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23/09/2025 • 13 min de leitura
Atualizado em 23/09/2025

Análise de "São Bernardo" (Graciliano Ramos)

Análise Completa de "São Bernardo" (Graciliano Ramos)

1. Contextualização Histórica, Ficha Técnica e Geração de 30

"São Bernardo" é um romance fundamental do escritor alagoano Graciliano Ramos, publicado em 1934.

1.1 O Contexto do Modernismo (Segunda Fase)

A obra é um dos maiores representantes da segunda fase do Modernismo brasileiro (ou Geração de 30), um período marcado por um forte caráter regionalista. Nesses anos conturbados (décadas de 1930 e 1940), com crises econômicas e políticas globais, os artistas se voltaram intensamente para as temáticas sociais. No Brasil, isso se manifestou na literatura pela denúncia dos problemas do Nordeste, como a seca, a miséria e a ignorância.

Entretanto, embora o sertão e as relações semi-feudais da fazenda sirvam de pano de fundo, Graciliano Ramos transcende o mero regionalismo ao adicionar uma densa carga psicológica e uma profunda crítica ao capitalismo.

1.2 Ficha Técnica Básica

  • Autor: Graciliano Ramos.

  • Obra: São Bernardo (1934).

  • Gênero: Romance Social e Psicológico.

  • Narrador: Narrador-personagem (Paulo Honório).

  • Tema Central: Ascensão e decadência de Paulo Honório, o sentimento de propriedade, e a perda da humanidade.


2. O Estilo, a Linguagem e a Metalinguagem

O estilo de Graciliano Ramos é uma das características mais cobradas em provas e essencial para entender a obra.

2.1 A Linguagem Seca e Objetiva (O Estilo "Graciliano")

O estilo do autor é descrito como sóbrio, muitas vezes rude. Graciliano Ramos buscava a precisão e a capacidade de transmitir sensações com o mínimo de metáforas.

Ele próprio comparou seu processo de escrita ao trabalho das lavadeiras de Alagoas, que torcem a roupa até não pingar uma só gota; para ele, a palavra não foi feita para enfeitar, mas sim para dizer.

A linguagem de "São Bernardo" é concisa, seca e objetiva, sem rodeios. Ele eliminava tudo o que não era essencial, como descrições paisagísticas excessivas ou a eloquência tendenciosa. Essa sobriedade é fiel à personalidade rude e seca de Paulo Honório.

2.2 A Metalinguagem e o Processo de Escrita (Conteúdo Chave)

O romance é um dos maiores exemplos da função metalinguística na literatura. Isso ocorre porque o narrador-personagem, Paulo Honório, expõe o próprio ato de escrever e o processo de produção do livro.

Dúvida Comum: Por que Paulo Honório decide escrever o livro? Paulo Honório decide narrar sua história como uma forma de expurgar a solidão e a tristeza após a morte de Madalena, buscando dar um sentido para sua vida e narrar sua própria derrota. Após dois anos da morte de Madalena, e com a casa quase deserta, a vida se tornou insuportável, e ele sentiu a necessidade de escrever.

O Fracasso da "Divisão do Trabalho"

No início da escrita, Paulo Honório, que se confessa um homem de "poucas letras" e sem instrução para escrever um romance, imaginou construir o livro pela divisão do trabalho:

  1. Padre Silvestre: ficaria com a parte moral e as citações latinas.

  2. João Nogueira: aceitou a ortografia e a sintaxe.

  3. Arquimedes: ficaria com a composição tipográfica.

  4. Lúcio Gomes de Azevedo Gondim: convidado para a composição literária.

  5. Paulo Honório: traçaria o plano, introduziria rudimentos de agricultura e pecuária, faria as despesas e poria o seu nome na capa.

Exceção e Dúvida Comum: O resultado desse projeto foi um "desastre". Paulo Honório não aceitou escrever na "língua de Camões" (linguagem rebuscada) e decidiu seguir sozinho, à sua própria maneira, de forma rústica, para tratar de uma "alma agreste". Esse fracasso denuncia a falta de comunicação e a inabilidade dos envolvidos, insinuando o fracasso do princípio positivista de que "cada um faz a sua parte".


3. Estrutura Narrativa: Tempo, Foco e Complexidade Psicológica

A estrutura da narrativa em primeira pessoa é complexa, sustentando a densa carga psicológica do protagonista, o que a torna um tópico avançado e frequente em exames.

