reconheciam essa classificação, listando apenas locuções adjetivas, adverbiais, conjuntivas, interjetivas, preposicionais e verbais.
A criação dessa nova categoria de locuções gerou um problema para a hifenização, pois arrolou palavras comumente hifenizadas e reconhecidas como compostas (com unidade semântica), como pé de moleque e maria vai com as outras, sob uma categoria não prevista. Isso contribuiu para a dificuldade de distinção entre compostos e locuções e, consequentemente, para a confusão no emprego do hífen.
Por exemplo, pé de vento era grafado com hífen antes do Acordo (Azeredo, 2004), mas passou a ser grafado sem hífen (Azeredo, 2008). A dúvida é se essa mudança foi motivada por uma classificação como locução substantiva.
Mesmo com a regra geral de que locuções não levam hífen, o Acordo Ortográfico prevê exceções para locuções cuja grafia está consagrada pelo uso. Exemplos incluem:
cor-de-rosa
mais-que-perfeito
pé-de-meia
água-de-colônia
arco-da-velha
bem-me-quer (nome de planta)
ao deus-dará
à queima-roupa
O critério para determinar o que é "consagrado pelo uso" é, no entanto, subjetivo, o que adiciona outra camada de complexidade e dúvida.
A supressão do hífen em todas as locuções resultou na eliminação de uma marca gráfica clara que distinguia semanticamente termos com valores gramaticais diferentes. Por exemplo:
dia a dia: Antes do Acordo, existia dia-a-dia (locução substantiva, referente ao cotidiano) e dia a dia (locução adverbial, referente a "cotidianamente"). Agora, ambos são grafados dia a dia, exigindo que a diferenciação seja feita exclusivamente pelo contexto e por uma reflexão sintática.
Ex: "Meu dia a dia é uma correria só." (Substantivo)
Ex: "Ele esperava pacientemente, dia a dia, a vinda de sua amada." (Advérbio)
à toa: Antes, à-toa (locução adjetiva, "desocupado") e à toa (locução adverbial, "inutilmente"). Agora, ambas são à toa.
Ex: "Estava à toa na vida." (Adjetivo)
Ex: "Esse menino reclama à toa." (Advérbio)
bico de papagaio: Antes, o termo para a espécie botânica era bico-de-papagaio e para a deformação na coluna era bico de papagaio (ou vice-versa, dependendo da fonte). Com o Acordo, somente a espécie botânica mantém o hífen. A forma que corresponde à deformação na coluna perde o sinal diacrítico, tornando-se indistinguível, sem o contexto, do enunciado descritivo referente à "parte integrante da constituição física de um papagaio".
Ex: "Minha irmã pegou um bico de papagaio..." (Deformação na coluna - sem hífen)
Ex: "O bico-de-papagaio é uma espécie muito pesquisada pelos botânicos." (Espécie botânica - com hífen)
Essa perda da distinção gráfica pode gerar dificuldades na compreensão e fluência da leitura, especialmente para leitores iniciantes ou para quem está aprendendo a língua.
Vamos agora explorar as regras específicas para o uso do hífen em diferentes tipos de palavras compostas, com foco nas situações mais relevantes para concursos.
O hífen é empregado em palavras compostas por justaposição cujos elementos (substantivos, adjetivos, numerais ou verbos) constituem uma nova unidade morfológica e de sentido, mantendo o acento próprio.
Exemplos:
guarda-chuva
beija-flor
porta-malas
pingue-pongue
arranha-céu
auto-observação
decreto-lei
boa-fé, má-fé
cidade-estado, cidade-irmã
carro-bomba
matéria-prima
palavra-chave
salário-família, salário-hora
Exceções: Perda da Noção de Composição Algumas palavras que foram formadas por composição com hífen perderam o hífen no Novo Acordo Ortográfico porque se entende que a noção de composição foi perdida. Exemplos:
paraquedas
mandachuva
pontapé
girassol
madressilva
passatempo
O hífen é empregado em topônimos compostos nas seguintes situações:
Iniciados por grão ou grã: Grã-Bretanha, Grão-Pará.
Iniciados por verbo: Passa-Quatro, Abre-Campo, Quebra-Costas.
Quando há artigo entre seus elementos: Baía de Todos-os-Santos, Trás-os-Montes, Albergaria-a-Velha.
