A disciplina de Literatura faz parte da prova de Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, aplicada no primeiro dia do ENEM. Dominar este conteúdo é crucial, pois o exame costuma apresentar uma média de 10 questões de literatura por edição.
A principal dúvida dos estudantes é: devo decorar obras e personagens?
Dúvida Comum: Preciso decorar todos os livros e datas? Resposta: Não perca tempo com decorebas, pois dificilmente elas ajudarão. O ENEM, diferente de outros vestibulares, não exige uma lista de obras obrigatórias. Em vez disso, ele foca na análise crítica.
O exame irá apresentar trechos de textos e esperará que você:
Faça uma análise crítica.
Relacione algum acontecimento do texto.
Questione o propósito de um recurso literário usado pelo escritor ("o que ele queria dizer?").
Se for possível, o ideal é conhecer pelo menos a principal obra dos autores citados, para ter uma ideia do estilo, da linguagem e do contexto de produção do texto.
A estratégia fundamental é dominar as fases literárias e entender quem participa de cada movimento, dando sempre foco ao autor.
Para um estudo completo, é importante seguir a ordem histórica, que geralmente começa com o Trovadorismo, passa pelo Humanismo e Classicismo. No entanto, focaremos nas estéticas que possuem maior detalhamento nas fontes e que servem de base para a complexidade temática posterior.
O Barroco é um estilo artístico que surgiu no século XVI e se estendeu até meados do século XVIII. No Brasil, a literatura brasileira começa no Barroco, com o marco inicial sendo o poema épico “Prosopopeia”, de Bento Teixeira, em 1601.
O Barroco surgiu na Europa em um período de incertezas e instabilidade, devido à Reforma Protestante (iniciada por Lutero). A Igreja Católica reagiu com a Contrarreforma, e o Barroco se manifestou com intensidade nesse contexto.
O objetivo central do movimento era unir as ideias renascentistas (antropocentrismo – o homem como centro) com as ideias teocêntricas (Deus como centro) da Contrarreforma. Essa tentativa de união gerou uma arte marcada pela angústia e contradição.
As obras barrocas são caracterizadas por:
Elementos exagerados, contrastes marcantes e grande expressividade.
Criação de um efeito de grandeza e magnificência.
Elementos mais dramáticos e teatralizados do que o Renascimento.
Uso de luz/sombra (na pintura).
Temas religiosos.
Para expressar a união de ideologias contrárias (tentativa de aproximar o mundo terreno do divino), utilizavam-se figuras de linguagem focadas no contraste, como a antítese e o paradoxo.
Temas Recorrentes: Pessimismo em relação à vida na Terra (vista como sofrimento); a busca pela felicidade após a morte no paraíso; a fragilidade humana; a fugacidade do tempo (carpe diem) e a crítica à vaidade.
É fundamental distinguir as duas principais vertentes do Barroco, frequentemente cobradas em provas:
Vertente | Também Conhecido Como | Foco Principal | Características | Autores Chave (Brasil) |
Cultismo | Gongorismo | Poesia | Jogos de palavras e imagens. Uso de linguagem rebuscada e sofisticada, com muita ornamentação e metáforas. Estimulação dos sentidos. | Gregório de Matos. |
Conceptismo | Quevedismo | Prosa | Foco no conteúdo e na argumentação lógica. Preocupação em seduzir o leitor pelo raciocínio (engenho). Uso de metáforas e figuras de linguagem. | Padre Antônio Vieira. |
Grandes Nomes no Brasil (Exceções e Prioridades):
Padre Antônio Vieira: Focado na prosa (Conceptismo). Ficou famoso por seus sermões, nos quais misturava frases formais com oralidade e usava metáforas/alegorias para facilitar a compreensão do público.
Gregório de Matos: Conhecido como Boca do Inferno. Escreveu poemas líricos, sacros, mas destacou-se pelas poesias satíricas, criticando a sociedade baiana, políticos e o clero.
Após o Romantismo, que valorizava o idealismo e o subjetivismo, o Realismo surge em oposição, defendendo o objetivismo e o cientificismo.
Machado de Assis é o campeão de frequência no ENEM, com 5 questões citadas nas últimas cinco provas (2018 a 2022). Ele é considerado um ponto incontornável em qualquer curso de literatura.
A crítica moderna define a trilogia realista como os três romances que marcaram o novo estilo de Machado de Assis e introduziram o Realismo no Brasil, precedendo, inclusive, elementos da literatura contemporânea:
Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881).
Quincas Borba (1891).
Dom Casmurro (1899).
Machado de Assis é um autor versátil, cujas obras oferecem múltiplas abordagens (relações de poder, gênero, classe, labirintos das emoções humanas).
