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27/09/2025 • 13 min de leitura
Atualizado em 27/09/2025

A Prosa Romântica Urbana

Prosa Romântica Urbana: Características, Obras e Análise de José de Alencar

A Literatura Brasileira e o Desejo de Identidade Nacional

A Prosa Romântica Urbana, surgida no Brasil no século XIX, é um gênero fundamental para a literatura nacional. Ela nasce no contexto do Romantismo Brasileiro, movimento que buscou, acima de tudo, construir uma identidade nacional após a Independência política em 1822.

Antes da chegada do Romantismo, as manifestações literárias em prosa eram poucas e inexpressivas no país, sendo a poesia, surgida no Barroco e que atravessou o Neoclassicismo, o gênero dominante. É, portanto, no Romantismo que o romance brasileiro nasce.

O grande projeto da Prosa Romântica Urbana era retratar a sociedade e os costumes da época, com foco especial na capital do Império, o Rio de Janeiro.


1: Contextualização Básica e Pioneirismo

1.1. O que é o Romance Urbano?

O Romance Urbano é uma narrativa longa cuja principal característica é ter a cidade como espaço central da ação. Ele é um dos quatro tipos de romances desenvolvidos por José de Alencar, ao lado dos romances indianistas, regionalistas e históricos.

Dúvida Comum / Termo Sinônimo: O Romance Urbano é também amplamente conhecido como Romance de Costumes.

1.2. Contexto Histórico: O Segundo Reinado (1840-1889)

A produção da Prosa Romântica Urbana ocorre durante o período do Segundo Reinado. Este momento é marcado por transformações sociais significativas, incluindo o início de um processo de urbanização, seguindo modelos europeus, e a ascensão de uma nova mentalidade: a burguesia. O Rio de Janeiro, sendo a capital do Império português, tornava-se o centro dessa nova dinâmica social e, consequentemente, o principal palco das narrativas românticas.

1.3. Os Primeiros "Abridores de Caminhos"

O nascimento do romance brasileiro é atribuído a dois autores, ambos de 1844:

  1. Teixeira e Souza: Com O filho do pescador (1844).

  2. Joaquim Manuel de Macedo: Com A Moreninha (1844).

Antonio Candido destacou que Joaquim Manuel de Macedo foi um "abridor de caminhos", pois conferiu prestígio e posição social ao gênero romance na época. Embora A Moreninha seja considerada a primeira obra do gênero, Macedo não resiste a uma análise crítica mais rigorosa, mas sua importância para estimular jovens escritores é inegável.


2: O Veículo e as Características Essenciais do Gênero

2.1. O Fenômeno do Folhetim

A popularização da Prosa Romântica Urbana está intrinsecamente ligada ao folhetim.

  • O que é: O folhetim (feuilleton) é uma narrativa literária seriada (prosa de ficção ou romance) publicada em capítulos em periódicos (jornais e revistas).

  • Onde se Publicava: No século XIX, era publicado, muitas vezes, no rodapé da primeira página do jornal, sendo sua maior atração.

  • A Estrutura do Suspense: O folhetim é caracterizado pela peripécia e pelo uso de ganchos (final de capítulo em momento crítico de suspense), técnica que incentivava o leitor a comprar o jornal do dia seguinte para saber o desfecho. Essa estratégia é hoje observada nas telenovelas.

  • O Público: O público cativo dos folhetins era majoritariamente feminino, composto por moças da burguesia e da elite que tinham tempo ocioso. Para esse público, os folhetins moldavam o imaginário sobre o amor e a vida conjugal.

  • Uso Comercial: O folhetim foi fundamental para o aumento da venda dos jornais, servindo como veículo de entretenimento e disseminação de cultura de massa.

2.2. O Romance de Costumes: Características Primárias

O Romance Urbano do Romantismo Brasileiro, em sua essência, apresentava:

Característica

Detalhamento

Temática Central

O amor como força de salvação e motor da ação, frequentemente idealizado.

Melodrama

Aspecto dramático acentuado (lágrimas, sofrimento, emoção intensa) e enredo simples e estereotipado.

Moralidade

Ênfase na divulgação de valores morais e virtudes. Obras buscavam edificar e instruir o leitor.

Final Feliz

Prevalência do final feliz (geralmente o casamento por amor) como recompensa da virtude.