Outros topônimos compostos se escrevem com os elementos separados, sem hífen. Exemplos:
América do Sul
Belo Horizonte
Cabo Verde
Rio de Janeiro
Exceções de topônimos com hífen (consagradas pelo uso):
Guiné-Bissau
Timor-Leste
República Centro-Africana
Nomes de cidades e países que NÃO levam hífen:
Andorra la Vella
Hong Kong
Nova York
Congo Brazzaville
Papua Nova Guiné
O hífen é sempre empregado em palavras compostas que designam espécies botânicas ou zoológicas, mesmo que haja elementos de ligação ou verbos. Este é um ponto muito importante para concursos!
Exemplos:
bico-de-papagaio (espécie botânica)
cana-de-açúcar
couve-flor
erva-doce
João-de-barro
andorinha-do-mar
cobra-d’água
bem-te-vi
As regras para "bem-" e "mal-" são cruciais e frequentemente cobradas:
O hífen é usado quando o segundo elemento começar por vogal ou H.
bem-estar
bem-humorado
bem-educado
mal-estar
mal-humorado
mal-educado
Para "mal-", o hífen também é usado se o segundo elemento começar por L: mal-limpo.
Sem hífen: Quando o segundo elemento começar por consoante diferente de H ou L.
malfeito
malvisto
malsucedido
malcheiroso
malcriado
malformação
malsatisfeito
malgrado
Atenção! Existem casos em que "bem" e "mal" se aglutinam, formando uma nova palavra.
benfazejo, benfeito, benfeitor, benfeitoria, benquerença.
Diferença de "mal" como advérbio: Quando "mal" é usado como advérbio em uma frase, não se aglutina nem se separa com hífen.
Ex: "O recado foi mal entendido."
Ex: "Sílvia foi uma estudante mal educada pelos professores." (Aqui "mal" é advérbio de modo de "educada")
Compare com: "Ela é uma mulher mal-educada." (Aqui "mal-educada" é um adjetivo composto).
O hífen sempre será usado quando o primeiro elemento for um desses prefixos/termos.
Exemplos:
além-mar
além-fronteiras
aquém-mar
aquém-Pirenéus
recém-casado
recém-nascido
sem-teto
sem-vergonha
sem-número
O hífen é sempre usado com esses prefixos.
Exemplos:
ex-presidente
ex-ministro
ex-namorado
vice-presidente
vice-governador
sota-almirante
soto-capitão
Elementos repetidos, como em onomatopeias ou reduplicações, geralmente levam hífen.
Exemplos:
blá-blá-blá
lenga-lenga
zigue-zague
pingue-pongue
Compostos com numeral ordinal: primeiro-ministro, segunda-secretária.
Gentílicos (adjetivos pátrios compostos): O uso do hífen é obrigatório.
luso-brasileiro
norte-americano
sul-africano
afro-asiático
centro-africano
porto-alegrense
juiz-forano
Nomes de instituições e cargos compostos pelo adjetivo "geral" levam hífen.
Exemplos:
Procuradoria-Geral
secretário-geral
diretor-geral
consulado-geral
Atenção! A locução assembleia geral NÃO leva hífen. Greve geral também não.
Postos da hierarquia militar: tenente-coronel, capitão-tenente, major-brigadeiro.
Mas atenção: Nomes compostos com elemento de ligação preposicionado ficam sem hífen: brigadeiro do ar, general de exército, capitão de mar e guerra.
Cargos que denotam hierarquia dentro de uma empresa: diretor-presidente, diretor-adjunto, editor-chefe, sócio-gerente.
Esta é uma das seções mais detalhadas e de maior incidência em provas. As regras gerais de uso do hífen com prefixos (e falsos prefixos) dependem principalmente da letra com que o prefixo termina e da letra com que o segundo elemento começa.
Prefixos terminados em vogal + Segundo elemento começando com VOGAL DIFERENTE: NÃO há hífen.
autoescola
autoestima
semiaberto
coautor
antiaéreo
agroindustrial
aeroespacial
infraestrutura
extraoficial
plurianual
coedição, coerdeiro, coabitar, coonestar (Atenção para "co-", que geralmente se aglutina mesmo com vogal igual)
Prefixos terminados em vogal + Segundo elemento começando com VOGAL IGUAL: DEVE haver hífen.
anti-inflamatório
micro-ondas
auto-observação
arqui-inimigo
contra-ataque
infra-axilar
supra-auricular
Prefixos terminados em consoante + Segundo elemento começando com CONSOANTE DIFERENTE: NÃO há hífen.