Ruptura Formal: Memórias Póstumas rompeu com tendências dominantes da época (como o objetivismo de Flaubert). Machado de Assis construiu um livro que cultiva o incompleto, o fragmentário.
Diálogo com o Leitor: Caracteriza-se por capítulos curtos e apelos diretos ao leitor, em um tom humorístico e com digressões.
Crítica Social Refinada: Machado não compactua com o esquematismo determinista dos realistas. Ele critica a sociedade de sua época com sutileza:
Memórias Póstumas: Crítica aos beneficiários da escravidão no Segundo Reinado, que não trabalhavam e esperavam herança (personificados em Brás Cubas).
Dom Casmurro: Retrata o conflito entre o liberalismo e as antigas tradições monárquico-escravocratas, e destrói a imagem de Capitu (interpretada como símbolo de um novo tempo e risco ao status quo por ser pobre, livre e inteligente).
Quincas Borba: Crítica explícita ao cientificismo e à lei do mais forte (Darwinismo social), através do Humanitismo de Quincas Borba.
Influências Filosóficas: A trilogia possui temas de existencialismo e reflexão, influenciada por filósofos como Pascal e Schopenhauer.
O Modernismo é um dos movimentos literários mais importantes para a prova. No levantamento de autores que mais caem, muitos dos principais nomes são modernistas, como Carlos Drummond de Andrade (12 vezes), Manuel Bandeira (7 vezes), Mário de Andrade, Oswald de Andrade e Clarice Lispector.
Nas primeiras décadas do século XX, o Brasil e o mundo passavam por profundas mudanças (industrialização, invenções, revoluções).
Marco Inicial: O Modernismo brasileiro foi deflagrado pela Semana de Arte Moderna de 1922.
Objetivo: O evento declarou o rompimento com o tradicionalismo cultural (academicismo e Parnasianismo) e defendeu um novo ponto de vista estético e o compromisso com a independência cultural do país.
Vanguardas: O movimento foi influenciado pelas vanguardas europeias (Cubismo, Futurismo, Surrealismo).
Esta fase é também chamada de heroica, combativa e guerreira. O principal objetivo era a destruição do academicismo e da tradição.
Características: Pluralidade de linguagens e perspectivas, uso de versos livres, linguagem coloquial, e abordagem de temáticas do cotidiano (tradicionalmente não-poéticas).
Oswald de Andrade (O Incomodador): Realizou a maior ruptura com as tradições. Buscou "devorar antropofagicamente" a sociedade burguesa e transfigurar a cultura europeia, conferindo a ela um caráter nacional, valorizando a identidade nacional com linguagem coloquial e bem-humorada. Exemplo: poema Erro de Português.
Mário de Andrade (O Construtor): Buscou conciliar as lições do passado com as conquistas do presente. Viajou pelo Brasil para entender a essência do país.
Proposta Linguística: Defendia a existência de uma língua "brasileira", incorporando todas as falas, neologismos e variações artísticas/linguísticas.
Macunaíma - O Herói Sem Nenhum Caráter: Esta obra redefiniu o herói nacional. Macunaíma, feio, preguiçoso e de caráter duvidoso, é um anti-herói que simboliza os destinos do país, mesclando etnias (índio, negro, europeu). O texto usa intertextualidade para fazer um contraste com a imagem idealizada do indígena romântico, como Iracema.
Considerada a fase áurea do Modernismo Brasileiro. O foco se desloca do nacionalismo crítico da 1ª fase para a reflexão sobre o mundo contemporâneo, o sentido de estar no mundo, e a relação entre indivíduo e sociedade.
Carlos Drummond de Andrade (O Mais Citado – 12 vezes): Precursor da geração. Sua poesia desenvolve uma reflexão de caráter existencial, questionando a posição do indivíduo no mundo tecnológico. Ele aborda temas do cotidiano por meio do filtro da sua subjetividade, mantendo seus poemas sempre atuais.
O poema "No meio do caminho" (com a famosa frase "No meio do caminho tinha uma pedra") é um exemplo de sua obra que já marcou presença no exame.
Cecília Meireles: Primeira mulher a ter destaque na poesia. Possui influências do simbolismo e do romantismo. Manifesta sua sensibilidade, valorizando a intuição e emoção.
Temas: Amor, o tempo, a fugacidade das coisas e a transitoriedade da vida (efemeridade). Ela usa formas poéticas simples, como a cantiga, e estruturas tradicionais, como os sonetos. O uso de antíteses é marcante, como no poema "Ou isto ou aquilo".
A prosa desta fase é chamada de neo-realista. Há uma forte preocupação em revelar e analisar os problemas humanos, com enfoque em questões políticas e regionais (condições do trabalhador rural, seca e miséria).
Graciliano Ramos (O Sertão Sofrido – 3 vezes): Modernista da 2ª fase que retratou a vida dura e sofrida dos sertanejos.