Crítica Social Velada

Embora focado no amor, expõe costumes da elite burguesa carioca e faz críticas pontuais.


3: José de Alencar — A Consolidação do Gênero

É José de Alencar (1829-1877) quem, por consenso unânime dos críticos, firma o romance brasileiro como gênero literário de valor. Por isso, ele é considerado o pai do romance brasileiro.

3.1. Alencar Cronista, Político e Observador Social

Alencar não foi apenas um romancista; ele também foi dramaturgo, cronista, jornalista e político. Sua experiência como cronista (em Ao correr da pena, no Diário do Rio de Janeiro) foi vital, pois o transformou em um "arguto observador da sociedade fluminense". Essa observação detalhada da vida urbana forneceu a matéria-prima para a crítica social que seria aprimorada em seus romances.

3.2. As Fases da Prosa Alencarina

Alencar tinha um projeto literário consciente e ambicioso, buscando abarcar os diversos aspectos do Brasil no tempo e no espaço. Ele sistematizou o que chamou de período orgânico da nossa literatura em três fases:

  1. Fase Primitiva/Aborígene: Lendas e mitos da terra selvagem e conquistada. Exemplo: Iracema.

  2. Fase Histórica: Representa o consórcio do povo invasor com a terra americana. Exemplo: O Guarani.

  3. Fase da Independência/Infância da Literatura (Romance Urbano): Apresenta o mais característico da vida da nação e costumes urbanos, marcando o início da literatura brasileira independente. Exemplo: Senhora, Lucíola.

3.3. Obras Urbanas Mais Relevantes de José de Alencar

Obra

Ano de Publicação

Foco Temático

Cinco Minutos

1856

Amor idealizado, narrador burguês sem conflito financeiro.

A Viuvinha

1857

Pequena novela, publicada originalmente como folhetim.

Lucíola

1862

Regeneração moral da prostituta; dualidade anjo-demônio.

Diva

1864

Transformação de uma protagonista mimada/orgulhosa pelo amor.

A Pata da Gazela

1870

Crítica ao materialismo; paixão extravagante (fetichismo do pé).

Sonhos de Ouro

1872

Crítica social através da galeria de tipos da sociedade fluminense.

Senhora

1875

Crítica veemente ao dote e ao casamento por interesse; poder feminino.

Encarnação

1877

Distúrbios da alma humana; amor de um viúvo pela falecida (tema da segunda esposa).


4: A Prosa Urbana em Detalhes: Análise de Casos Fundamentais

As obras urbanas de Alencar são notórias por sua intensa crítica ao poder corruptor do dinheiro e por dar protagonismo à figura feminina.

4.1. Senhora (1875): A Revolução do Dote

Senhora é um romance crucial por sua estrutura e tema. Ele ataca diretamente uma instituição social de longa data: o dote, o dinheiro dado à família do noivo pela família da nubente antes do casamento.

A Inversão de Papéis e a Crítica ao Dinheiro

No centro do enredo está Aurélia Camargo, que, após herdar uma fortuna de mil contos de réis, decide se vingar de Fernando Seixas, o homem que a desprezara quando era pobre por buscar uma moça com dote.

O romance é uma análise do utilitarismo mercantilista que corrompia as relações pessoais. A intencionalidade do autor em questionar o dote é evidente, inclusive na estrutura da obra.

Estrutura: A Transação Comercial

As quatro partes do romance espelham diretamente transações comerciais, reforçando a crítica de que o casamento era uma "empresa nupcial":

  1. Primeira Parte — O preço: Aurélia, agora rica e senhora, usa seu talento para a matemática para orquestrar um plano: oferecer um dote de cem contos de réis para que Fernando se case com uma moça bela e desconhecida (que é ela mesma). Ele aceita, pressionado por dívidas.

  2. Segunda Parte — Quitação: O narrador faz um retrospecto temporal, contando a história de Aurélia (a pobreza, o desprezo de Seixas) e o momento em que ela recebe a herança do avô, tornando-se rica.

  3. Terceira Parte — Posse: Ocorre o casamento, mas Aurélia passa a humilhar Fernando, tratando-o como sua propriedade ou escravo ("traste indispensável às mulheres honestas"). Ele é exibido socialmente como marido, mas em particular, ela o reitera impiedosamente sua condição.