3.1 O Foco Narrativo do Opressor

Ao contrário de outras obras regionalistas de Graciliano (como Vidas Secas, narrada do ponto de vista do oprimido), "São Bernardo" é narrado do ponto de vista do opressor: Paulo Honório.

O narrador-personagem conta a história de sua própria vida, desde a ascensão financeira até a decadência humana. O leitor é convidado a entrar na mente do protagonista, mas sob o risco de ter a visão do mundo manipulada pelo narrador.

3.2 A Dualidade Temporal (Tempo do Enunciado vs. Tempo da Enunciação)

O romance se desenvolve em dois planos temporais distintos, que são essenciais para a compreensão da fragmentação psicológica de Paulo Honório:

  1. Tempo do Enunciado (Passado/Pretérito): Refere-se à história narrada, ou seja, a trajetória de Paulo Honório, sua vida de ambição, a conquista de São Bernardo e o casamento com Madalena.

    • Função: Mostrar as ações e o caminho que o levou à prosperidade e, subsequentemente, à solidão.

  2. Tempo da Enunciação (Presente): É o momento da escrita, quando Paulo Honório está, dois anos após a morte de Madalena, na fazenda decadente, refletindo sobre o que aconteceu.

    • Função: Revelar a derrocada moral e material, a solidão, a culpa. Ele se debruça sobre seu passado para tentar entender a si mesmo e o mundo.

Essa constante transição entre passado e presente cria um efeito estético de distanciamento, expondo o caráter objetivo e racional (e depois fragmentado) do protagonista.

3.3 A Questão da Inverossimilhança (Exceção Comum em Provas)

Dúvida Comum: Como um homem rústico, que se diz ignorante, pode escrever um texto tão bem elaborado? Críticos frequentemente apontam uma aparente inverossimilhança de Paulo Honório como narrador, dado o contraste entre o texto sofisticado e seu "imaginário escritor" inculto.

A inverossimilhança, no entanto, é propositalmente empregada por Graciliano Ramos. Ela confere à obra um estatuto de ilusão de realidade/verdade. A linguagem, apesar de não ser tosca, é seca e objetiva, refletindo a personalidade de Paulo Honório. Além disso, o narrador, no ato de escrever, está em um momento de reflexão e autocrítica, o que naturalmente eleva a qualidade de sua expressão, ainda que ele mantenha a "linguagem de caboclo nordestino". O objetivo não é a fidelidade documental, mas sim a significação humana e o valor literário.


4. Análise do Protagonista: Paulo Honório – A Alma Agreste do Capital

Paulo Honório é o eixo central do romance, uma figura complexa que encarna as contradições do Brasil na fronteira entre o arcaico e o moderno.

4.1 De Anti-Herói a Capitalista Brutal

A trajetória de Paulo Honório é a de um homem que, de "guia de cego, vendedor de doce e trabalhador alugado", ascende a grande fazendeiro. Ele não mediu esforços para possuir a fazenda São Bernardo, sendo caracterizado como ambicioso e cruel. Ele aprendeu que só se respeita quem é poderoso, o que justifica sua ganância em enriquecer e mandar.

Ele é frequentemente classificado como um anti-herói, um sujeito "problematizado" que resiste às determinações da sociedade.

Contradição e Dualidade:

  • Ele atravessa a transição do indivíduo tradicional (feudal, preso às raízes rurais) para o moderno (capitalista, burguês empreendedor).

  • Essa modernização é conservadora: ele traz o progresso técnico-científico para a zona rural, mas suas relações de trabalho são arcaicas, agindo como um senhor de escravizados. Ele usa a violência e chicoteia funcionários.

4.2 O Sentimento de Propriedade e a Reificação (Tópico Essencial)

O cerne da personalidade de Paulo Honório é o sentimento de propriedade. Este sentimento o transcende e é a força em função da qual ele vive.

A lógica que rege sua conduta é o utilitarismo: "Fiz coisas boas que me trouxeram prejuízo; fiz coisas ruins que deram lucro". Para ele, o mundo é uma enorme coleção de mercadorias.

Este conceito é a reificação, onde as relações sociais perdem seu caráter humano para se transformarem em simples relações quantitativas ou em propriedade das coisas.