submarino
intercontinental
hipermercado
subtropical
intermunicipal
superforça
subchefe
subdiretor
subfaturar
subgrupo
subemprego
subdividir
submundo
suburbano
subprocurador
subliminar
Prefixos terminados em consoante + Segundo elemento começando com CONSOANTE IGUAL: DEVE haver hífen.
sub-bibliotecário
hiper-realista
super-resistente
inter-relação
Prefixos terminados em consoante + Segundo elemento começando com VOGAL: NÃO há hífen. As partes são unidas diretamente.
subestimar
supereficiente
hiperativo
interestelar
subalimentar
subaquático
Prefixos terminados em vogal + Segundo elemento começando com CONSOANTE (sem ser H, R ou S): NÃO há hífen. As palavras são unidas diretamente.
antibomba
agropecuária
antiqueda
autopeça
autoproclamado
antissocial (mas dobra o 's'!)
Quando o segundo elemento começa com H, o hífen é mantido para preservar a grafia.
Exemplos:
anti-higiênico
infra-hepático
sobre-humano
sub-humano
hiper-hidratado
intra-hospitalar
bio-histórico
poli-hidrite
geo-história
Exceções: Alguns casos em que o 'h' inicial do segundo elemento foi perdido pelo uso, especialmente com os prefixos des- e in-.
desumano
inábil
inumano
Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com as consoantes S ou R, o hífen NÃO é usado. Nesse caso, a consoante inicial do segundo elemento é DUPLICADA. Este é um dos pontos mais importantes do Acordo!
Exemplos:
antissocial
corresponsável
ultrassom
semirreta
contrarregra
contrassenso
corréu
contrarrazões
antirreligioso
autorretrato
minissaia
Prefixos que OBRIGATORIAMENTE levam hífen, independentemente da formação do restante da palavra:
pré-, pós-, pró- (quando tônicos e acentuados, e o segundo elemento tem vida à parte).
pré-histórico
pós-graduado
pós-graduação
pró-reitor
pré-escolar
pré-natal
pró-americano, pró-europeu
Atenção para as formas átonas (sem acento) que se aglutinam: pospor, prever, promover. E também coedição, coautor, reeleito, reeleição, reescrever.
ex-, sem-, recém-, além-, aquém- (já abordados no item 4.5 e 4.6, mas vale reforçar que são prefixos de hífen obrigatório).
Prefixos "co-" e "re-": Em geral se aglutinam com o segundo elemento, mesmo quando iniciado por 'e' ou 'o'.
coautor
cooperar
coabitar, coerdeiro
reeleito, reeleição, reescrever
Exceção: A aglutinação de "re-" se deve à tradição linguística estabelecida.
Prefixos "circum-" e "pan-": Hífen é usado quando o segundo elemento começa por vogal, H, M ou N.
circum-escolar
pan-americano
pan-africano
pan-histórico
circum-navegação
Exceção: Quando "pan-" e o segundo elemento começa por 'b': pan-brasileiro.
Prefixos "hiper-", "inter-", "super-": Hífen é usado quando o segundo elemento começa por R (por questão de pronúncia).
hiper-requintado
inter-resistente
super-revista
Prefixos "ab-", "ad-", "ob-", "sob-", "sub-": Hífen é usado quando o segundo elemento começa por B ou R.
sub-bélico
sub-rogar
ad-referendum
sub-reitor
ab-rogar
ab-rupto (ou abrupto)
Exceção: adrenalina (consagrada pelo uso).
Sem hífen nos demais casos: subalimentar, subestimar, subchefe, subdiretor.
O uso do hífen com a palavra "não" quando ela funciona quase como um prefixo é um dos pontos mais debatidos e frequentemente testados em concursos.
Antes do Novo Acordo Ortográfico, era comum usar o hífen quando "não" vinha antes de substantivo, adjetivo ou particípio, formando um sentido completo. Exemplos eram "não-agressão", "não-fumante", "não-alinhado".
**Com o Novo Acordo Ortográfico, o hífen NÃO é mais empregado na maioria desses casos. O Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) da Academia Brasileira de Letras, que incorpora as normas do acordo de 1990, excluiu totalmente os hifens nas formações com o elemento "não-". Embora a regra não esteja explicitamente no Acordo em si, essa interpretação da ABL é largamente seguida.