  4. Quarta Parte — Resgate: Após meses de sofrimento, Fernando trabalha honestamente para juntar o valor, devolve o dote (corrigido com juros) e resgata sua honra e liberdade. A regeneração de Fernando e o amor verdadeiro se concretizam.

O Protagonismo Feminino: Uma Exceção na Literatura Brasileira

Aurélia Camargo é frequentemente citada como uma figura inovadora e de exceção:

  • Insubmissão: Alencar, com Senhora, reverteu o estereótipo da mulher frágil e submissa. Aurélia é dona de si e regente dos destinos.

  • Crítica Feminista (do ponto de vista da época): Alencar defendeu o sentimento contra os interesses materiais e, ao condenar o casamento por conveniência, atuou como um feminista, dadas as limitações da época. As heroínas de Alencar são as precursoras da emancipação feminina ao lutarem contra o casamento arranjado.

  • Linguagem: Aurélia usa de ironia ao falar sobre seu "estilo de ouro" (o dinheiro), zombando do sistema social em que "ter importa mais que ser".

4.2. Lucíola (1862): Pureza e Prostituição

Lucíola trata de um tema tabu para a sociedade do século XIX: a prostituição. A obra é uma defesa disfarçada da regeneração da prostituta, vista como vítima da sociedade.

A Dualidade da Personagem (Alto Valor Didático)

A protagonista, Lúcia, é construída sob uma forte dualidade, que se reflete inclusive em seus nomes:

  • Lúcia (Cortesã): Representa o vício, o luxo e a sensualidade. O nome Lucíola significa "lampiro noturno que brilha de uma luz tão viva no seio da treva". O narrador, Paulo, inicialmente só a vê como cortesã.

  • Maria da Glória (Mulher Pura): Seu nome de batismo, que ela resgata ao se regenerar, representa a pureza de alma, a santidade e o desejo de vida familiar.

A narrativa é, essencialmente, a busca por essa mulher pura, que estava "soterrada sob a cortesã infrene". Lúcia confessa a Paulo que só se tornou cortesã por necessidades financeiras urgentes, para ajudar a família doente.

A Morte Expiatória (Exceção e Dúvida Comum)

Apesar da regeneração moral ser motivada pelo amor de Paulo, Alencar, obediente às convenções e moralismos da época, não permite o final feliz completo. Lúcia (Maria da Glória) morre no final do romance, no que é chamado de morte expiatória. Essa punição era necessária para que o romance não fosse considerado imoral por tratar do tema da mulher perdida.

Exceção de Foco Narrativo

Diferente de Senhora, que usa o narrador onisciente em terceira pessoa, Lucíola utiliza o foco narrativo em primeira pessoa (Paulo, o protagonista, narra a história em forma de cartas para uma senhora, G.M.). Este artifício de narração servia também para Alencar se afastar da crítica e da censura sobre o tema polêmico.


5: Crítica e Legado — A Prosa Urbana e a Transição Literária

5.1. A Importância da Mulher na Prosa Urbana

A preferência de Alencar pelo "sexo frágil" se manifesta na ênfase dada às personagens femininas e na defesa de seus interesses.

A mulher romântica urbana:

  • Idealizada vs. Real: Ela era moldada pelo registro masculino (fragilidade, doçura) e, muitas vezes, limitada ao ambiente doméstico ou a sociabilizações vigiadas. As jovens esperavam marido enquanto aprendiam "prendas" (piano, canto, francês), que eram vistas como instrumentos para agradar o futuro marido e garantir um bom partido.

  • Revolução em Alencar: As protagonistas de Alencar (Aurélia, Lúcia) se desviam desse padrão. Aurélia demonstra habilidade em matemática (saber masculino) e questiona a sociedade. Lúcia, como cortesã, alcança uma independência financeira que não era comum para mulheres de família. As heroínas lutam contra as convenções e a dominação patriarcal do casamento por interesse.

5.2. A Influência Estrangeira: Balzac

O Romance Urbano de Alencar, por vezes, era chamado de "a Comédia Humana de Alencar", em referência ao autor francês Honoré de Balzac. Alencar teve contato com a obra balzaquiana (assim como Dumas Filho, autor de A Dama das Camélias, obra que influenciou Lucíola).