  • Tudo é capital: Ele vê a construção da capela e da escola visando a interesses e como um "capital".

  • Pessoas como mercadoria: Ele avalia pessoas em termos de "valor de troca", tratando até mesmo a Margarida, que o criou, como um pacote.

  • O Casamento como Negócio: Ele se casou unicamente para "preparar um herdeiro para as terras de São Bernardo". Ele via a escolha da esposa pela ótica da zootecnia, comparando a procriação de filhos à de animais.

4.3 A Decadência e a Perda da Humanidade

O sucesso de Paulo Honório na conquista material é o que, ironicamente, o leva à destruição moral.

No tempo da enunciação, ele se vê "arrasado" e "aleijado", reconhecendo que a "profissão" (a vida de proprietário) lhe deu qualidades ruins, inutilizando-o. A decadência material e a fragmentação psicológica são evidentes.

Ele tenta culpar o ambiente ("culpa foi desta vida agreste, que me deu uma alma agreste"), mas no fundo, seu relato é uma confissão de sua solidão e de que "consumir-se uma pessoa a vida inteira sem saber para quê!".


5. Madalena: Feminino, Resistência e o Fio Condutor da Tragédia

Madalena é a personagem chave que instaura o desequilíbrio na narrativa e catalisa a crise de Paulo Honório. Ela representa a oposição direta aos valores reificados do protagonista.

5.1 O Conflito de Ideologias: Ser vs. Ter

Madalena, uma professora, possui um espírito humanista e está na esfera do "ser", preocupada com a dignidade humana, em contraste direto com o foco de Paulo Honório no "ter".

Ela se recusa a admitir os comportamentos brutais do marido. Seus atos eram de partilha e buscavam a ruptura com o individualismo. Ela questionava o salário dos funcionários e as atrocidades cometidas em nome do dinheiro.

Madalena é a heroína que encarna a subversão e a irrupção da ordem incorporada pelo marido. Ela se confronta com o protagonista em uma luta que extrapola as relações de gênero, abrangendo posicionamentos políticos e ideológicos.

Dúvida Comum/Conteúdo Avançado: O ciúme de Paulo Honório por Madalena é, na verdade, uma expressão da patogênese do sentimento de propriedade. O que o torna furioso não é apenas a suspeita de infidelidade amorosa, mas sim o fato de Madalena ser uma inimiga de classe, afeita a ideias comunistas (reformas sociais, materialismo) que confrontavam seu direito de posse. Ele via a inteligência dela como uma ameaça à sua superioridade masculina e à hierarquia da propriedade.

5.2 O Suicídio como Ato de Liberdade e Derrota

A vida de Madalena se torna um inferno ao ser tolhida e reprimida. Seu ato final, o suicídio, é o clímax da tragédia.

Exceção e Análise Profunda: O suicídio de Madalena é visto como um ato político e de resistência. Ao tirar a própria vida, ela derrota Paulo Honório, colocando um ponto-final na sua capacidade de reificá-la, ou seja, de transformá-la em mais um objeto. Ela se liberta do jugo masculino, desmontando o poder do marido.

A morte dela é a ruína de Paulo Honório, pois ele perde o sentido de seus objetivos. Ele se sente "melancolicamente acuado pelos fantasmas de um mundo que acabou".


6. Temas Centrais, Conflitos e Aspectos Políticos

6.1 O Diálogo com a Tragédia Moderna

"São Bernardo" é considerado um brilhante exemplo de tragédia moderna. Na concepção de Raymond Williams (crítico citado nas fontes), a tragédia moderna não se deve a forças metafísicas (Deus, Destino), mas sim às forças concretas e humanas da sociedade de classes.

O "acidente" (o suicídio de Madalena) liga-se profundamente ao sentido geral dos valores da sociedade capitalista. Paulo Honório é a personificação da lei fundamental do capital, impessoal e irrefreável. Madalena, ao contrário, é a heroína trágica que se rebela contra o princípio social da ordem.

6.2 O Campo da Alteridade e as Relações de Gênero

A obra elabora um discurso de alteridade, ou seja, a relação e o confronto entre o eu e o outro. Paulo Honório, o narrador masculino, não quer ceder o lugar central da enunciação ao sujeito feminino.