**Portanto, a regra geral é SEM HÍFEN:
não violência
não agressão
não comparecimento
não alinhado
não fumante
não governamental
não intervenção
não proliferação
não ficção
não simétrico
não verbal
Exceções (com hífen): O hífen é mantido em algumas expressões consagradas que formam um sentido único ou designam espécies botânicas.
não-me-deixes (planta)
não-me-esqueças (miosótis, planta)
não-me-toques (planta)
não-te-esqueças
não-te-esqueças-de-mim
Observação: Quando "não" é um advérbio normal na frase, ele não se aglutina nem leva hífen, como em "Não me toques (melindres)" ou "Não sei quê".
Os adjetivos compostos são formados por mais de um radical e são normalmente separados por hífen. Eles variam em gênero (masculino e feminino) e número (singular e plural).
Apenas o segundo elemento vai para o feminino.
luso-brasileiro (masc.) - luso-brasileira (fem.)
cívico-religioso - cívico-religiosa
verde-escuro - verde-escura
Formados por dois adjetivos: Apenas o segundo elemento vai para o plural.
castanho-escuro - castanho-escuros
político-social - político-sociais
rosa-claro - rosa-claros
azul-escuro - azul-escuros
euro-africano - euro-africanos
primeiro-sargento - primeiro-sargentos
conta-gotas - conta-gotas (invariável no plural, assim como os verbos "conta" e "finca" em "finca-pé", "guarda" em "guarda-chuva")
palavra-chave - palavras-chave ou palavras-chaves
Exceção: surdo-mudo é uma exceção, onde os dois elementos vão para o plural: surdos-mudos.
Formados por um elemento variável + um adjetivo: Apenas o adjetivo vai para o plural.
mal-educado - mal-educados
sobre-humano - sobre-humanos
recém-nascido - recém-nascidos
Formados por adjetivo + substantivo: Nenhum elemento vai para o plural.
saia azul-turquesa - saias azul-turquesa
vestido verde-água - vestidos verde-água
Formados por cor + de + substantivo: Nenhum elemento vai para o plural.
quadro cor-de-rosa - quadros cor-de-rosa
Alguns adjetivos compostos não admitem hífen e são flexionados no plural.
Raio ultravioleta - raios ultravioletas
Problema socioeconômico - problemas socioeconômicos (Observe que "socio" é um adjetivo, redução de "social", e não leva hífen quando composto).
Atividade sociocultural - atividades socioculturais
Revista superinteressante - revistas superinteressantes
Alteração psicossomática - alterações psicossomáticas
Atenção ao "Sócio-" vs. "Socio-":
Quando o elemento SÓCIO for substantivo, usa-se acento agudo e hífen: sócio-fundador, sócio-gerente, sócio-presidente.
Quando o elemento SOCIO for adjetivo (redução de social), usa-se sem acento agudo e sem hífen: sociopolítico, socioeconômico, sociocultural, sociolinguístico.
O hífen é usado para marcar a separação de sílabas quando uma palavra se inicia em uma linha e é finalizada em outra.
Exemplo: vidra- / ceiro
Atenção! Quando a palavra já possui hífen e a translineação ocorre exatamente na parte do hífen original, dobram-se os traços.
Exemplo com "micro-ondas": micro- / -ondas
Exemplo com "ex-alferes": ex- / -alferes
Expressões latinas, em geral, não levam hífen: advogado ad hoc, verbi gratia.
Exceções consagradas pelo uso: habeas-corpus e habeas-data (com hífen, mas sem acento, pela regra geral de acentuação).
Nomes de números por extenso NÃO levam hífen: seiscentos e vinte e um mil, décimo terceiro.
Formas compostas por letras e números deverão ser escritas sem hífen: G20 (não G-20), A380, COP22, 3D.
O hífen é utilizado para indicar a ligação de tempo ou espaço entre dois termos, bem como para relações ou acordos.
Tempo: período junho-julho, biênio 2003-2004.
Espaço/Relação: ponte Rio-Niterói, ligação Angola-Moçambique, acordo MERCOSUL-União Europeia, desenvolvimento sul-norte, relações ocidentais-orientais.
Também em divisas: Liberdade-Igualdade-Fraternidade.
O hífen continua sendo usado nas colocações enclíticas e mesoclíticas.
Ênclise: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe.
Mesóclise: amá-lo-ei, enviar-lhe-emos, dar-se-vos-á.