Vidas Secas: Retrata a vida miserável de uma família de retirantes, obrigada a se deslocar pela seca. O texto revela a opressão social sofrida pelo trabalhador rural, Fabiano, que se sente "logrado" pelos "homens sabidos" que usam "palavras difíceis".
Sua obra realiza um trabalho universal ao apresentar uma visão crítica das relações humanas.
Esta geração representou um retrocesso formal ao propor uma volta à rima, à métrica e ao vocabulário erudito. No entanto, três grandes autores se sobressaem e são altamente cobrados na contramão dessa estética mais tradicional:
Clarice Lispector (A Profundidade da Sensação – 3 vezes): Autora ativa de romances, contos e crônicas.
Estilo: Seus textos possuem uma carga de reflexão e sensação muito grande. É comum que seus personagens passem por epifanias (um reconhecimento, uma compreensão da essência de algo) diante de situações corriqueiras e banais. Obra já cobrada: Laços de Família.
João Guimarães Rosa (Regionalismo e Linguagem Inovadora – 3 vezes): Considerado um dos maiores escritores brasileiros do Século XX.
Estilo: Suas obras são ambientadas no sertão brasileiro. Sua linguagem é inovadora, marcada por invenções linguísticas, arcaísmo, palavras populares e neologismos. Romances famosos: Sagarana e Grande Sertão: Veredas.
João Cabral de Melo Neto (O Poeta Engenheiro): Conhecido pelo seu processo racional e preciso de construção poética.
Morte e Vida Severina: Obra famosa que apresenta o percurso de morte e vida do retirante Severino. O personagem-narrador, Severino, representa a condição compartilhada de outros Severinos, expressando um problema social coletivo.
A literatura contemporânea abrange obras escritas desde meados do século 20, por volta da década de 60, até os dias atuais. É o conteúdo mais incidente de literatura na área de Linguagens do ENEM e é considerada a oportunidade perfeita para revisar temas que podem cair na prova.
O período no Brasil foi marcado por desenvolvimento industrial e tecnológico, seguido pela Ditadura Militar (que levou à censura e manifestações subliminares).
Pluralidade e Diversidade: A estética é marcada pela pluralidade e riqueza de experiências, perspectivas e vozes.
Temas Atuais: Abordagem de questões sociais, políticas, econômicas, tecnológicas e ambientais (a literatura como espelho da sociedade).
Narrativas Fragmentadas e Não Lineares: Diferente das estéticas anteriores, os autores exploram diferentes perspectivas, saltam no tempo e desafiam convenções tradicionais para capturar a natureza fragmentada da experiência humana.
Experimentação Linguística: Uso de neologismos, jogos de palavras, coloquialismos.
União do Erudito com o Popular: Autores incorporam referências variadas, desde a "alta cultura" até manifestações populares, como a cultura de massas e as redes sociais.
Formatos Reduzidos: Minicrônicas, minicontos e poesias curtas ganham destaque, alinhando-se à dinâmica de informações rápidas da vida moderna.
Crônica: O gênero se destaca, com autores como Luís Fernando Veríssimo (3 vezes no ENEM) e Rubem Braga (5 vezes no ENEM).
Além dos autores modernistas da 3ª fase (Rosa e Clarice) que transitam para a Contemporaneidade, o ENEM e vestibulares cobram outros nomes:
Luís Fernando Veríssimo (3 vezes): Famoso por suas crônicas bem-humoradas e descontraídas. Usa linguagem simples e recorre à ironia para tratar de temas sociais e políticos.
Ferreira Gullar (4 vezes): Poeta muito forte por seu posicionamento político. Destaca a importância da luta contra a opressão social. Fazia parte do Neoconcretismo e usava metalinguagem e palavras simples.
Chico Buarque (O Inescapável Compositor-Poeta): Frequentemente citado. É um gênio da MPB, compositor-poeta, romancista e ator.
Aparece tanto com sua literatura em prosa quanto em versos de música.
Ícone de criticidade, lirismo, e uso de paronomásias (trocadilhos) e metáforas.
Suas composições como Construção (1971), Apesar de Você (1970) e Cálice (1978) são essenciais para entender o contexto da Ditadura.
O estudo das figuras de linguagem, especialmente em composições musicais de Chico Buarque, é um tema avançado e recorrente para análise.
Exemplo de Metáfora/Alegoria: O amor em "Viver do Amor" é comparado a um "veneno medonho".
Exemplo de Antropomorfização/Prosopopeia: Em O Cio da Terra, a terra é tratada como humana ao exibir "Conhecer os desejos da terra".
Exemplo de Oxímoro/Paradoxo: Em Outros Sonhos, há a união de ideias contrárias, como: "Sonhei que o fogo gelou / Sonhei que a neve fervia".
