
A morfologia é o ramo da gramática que estuda a estrutura e a formação das palavras. Dentro desse estudo, a vogal temática (VT) emerge como um morfema essencial, atuando como um "elo" que conecta as partes de uma palavra e influencia sua classificação e flexão. Dominar este conceito é crucial não apenas para a compreensão profunda da nossa língua, mas também para o bom desempenho em provas e exames.
Para começar, vamos definir o que é a vogal temática de forma simples e clara.
A vogal temática é um morfema, ou seja, a menor unidade de significado ou função gramatical em uma palavra. Sua função essencial é ligar o radical às desinências formadoras das palavras. Além disso, ela tem o papel de caracterizar nomes e verbos, ajudando a indicar o padrão de conjugação dos verbos.
Imagine a palavra como um "corpo" construído em blocos. O radical é o "coração", a parte da palavra que carrega seu significado básico. Por exemplo, em "ferro", "ferragem" e "ferrugem", o radical é "ferr-". A vogal temática é o "elo" que se junta a esse radical, formando o que chamamos de tema.
Tema é, portanto, a união do radical com a vogal temática. É a "base" da palavra, pronta para receber outras modificações, como as desinências.
Exemplos:
Em "estuda", "estud-" é o radical e "-a" é a vogal temática, formando o tema "estuda-".
No verbo "chorar", "chor-" é o radical e "-a" é a vogal temática.
As vogais temáticas são classificadas em dois grandes grupos, de acordo com a classe gramatical da palavra à qual se ligam: verbais e nominais.
A vogal temática verbal é aquela que se liga ao radical do verbo e é fundamental para determinar a qual das três conjugações verbais o verbo pertence.
Na Língua Portuguesa, temos três vogais temáticas verbais:
-A: Caracteriza os verbos da 1ª conjugação, que são aqueles terminados em -ar.
Exemplos: andar, amar, falar, cantar.
-E: Caracteriza os verbos da 2ª conjugação, que são aqueles terminados em -er.
Exemplos: vender, comer, ter, beber, vencer.
-I: Caracteriza os verbos da 3ª conjugação, que são aqueles terminados em -ir.
Exemplos: sair, partir, dormir, dividir, desistir.
Ponto Importante e Cobrado em Concursos: O Caso do Verbo "PÔR"
É fundamental observar que os verbos terminados em "-or", como "pôr" e seus derivados ("compor", "depor", "expor", "repor"), pertencem à 2ª conjugação, e não à 3ª como a terminação "or" poderia sugerir. Por quê? Porque, historicamente, esses verbos derivam do latim (verbo "poer") e eram grafados com "-er" no português arcaico ("poer"). Com o tempo, o "e" se perdeu, mas a classificação original foi mantida.
A vogal temática nominal é aquela que se liga ao radical dos nomes (substantivos e adjetivos, principalmente).
Na Língua Portuguesa, as vogais temáticas nominais são:
-A: Presente em substantivos terminados em -a.
Exemplos: casa, escola, sala, cola, roupa, telha.
-O: Presente em substantivos terminados em -o.
Exemplos: prato, copo, livro, mato.
-E: Presente em substantivos terminados em -e.
Exemplos: controle, sorte, pote, lacre, balde.
Para uma compreensão aprofundada e para evitar erros comuns em provas, é vital diferenciar a vogal temática de outros elementos mórficos.
Esta é uma das distinções mais importantes e uma fonte frequente de confusão para estudantes.
As desinências são morfemas que indicam as flexões das palavras. Elas podem indicar:
Gênero (masculino/feminino) e número (singular/plural) para nomes (desinências nominais).
Número e pessoa, e modo e tempo para verbos (desinências verbais).
A vogal temática tem a função de ligar o radical às desinências, constituindo o tema. A desinência, por sua vez, vem depois da vogal temática na estrutura da palavra.
DÚVIDA COMUM EXPLICADA: A VT determina o gênero da palavra?
NÃO! A vogal temática NÃO determina gênero. Essa é uma das maiores armadilhas em concursos. É a desinência nominal de gênero que indica masculino ou feminino.
Vamos comparar:
Gato / Gata: O "-o" em "gato" e o "-a" em "gata" são desinências de gênero, pois eles mudam o gênero do radical ("gat-"). Se você mudar de "gato" para "gata", a mudança do "o" para o "a" marca explicitamente a flexão de gênero.
Mesa / Mesas: Em "mesa", o "-a" é a vogal temática nominal. Se colocarmos no plural, "mesas", o "-a" continua sendo a vogal temática e o "-s" é a desinência nominal de número (plural). O "-a" não indica gênero, pois "mesa" é uma palavra de gênero feminino, e não existe "meso" (masculino).