Ponto de Contato (Balzac e Alencar)

Descrição

Romance de Costumes

O espaço físico e social (a cidade) é um elemento vital para motivar a ação e descrever o caráter das personagens.

Caracterização

Uso da técnica de correlação entre os traços fisionômicos (o corpo) e o caráter (a alma) dos personagens (ex: olhos negros/paixão; olhos azuis/pureza).

Tempo Narrativo

Uso frequente de retrocessos temporais para explicar o passado das personagens e o encadeamento dos acontecimentos, conferindo um "tom fortemente histórico" à narrativa.

Apesar da forte influência, Alencar diferia em um ponto crucial: Alencar era mais ingênuo e menos trágico que Balzac, pois acreditava na possibilidade do homem ser feliz e no triunfo final do sentimento amoroso sobre as paixões destrutivas.

5.3. Exceção e Ponto de Transição: A Prosa Urbana e Machado de Assis

O Romantismo de Alencar é uma fase de transição importante para o Realismo. Machado de Assis (nosso maior escritor) se valeu das conquistas alencarinas, como a análise sociológica da vida urbana e as sugestões psicológicas.

Entretanto, as obras de Alencar (como Senhora) ainda demonstravam uma visão de mundo ordenada, com contraste marcante entre o bem e o mal (maniqueísmo).

  • A Ruptura (Exceção de Estilo): O Realismo que se iniciaria com a segunda fase de Machado de Assis (Memórias Póstumas de Brás Cubas, 1881) faria uma crítica à sociedade mais profunda, utilizando a ironia e o ceticismo para desmascarar a hipocrisia das elites. O foco narrativo de Machado, o "defunto-autor", romperia com as amarras sociais e a idealização romântica, narrando sem preocupação jurídica. Machado se aprofunda no intimismo e nos "segredos da alma humana".

Dessa forma, enquanto Alencar era um "moralista intransigente" que atacava a força dissolvente do dinheiro, Machado de Assis, posteriormente, utilizaria a ironia como tática de ação para combater as "verdades absolutas" das elites.


Perguntas e Dúvidas Frequentes

Q1: Qual a importância do dinheiro no Romance Urbano Romântico?

O dinheiro é a mola da ação romanesca. Ele é o principal motor dos conflitos e das articulações amorosas. O Romance Urbano critica veementemente o casamento por conveniência (por interesse financeiro) em detrimento do casamento por amor. Em Senhora, isso é maximizado pelo questionamento da prática do dote, onde o dinheiro dita os amores.

Q2: O que é o tema da "regeneração" e quais obras o abordam?

A regeneração é um tema romântico que trata da transformação moral de um personagem, geralmente motivada pelo amor.

  • Em Lucíola, é a regeneração moral de Lúcia (prostituta) em Maria da Glória.

  • Em Senhora, é a regeneração de Fernando Seixas, que abandona sua ambição e recupera sua honra.

  • Em Diva, é a transformação de Emília, que abandona o orgulho e se torna amorosa.

Q3: Qual é a principal crítica social presente na Prosa Romântica Urbana de Alencar?

A principal crítica é dirigida à sociedade fluminense por seu materialismo, que corrompe as relações humanas e sociais. Alencar condena o utilitarismo mercantilista, a hipocrisia e a artificialidade da elite que copiava modelos europeus.

Q4: Por que José de Alencar é considerado o "pai do romance brasileiro"?

Alencar é o "pai do romance brasileiro" porque consolidou o gênero como de valor literário no país, ultrapassando os precursores. Ele utilizou a análise sociológica da vida urbana, inseriu sugestões psicológicas e, sobretudo, desenvolveu um vasto projeto literário focado em construir uma identidade nacional, abrangendo o Brasil em suas diferentes paisagens (urbana, indianista, regionalista).

Q5: O que a crítica mais recente diz sobre Senhora?

Críticos contemporâneos, como Antonio Dimas, apontam que Senhora é um marco por reverter o estereótipo da mulher submissa, abrindo caminho para a emergência de figuras femininas determinadas na literatura posterior (como Capitu ou Gabriela). O romance, ao abordar o hibridismo social brasileiro, sugere que há um imbricamento entre a realidade e a formalização do enredo, antecipando lógicas observadas apenas em ficções posteriores.