Outros autores contemporâneos importantes incluem: Clarice Lispector e Guimarães Rosa (que fecham o pódio dos mais citados), Hilda Hilst, Lima Barreto, Graciliano Ramos, Conceição Evaristo, Cora Coralina e Nelson Rodrigues.
Abaixo, listamos os autores brasileiros mais citados nas últimas edições do ENEM, com base nos dados fornecidos pelos especialistas, priorizando o estudo intensivo:
Posição | Autor | Frequência (Questões citadas) | Movimento(s) Principal(is) | Tópicos de Foco |
1º | Carlos Drummond de Andrade | 12 vezes | Modernismo (2ª Geração) | Reflexão existencial, pessimismo, ironia, temas do cotidiano. |
2º | Machado de Assis | 7 vezes | Realismo/Romantismo | Análise crítica social, fragmentação, ceticismo, Trilogia Realista (Brás Cubas, Dom Casmurro). |
3º | Manuel Bandeira | 7 vezes | Modernismo | Linguagem direta, técnica de escrita, medo da morte (Tuberculose), quebra formal (Poema Os Sapos). |
4º | Rubem Braga | 5 vezes | Literatura Contemporânea | O mestre da crônica brasileira, lirismo, humor, subjetividade. |
5º | Aluísio Azevedo | 4 vezes | Naturalismo | Crítica forte à moral e costumes da sociedade (Escravidão, preconceito racial). Obras: O Cortiço. |
6º | Ferreira Gullar | 4 vezes | Neoconcretismo/Contemporânea | Posicionamento político, luta contra a opressão social, metalinguagem. |
7º | Oswald de Andrade | 4 vezes | Modernismo (1ª Geração) | Ruptura, Antropofagia, linguagem solta e oral, crítica ao formalismo. |
8º | Luís Fernando Veríssimo | 3 vezes | Literatura Contemporânea | Crônicas bem-humoradas, ironia em temas sociais e políticos. |
9º | João Cabral de Melo Neto | 3 vezes | Modernismo (3ª Geração) | Racionalidade, vivências, reflexões sociais, regionalismo (Morte e Vida Severina). |
10º | Guimarães Rosa | 3 vezes | Modernismo (3ª Geração) | Regionalismo, linguagem coloquial, invenções linguísticas (Sertão). |
11º | Monteiro Lobato | 3 vezes | Pré-Modernismo | Características de transição, regionalismo, crítica e ironia (conto Negrinha). |
12º | Mário de Andrade | 3 vezes | Modernismo (1ª Geração) | Precursor, linguagem livre e coloquial, busca pela identidade nacional (Macunaíma). |
13º | Graciliano Ramos | 3 vezes | Modernismo (2ª Geração) | Regionalismo, vida dura e sofrida dos sertanejos, crítica social (Vidas Secas). |
14º | Clarice Lispector | 3 vezes | Modernismo (3ª Geração) | Intimismo, profundidade, reflexão, epifania. |
Outros autores importantes citados que apareceram no exame incluem: Lima Barreto, Hilda Hilst, Manoel de Barros, Chico Buarque, Nelson Rodrigues, Adélia Prado e Gregório de Matos.
Para garantir uma revisão completa, o estudante deve estar preparado para analisar os seguintes tópicos, que são a base dos temas recorrentes no ENEM:
Tópico de Revisão | O que revisar (Conceitos Chave) |
Movimentos Literários | Desde o Barroco até o Modernismo, além da Literatura Contemporânea. Aulas de revisão intensiva são ideais. |
Intertextualidade | A relação explícita ou implícita entre textos. Revisar a paródia de Iracema em Macunaíma e os intertextos da Canção do Exílio. |
Metalinguagem | A linguagem que fala sobre si mesma. É uma característica do Neoconcretismo (Ferreira Gullar). |
Interpretação de Questão Literária | Foco na análise aprofundada dos temas recorrentes nas edições anteriores. A estratégia de prova é sempre focar no tema e na relação com a escola literária. |
Canção Popular | A análise de letras de música, como as de Chico Buarque (que usa prosa e verso). Revisão de Figuras de Linguagem. |
Aproveite os recursos de revisão intensiva oferecidos por cursos preparatórios:
Aulões ENEM de Literatura: Aulas intensivas e gratuitas, cobrindo os principais tópicos da disciplina, como Romantismo, Realismo, Pré-Modernismo, Vanguardas, Modernismo (todas as gerações), Canção Popular e Literatura Contemporânea. A professora Camila Zuchetto Brambilla costuma ministrar essas revisões.
Resumão da Salvação: E-books gratuitos com conteúdos abordados nos aulões, incluindo Linguagens e seus Códigos, essenciais para a prova de Literatura. O material é preparado para apoiar os estudos na reta final.