Pente / Pentes: Em "pente", o "-e" é a vogal temática nominal. Ele não indica gênero, pois "pente" é uma palavra de gênero masculino e não existe "penta" (feminino). O "-s" em "pentes" é a desinência nominal de número (plural).
Igreja: Em "igreja", o "-a" é a vogal temática nominal. Não existe "igrejo", então o "-a" não é uma desinência de gênero, mas sim uma VT.
Se a vogal final de um nome pode variar para indicar o gênero (masculino/feminino), ela é uma desinência de gênero. Se ela é fixa e a palavra não tem essa flexão de gênero por meio da vogal, é a vogal temática.
Outra distinção importante é entre a vogal temática e a vogal de ligação (ou consoante de ligação).
A vogal temática possui uma função morfológica clara: ligar o radical às desinências e indicar a classe/conjugação da palavra.
A vogal de ligação (ou consoante de ligação) tem uma função puramente fonética: ela é usada para facilitar a pronúncia de algumas palavras, evitando encontros consonantais ou vocálicos que dificultariam a fala. Não possuem significado morfológico.
Exemplos:
Bananeiro: O "-ei-" em "bananeiro" contém uma vogal de ligação. A palavra original é "banana" + sufixo "-eiro". O "e" é inserido para facilitar a pronúncia.
Gasômetro: A vogal "-o-" em "gasômetro" (gás + metro) é de ligação, pois surge para ligar os dois elementos, tornando a pronúncia mais fluida.
Chaleira: A consoante "-l-" em "chaleira" é de ligação.
Nem toda palavra na Língua Portuguesa apresenta uma vogal temática. Quando isso ocorre, dizemos que a palavra é atemática.
Os casos mais comuns de palavras atemáticas são:
Palavras terminadas em vogais tônicas: Nomes que terminam em vogais que carregam o acento tônico não possuem vogal temática.
Exemplos: café, cipó, vatapá, sofá, picolé, cajá.
Verbos em certas flexões: Alguns tempos e modos verbais podem ser atemáticos. O exemplo mais notável é o Presente do Subjuntivo.
Exemplos: cante (do verbo "cantar"), venda (do verbo "vender"), parta (do verbo "partir"). Aqui, as vogais "-e", "-a", "-a" são consideradas partes da desinência modo-temporal ou resultado de processos morfofonológicos, e não vogais temáticas no sentido de ligar o radical para formar o tema base.
Nomes terminados em consoante ou ditongo:
Exemplos: jovem, pincel, pai, museu. Nestes casos, a vogal que precede a consoante final ou o ditongo é parte do radical, ou a própria consoante/ditongo encerra o radical, sem uma vogal temática clara.
Identificar a vogal temática pode ser mais fácil seguindo alguns passos:
Encontre o Radical da Palavra: O radical é a parte invariável que se repete nas palavras da mesma família e carrega o significado essencial. Lembre-se de desconsiderar prefixos (se houver).
Exemplo: Na palavra "cantávamos", o radical é "cant-".
Verifique se Há Desinências: Observe se há um pedaço no final da palavra que indique flexão (número, gênero, pessoa, tempo, modo).
Exemplo: Em "cantávamos", "-va-" é a desinência modo-temporal e "-mos" é a desinência número-pessoal.
Marque a Vogal entre o Radical e as Desinências (ou no final do radical, se não houver desinência): A vogal que se encontra logo após o radical e antes das desinências é a vogal temática. Se não houver desinências, mas a palavra for temática, a vogal que se liga ao radical para formar o tema será a VT.
Exemplo: Em "cantávamos", o "-á-" é a vogal temática, ligando o radical "cant-" às desinências "-va-" e "-mos". Em "escolas", "-a-" é a vogal temática e "-s" é a desinência.
Para os estudantes mais avançados e para aqueles que buscam excelência em concursos de alto nível, é importante conhecer as discussões acadêmicas sobre a vogal temática, especialmente em relação à sua distribuição subjacente e ao comportamento particular da vogal "/e/" nominal.
Estudos recentes em morfologia do português, como os referenciados nas fontes, indicam que a vogal temática não é apenas um elemento adicionado na superfície da palavra, mas sim que ela integra as formas armazenadas no léxico profundo da língua. Isso significa que a VT já está presente na "entrada lexical" (o que a palavra é antes de ser flexionada ou derivada).