Também com o advérbio "eis": eis-me, ei-lo.
E em combinações de formas pronominais: no-lo, vo-lo.
Exceção: Nos países que seguiram o Acordo de 1945, o hífen foi retirado das ligações entre o verbo haver e a preposição de: "hei-de, hás-de" passaram a ser hei de, hás de.
A reforma ortográfica, como destacado pelo artigo "TOMARA-QUE-CAIA OU TOMARA QUE CAIA?", é ortográfica, não fonética. O que muda é a grafia, não a pronúncia.
As principais dificuldades no emprego do hífen, segundo os estudos, residem em:
O tratamento impreciso dado pelo Acordo a compostos.
A dificuldade de se estabelecer uma distinção clara entre palavra composta e locução.
A criação da categoria de "locuções substantivas" (não prevista na NGB e gramáticas tradicionais).
A eliminação da distinção gráfica em locuções com valores gramaticais diferentes.
O papel do hífen como marca gráfica de união lexical e seu impacto na leitura.
A frase de Azeredo, em entrevista a Josué Machado, resume bem a situação: "Dúvidas surgirão mesmo após o novo vocabulário ortográfico, pois a língua se expande, novas construções se cristalizam com o uso, e as pessoas se perguntarão a cada vez: leva ou não hífen?".
Priorize as Exceções e Regras de Ouro:
Espécies botânicas e zoológicas: SEMPRE com hífen (ex: bico-de-papagaio - planta, João-de-barro).
Prefixos "ex-", "sem-", "recém-", "além-", "aquém-", "pré-", "pós-", "pró-": SEMPRE com hífen.
Regra do R e S: Se o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com R ou S, DOBRAM-SE as consoantes e NÃO se usa hífen (ex: antissocial, ultrassom).
Regra de Vogais Iguais: Se o prefixo termina com a mesma vogal que o segundo elemento começa, USA-SE hífen (ex: anti-inflamatório, micro-ondas).
Advérbios "Bem-"/"Mal-":
Com hífen: Se o segundo elemento começar por H, vogal ou, para "mal-", por L (ex: mal-educado, bem-humorado, mal-limpo).
Sem hífen: Nos demais casos (ex: malfeito, malsucedido, malvisto).
"Não" prefixal: Geralmente SEM hífen (ex: não agressão, não fumante), com as exceções específicas de plantas (não-me-deixes).
Locuções em geral: SEM hífen (ex: fim de semana, dia a dia, à toa), salvo raras exceções consagradas (cor-de-rosa).
Entenda a Lógica Semântica (Unidade de Sentido): Muitas vezes, a chave para o hífen está em identificar se o termo forma uma nova unidade de sentido (palavra composta) ou se mantém os significados individuais dos elementos (locução). Os "testes de indissociabilidade" (não permutar, não omitir, não inserir) são ferramentas valiosas.
Contexto é Rei: Especialmente para termos que perderam a distinção gráfica com o Acordo (como "dia a dia" ou "bico de papagaio"), o contexto da frase é essencial para determinar o sentido e, se aplicável, a categoria gramatical.
Consulte Materiais Confiáveis: Diante da complexidade e das nuances, a consulta a dicionários atualizados e ao Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) é sempre o caminho mais seguro.
Prática Constante: O domínio do hífen, como de qualquer regra ortográfica, vem com a prática. A familiaridade com exemplos e a aplicação dos conceitos em exercícios ajudarão a internalizar as regras e suas exceções.
Este guia buscou consolidar as informações mais relevantes e as dúvidas mais frequentes sobre o uso do hífen após o Novo Acordo Ortográfico. Esperamos que seja uma ferramenta poderosa para seus estudos e para uma comunicação escrita cada vez mais precisa.
Quando se usa o hífen em palavras compostsas por justaposição?
a) Sempre
b) Quando não contêm formas de ligação
c) Apenas em nomes próprios
d) Nunca
e) Quando há acento próprio
Qual prefixo deve ser seguido de hífen quando o segundo elemento começa com "m"?
a) Anti-
b) Co-
c) Circum-
d) Super-
e) Infra-
Em quais casos as consoantes "r" e "s" são dobradas sem o uso do hífen?
a) Quando o prefixo termina em consoante
b) Quando o prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa com "r" ou "s"
c) Quando o prefixo termina em "h"
d) Quando o segundo elemento começa com vogal
e) Nunca
b
c
b