As relações de gênero são produzidas em um universo de valores fragmentados, mas a mulher continua submetida ao homem, assim como o homem é subjugado ao capital.

Madalena desafia o regime machista/patriarcal e o domínio masculino, mas a dominação de gênero persiste, pois o homem, mesmo com crise de identidade, detém o poder da palavra. A figura da mulher na obra, vista pela ótica machista, é inicialmente estereotipada (Rosa, Germana), enquanto Madalena é vista como um perigo por ser instruída.

6.3 Crítica à Modernização Conservadora

O romance critica as contradições peculiares do capitalismo brasileiro. O país modernizou-se tecnicamente (Paulo Honório leva o progresso à fazenda), mas não abandonou a estrutura sócio-histórica escravagista e feudal. Paulo Honório é o símbolo dessa "modernização conservadora".

O livro insinua os levantes contra o feudalismo das oligarquias rurais e o capitalismo industrial, especialmente na voz de Madalena, que, questionada sobre a revolução, responde: "Seria magnífico. Depois se endireitava tudo".


7. Tópicos Avançados e Exceções

7.1 Referências e Intertextualidade

O romance utiliza a intertextualidade como recurso metalinguístico:

  • A Bíblia: Mencionada como fonte de aprendizado de Paulo Honório, e utilizada para justificar o poder.

  • Tradição Literária: Referência à "língua de Camões" e a outros autores, como Machado de Assis (em Memórias Póstumas).

7.2 O Narrador em Crise e a Busca pelo Sentido

O monólogo interior e o fluxo de consciência de Paulo Honório são cruciais para a análise psicológica. No final, ele passa por uma auto-análise crítica, admitindo falhas e omissões.

A solidão após a morte de Madalena o leva à angústia e ao desespero. Ele se autodescreve com deformidades monstruosas, como um lobisomem, uma metáfora que ele cria para si mesmo devido à sua desumanização provocada pela ambição cega e o sentimento de propriedade. O homem dinâmico se torna um homem derrotado, passivo, vulnerável à subjetividade.

7.3 Adaptação Cinematográfica

A adaptação mais notável de "São Bernardo" é o filme homônimo de Leon Hirszman (1973).

  • Hirszman, filiado ao Partido Comunista, buscou transpor o texto escrito em arte cênica, revelando gestos e emoções que antes eram apenas imaginados.

  • O filme se comportou como um músico que interpreta a melodia de outro, sendo que o roteiro foi baseado no livro e no ensaio de Antonio Candido, Tese e Antítese.

  • O ator Othon Bastos, que interpreta Paulo Honório, domina a narrativa com sua voz over (recurso cinematográfico que remete à narração em primeira pessoa), controlada e dominadora.

  • A adaptação enfatiza os mandos e desmandos do proprietário, destacando a temática da opressão.


Respostas Rápidas para Dúvidas Comuns

Dúvida Comum

Resposta Direta

Qual é o foco narrativo de São Bernardo?

O romance é narrado em primeira pessoa por Paulo Honório (narrador-personagem), o que confere densidade psicológica à obra.

O que significa a expressão "tempo do enunciado" e "tempo da enunciação"?

O tempo do enunciado é o passado (a história de ascensão de Paulo Honório); o tempo da enunciação é o presente (o momento em que ele escreve e reflete sobre sua solidão).

Qual é o principal traço de Paulo Honório?

O sentimento de propriedade (reificação), que o domina a ponto de ele ver tudo (pessoas, casamento, projetos) como capital ou mercadoria.

Qual o motivo do casamento entre Paulo Honório e Madalena?

O desejo de preparar um herdeiro para as terras de São Bernardo, tratando o casamento como um negócio, não por amor.

Por que Madalena se suicida?

Ela se sente oprimida, reprimida e infeliz, sendo seu suicídio um ato de resistência, uma recusa em se tornar mais uma propriedade de Paulo Honório.

Paulo Honório assume sua culpa?

Em partes. Ele assume que seu modo de vida o "inutilizou" e o tornou brutal, mas frequentemente joga a culpa no "ambiente" ou na sua "alma agreste".

Qual a relação do ciúme com a propriedade?

O ciúme é a expressão consciente da patogênese do sentimento de propriedade. Paulo Honório se enfurece com a infidelidade intelectual/moral de Madalena, que ameaçava sua ordem capitalista com ideias comunistas.