Essa perspectiva apoia o conceito de "derivação com base no tema" (stem-driven derivation). Ou seja, quando uma nova palavra é formada a partir de outra (processo de derivação), a base para essa formação é o tema (radical + vogal temática), e não apenas o radical puro.
Por que a derivação com base no tema é mais aceita?
Diversos critérios e fenômenos da língua portuguesa oferecem evidências a favor dessa visão:
Critério Morfofonológico:
Metafonia Nominal: Fenômenos como a metafonia (alternância vocálica na raiz) em palavras como "porco" (masculino, vogal fechada) e "porca" (feminino, vogal aberta) demonstram que a mudança ocorre em nível de palavra, e o "gatilho" (a vogal temática labial final) está na borda da palavra. Como palavras derivadas nesse nível ("word-level") não podem ter base na raiz, a base deve ser o tema ("stem-based").
Alternância da Vogal da Raiz: Casos como "bElo" (vogal média aberta) para "beldade" (vogal média fechada) ou "lOja" para "lojista" mostram que a qualidade da vogal da raiz é afetada pelo acento. Raízes por si só não têm acento; o tema, sim. Portanto, a derivação precisa ter o tema como base.
Critério Morfológico:
Herança de Gênero em Derivados: Sufixos diminutivos, por exemplo, como "-inho/-inha" (o livro > o livrinho; a casa > a casinha) herdam o gênero da base. Isso exige que a derivação seja "stem-based", ou seja, que a vogal temática envolvida com o gênero já esteja presente na base da derivação (o tema).
Preservação da VT em Derivados: Em alguns casos, a vogal final da base (que é a VT) é preservada no interior de palavras derivadas, mesmo que não funcione mais como VT ali.
Exemplos: "afeto" (VT -o) > "afetuoso" (o "u" é a preservação da VT "o"). Outros exemplos incluem "feijão" > "feijoada", "ladrão" > "ladroagem". Isso indica que a VT estava na base original da derivação.
Critério Semântico:
Diferenciação Semântica pela VT: Existem pares de palavras que compartilham o mesmo radical, mas têm diferentes vogais temáticas e, consequentemente, significados distintos, embora relacionados. Essa especificidade de significado com base apenas na VT demonstra que a VT não é um mero elemento de ligação, mas parte integrante do significado lexical do tema.
Pingo (VT -o) vs. Pinga (VT -a): "Pingo" refere-se a uma pequena porção de líquido (gota), enquanto "pinga" se refere a uma porção de bebida alcoólica.
Saco (VT -o) vs. Saca (VT -a): "Saco" é um receptáculo oblongo, enquanto "saca" é um saco grande ou maleta.
Fruto (VT -o) vs. Fruta (VT -a): "Fruto" pode significar consequência, proveito, filho; "fruta" refere-se ao fruto comestível. Esses exemplos mostram que a VT atribui especificidade formal e semântica aos itens lexicais, o que só faz sentido se ela estiver na base da derivação (o tema).
Em suma, a visão de que o tema (radical + VT) está armazenado no léxico profundo e serve como base para a derivação é fortemente suportada por esses fenômenos da gramática do português.
Embora as vogais "-A", "-O" e "-E" sejam tradicionalmente listadas como vogais temáticas nominais, a linguística moderna reconhece um comportamento singular da vogal "-E" em comparação com as vogais "-A" e "-O".
"A" e "O": As VTs Genuínas:
As vogais "-A" e "-O" são consideradas as "genuínas" ou "legítimas" vogais temáticas nominais.
Elas estão naturalmente no "input" (a forma subjacente) da maioria das palavras do português.
Além disso, elas compactuam com o gênero gramatical das palavras, embora nem sempre de forma previsível ("a tribo", "o cometa"), com "o" predominando em nomes masculinos e "a" em femininos.
O Comportamento Duplo da Vogal "-E": VT e Vogal Epentética:
A vogal "-E" pode cumprir o papel de vogal temática em um número restrito de palavras, onde a raiz termina em uma consoante que é "licenciada" pela fonologia (ou seja, a consoante poderia existir sozinha no final da palavra sem o "e").
Exemplos: mole, vale, pele. O número de palavras nestes casos é significativamente pequeno.
No entanto, majoritariamente, a vogal "-E" atua como uma "vogal epentética". Uma vogal epentética é aquela que é inserida para "salvar" uma estrutura fonológica que, de outra forma, seria "malformada" ou difícil de pronunciar na língua.
Legitimadora de Empréstimos: O "-E" é frequentemente adicionado a palavras de outras línguas (empréstimos) quando a sequência final do radical não é comum ou permitida no português.
Exemplos: club > clube, beef > bife, box > boxe, chief > chefe.
Apoio ao Morfema de Plural: Ajuda na formação do plural de palavras que terminam em consoante, permitindo a adição do "-s".
Exemplo: mar > mares.
Preenchimento de Vazio de VT na Superfície: Muitas vezes, o "-E" apenas ocupa, na estrutura de superfície, o espaço que a morfologia do português destina a uma vogal temática, mesmo que subjacente não seja uma VT "genuína".
Evidências da Instabilidade do "/E/" Nominal:
Alternâncias com ∅ (zero) ou Outras VTs: O "-E" final átono apresenta instabilidade, podendo alternar com a ausência de vogal (∅) ou mesmo com as vogais "-A" e "-O".
Exemplos: caractere ~ caráter; mole ~ mol; gole ~ golo; biopse ~ biópsia; clone ~ clono.
Não Atua como Gatilho de Metafonia: Diferente do "-O" e "-A" (que disparam a metafonia), o "-E" não provoca esse fenômeno, reforçando sua diferença de comportamento.
Evidências da Aquisição da Linguagem: Crianças brasileiras em fase de aquisição da linguagem tendem a atribuir as vogais "-O" e "-A" a nomes atemáticos ou a formas onde o "-E" seria esperado, sugerindo que "O" e "A" são as VTs "reais" na percepção da língua.
Portanto, enquanto o "-A" e o "-O" são integrados ao "input" da maioria das palavras e carregam o gênero gramatical, o "-E" é VT em poucos casos e, majoritariamente, é uma vogal de preenchimento ou epentética na superfície, sem correlação com o gênero.
A vogal temática é um pilar da morfologia da Língua Portuguesa. Compreender sua definição, classificação e, principalmente, as distinções em relação às desinências e vogais de ligação é fundamental para qualquer estudante ou candidato a concursos públicos.
Para ter sucesso em provas, priorize os seguintes pontos:
Dominar o conceito de Vogal Temática, Radical e Tema: Entender como eles se relacionam é o ponto de partida.
Identificar as VTs Verbais e Nominais: Memorizar as vogais de cada tipo e suas respectivas conjugações/classificações.
ATENÇÃO REDOBRADA às Distinções:
Vogal Temática NÃO indica gênero (distinguir de desinência de gênero como em "gato/gata"). Este é um erro clássico em provas.
Vogal Temática possui função morfológica; Vogal de Ligação NÃO (distinguir de "chaleira", "gasômetro").
Conhecer as Formas Atemáticas: Saber quando a vogal temática está ausente (palavras com vogal tônica final, certos verbos).
Para Questões de Alto Nível (Aprofundamento): Esteja ciente das discussões sobre a derivação com base no tema e o comportamento multifuncional do "-E" nominal (VT em poucos casos, epentética na maioria). Essas informações podem aparecer em questões mais elaboradas que exigem um conhecimento mais aprofundado da morfofonologia do português.
Pratique com exercícios e analise a estrutura das palavras no seu dia a dia. A estrutura das palavras é um campo vasto e fascinante, e a vogal temática é uma chave essencial para desvendar seus segredos.
Qual é a função da vogal temática na formação das palavras?
A) Indicar o gênero das palavras
B) Unir o radical às desinências para formar o tema
C) Determinar o número das palavras
D) Definir a classe gramatical das palavras
E) Acrescentar significado ao radical
Como são classificadas as vogais temáticas verbais de acordo com as conjugações verbais?
A) Vogal "a" para 1ª conjugação, vogal "e" para 2ª conjugação, vogal "i" para 3ª conjugação
B) Vogal "e" para 1ª conjugação, vogal "i" para 2ª conjugação, vogal "a" para 3ª conjugação
C) Vogal "i" para 1ª conjugação, vogal "a" para 2ª conjugação, vogal "e" para 3ª conjugação
D) Vogal "o" para 1ª conjugação, vogal "a" para 2ª conjugação, vogal "e" para 3ª conjugação
E) Vogal "u" para 1ª conjugação, vogal "o" para 2ª conjugação, vogal "e" para 3ª conjugação
Qual é a função da vogal de ligação na formação das palavras?
A) Indicar o gênero das palavras
B) Auxiliar na pronúncia das palavras
C) Determinar o número das palavras
D) Definir a classe gramatical das palavras
E) Acrescentar significado ao radical
B) Unir o radical às desinências para formar o tema
A) Vogal "a" para 1ª conjugação, vogal "e" para 2ª conjugação, vogal "i" para 3ª conjugação
B) Auxiliar na pronúncia das palavras